Capítulo 1
Capítulo 1
- Lil. Lil. Acorda! – uma menina chamava Lílian Evans que dormia profundamente na cama de seu quarto. Ela já estava sentada na cama, tocando levemente em sua amiga, para conseguir acordá-la. Sorriu quando viu que estava acordando.
- Nanda! – Lily falou num fio de voz.
- Sabe o que eu não acredito?- Fernanda Coop começou a balbuciar - Que você está aí deitada, enquanto já era pra você estar lá embaixo comigo esperando o resto do pessoal chegar.
- O que? Já são três horas? - a menina levantou assustada.
- Lil, já passa das três e meia.
- Ai meu Deus – a ruiva pulou da cama e se trancou no banheiro – saio em dez minutos.
- Ta. Acredito. Da última vez você ficou uma hora enfurnada nesse banheiro.
- Hoje eu juro que é rápido – ela gritou lá de dentro.
Fernanda era um dos tão bem falados amigos de Lílian. Tinha cabelos pretos, totalmente encaracolados, olhos escuros e penetrantes, sardas em formato de pontos que viviam a se transformar em vírgulas devido ao seu sorriso cativante. Ambicionava torna-se uma grande profissional direcionada a computação.
Ela, não achando outro jeito a não ser esperar, sentou-se na cama e correu seu olhar pelo quarto de sua amiga. Viu a porta do banheiro onde sua amiga sumira há alguns instantes, viu o closet, o mural de fotos que por acaso tinha uma foto que ela odiava e que estava bem amostra. Quando se aproximou para ver sua foto mais uma vez e se lamentar por estar ‘horrível’, pousou os olhos sobre a mesinha onde Lily sempre ficava durante horas a ler ou... O diário! Ela sorriu mais uma vez. Sua amiga não resistiu e começara a escrever. Ao chegar mais perto dele ouviu outro grito, vindo também do banheiro.
- FERNANDA NEM PENSE EM OLHAR O TAL CADERNINHO – a voz da menina chegou aos ouvidos de Nanda.
- Mas eu nem tinha visto.
- Pois continue não vendo!
Mas, quando Fernanda que não tinha segundas intenções com o ‘tal caderninho’ ia falar de novo, soou a campainha pela segunda vez naquela tarde. Ela decidiu descer, pois sabia que era um de seus amigos e precisava avisar que Lil poderia demorar um pouco. Fechou a porta do quarto ao sair, andou pelo corredor até chegar às escadas. Desceu. Mas, ao deixar o último degrau da escada, o pé da menina virou e o chão estava a cada vez mais próximo. A menina fechou os olhos esperando a dor da queda, mas ela não chegou. Algo a segurou, ou melhor, alguém.
- Pode abrir os olhos. Você não vai cair – ao ouvir essas palavras, Fernanda finalmente abriu seus olhos e se deparou com um belo sorriso a sua frente. Ela e o dono do sorriso se encararam por um tempo, parecia que as horas haviam parado.
- Alô! Eu estou aqui – um loiro baixinho de olhos claros estava tentando chamar atenção dos dois. Ao perceber a cena, Fernanda corou intensamente e se soltou dos braços do suposto menino. Quando ameaçou se distanciar dele depois de um envergonhado ‘obrigada’, não conseguiu ficar em pé, quase caindo novamente, sendo salva pelo mesmo garoto, agora com a ajuda de Vinicius, o loiro e também seu amigo.
- Acho que você torceu o pé – ele falou levando-a para o sofá – vou buscar gelo lá dentro. Volto num segundo – e desapareceu pelo corredor. A menina olhou para o amigo que tinha sentado a sua frente.
- Vi, quem é esse? – falou apontando para o local onde o garoto desaparecera momentos antes.
- Você nunca tinha visto o irmão da Lily?
- O irmão da Lil? – falou abobada – Esse é o David?
- É claro que sim! Quem mais poderia ser?
- Um parente distante, quem sabe – falou ela ainda olhando para o final do corredor.
- Fernanda, não me diga que você está interessada nele – Vinicius murmurou com um sorriso obtuso nos lábios.
- Claro que não. Só fiquei curiosa.
- Eu conheço esse seu olhar de criança desolada.
- Não conhece não! E cala a boca que ele está voltando.
David voltou com uma pequena bolsa de gelo e, ainda sorrindo, colocou no tornozelo da garota.
- E como você disse que se chamava? – perguntou segurando carinhosamente o gelo na região fraturada.
- Ela não disse – respondeu o loiro que olhava curioso para os dois. Mas nesse mesmo momento Fernanda e David olharam sérios para o garoto com cara de ‘quem falou com você?’- Que? Ela não disse mesmo!
- Eu sou Fernanda Coop – disse ela ignorando o amigo e levantando a mão para apertar a do outro garoto.
- Ha! Prazer. Eu sou David Evans – falou ele recusando o aperto de mão e dando um beijo no rosto da menina que corou mais uma vez com a mão na bochecha.
- É, eu sei...
- Sabe? – perguntou arqueando as sobrancelhas. Só que nesse minuto, mais uma vez, a campainha tocou, e agora, pelo jeito, não iria tocar mais, já que os dois outros amigos (Melissa e James) estavam do outro lado da porta quando Vinicus levantou-se para abri-la.
- Nandinha, o que aconteceu? – Melissa foi a primeira a correr para perto da amiga ao notar o que se passava.
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Melissa era a mais alta das amigas, e também muito magra, cabelos cor caramelo, longos e cacheados. Tinha seus olhos verdes e quase sempre minimamente abertos. Sua pele era limpa e macia. Seus lábios, doce. Doce por atrair a maioria dos meninos que conhecia. No entanto, sua beleza, simpatia e inteligência ajudavam nisso, e muito. Iria cursar o último ano escolar junto de Lílian e investir na faculdade de medicina que tanto cobiçava.
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- Ela se machucou – VV falou antecipadamente.
- Falei com a Fernanda – ela disse fuzilando o amigo mais uma vez – e isso é óbvio.
- O que? – disse novamente com cara de desentendido.
- (¬¬)²
- Oi David! – James e Melissa falaram uníssonos.
- Ah! Oi Mel. James. – disse ele cumprimentando os dois.
- Pelo jeito só eu que não sabia quem você realmente era – Fernanda exclamou baixinho.
- Ao menos está sabendo agora – ele afirmou encarando a garota que parecia um pouco séria. James, Melissa e VV trocaram olhares cheios de interesses e que poderiam dizer mil coisas, no entanto permaneceram em silêncio.
Os três explicaram o que tinha acontecido na sala momentos antes de Melissa e James chegarem. Nesse meio tempo, Lílian encontrou os amigos na sala e ficou a par do que havia ocorrido com sua amiga.
- Bem, não vamos mais sair! – Lily falou olhando para os amigos, com voz de quem já tinha se decidido.
- A não! Vocês não vão adiar a tarde por causa de mim – Fernanda indagou.
- Nandinha, você mal está conseguindo ficar de pé, imagina se a gente vai deixar você aqui – James balbuciou.
- Se vocês quiserem, eu a levo em casa em segurança – David disse. Todos olharam para ele. Lílian sorria.
- Ha! Leva? – perguntou olhando para o irmão com um sorriso irônico.
- Que? Eu estou dizendo. Eu levo e pronto. Vocês podem ir sem preocupação – e olhando para Fernanda – Topa em ir comigo?
A menina olhou para os amigos, não queria que eles perdessem a tarde deles por causa de uma quedinha. Então...
- Eu vou com ele. E vocês... Continuem com os planos.
- Mas Nanda – todos falaram com indagações distintas.
- Nada de mas. Outro dia saímos todos juntos, mas hoje vão vocês. E eu não quero saber de discussão.
Aos poucos os amigos concordaram e, depois de acordos e desacordos, finalmente, ajudaram a por a menina no carro de David e os dois partiram. Um a um dos que restaram na casa abandonaram o vasto jardim dos Evans, entrando novamente nela.
- Será que ela ficará bem? – Melissa perguntou mais para si do que para os amigos.
- Ha! Claro que sim. Meu irmão é um garoto super prestativo, sabe lidar com esse tipo de coisa – Lily falou orgulhosa.
- Então por que você estava com todo aquele receio quando ele se ofereceu a levar a Fê até a casa dela? – Vinicius perguntou com ar de curiosidade, sempre com suas perguntas mirabolantes.
- É que... Simplesmente eu conheço aquele olhar – disse ela pensativa.
- Conhece aquele olhar... – James pediu um complemento.
- É, James, eu conheço o meu irmão melhor que ninguém – ela o fitou - E sei que ele não queria apenas levar a Nanda pra casa.
- E o que ele quer então? – os três perguntaram.
- Eu ainda não sei. Mas vou descobrir. Ah, vou.
No carro...
- Você não me disse que era irmão da Lil. Acho que é um detalhe importante – Fernanda falou com uma voz fria para David que dirigia ao seu lado.
- Eu não sabia que a ‘Lil’ que você tanto falava era a minha irmã. Não dá para adivinhar. E existem muitas Lílians no mundo, sabia?
- E como você pode está tranqüilo? – ela tremia e mal conseguia olha-lo.
- E eu devia estar chorando? Fernanda, a gente se gosta, ninguém pode mudar isso. Nos conhecemos de maneira independente dela, não é para chateá-la que estamos juntos. Apenas aconteceu! – disse acariciando o rosto da menina com uma das mãos enquanto a outra controlava o automóvel. Oscilava o olhar na garota e na estrada.
- Mas... – Nanda começou a falar num fio de voz.
- Não tem mas... Se você concordar quando eu chegar a casa conto tudo a ela. Você a conhece tão bem quanto eu e sabe que ela vai amar a idéia de ter a amiga dela com o seu irmão maravilhoso – a menina sorriu.
- E modesto também.
- É, e modesto também – ele concordou também sorrindo.
- Mas eu não quero que você conte a ela. Prefiro que eu conte. Só peço um pouco de tempo pra eu me preparar. Tenho medo da maneira que ela entenda isso.
- A Lil? Bem, você eu não sei, pode ser que ela feche a porta na sua cara e nunca mais queira ver novamente. Quanto a mim – disse parando em frente a uma bela casa – ela me ama de mais para tentar alguma coisa.
A menina pareceu ficar mais pálida ainda, mas ao olhar a cara do garoto que sentava ao seu lado deu uma leve tapinha em suas costas.
- Acho que você vai conhecer meus pais antes do que imaginava – ela disse e riu ao ver a expressão no rosto de Evans.
- Elesestãoemcasa?
- Vamos entrar para saber.
O menino desceu do carro e correu para abrir a porta para Fernanda. Ajudou-a sair e com um dos braços dela envolvidos no pescoço dele seguiram para o portão de entrada.
A casa dos Coop era encantadora. Para chegar nela, todos teriam que passar por uma ponte que passava por cima de duas piscinas. Tudo era acompanhado por um lindo jardim com grama verdinha e com algumas árvores. Era constituída por dois prédios de apenas um andar. O que ficava em frente à piscina era a casa propriamente dita; o outro era onde geralmente ocorriam as festas, que não eram poucas. Eles dois eram separados por uma fila de árvores de pequeno porte, mas que davam ao local uma sensação de naturalidade.
- Está vendo aquelas três chaminés? – ela apontou para algumas formas que havia sobre o telhado da casa. O menino balançou a cabeça afirmativamente – era para o suposto papai Noel. A minha é a do meio, já que eu sou a irmã do meio. As outras duas são para minhas irmãs.
- Aposto como em todo Natal você fica olhando pra ela esperando ele chegar com seu presente não é crionçinha?
- Palhaço! David, pega a chave na minha... Minha bolsa! Cadê a minha bolsa? – exclamou Fernanda olhando para os lados.
- A senhora esquecida deve ter deixado no carro. Senta aqui que eu vou até lá buscar – e a deixou num banco próximo a porta.
Fernanda ficou olhando David se afastar até se perder entre as árvores do jardim. Seus olhos correram por todo o local até parar em uma figura parada a sua frente, encostada na pilastra da área da casa.
- Mayra?! – ela exclamou.
- Oi prima! – a outra garota falou entusiasmada e veio ao encontro de Nanda – o que aconteceu com você?
- Ah, isso? Foi só um tropeço – disse ela respondendo ao abraço – mas me conta você. Passando essa temporada aqui? Aiii prima, que saudades suas.
- E eu, suas. Muita falta das nossas fofocas. Eu estou... – Mayra parou de falar ao notar a presença de um loiro, a sua frente.
- Ah, David. Você voltou. Obrigada por buscar minha bolsa – agradeceu sorrindo para o garoto e pegando a sua bolsinha.
Silêncio...
- Como sou distraída. David, Mayra; Mayra David – apresentou Fernanda. Os dois cumprimentaram-se.
- É um prazer – ele disse.
- Todo meu – ela falou sorrindo.
- Mayra é minha prima querida. Veio passar uma temporada aqui em Londres – esclareceu ela olhando para o garoto – e ele é um amigo, veio me ajudar já que... – e olhou para seus pés.
Pouco tempo depois, quando Nanda já estava bem acomodada em seu quarto, Evans deixou a casa. Dirigiu o tempo todo pensando em algo que não podia ser verdade. Não com Fernanda, aquela garota encantadora que havia roubado seu coração. Mas no instante em que parou o carro na frente de sua casa havia uma menina, uma menina de longos cabelos acaju que o esperava de braços cruzados e com expressões vazias no rosto.
- Eu quero saber o que ta rolando agora! - Lílian disse ao irmão antes mesmo dele sair do carro.
- Já voltou? – disse espantado.
- Isso não vem ao caso.
- O que? Do que você está falando? – ele disse fazendo-se de desentendido.
- Do que eu estou falando? – perguntou enraivada - Você sabe do que eu estou falando. O que há entre você e a Nanda?
- Mas eu apenas fui levá-la em casa. Você sabe disso. Você acha que eu ia ter algo com ela nesse meio tempo?
- Já te disse que você não sabe mentir pra mim. – afirmou com a mão na cintura - Anda, vamos subir. Lá em cima você me conta tudo.
Os dois entraram em casa abraçados e seguiram para o quarto da menina. David pensava no como não ia resistir em contar tudo para sua irmã caçula, e Lílian, como seu blefe tinha dado certo. Ao entrar no cômodo e fechar bem a porta eles se olharam, e no mesmo instante começaram a rir; não que a situação fosse engraçada, apenas riam.
- Eu não consigo guardar segredos de você – ele falou abraçando a irmã – então, por favor, não diga nada a Fernanda.
- Ela era a garota que você vivia falando pra mim, não era? – Lílian disse sorrindo para o irmão e aproximando-se da varanda.
- Como você sempre sabe de tudo? – perguntou com um sorriso
- Intuição feminina – ela deu uma piscadela (Já vimos isso antes?)
- E por ironia do destino ela é sua melhor amiga.
- Pois é. Mas não é para isso interferir em nada, espero. A Nanda é uma garota super especial...
- Eu sei...
-... E vocês foram feitos um para o outro. Como ela está em? – perguntou distraída com a rua.
- Ficou bem. Com uma prima que tinha acabado de chegar.
- A Mayra? Ah, finalmente vou poder conhecê-la. Nanda vivia falando dela.
- Mas tem uma coisa... Que eu notei – ele disse cruzando os braços e encolhendo os ombros.
- O que? – a garota perguntou encarando o irmão.
- Ela deu em cima de mim... – encolheu os ombros ainda mais.
- O que? – a menina o fitou profundamente.
- Essa menina aí... Deu em cima de mim. Ela me chamou para ajudar a levar uns presentes até o quarto de Fernanda, e, e tentou me beijar.
- Anh? A Nanda sempre disse que ela era bastante tímida.
- Então tem algo de errado aí.
- Mas ela nem sabe que vocês estão juntos...
- É, mas... Espera aí, como você sabe disso?
- Hum, eu supus.
- É lógico. Fernanda deve ter te contado que conheceu um cara lindo, inteligente, simpático, tudo de bom. Então você sabia o tempo todo que...
- Supus...
- (¬¬’)
- Mas voltando ao assunto, é claro que a Mayra pensa que vocês são amigos, daí tentou investir.
- Lil, polpa-me. Essa história de ‘apenas amigos’ já é passado.
- Quem dera assim fosse... – a menina pensou alto de mais olhando a casa que ficava em frente a sua.
- O que você falou aí? – perguntou se aproximando da irmã.
- Nada, nada.
- Ah, James!
- O que tem ele? – indagou tentando não encarar o David, já ao seu lado.
- Você não pode me negar que gosta dele. Dá pra ver nessa sua cara de ‘apaixonada’.
- Não estou nada. Você ficou doidão. E agora vá me dando licença que eu tenho que dormir... – disse tirando-o do quarto.
- E... Mexi na ferida – falou balançando as mãos – Ah, belo diário!
- Engraçadinho! Não é um diário.
- Desculpa. Mas é o que tem escrito na capa...
- Adeus, Vi – exclamou fechando a porta.
- De qualquer forma é bonito – ele gritou do outro lado da porta às gargalhadas.
De volta ao seu quarto, sozinha, a menina se jogou em sua cama e ficou olhando para o seu teto de estrelas por um momento. Depois se lembrou de algo, pegou o telefone ao lado de sua cama e discou um número. Esperou um momento.
- Nanda? – perguntou.
- Não, não é a Fernanda. Só um segundo - disse a voz do outro lado. Lílian ouviu quando Nanda perguntou quem era e responderam ‘uma menina de voz enjoada’. Naquele minuto Lily pensou no que seu irmão havia falado e achou que ele poderia estar certo. Um segundo depois sua amiga atendeu.
- Alô? – perguntou receosa.
- É Lily, Nanda.
- Lil, Oi. Como você está? – a menina indagou contente por sua amiga ter lhe telefonado.
- Como você está não é moçinha? Já está melhor?
- Ah, Lil. Foi só uma quedinha de nada. Já nem está doendo mais. Como foi com o pessoal? Foi divertido?
- Foi legal. Mas teria sido melhor se você estivesse lá.
- Mas não deu. Na próxima com certeza estarei lá – Nanda disse empolgada – Lil, adivinha quem está aqui?
- Hum, quem? – Lílian fingiu.
- Minha prima, Mayra! Lembra dela? Contei a você nossas loucuras de infância.
- Ah, sim, lembro. Que legal!
- Lil, que foi? Eu conheço esse seu ‘que legal’.
- Ah, amiga, não é nada. Só umas coisas na minha cabeçinha. Amanhã eu te conto tudo.
- Está bem. Eu quero mesmo te falar algo. Vá descansar. Um beijo valeu por ter ligado.
- Quer falar algo? Então a gente se fala amanhã. Você também descanse. Outro beijo.
Desligaram. Ao mesmo tempo a porta do quarto abriu bruscamente e por ela passou o garoto que a pouco saíra dali, mas agora tinha o rosto radiante.
- Lilizinhaaaaaaaa! – ele gritava sem parar – Nós conseguimos. Conseguimos.
- O que? – Lily sorria sem entender nada ao ser abraçada e erguida por seu irmão.
- A banda! Nós vamos fazer show. Vamos tocar.
Agora Lílian Evans gritava junto ao irmão ‘Parabéns, Parabéns’. Loucos!
- E quando vai ser? Onde? – ela perguntou com um grande sorriso.
- Daqui a trinta dias. Aqui em casa.
- Aqui? David Evans, não é mais uma festinha escondida não, é? – ela perguntou dando as costas ao irmão – eu não vou te encobri dessa v...
- Já está tudo certo. Combinei com eles e concordaram.
Novo ataque de gritos.
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Quando os gritos finalmente cessaram e seu irmão deixou o quarto outra vez, Lílian se jogou na cama. Percorreu os olhos por todo o lugar até que eles se fixaram em uma pequena mesinha onde estava certo ‘caderninho’ que lhe chamava atenção.
‘ Não, não, não! Isso é uma idiotice’ ela pensava tentando repreender a sua tentação de sentar a mesa novamente. Um segundo depois, a cadeira já estava sendo arrastada e a caneta já estava entre seus dedos.
Como eu dizia antes de ser carinhosamente interrompida, James é um garoto incrível, mas acho que não por muito tempo. Não que eu goste dele, quer dizer eu gosto, mas não como você deve estar pensando, é como amigo. Não me ache neurótica, é que todo mundo vive dizendo que eu gosto dele mais do que um amigo, mas não é não. Sem contar que agora... É melhor eu contar por partes.
Hoje nós saímos. Não só eu e ele, o resto da galera também, lógico (talvez eu quisesse que fôssemos só nós dois). Eunãoacreditoqueeuescreviisso. Você está sendo uma má influência pra mim. Mas eu gosto de falar coisas pra alguém, mesmo sendo inanimado (¬¬’).
A Coop machucou a perna e nem pôde ir com a gente. Tadinha. Ao menos ela melhorou e de quebra ganhou um namorado. É, é. Ela e meu irmão estão se entendendo. Certo que eu já desconfiava de tudo, mas agora deu pra eu ligar tudo de uma vez. Só é necessário ficar de olho numa tal prima dela que chegou. Não está me cheirando coisa boa (uma menina de voz enjoada ¬¬’; enjoada é a mãe dela). Só que surgiu mais um casal na área. É, sim. Vinicius e Melissa também estão dialogando menos e agindo mais (hahaha). Se o Vini andar nos conformes acho que ele ganha a Mel de uma vez.
Mas voltando à tarde, foi um desastre. Você nem imagina o que aconteceu. Começou tudo com...
Flash back
- Será que ela ficará bem? – Melissa perguntou mais para si do que para os amigos.
- Ha! Claro que sim. Meu irmão é um garoto superprestativo, sabe lidar com esse tipo de coisa – Lily falou orgulhosa.
- Então por que você estava com todo aquele receio quando ele se ofereceu a levar a Fê até a casa dela? – Vinicius perguntou com ar de curiosidade, sempre com suas perguntas mirabolantes.
- De onde você tira essas perguntas? Que menino inconveniente – Melissa indagou.
- Eu também te amo, Issa.
- Lesado!
- Mas é que... Simplesmente eu conheço aquele olhar – disse Lily pensativa.
- Conhece aquele olhar... – James pediu um complemento.
- É, James, eu conheço o meu irmão melhor que ninguém. E sei que ele não queria apenas levar a Nanda pra casa.
- E o que ele quer então? – os três perguntaram.
- Eu ainda não sei. Mas vou descobrir. Ah, vou.
- Temos um novo caso – James sorriu para os amigos.
- Temos? – Lily estudou o amigo com ar de obtusidade.
- Então enquanto você não descobre, que tal nos encaminharmos para a sorveteria? – James perguntou e todos concordaram com a idéia.
...
- Eu quero de morango - Melissa falou sentando-se numa das cadeiras ao lado de Vinicius.
- Eu, de chocolate com hortelã – ele falou para James e Lily que se direcionavam ao balcão.
- Chocolate com hortelã? Que gosto! – Mel indagou fazendo careta.
- Sabia que você fica linda assim? – o loiro disse se aproximando.
- Hum, sabia! Fico bonita de qualquer maneira...
- Realmente...
- E é? Mas dá pra chegar um pouquinho pra lá - disse ela se afastando.
- Não.
- O que você falou? – perguntou incrédula.
- Não – repetiu o garoto que agora a estudava com seus lindos olhos verdes.
- Então eu mudo de lugar. Com licença – ela deixou o garoto e sentou-se na cadeira em frente à dele, estavam separados por uma das mesas amareladas que ficavam espalhadas por toda a sorveteria.
- Você está fazendo isso porque tem medo de estar perto de mim. Tem medo de se apaixonar. É o meu cheiro? – falou o modesto com um sorrisinho saliente.
- Eu me apaixonar por você? Pirou! Seu cheiro? Não seria fedor? E eu não tenho medo de beijar você, afinal, é só um beijo. Sem contar que eu tenho certeza que seu beijo é horrível.
- E quem aqui falou em beijo?
- É... Que... Será que dá pra calar a boca?
- Melissa – o menino falou aproximando-se por cima da mesa – você tem vontade de me beijar!
- Não, não tenho não. De onde você tirou isso – e tentou desviar os olhos dele distraindo-se com qualquer coisa que passava na rua. O que se tornou difícil, pois o menino investiu ainda mais, segurando o rosto delicado dela com suas mãos sobre o queixo da menina e fixando seus olhos nos dela. Mesmo assim ela tentava não encará-lo.
- Tem sim.
- Não tenho.
- Tem sim.
- Não tenho.
- Tem sim.
- Não t...
...
Naquele momento, a pequena sorveteria que ficava em uma das várias quadras presentes nos arredores ficou mais confortável e arejada do que qualquer outro local. Os dois sentiam que a coisa mais importante do mundo seriam permanecer daquele jeito, pois se eles se afastassem algo terrível poderia acontecer ao mundo. No entanto...
- Mentira! – Lily exclamou ao virar do balcão e focar a mesa onde os amigos estavam. Na mesma hora Melissa e Vinicius se desgrudaram e James deu uma leve tapa na cabeça da amiga. Ela o fitou, indignada.
- O que? A gente dá as costas por cinco minutos e vocês aproveitam escondidinhos. Vejo que finalmente confessaram o amor que sentem um pelo outro – James falou trazendo dois dos sorvetes e dando um sorrisinho irônico para Lil que continuava parada, agora com os braços cruzados.
- Você é hilário, James – Melissa murmurou aceitando um dos sorvetes que o garoto oferecia.
- O que? Falei alguma mentira? – fez-se de desentendido.
- Idiota – ela exclamou. O loirinho permanecia calado.
- Mas e aí? Já estão namorando? – James perguntou cheio de si.
- Foi só um beijo... – Melissa continuava a bater o pé (¬¬)²
- Mas que você gostou, gostou – VV disse enquanto dava uma piscadinha de olho (*.*).
- Huuummm – James e Lílian riam.
- Nem acredito que já estamos no final das férias. Isso é inadmissível! – Melissa mudou de assunto.
- É verdade. Num instante se passaram – Lil falou pensativa remexendo nos cabelos.
- Mas imagina como não vai ser bom. Quem sabe você não encontre alguma menina que te queira de verdade, Vini. E não precise ficar atrás de alguém que só te despreza – James falou apontando disfarçadamente para Melissa. Mas...- Aiiiiiii!
Lílian havia lhe dado uma bela pisada no pé. O troco. Ele continuou a sorrir.
- E quem sabe você não decida abrir os olhos e enxergar o que está bem a sua frente... – Melissa ironizou, mas apenas Lily entendeu o que ela quis dizer. Achou que seria melhor assim.
Os amigos conversaram por um tempo, mas logo voltaram para a casa. As casas de Melissa e Viana estavam no caminho e James e Lily seguiram a sós.
- Você entendeu aquilo que a Melissa falou? – James perguntou curioso.
- Não, não – Lily mentiu.
- Ela é louca – James disse sorrindo. Nesse mesmo minuto ele parou a menina e olhou em seus olhos – Posso falar com você um minuto?
- Pó - pode – ela gaguejou.
- É que hoje, bem, hoje eu vou rever uma antiga namorada, ela se mudou só que agora ela está voltando...
- Ah sim – ela balbuciou sem sentir e desviou seus olhos para alguma das árvores que estavam concentradas na rua escurecida pela noite.
- E... Eu comprei um presentinho pra ela, e queria saber o que você acha dele – James concluiu tirando uma pequena caixinha do bolso. Quando ele a abriu a menina pôde ver um colar, um colar que...
- Mas esse não é o colar que...
- É. Que você achou lindo na joalheria quando a gente foi lá. Que bom que você lembra. Então, ele está aprovado.
- Ta. Ta – Lílian concordou pressentindo que não podia ficar muito tempo ali – Ela vai amar. Olhe, eu tenho que ir. Bom reencontro e boa reconquista.
- Mas, mas – ‘ eu não quero reconquistá-la, é só o aniversário dela’ essa foi a última fala de James, mas Lílian já tinha sumido pela porta da frente. Ele continuou a andar de cabeça baixa pensando em várias coisas ao mesmo tempo. Pensamento que foi interrompido quando Potter ia levando um tombo ao escorregar em um pequeno tecido no chão. Era turquesa.
- O echarpe de Lily – ele falou baixinho levando o acessório às narinas. Ainda tinha seu cheiro.
Fim do Flash back
Eu não pedi isso pra mim. Eu não queria isso. Se fosse possível eu tirá-lo do meu coração, eu faria isso na hora. Mas não é. O que mais dói é eu ter ido até a loja com ele comprar um presente de uma ex! Ele está a cada dia mais idiota. Será que ele não percebe? Eu gosto dele, adoro estar perto dele, mas se for pra continuar assim acho melhor não sermos mais amigos.
Lílian Evans continuava a escrever em seu ‘caderninho’, mas agora foi tomada por lágrimas que caíam ininterruptamente nas folhas perfumadas. Deitada em sua cama, os olhos inchados, aos poucos o sono foi consumindo-a devagar, e quem sabe ela não sonharia com o certo príncipe, que nesse mesmo momento, com certeza, estava a pensar nela, estivesse onde estivesse.
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