Um começo.



Prólogo
31/01/2008

Como será que se começa a escrever nisso aqui? Oi caderno? Querido amigo? Ah! Que coisa mais patética... Isso não é coisa pra mim, sinceramente! Não vejo motivo algum para eu estar aqui, sentada em minha escrivaninha, a escrever num caderno bobo.

Mais uma bolinha de papel rolou pelo chão e foi parar próxima a lixeira que já estava transbordando de tão cheia. Uma garota de longos cabelos castanho-avermelhados estava sentada numa cadeira acolchoada repleta de flores pintadas. A cadeira fazia par com a mesa, onde ela agora escrevia pensativamente. Sobre a mesinha, havia apenas um computador portátil, um porta-lápis, e agora, um pequeno caderno cor-de-rosa que tinha em sua capa algo escrito, algo parecido com Diário. Era formado por delicadas folhas perfumadas com desenhos em cada uma delas. Agora também apresentava uma caligrafia fina, a garota retornara a escrita
01/2008
Como não sei de que maneira posso começar a escrever, vou dizer logo que não estou abrindo esse tal caderno porque quero. Abro por consideração a minha amiga, a Nanda. Isso porque, de forma descarada, ela me deu de presente. Ontem mesmo, no meu aniversário de 16 anos. Chamo-me Lílian Evans. Resido em Londres desde sempre, e aqui permanecerei até minha morte, assim espero. Construir toda uma vida aqui e não quero desfazê-la tão facilmente.

Estou no colegial cursando meu último ano, ou melhor, cursarei. As aulas ainda não iniciaram, só em dois dias. Não posso dizer que não estou ansiosa, é claro que estou, mas se meus amigos virem isso logo dirão que sou uma ‘nerd’. Coisa que eu não sou. Posso dizer que apenas gosto de ler em excesso. Algo do tipo.

Meus amigos. Nem sei o que falar deles. Sabe aqueles que mesmo não estando perto, estão perto, no coração? Aqueles que por tempos que não se falem quando reencontra é a mesma coisa, desde sempre? Os que te fazem sorrir quando pode, e quando não pode também? Que fazem você entender o verdadeiro sentido de tudo, tudo mesmo? Que você não imagina a sua vida sem eles nem a deles sem você? Que chama seus pais de tios, entra na sua casa sem pedir licença e já vai abrindo a geladeira, pois se sentem em casa? Eles são assim pra mim, TUDO. O nome deles? Ah, eu os apresento! Fernanda Coop, Melissa Lima, James Potter, Vinicius Viana (VV). No entanto, são como irmãos.
O melhor de todos é o James. Ha.! Ele e seu senso de humor exagerado. É impossível ficar um minuto ao seu lado sem dar uma boa risada. Hilário. Mas ao mesmo tempo insensível. É, muito! Não percebe o que passa ao seu redor e fica causando efeitos colaterais nas pessoas que mais gosta. Às vezes, posso até dizer, um metido. Sim, um metido! Fica passeando por toda a escola com seus cabelos arrepiados, só pra mostrar que acabou de sair da piscina por ser um atleta, namora todas as meninas da escola achando que é o ‘bonzão’. Ora, não tenho que agüentar isso. Minhas amigas vivem a falar que digo isso porque tenho ciúmes dele. Ora, eu não tenho ciúmes dele não. Afinal, somos apenas amigos .

Lá vou eu de novo com minha bipolaridade! Ótimo humor, mal-humor. Mas quando eu lembro do...

- Lílian! Venha até aqui filha – uma voz doce soou por toda a casa, invadindo o quarto da menina.

Ela levantou da cadeira e andou em direção a porta. Deu uma última olhada a sua volta, viu sua cama enorme já forrada e coberta por ursos, olhou para a penteadeira e viu todas as suas escovas, perfumes e acessórios organizados por cor e tamanho (era um pouco rigorosa), viu a porta de entrada para o banheiro, outra para o closet, as paredes com sua própria caricatura nelas, seu painel de fotos, o tapete rosa revestindo todo o quarto, a escrivaninha que a pouco estava, e nela o seu computador, seu diário, porta-lápis. Ainda reparou de relance a varanda que tinha a porta de vidro entreaberta deixando perpassar uma brisa deliciosa e fria que fazia chacoalhar as cortinas. Ainda numa estante próxima viu todos os seus livros, que não eram poucos, em ordem alfabética. Tudo perfeito! Foi então que ela fechou a porta, andou pelo corredor imenso da sua casa que dava acesso às escadas. Num instante ela já estava no saguão térreo, em frente a sua mãe.
- Ah, minha querida. Eu só chamei para avisar que estamos de saída – disse sua mãe apontando para si mesma e para a irmã do meio de Lílian, Petúnia – Estamos indo às compras, e como sei que você não gosta disto então nem ousei te chamar. Não sei a hora que retornaremos, mas a Karen está aí para qualquer coisa que precise.

(Ah! Antes que me esqueça. Karen era a bondosa senhora que servia os Evans a mais de décadas.)

- Certo, mama – confirmou Lílian dando um beijo no rosto de sua mãe e devolvendo uma careta para sua ‘querida’ irmã enquanto sua mãe estava de costas.
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A família Evans era composta por três filhos, Lílian, Petúnia e David, pelo pai, Carlos, e a mãe, Alice.

Lílian era a mais nova e por isso a mais mimada e querida. Mesmo com todo o mimo, nunca deixou de ser uma garota simpática e sorridente, características que lhe garantiu uma grande quantidade de amigos e sua popularidade na escola. Era uma linda garota ruiva, de estatura mediana, magra, olhos verdes e brilhantes.

Petúnia era uma pessoa arrogante, metida que tinha como amigos as piores espécies de pessoas (isso se fosse ditas pessoas). Sentiam-se sempre os melhores do pedaço só por fazerem parte de famílias importantes e conhecidas na região. Moravam em Londres, num bairro respeitado e famoso, Willesden Green. Era muito magra, alta e queixuda. Olhos enormes e escuros, diferente dos de Lílian. Sua voz era fria e desconcertante, desagradável de se ouvir.

David era o mais velho, e por isso, mais ‘descolado’ dos irmãos. Fazia faculdade de direito, e por isso morou um tempo com algumas tias, um ano, numa outra cidade da Inglaterra; tinha chegado à Londres a mais ou menos um mês. Adorava festas, atividades em grupo, música (tinha uma bateria maravilhosa que ganhou de seus pais no último aniversário, sem contar na banda de garagem que tinha montado com seus amigos). E apresentava certa preferência por sua irmã mais nova, baú de todos os seus segredos. Era alto, pele clara, cabelos escuros e olhos de mesmo tom. Porte de galã. Tinha 19 anos.

Srª. Evans, Alice, tinha cabelos avermelhados, olhos castanhos, pela tão clara como os flocos de neve. Mulher bastante sábia e que tinha certa paixão por animais, o que explica sua profissão, veterinária.

Seu marido, Carlos, com seus quarenta anos, possuía mechas grisalhas misturadas ao espesso cabelo castanho, perspicazes olhos verdes, uma voz grave e o sorriso intenso e despreocupado. É o espelho de seus dois filhos, Lílian e David, ao ser um dos advogados mais requisitados do lugar.

Posso até afirmar: era uma família feliz.
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Lílian, após despedi-se de sua mãe e irmã, retornou ao seu quarto. Subia a escada pensando na tarde daquele dia, como seria ótima já que sairia com seus amigos. Antes de entrar nele, já com a mão na maçaneta, arrumou seus cabelos e ajeitou a roupa. Olhou de relance o espelho do corredor e, enfim, entrou. Mas ao abrir a porta do quarto...

... Havia alguém sentado na sua cadeira mexendo no seu computador.

- James Potter! O que você está fazendo aqui? Invasão! – ela falou se aproximando do garoto se fazendo de séria.

- Isso é o que dá deixar a porta da varanda aberta! Poderia ter entrado qualquer um. É por isso que eu vim até aqui fechá-la assim que a vi de lá de casa – ele falou levantando para dá um beijo no rosto da menina. Ela deu um leve suspiro quando ele se aproximou. James morava na casa da frente de Lílian, mas ficava bem mais tempo na casa da garota do que na própria casa. Era muito comum o menino subir pela escadinha do jardim até a varanda da amiga, entrar no quarto escondido e surpreendê-la (hoje em dia mais nem tanto) quando regressava. – Vim aqui perguntar se estar tudo certo pra hoje. Está né?

- É, está sim - Ela falou se jogando na cama. Ele a seguiu e se jogou ao seu lado. Os dois se olharam. – Sabia que já existe telefone? Você poderia ter ligado.

- Ha! Obrigado pela parte que me toca. Mas eu preferi vim aqui e ler o seu diário – e apontou para a mesinha.

A menina estremeceu e deu um pulo da cama, correndo em seguida para a mesa. Pegou o diário e apontou-o para James. Estava pálida.
- Você leu?

- Realmente eu não sabia que você gostava dessas coisas. Escrever um diário? Isso não é atitude de Lílian Evans – ele falou meio sarcástico.

- As pessoas mudam – murmurou andando em direção a varanda.

- Mas com certeza você não é uma dessas. Olhe ao seu redor, Lily. Tudo aqui é extremamente ‘perfeito’ no mundo de Lílian Evans. Definitivamente você não é uma pessoa mutável.

- E o que você queria? Que eu deixasse minha cama desforrada o dia inteiro (pra que forrar se a noite eu vou dormir de novo?), roupas pelo chão, cadernos e CDS espalhados pelo quarto e fingisse ser você?

- Mas não é mesmo? Eu vou dormir à noite, pra que eu vou forrar a cama?

- (¬¬’)

- Para mim, só há uma justificativa – ele falou pondo a mão no queixo.

- Pra que? – ela se virou para encarar o amigo.

- Para você escrever uma coisa dessas.

- James, polpa-me. Não venha dá uma de detetive pra cima de mim.

- ANRRAM. Está vendo só? Eu sou tão bom detetive que você está com medo que eu investigue esse caso.

- Mas que caso? Não há nenhum caso. Você está pirando com essas suas aventuras de detetive. Você será um investigador ótimo, mas quando se formar.

- Claro que há um. Você está gostando de alguém escondido e não quer contar a ninguém. Daí vai ‘contar todas as suas amarguras e tristezas para o seu fiel amigo que jamais revelará nada a ninguém’. E eu sei quem é esse alguém...

A menina prendeu a respiração. Será que era tão óbvio?

- É claro que sou eu. Ha! Sempre soube que você morre de amores por mim. Venha me dá um abraço meu amor. Esqueça esse diário e venha viver a realidade – James falou, rindo alto, mas mesmo assim tentando abraçar Lily.

- James, eu... – ela tinha o olhar sobressaltado.

- Venha donzela, venha aos meus braços – e então ela notou o sarcasmo na voz do garoto.

- Ó, como você adivinhou todo o meu amor por você?– Lily falou tentando ser irônica – jamais alguém descobriu o meu segredo.
- Intuição masculina, gata – o menino disse dando uma piscadela – e agora eu tenho que ir, se não se importa, é claro. Se minha mãe entrar no meu quarto, teremos outro caso a ser solucionado, e você vai acabar perdendo o amor da sua vida – outro remexer de olhos. - Adeus gata. Continue pensando em mim.

- Idiota! Nos vemos mais tarde – ela falou antes de fechar a porta do seu quarto. Encostou-se nela e ficou ouvindo o barulho de James andando pelo corredor e logo depois descendo as escadas. Enfim, veio o barulho da porta da frente. Na imaginação da menina se passava mil coisas.

Eu estou pensando em você.
Pensando em nunca mais
Pensar em te esquecer
Pois quando penso em você
É quando não me sinto só
Com minhas letras e canções
Com o perfume das manhãs
Com a chuva dos verões
Com o desenho das maçãs
E com você me sinto bem

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