Comunicação intensa




Capítulo 10 - Comunicação intensa




As últimas semanas de aula vieram rápidas, e todos os alunos se afundaram em preparativas para os exames. Os do quinto e sétimo anos começaram a entrar em estado crítico por causa dos N.O.M.s e N.I.E.M.s. Muitos deles baixaram enfermaria devido a nervos ou exaustão.



Uma série candidata aos cuidados de Madame Pomfrey era Theresa, embora ela nem se desse conta. Mas a histeria dos N.I.E.M.s nada tinha ver com isso. O caso dela era diferente: depressão profunda.



Theresa deixou de comer e dormir, e tinha dificuldade para estudar. Todos os seus colegas, seus professores, até seus pais, atribuíam isso à experiência da batalha em Hogwarts e aos exames de final de escola. Eles não podiam adivinhar que Theresa estava caindo em depressão por um amor não-correspondido.



Ela já mostrara tendência à depressão, e a amiga Déborah estava muito preocupada. Ela foi falar com o diretor da casa, o Prof. Flitwick. Ele chamou Theresa para uma conversa (ostensivamente uma entrevista para Orientação Vocacional) que em nada resultou. Contudo, o pequeno professor não era totalmente distraído e notou o estado geral deplorável da jovem. Ele falou com a amiga Déborah mais uma vez e finalmente descobriu do que se tratava: assuntos do coração.



Flitwick teve que tomar uma medida extrema.



- Professora, podemos conversar?



- Claro, Filius. Do que se trata?



- É um assunto acadêmico de natureza sensível. Teria que ser num lugar privado.



- Vamos ao meu gabinete.



Como a sala do minúsculo professor ficava no sétimo andar, ele não teve dificuldades em chegar ao gabinete dela, na Torre de Grifinória, o mais rápido que suas curtas perninhas lhe permitiam. Ao chegar foi recebido com um sorriso e chá. Ele sorriu de volta:



- Você sabe mesmo como receber as pessoas.



- É, mas não espalhe senão eu iria ter mais visitantes do que Alvo - Minerva McGonagall indicou-lhe uma cadeira com livros para ele se sentar - Diga, Filius, o que o aflige?



- Como eu disse antes, é um assunto sensível. Uma das alunas de minha casa... ela está sofrendo muito por... problemas de coração.



- Oh, pobrezinha. Mas elas são jovens, elas se recuperam rapidamente.



- Não esse caso, Minerva. Eu... não tenho jeito para lidar com essas coisas, e sendo uma aluna que deposita muita confiança em você...



- Em mim?



- Sim, você a treinou para ser animaga. Ela gosta muito de você.



Minerva arregalou os olhos:



- Oh, Merlim! Está falando de Theresa Applegate?



- Ela mesma. Está apaixonada por Severo.



- Severo? - Minerva só arregalou os olhos ainda mais - Oh, coitadinha! Acha que foi por causa do.... incidente?



- Não segundo me disse uma amiga dela. Ela já era apaixonada por ele antes do incidente. Talvez esteja aí a raiz do nosso problema.



- Oh, Filius, mas isso não é tão grave. A mocinha logo se apaixonará por outro e...



- Isso se ela sobreviver, Minerva - disse o professor de Feitiços gravemente.



- Como assim?



- Você também não tem reparado nela, não é? Pois eu só reparei hoje. Ela está muito debilitada, não come e não dorme. Está sempre chorando. Eu começo a temer... o pior, Minerva. Ela pode ficar suicida.



- Pelas barbas de Nostradamus! E o que eu posso fazer?



- Fale com ela. Eu não tenho muito jeito para esses assuntos de mulher. Além do mais, você ensinou-a a ser uma animaga. Ela gosta de você. Vai escutar o que disser.



- Eu vou falar com ela. Vamos ver como ela reage. Depois marcamos uma nova reunião.



- Obrigado, Minerva. Seu chá estava delicioso.










As investidas de Minerva McGonagall para tirar a jovem Applegate de seu estado depressivo resultaram num redundante fracasso. Oh, elas conversaram, e exaustivamente. Mas Theresa estava imersa em tristeza e pensamentos negativos. Ela tentou tranqüilizar sua professora de Transfiguração, dizendo que estava cumprindo o que prometera ao Prof. Snape: não mais procurá-lo. Os apelos de Minerva caíram em ouvidos moucos.



Foi isso que levou a vice-diretora a buscar ajuda mais alta em Hogwarts. Ela explicou a situação ao Prof. Dumbledore, que por sua vez foi buscar cooperação de Severo Snape. Não foi nada fácil. O Mestre de Poções, irritadiço e irredutível, esbravejou, vituperou, esperneou e resistiu o quanto pôde, mas no final a vontade do diretor de Hogwarts prevaleceu. Snape ficou de falar com a moça - e teve que prometer que a trataria de maneira civilizada.



Theresa ultimamente tinha passado muitas de suas tardes perto do lago, olhando as árvores em cima das quais costumava brincar quando era seminviso. Enquanto seus colegas se preparavam para os terríveis N.I.E.M.s, ela se refugiava em tempos felizes e lembranças contentes.



Mas seu idílio foi interrompido:



- Oi, Theresa.



Ela deu um raro sorriso ao ver quem tinha chegado:



- Harry! Você não deveria estar estudando?



- Eu posso perguntar o mesmo. Você também está para prestar os N.I.E.M.s.



Theresa deu de ombros:



- Isso não é mais muito importante para mim. Eu quis vir aqui olhar esse lugar antes de ter que deixar Hogwarts.



- Aqui é muito bonito.



- Terei boas lembranças desse lugar.



- A gente costumava olhar lá de cima quando você vinha... passear.



- Eu adorava. Ficava esperando por isso o dia inteiro.



- Tem uma coisa que eu queria lhe perguntar... sobre o incidente.



- O que é?



- Quando você era... era... bom, era Tessa, você gostava de mim, não é? Mas por quê? Nós nunca fomos amigos.



- Não sei bem por quê. As coisas tinham uma perspectiva diferente, sabe? Acho que eu sabia que você não era capaz de me machucar. Você tem muito jeito com animais, Harry.



- Eu tenho uma coruja, Edwiges.



- Eu sei, a grande coruja-das-neves, não é? Eu acho sua coruja muito linda.



- Obrigada - Harry ficou calado, olhando o lago - Theresa... Desculpe dizer, mas você não me parece muito bem.



- Não precisa se preocupar comigo, Harry. São só... problemas.



- É o Prof. Snape, não é? Ele tem te tratado mal, eu sei. Até parou de pegar no meu pé, e eu era o alvo favorito dele.



Theresa ficou tensa:



- O Prof. Snape está sob o impacto do incidente. Você não deve julgá-lo.



- Corre por aí que você gosta dele.



- Isso é verdade. E esse é todo o problema.



- É porque ele é professor? Ou é porque ninguém gosta dele?



- Oh, mas é ele que não gosta de mim. Ou pelo menos é o que ele diz.



- Que quer dizer?



- Acho que você, como muita gente, ficou surpreso quando viu que ele gostava muito de Tessa. Muita gente acha que ele é incapaz de amar, e isso não é verdade. Ele gostava de Tessa. Não gostava?



- Claro que sim. Dava para ver.



- Acho que até ele pensou que não sabia amar. Mas amou um bichinho e não quer me amar. Então o problema é comigo, é pessoal. Além disso, quando voltei a ser humana, ele achou que tinha perdido a única coisa que amou e ficou com ainda mais raiva de mim. A culpa toda é minha.


- Eu acho que você está sendo muito dura com você mesma. Pense bem: você tem certeza de que quer namorar o Snape? Ele é muito mais velho que a gente.



- Isso não me importa. Ele gostava de Tessa, e ela era jovem. Agora ele me odeia. Era melhor quando eu era bicho, Harry. Tudo fazia sentido, tudo era simples. Aliás, tudo ainda continua simples.



Uma voz diferente discordou:



- Dificilmente essa é uma questão simples, Srta. Applegate.



- Prof. Snape! - disse Harry, estremecendo levemente - Eu não ouvi o senhor chegar!



Snape trazia a cara fechada e comentou, sardônico:



- O senhor continua com seu talento para constatar o óbvio, Sr. Potter. Notável.



Harry ficou vermelho, dizendo:



- Bom, então é melhor eu não estragar seu passeio, senhor. Vou voltar para o castelo.



Theresa aproveitou a oportunidade e disse:



- Espere que eu vou com você, Harry.



Snape a fez interromper-se:



- Não tão depressa, mocinha. Há um ou dois pequenos assuntos que precisamos esclarecer.



Harry lançou para Theresa um olhar de solidariedade e afastou-se dos dois, indo em direção ao castelo. Desafiadora, Theresa disse, também mordaz:



- Pensei que tivesse dito que nada tínhamos a conversar. O senhor deixou isso bem claro da última vez que nos vimos.



- Isso foi antes de a senhorita colocar em prática seu contumaz pendor depressivo-suicida, o que me levou a ser chamado pelo diretor para tentar convencê-la a não dar um fim nessa sua vida patética!



A raiva inflou a moça e, depois de semanas em estado de quase total apatia, ela conseguiu sentir sangue pulsando nas suas veias:



- É só por isso que está aqui? Por causa do Prof. Dumbledore?



Aquilo provocou um rosnado:



- Não há outro motivo que me fizesse sair da masmorra.



- Pois saiba que eu raramente tenho motivos para sair da cama.



Ele respondeu com igual fúria:



- Isso em si só deveria convencê-la da necessidade de se livrar dessa estúpida obsessão e seguir adiante com sua vida. Em menos de um mês a senhorita estará fora de Hogwarts, com toda sua vida pela frente! Suas notas podem definir que tipo de vida você terá. É insano não se importar com suas provas!



- Minhas provas não têm a mínima importância, professor. Minhas prioridades mudaram - ela o encarou, os olhos negros faiscando - Lembra-se da promessa que me fez?



- Mas do que é que está falando?



- O senhor me prometeu que iria procurar ser feliz!



Snape revirou os olhos:



- Sim, sim, eu suponho que tenha prometido.



- E vai cumprir sua promessa?



Ele ergueu uma sobrancelha:



- Só se me prometer que vai cuidar de seus estudos, comparecer às refeições e consumi-las. Essa noite, quero que passe pelos meus aposentos.



Theresa arregalou os olhos, e Snape imediatamente percebeu o que se passava na cabeça da jovem:



- Tire essa expressão de seu rosto, menina tola! Eu quero apenas lhe dar uma poção que a fará dormir sem sonhar.



Sem conseguir se controlar, ela ficou vermelha:



- Então cumpra a sua promessa!



Ele contra-indagou:



- Vai obedecer a minhas condições?



- Está bem.



Ele ergueu uma sobrancelha:



- Ora, veja só. Chegamos a um acordo. Viu? Presumo que não tenha lhe causado dor de espécie alguma.



- Isso eu só posso responder mais tarde - teimou Theresa, desafiadora - professor.



Snape olhou em volta e disse:



- Passeando ao final da tarde?



O coração de Theresa se apertou quando ela confessou:



- Vim procurar algo perdido, se é que isso lhe interessa.



- Encontrou?



Ela abanou a cabeça:



- Não. Está perdido para sempre.



Snape deu um meio sorriso, enigmático:



- Para sempre é um tempo excessivamente longo, Srta. Applegate. Sugiro no futuro refrear o uso dessa expressão. Poderá descobrir que ela costuma a levar a enganos e... ilusões.



O Mestre de Poções assentiu para se despedir e virou-se dramaticamente, as vestes ondulando feito uma bandeira desfraldada. Theresa ficou observando enquanto ele voltava para o castelo. Ela não tinha certeza, mas alguma coisa que Snape dissera deixara-a com uma pulga atrás da orelha. Ele era extremamente econômico e cuidadoso com as palavras e jamais dizia nada por dizer.



Ela só não estava certa do que tinha escutado.



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