O Malfoy
Eu estava entorpecido; deitado na minha cama, não sentia os problemas baterem na minha porta, ou coisas do gênero. Pela primeira vez na minha vida, estava verdadeiramente calmo. O meu quarto ficava no terceiro andar da mansão; era um dos mais ventilados. Eu era acostumado com o frio, era fato. Não só com a temperatura, como o “sentimento”, a forma de ser frio. Eu estava pensativo naquele dia; e isto era um grande problema. Geralmente, planos maléficos saiam de minha mente. Mas sempre os distorcia, transformava quase em nada. Na verdade, os meus “servos” não ajudavam muito, eram apenas a pedra no meu sapato, os brutamontes. Porém, sempre agia de forma rude, fria, insensível. Afinal, como agiria outro alguém criado por Lucius Malfoy, o calculista Comensal da Morte? Não vejo outra maneira. A tarde caía no horizonte; o tempo passava, e nenhuma palavra era ouvida na mansão. Estava mais silenciosa que nunca: outro perigo. Sempre que isto ocorria, algo de muito ruim iria acontecer. E quando digo ruim, quero dizer péssimo. Mas daquela vez, não. Eu estava apenas sozinho na imensidão de minha casa. Meu pai e minha mãe haviam saído, tudo estava limpo para mim. Eu fitava o teto, a todo momento, acompanhando com o olhar as formas do mesmo. Alguns traços desenhados cuidadosamente, em linhas retas e curvas, que davam um contraste no branco da parede. Branco e verde. . . as principais cores do meu quarto. Os móveis eram da mais pura madeira, o lustre era de cristal. Um quarto de “príncipe”. Enquanto eu estava preso aos meus pensamentos “banais”, uma guerra estava ocorrendo lá fora. Comensais contra Aurores, o bem contra o mal. Quem venceria? Não sabia. Apenas sabia que eu deveria ser das trevas, eu deveria ajudar o Lorde. Deveria.
- Penso nisso depois. Agora, o que vou fazer? Uma semana sozinho, nesta casa. . . As aulas não vão começar tão cedo. Não tenho o que fazer! – Minha voz estava alterada, eu sabia.
Caminhei para o banheiro do meu quarto, com a maior lentidão possível. Retirei minhas vestes com calma, jogando-as em um cesto de prata. Entrei embaixo do chuveiro quente, e relaxei os meus músculos. Era tão bom sentir aquela água quente percorrer todo o meu corpo, me acalmar. . . Quando saí do banho, já seco, vesti uma calça jeans, calcei meu tênis, e coloquei uma camisa Pólo preta. Segurei minha varinha com força, e coloquei-a no bolso da frente. Saí do quarto, descendo as escadarias de minha casa com velocidade. Queria logo sair dali. Um carro já me esperava, com antecipação. Entrei na limusine, e assim que o motorista deu a partida, o carro levantou vôo. Ficamos invisíveis, aos olhos de todos. Era bom estar “apagado”, ao menos por um segundo da minha vida. Relaxei o corpo no banco de trás, fitando o céu, que já estava escuro. A noite estava caindo, eram quase Sete horas. Em poucos minutos, o carro já estava estacionado. Saí do mesmo, sem olhar para trás, e passei a caminhar por uma rua, sozinho. Londres estava infestada de trouxas, eu sabia. Mas aquele era o menor dos meus problemas, ao menos naquele momento. Caminhei apreensivo, entrando em algumas ruas, e finalmente enxergando a plaqueta, com uma bruxa e um caldeirão. O caldeirão furado. Entrei no recinto, e, sem fitar para os velhos e bêbados que ali estavam, passei para uma das portas. Toquei três vezes em um muro que ali estava com a varinha, e o mesmo se abriu. O Beco Diagonal estava aberto para mim.
Voltei a caminhar, após alguns segundos de análises. Tinha alguns galeões nos bolsos, na verdade, vários sacos. Tinha uma lista de materiais na mão, e compras a fazer. Eu sabia: poderia contratar um servo para fazer aquilo. Porém eu sabia que um maldito qualquer não saberia comprar tudo do bom e do melhor. Entrei na primeira loja: Madame Malkins. Meus cabelos loiros pararam de esvoaçar, e finalmente se colocaram na minha pele pálida. A mulher logo me levou a um local alto, e me envolveu com algumas mantas negras, de meu agrado. Escolhi algumas, paguei, e saí dali. As compras seriam entregues em minha residência, para meu alívio: Sair com sacolas pelas ruas dali não era nada agradável. A lua cheia já estava lá, impune, brilhante, quando terminei minhas compras. Olhei para cima, fitando-a mais uma vez. Parei em frente ao Três Vassouras, e entrei na loja. Sentei-me no balcão, e logo tratei de pedir uma cerveja amanteigada. Ouvi meu nome ser chamado, e apenas movimentei minhas orbes para o lado.
- Ah, é você, Pansy. – Respondi, desanimadamente.
- Claro que sou eu. Quem mais poderia ser? – Parecia que tentava ser irônica.
- Qualquer um que fosse melhor que você. – Ela me fitou. Notei que tentava me fuzilar, que estava “com ódio de mim”.
Depois daquela resposta, o silêncio reinou naquela parte do balcão. Pelo menos por minha parte e dela. Os outros gritavam, riam, se divertiam. Me levantei e caminhei até a porta. E foi quando senti o impacto no meu nariz. A dor foi enorme, porém não gritei, apenas gemi, baixo. Senti o sangue escorrer, de tamanha força do impacto ele parecia ter quebrado o meu nariz. Quando procurei quem o causou, achei uma Weasley. Gina.
- Sua pobretona, não sabe nem como abrir uma porta? – Sim, minha raiva acumulada parecia se revelar, depois da calmaria.
- Alto lá, Malfoy. Olha como fala com minha irmã. – Ronald.
- A conversa não chegou no seu chiqueiro, Rony. Fique calado. E então, o que vai fazer quanto a isso, Gi. . . – Quando parei para analizá-la melhor, não acreditei no que via.
Gina não era mais aquela pirralha que se vestia com trapos. Ela estava. . . bonita. Já era uma adolescente, de corpo formado. E bem formado. Balancei a cabeça algumas vezes, voltando ao mundo real. “Bonita? Isto é um dragão”. Talvez eu tentasse me enganar, não sabia ao certo.
- Me desculpe, Draco. – Sua voz era doce e suave.
- Você vai se desculpar com esse olho junto?
- Vou sim. Qual o problema? Só quero curtir a última semana de férias, Ron. Não quero perder meu tempo com brigas infantis. Se quiser, fique aí. – Ela me lhou, uma última vez, e caminhou para a primeira mesa vaga que viu.
Rony continuou a gritar comigo. Revirei os olhos e saí da loja, batendo a porta com força, ignorando-o. Ainda com a mão no nariz, caminhei para o ambulatório mais próximo. Alguns feitiços no nariz, e o sangue havia estancado. Meu nariz estava no lugar, por fim. Ah, agora poderia sair dali. Caminhei pelas ruas do Beco, olhando para os lados, uma última vez. Fitei Gina, que me olhava, apreensiva. Foquei minha visão na mesma, por alguns longos segundos, e voltei a acompanhar o meu caminho, com o olhar. Quando dei por mim, já estava na limusine, e já estava indo para casa. Deixava os Weasley’s e o resto para trás.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!