Capitulo XVIII




Cho foi bastante reticente ao comentar o que Harry lhe dissera pelo telefone.
- Não me lembro direito - disse, ao descer para o café da manhã, quando Gina estava para terminar a refeição. - E você divertiu-se ontem à noite? A comida do Bell é boa? Confesso que o seu garoto é bastante charmoso.
- Nigel não é “meu garoto” - protestou secamente.
- Como devo me referir a ele, então? Não é amigo da família, certo? Harry nunca o viu na vida.
- Ele disse isso?
- Disse. - Cho serviu-se de café. - Pena você não estar aqui na hora do telefonema.
- Ele perguntou por mim?
- Sim, e quis saber com quem tinha saído. Naturalmente, eu o infomiei.
- Contou em que situação conheci Draco? Explicou que a moto enguiçou?
- Ele apenas disse que você devia ter sido mais precavida.
Gina ficou uma fera! Apoiou os cotovelos sobre a mesa, encaixou o queixo entre as mãos e falou com raiva:
- Concordou com ele, aposto. - Cho sorriu.
- Foi imprudência mesmo, não foi?
- Esqueci de examinar o tanque. Simplesmente esqueci.
- É possível que, quando voltar, Harry não dê a mínima importância ao incidente.
Gina esperava que Cho tivesse razão.
- Harry justificou o adiamento da partida de Montevidéu? Ia voltar para cá amanhã...
- Justificou... Não sei, mas parece que o contrato não chegou a ser assinado. Bom, de qualquer maneira, sairá de lá na sexta-feira e chegará aqui provavelmente na manhã do sábado.
- Tem tanto tempo daqui até sábado...
Cho lançou-lhe um olhar complacente.
- Espero que nesse meio tempo a gente se entenda melhor - observou. - Seu tio pensou nisso. Aliás foi ele quem disse? Talvez possamos nos preocupar mais com a sua aparência. - Você ainda está usando os mesmos jeans que usava antes da minha chegada.
Gina deu de ombros, num sinal de indiferença.
- Gosto deles, se quer saber. E não preciso de seus conselhos. Sei escolher minhas próprias roupas.
- Tem certeza? Cho sorriu sem vontade. - Contou à sra. Marsden o que Harry achou da ajuda dela?
Gina não respondeu. Preferiu fazer círculos com os dedos sobre a toalha da mesa.
Cho estava prestes a perder a paciência.
- Seu tio está certo. Uma escola longe de Matlock Edge é a única opção.
- Harry falou isso?
- Ele sempre falou, se não me engano. Vim para cá, a pedido dele, para fazê-la mudar, mas você não mudou, não muda... Não mudará, evidentemente. Este seu passeio com o rapaz só piorou as coisas.
- Se é isso, nunca mais me encontro com Draco.
- Náo, não é isso - disse Cho, com ar benevolente.
- O que quis dizer, então?
- Refiro-me à situação na estrada, Gina - Cho corrigiu calmamente. - Creio ter sido bom ter aceitado o convite para jantar. - Fez uma breve pausa. - Afinal, se Harry simpatizar com Draco não condenará a amizade de vocês. É exatamente isso o que ele espera de você.
- Cho, quer se explicar melhor?
- Desde que você se comporte como adulta, como poderá ele acusá-la de ser infantil? Um namorado firme é o primeiro passo para um casamento e...
- Não vou me casar!
Cho continuou a falar, como se não tivesse sido interrompida.
- ... e a prova definitiva que você é uma garota cada vez mais sensível e sociável.
Gina fitou-a sem compreender muito bem as intenções dela.
- Não teme perder seu emprego, caso isso venha a acontecer?
- Vim para ajudá-la, guiá-la e me sinto capacitada para isso, também para lhe fazer companhia... Espero simplesmente ser bem-sucedida. Agora, longe de mim ter a intenção de impedi-la de arranjar seu próprio namorado. Não é o que Harry quer de mim.
Gina silenciou, procurando refletir sobre a resposta ambígua de Cho. Aparentemente, Cho estava ali para também servir de dama de companhia. Mas e se os papéis estivessem invertidos? Perguntou-se Gina, juntando os dedos das mãos. Não seria ela, Gina, a dama de companhia? Não estaria Harry esperando que ela acompanhasse sua futura esposa, para que esta não se sentisse muito sozinha?
Durante o resto do dia, Gina remoeu esses pensamentos e suspeitas. Na manhã de segunda-feira, resolveu reatar a amizade com Cedrico e visitá-lo na garagem. Precisava afastar-se da casa, ao menos por alguns minutos, para conversar com alguém. Sem contar as tentativas amorosas de Cedrico, ele ainda era um dos melhores amigos que possuía.
Cedrico ocupava-se com o motor do cortador de grama quando Gina saiu para o pátio. Olhou-a casualmente, saudou-a e continuou com o serviço.
- Oi! Ela disse aproximando-se e parando ao lado dele. - Que está fazendo?
- O que acha que estou fazendo? Retrucou ele. - O que deseja srta. Gina? Andou desaparecida...
- Ora, Cedrico! Exclamou, enfiando a mão na cintura da calça. - Não me trate assim. Desculpe se eu maltratei você, mas continuamos amigos, não?
Ele ergueu a cabeça para olhá-la.
- E se eu não quiser mais ser seu amigo? Ouvi dizer que arranjou um namorado. Ele já descobriu que está perdendo tempo?
Ela enrubesceu.
- Não sei do que está falando.
- Eu é que sei! Cedrico levantou-se e esticou o corpo espreguiçando-se. - Demorei para perceber, mas agora entendo tudinho
- Entende o quê, Cedrico?
- Por exemplo, porque Harry apareceu feito doido aquele dia em que estávamos abraçados. Eu não sabia que estava entrando no campo dele!
- Cedrico!
Ele encolheu os ombros.
- Você está apaixonada por seu tio, não está?
- Harry não é meu tio, e você sabe disso.
- Então é verdade. Gina, ele é velho demais para você!
- Ei, não sei do que está falando! Voltou para o outro lado, sentindo um estranho vazio. Também, com Cedrico era impossível conversar!
- Saber sabe sim! Replicou Cedrico, indo por detrás dela e pondo-lhe as mãos nos ombros. Ele a fez virar de frente com delicadeza.
- Não esperava isso de Harry. Sinceramente. Achava que ele cuidava de você!
- Pois ele cuida. Cedrico, não se iluda...
- Iludir?
- Harry não tem interesse em mim. A não ser como tio, como acabou de dizer. Aquela atitude nada tem a ver com gostar de mim. Pelo contrário, precisei implorar para ele não me mandar embora de Matlock Edge.
- Ele quis enviá-la para a escola da Suíça? E você acreditou nisso?
- Acreditei e acredito. - Desvencilhou-se das mãos dele e fitou-o inconformada. - Cedrico, você é um cego, mesmo! Harry só tem interesse por Cho Chang!
- O pedaço de mau caminho japonês?!
- O próprio! Afirmou Gina. - Acredita em mim?
- Ora, Harry se meteu com duzias de mulheres iguais a ela!
- Mas não como agora - contra-argumentou. - Reparou que até eu completar dezessete anos, Harry não deixou nenhuma mulher morar aqui?
- Pensei que ela houvesse vindo para te ensinar lições de boas maneiras.
- No começo também pensei. Mas, sinceramente, acha isso plausivel? Cho veio para ficar por um período indefinido. Acha que posso ter aulas de boas maneiras indefinidamente?
Cedrico vacilou.
- Acha que o motivo é outro?
- Acho.
- E você? Perguntou Cedrico, franzindo a testa. - Posso ter me equivocado em relação ao seu tio, mas e você?
- Eu o que, Cedrico? Perguutou, dando um passo para trás.
- Você o ama?
- Cedrico!
- Está na cara que sim - repetiu. - Eu devia ter percebido logo. Na verdade, acho que não quis acreditar que fosse verdade.
- Cedrico, procurei você porque somos amigos...
- Eu sou seu amigo - disse Cedrico, com gravidade. - Gostaria agora de dizer que não, mas nos conhecemos há muito tempo. - Fitou-a fixamente. - Por isso espero que esteja sendo sincera comigo.
- Está bem! Amo Harry! Sempre o amei... pelo menos desde que comecei a compreender os meus sentimentos.
Cedrico balançou a cabeça, ainda incrédulo.
- Não é uma espécie de adimiração? Harry influenciou você durante a vida inteira. Não está fantasiando um tipo de homem que nunca existiu, a não ser na sua imaginação?
- Como assim?
- Gina, Harry é um homem como qualquer outro. Tem as necessidades dele, as vontades... Usa as mulheres, como todos os homens, para satisfazer seus desejos sexuais!
- Entendo o que quer dizer - respondeu, inclinando a cabeça. - Pensa que não conheço essas coisas?
Cedrico olhou-a desconfiado.
- Mas quando a beijei com desejo você não correspondeu!
- Oh, aquilo foi diferente! Não foi como com Harry.
- Como sabe? Aposto que de Harry você também fugiria!
- Não fugi não!
Assim que falou, Gina percebeu que fora apanhada na armadilha de Cedrico.
- Gina, é verdade que ele a tocou, então? Perguntou, aproximando-se. - Se é verdade, eu... eu...
- Você o quê? Desafiou, sentindo-se ao mesmo tempo deprimida.
- Oh, Cedrico, ele me beijou, sim - admitiu, batendo com a ponta do tênis contra o chão. - Mas eu o forcei a isso.
- Você o forçou? Indagou perplexo. - Como?
- Te interessa? Por tê-lo forçado, justamente, é que entendi que ele não me ama. Se me amasse, ele mesmo teria... ora, nem preciso explicar.
- Oh, Gina, Gina!
- Não tenho vergonha, não é? Harry disse isso!
- O que vai fazer agora?
- Nada, bolas, não vou fazer absolutamente nada! Respondeu com tristeza, andando pelo pátio. - Que posso fazer, senão continuar morando aqui ou ir embora de vez.
- Você resolveu namorar Draco Malfoy? Um dia irá embora com ele?
- Quem sabe?... Se Harry quer Cho pra valer, não posso continuar aqui. A gente se tolera nem sei por quê!
Cedrico suspirou.
- Sempre me dispus a casar com você, Gina - disse calmamente.
-Ou não sou um bom partido?
- Oh, Cedrico! Exclamou; segurando-lhe o braço instintivamente. - Claro que é... Bom demais pra mim, até. - Só que não ia dar certo...
- Porque não?
- Porque não amo você!
- A gente podia tentar. Vai que você aprende a me amar e...
- Tem certeza de que isso faria a gente feliz?
- Não, não tenho - respondeu com sinceridade. - Se não me ama, não adianta, e já estou preparado para aceitar.
Gina acariciou o rosto de Cedrico querendo atenuar o sofrimento dele. Ela bem sabia o que significava amar sem ser amado.
- Mas não se esqueça - disse ele afetuosamente. - Eu a conheci antes de Draco Malfoy!
Draco telefonou para Gina na segunda-feira, como havia prometido.
A princípio, após a conversa com Cedrico, ela se viu tentada a recusar o convite, mas o comentário de Cho a levou a agir com maior cautela. Ainda existia a possibilidade de Harry não haver trazido Cho a Matlock Edge porque a amava, e se isso fosse verdade, a última coisa que daria a ele seria um motivo para ser mandada de volta ao colégio da Suíça.
Como Draco propusera, foram ao cinema em Bradford e depois jantaram no restaurante chinês.
- Sabe, não sei qual é a diferença entre clww mein e chop suey - confessou Draco, levando à boca uma porção de broto de feijão. - Só sei que gosto do macarrão temperado desse jeito.
- Adoro comida chinesa - disse Gina. - Mas também adoro a comida inglesa que, por sinal, Cho detesta.
- Imagino que Cho não come nunca - observou, em tom de gozação. - Eu não gostaria que você fosse magra daquele jeito. Nada saudável.
- Você é um galanteador.
- Até que não - disse, fitando-a. - Você é perfeita do jeito que é.
- Oh, ouvir isso é bom para o meu ego! Gina agradeceu.
- Você faz muito bem aos meus olhos - ele disse, inclinando-se sobre a mesa e apertando-lhe a mão. Agora continue comendo. Estou doido pela sobremesa!
Deixou-a em casa depois das dez e meia e propôs um novo encontro.
- Quer ir comigo a uma festa na sexta-feira à noite? Sei que o seu tio estará voltando nesse dia, mas prometo trazê-la para casa cedo.
Gina hesitou.
- Harry só vai chegar no sábado - informou. - Onde será a festa? Precisarei dizer a Cho.
- No apartamento de um amigo meu, em Harrogate - explicou Draco. - Sei que é um pouco longe, mas sairemos de lá a tempo.
- Tem certeza de que chegaremos aqui cedo? Gina fez uma expressão de dúvida. - Harrogate fica a trinta quilômetros daqui.
- Vinte e nove, para ser exato. - Ele a corrigiu. - Não se preocupe com isso, o meu carro esporte é de confiança.
- Não sei... Harry não concordaria...
- Ele não estará aqui, certo? Vamos, Gina, você não é uma criança... Pense nisso.
- Está bem. - Concordou com relutância, pressentindo que ainda se arrependeria da decisão. - Mas não poderemos chegar tarde demais. No máximo às onze.
- Tudo bem, se é o que quer. E agora eu não mereço um beijo de despedida?
Gina consentiu que Draco a beijasse, mas quando ele experimentou tocá-la no pescoço, ela recuou imediatamente.
- Não, aí não... Quer dizer, é melhor eu entrar, Draco.
Ele acariciou-lhe os lábios antes de deixá-la sair.
- Você é um doce... e sensual, também. Sou um sujeito de sorte.
- Como assim?
- Ora, Gina. Não sou o primeiro a achar isso. - Até entendo porque seu tio não tira o olho de cima de você. Eu faria a mesma coisa.


Continua...



Bianca
Lua Potter
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