Segunda Chance
Capitulo II
Segunda chance
Londres bruxa – dias atuais
Ginny voltou para sua casa após o piquenique. Estava louca de saudades do marido, que não a acompanhou à viagem a Isle of Wight, pois teve problemas no Ministério. Harry Potter era um auror, assim como Ron, irmão de Ginny. Os dois ainda cuidavam da segurança do mundo bruxo, por assim dizer.
- Onde estavam as minhas bruxinhas favoritas?
- Papai!
Lils correu em direção a Harry, que acabava de sair da lareira. Ele ainda tinha aquele brilho nos olhos esmeralda e a cabeleira irremediavelmente bagunçada. Só uma coisa agora era diferente: ele tinha uma família pela qual era completamente apaixonado.
- Como foi seu final de semana, bruxinha? -Harry perguntou, ainda com a filha no colo.
- Fizemos um piquenique com a Tia Angel! Eu fiz um castelo, nadei, e peguei conchinhas pra você, papai!
Harry ficou conversando com a filha ao lado de Ginny, até o sono da pequena chegar. Colocaram Lily na cama e foram para o quarto.
- Não imagina o quanto senti sua falta, ruiva!
- Que tal me mostrar o quanto, senhor auror?
Harry a tomou nos braços e depositou um beijo leve que aos poucos foi se tornando mais e mais ávido. Suas mãos percorriam o corpo bem feito de Ginny com certa urgência. Não levou muito tempo também para que ele se livrasse das roupas dela entre um beijo e outro. A paixão era a mesma, intensa como na primeira vez. Seus corpos se completavam suas almas se completavam, e Harry Potter finalmente se sentia simplesmente feliz.
- Então... – começou Harry, brincando com uma mecha dos cabelos vermelhos da esposa - Conheceram a herdeira Reed?
- Sim, Harry, e posso dizer que é ela. Angel Reed vai quebrar a maldição do Solar. Finalmente!
- Por que tem tanta certeza?
- Quando a conhecer, também terá a certeza que eu tenho!...
oOo
Londres trouxa – dias atuais
Angel entrou correndo no hospital, sem necessidade: estava tudo calmo a essa hora. “Ainda bem!”, pensou a médica, que detestava se atrasar. Recebeu as boas vindas dos colegas, que perguntaram sobre o fim de semana e quase ficaram insanos quando Angel disse que não tirara nenhuma foto da ilha ou da casa. Ela mesma se espantou. Gostava de fotos, e não se lembrava de sua câmera há muito tempo. Parecia ter perdido o gosto por fotografia.
- É uma boa desculpa para eu voltar à ilha em breve, não acham?
Todos riram e voltaram a suas rondas e afazeres do dia. Aquela segunda-feira estava bem calma; até quase o final do dia, Angel não viu muitas novidades e resolveu encerrar seu plantão. Já estava vestida e pronta pra ir embora quando viu uma maca entrando a toda velocidade. Por um estranho motivo, a médica entregou seu casaco e bolsa para a recepcionista e assumiu a emergência.
Pela aparência e cheiro, a pessoa na maca era um indigente. Sua cabeça sangrava e as camadas de roupa (se é que aquilo poderia ser chamado assim) escondiam qualquer outro ferimento.
- Vamos lá, pessoal! Com cuidado! Quero essa roupa toda empacotada e incinerada, deve ter milhões de parasitas aí. Cuidado com agulhas escondidas nas roupas!
Angel dava as ordens enquanto uma enfermeira a ajudava a se paramentar. Depois, se aproximou e começou a avaliar os sinais vitais do paciente. O coração batia fracamente, e em minutos o homem estava ligado a muitos aparelhos. Mesmo assim, ele teve uma parada cardiorrespiratória que assustou Angel mais do que deveria, fazendo-a se lembrar da garota que havia perdido no plantão anterior.
- ADRENALINA, RÁPIDO! ENTUBAR!
- CARREGADO, AFASTAR!
Angel olhou para Sam.
- Nada!
- Vamos repetir! – Angel não perderia esse por nada.
- Afastar!
Sam apenas balançou a cabeça.
- Novamente!
- Afastar!
Sam fez sinal negativo.
– Acabou, Dra. Reed. Hora da morte.
Angel baixou a cabeça. Não podia ser, não de novo... Então, em um momento de insanidade, recomeçou.
- ADRENALINA! HOJE NÃO É UM BOM DIA PRA MORRER!
A equipe se mobilizou, obedecendo às ordens de Angel que, juntamente com Sam, fazia a massagem cardíaca manualmente.
- AFASTAR!
O coração voltou a bater e o monitor cardíaco começou a registrar um aumento discreto nos batimentos. Todos respiraram aliviados.
- Agora, vamos ver o que temos debaixo de toda essa sujeira! Somos a equipe da faxina agora, senhores. Ele não toma banho há alguns séculos!
- Vamos fazer isso aqui?
- Sim! Com certeza tem outros ferimentos que não consigo ver debaixo dessa sujeira! Quem vai raspar essa cabeleira? Acho que tem pelo menos dois cortes aí!
- Vou pegar equipamentos...
Uma das enfermeiras saiu e voltou correndo com um carrinho com material para banho e tricotomia. Com cuidado, eles lavaram e rasparam a cabeça do paciente, retirando cabelo e barba. Debaixo de toda aquela decadência, descobriram um rapaz muito magro, extremamente branco e com muitas cicatrizes. Ele tinha três cortes profundos na cabeça, vários hematomas no corpo, o olho roxo e muito inchado, a perna e o pé esquerdo fraturados, o braço direito luxado. Vitima de espancamento. Então, com certeza havia lesões internas.
- Vamos lá, pessoal! Quero outra maca, e vejam se tem uma sala de cirurgia vaga. Quero esse garoto fora daqui em cinco minutos!
Angel saiu direto para o vestiário, enquanto a segunda equipe levava o rapaz para outra sala. Ela se livrou das roupas que vestia, e se enfiou em outras limpas antes de se encaminhar para a sala novamente. O rapaz já estava na ultra-sonografia, o que deu a ela tempo de pensar em tudo o que aconteceu. Estava ansiosa. Ele estava demorando pra voltar. Quem seria ele? O que teria lhe acontecido? Mas os devaneios de Angel foram interrompidos com a chegada do paciente.
- Quero eletrólitos, hemograma, drogas, doenças venéreas, tudo que possa me dizer o que temos aqui. Quem está aí da ortopedia?
- Doutor Bryan. Ele já foi avisado.
- Ótimo. E a sala de cirurgia?
- Nada ainda.
Angel suturou os cortes e descobriu uma perfuração antiga na altura do quadril, que estava infeccionada. Quando a limpou mais a fundo, retirou de lá algumas larvas.
- Sala cirúrgica dois, liberada! – Gritou um dos enfermeiros, que estava ao telefone.
- Quando os exames estiverem prontos, me avise! Eu vou re-avaliar o quadro. E passe o caso para o setor de identificação, quero saber quem é ele!
Angel dava ordens enquanto assinava o formulário. Entregou a prancheta para a enfermeira e subiu. Como suspeitava, o paciente estava cheio de lesões internas; tiveram que retirar o baço e conter uma hemorragia.
Depois da cirurgia, Angel finalmente foi para casa, mas sem conseguir se desligar do rosto sofrido do rapaz no hospital. Serviu-se de suco e foi para o quarto, ler seu livro preferido: o diário de Lizie Reed. Olhou demoradamente para ele no criado mudo. Estranho. Esta era a palavra para ele: estranho.
- Bem... Então vamos ver o que leio hoje! – Angel abriu o livro e recostou-se na cabeceira da cama, aninhando-se confortavelmente.
Isle of Wight – Dezembro de 1805
Não faz nem um ano que Napoleão foi sagrado imperador da França, promulgando o Código Civil naquele país. No Haiti, os negros proclamaram a independência. A Inglaterra reiniciou a guerra marítima. As notícias do mundo chegam até o porto, e minha criada Adele as traz todas até mim. Toda essa agitação havia deixado Paul e Jonathan fora durante quase todo o ano passado. Meu coração estava desesperado.
Era natal. Nossa Esquadra voltava, vitoriosa, das Batalhas de Trafalgar e Austerlitz. Era também o fim do Sacro Império Romano-Germânico, e o Solar Reed se preparava para receber o seu senhor. Paul em breve estaria em casa para as festas de Natal. Naquela semana, recebi instruções para fechar o Solar e ir para Londres, para passarmos alguns dias com nossos pais. Cheguei uma semana antes de Paul a Londres, e Jonathan estava a minha espera. Adele sempre dava um jeito de colocar o rapaz em meus aposentos, até hoje não sei como, mas desfrutávamos de cada momento que tínhamos.
Quando Paul chegou, não tivemos mais nossos momentos juntos, mas sempre via Jonathan de longe, afinal, meus pais e os dele ainda eram vizinhos.
Os feriados terminaram e Paul se foi. Jonathan também. Eu voltei ao Solar. Nunca vou me esquecer da semana que eu e Jonathan passamos juntos.
De volta ao Solar, eu olhava para o portão, dia após dia esperando, agonizando horas em que imaginava que meu grande amor cruzaria aquela barreira... Meu pecado, meu único pecado...
A leitura foi interrompida pelo telefone. Angel se arrumou e voltou para o hospital, dessa vez carregando o diário consigo. Parou antes no setor de identificação e recebeu da encarregada outra pasta, contendo informações valiosas: apenas um mês antes, o rapaz havia dado entrada neste mesmo hospital. Naquela ocasião, a polícia não pôde fazer uma identificação positiva; o rapaz simplesmente não existia. Na pasta, uma foto do garoto trajando calça e camisa, gravata e um suéter de lã, roupas que com certeza não eram de indigentes. Ele tinha o olhar perdido, a barba feita e os cabelos um pouco compridos e sem corte, mas nada que pudesse se comparar ao que Angel salvara horas antes. Definitivamente, ele não era um indigente; até os moradores de rua tinham identidade.
Angel encaminhou-se até a UTI, pegou os exames com a encarregada da noite, e foi para uma sala vazia, avaliar. Não encontrou nada de inusitado, apenas uma anemia crônica, e nenhuma doença; o homem, curiosamente, estava limpo de drogas, e vivo por um milagre. A médica fez uma nova prescrição de medicamentos e procedimentos. O coração dele ainda não estava totalmente estabilizado, então o paciente permaneceria na UTI mais um pouco. Como ele estava em coma induzido, não havia perigo de uma nova fuga - fora que fugir seria meio complicado com uma perna quebrada.
Os dias se arrastaram. Angel dividia seu tempo entre seu plantão, o garoto em coma e, é claro, a leitura do diário. A cada nova página, a descoberta de um lindo triângulo amoroso. E, detalhe: Angel não conseguia ler tudo de uma vez, apenas duas datas no máximo. O diário parecia ter vontade própria. Agora ela só conseguia ler ao lado do leito do rapaz em coma, pois pegar o livro em casa era impossível, uma cadeia de coincidências cercava e impedia a leitura.
Depois de quase duas semanas em coma induzido, Angel e o doutor Robert Smith, o outro médico responsável pelo caso, resolveram que era hora de reverter o quadro. O garoto já estava estável e não corria mais risco de vida. Quando assinaram a alta e a transferência para um quarto, veio a ordem: o paciente seria removido para outro hospital, por se tratar de um indigente. Angel se encaminhou para a sala do diretor do hospital e tentou argumentar, em vão. Normas e regras. O hospital já havia feito a sua caridade.
- Eu me responsabilizo por ele, doutor Oliver! Eu assumo as despesas!
- Não faça isso! Está se envolvendo com um paciente que nem a policia sabe quem é! Dos dois, um: ou ele é um bandido, ou é um candidato à ala psiquiátrica!
- Eu sei, eu sei, mas vou arriscar!... Por favor!
Angel lançou ao velho médico um olhar de criança pidona, e ele não resistiu. Nunca resistia a ela; a garota a sua frente lembrava as suas netas, impossíveis quando queriam algo.
- Ok, ok! Você venceu! Mas você cuida dele, e vou te designar apenas dois enfermeiros, um em cada turno. E vou colocar o seu seguro social na ficha dele!
Angel rodeou a mesa e aplicou um beijo estalado na bochecha do velho médico e atual diretor do hospital, que corou com a atitude da garota. Sim, sua neta! Igualzinha às outras meninas!
- Senhorita, comporte-se!
- Perdoe-me, não resisti! Muito obrigada!
- Só tome cuidado, Angel, não quero ver seu coração quebrado de novo. E não me olhe assim! Eu sei de tudo que se passa no meu hospital! Se aquele cafajeste não tivesse pedido transferência, eu o chutaria para bem longe daqui!
- Eu não sabia que a história do Norton tinha vazado...
- Não fique assim, esqueça. Já vi o tipo várias vezes... – o velho diretor respirou longamente antes de continuar: - Vai me prometer tomar cuidado redobrado?
- Sim, senhor! Eu tomarei, prometo!
Angel saiu da sala do diretor com uma ponta de tristeza, mas também com um sentimento morno. O diretor se importava com ela além do vinculo profissional; havia sempre um olhar de ternura quando ele lhe falava.
A Dra. Reed voltou à UTI e escolheu um quarto em uma ala bem reservada, longe de olhos curiosos. Ela e um dos enfermeiros “especialmente designados para o caso” colocaram o rapaz na cama, e Angel ficou sozinha com ele em seguida. Sentou-se ao seu lado e estudou-lhe os traços com calma. Agora, ele só estava ligado ao soro e às sondas. Angel tirou um creme do bolso e aplicou no rosto do rapaz, cujo hematoma já estava quase sumindo. Ele tinha traços bonitos, apesar da magreza aparente, um ar aristocrático, foi o que Angel pensou, para logo em seguida desviar o pensamento, tentando ser o mais profissional possível.
O dia se foi, e Angel resolveu voltar para seu apartamento, que fora relegado a um segundo plano. Decidiu colocar uma ordem naquilo; há tempos que dormia pouco, mesmo. Quando terminou a limpeza, tomou um banho e dormiu. Os pesadelos não davam trégua, cada vez mais reais, desesperados. Acordou bem cedo. Seu plantão começaria só na parte da tarde, mas Angel foi para o hospital mesmo assim, visitar o paciente desconhecido.
- Bom dia! – Angel cumprimentou o homem, obviamente sem obter qualquer resposta. Como sempre, ela continuou a falar sozinha: - Sabe, temos que dar um nome a você. Não posso ficar dizendo “o ocupante do leito tal”, não é? Hum... Que tal John? Você gosta?
Ele não respondeu, e nem poderia, é claro. Angel sorriu para si mesma, decidindo que o nome seria mesmo este, para então voltar a falar:
- Aqui diz que você dormiu a noite toda e que, apesar dos procedimentos de limpeza, não acordou... – ela chegou perto da cama, segurou a mão que não estava machucada, e sussurrou ao ouvido do rapaz: – Está mais do que na hora de acordar, não acha? Vamos! Pode abrir os olhos pra mim?
Angel pressionava a mão fria do garoto a sua frente, que nem de longe lembrava aquele lixo que deu entrada no hospital alguns dias antes, esperando uma reação que não veio. Sua frustração foi interrompida pelo barulho do celular. Era Ginny, que a convidava para um almoço, o que surpreendeu e alegrou Angel.
- Ah Ginny! Eu gostaria muito, mas estou com um paciente complicado que deve acordar a qualquer momento, e eu quero estar aqui quando isso acontecer.
- Pessoa conhecida? Espero que esteja tudo bem!
- Na verdade, não sabemos quem é, a polícia não pôde identificar. Ele simplesmente não existe! Sem documentos, sem seguro social, nada, nem ao menos um nome!
Angel se perguntou por que estava comentando detalhes de seus pacientes com uma pessoa que conheceu ontem mesmo, quando Ginny interrompeu seus pensamentos:
- Tenho um amigo que trabalha na localização de pessoas desaparecidas, podemos pedir ajuda para ele, se quiser.
Angel ficou eufórica com a idéia.
- Poderia nos ajudar?
- Sim, claro! Posso passar no hospital e tirar uma foto da pessoa? Estou só a algumas quadras d’aí.
- Seria uma ótima idéia! Vou deixar uma autorização na recepção pra você, e desde já eu te agradeço!
Ginny sabia que muitas das pessoas que não podiam ser identificadas pelos trouxas se tratavam de bruxos, por isso aparatou próximo ao hospital e em poucos minutos estava sendo conduzida para o quarto do paciente misterioso. Angel a recebeu com carinho. Havia ficado uma ótima impressão do final de semana passado com a garota.
Ginny olhou para a cama, e gelou. O garoto ali era Draco Malfoy! Não soube o que fazer no momento. Pegou sua câmera e tirou algumas fotos, apenas para ganhar tempo e pensar no que fazer.
- O que aconteceu com ele?
- Com certeza espancamento. – respondeu Angel, encarando Malfoy com um olhar terno - Ele chegou aqui num estado deplorável! Como pode ver, ele tem uma perna quebrada e um braço luxado, mas também lesões internas, escoriações, três cortes profundos na cabeça, e ele inclusive passou por uma cirurgia para retirar o baço... Ele está vivo por puro milagre!
- E graças à doutora Reed, que é muito teimosa e não aceita que, às vezes, o anjo da morte ronda este hospital também! – falou, orgulhoso, o doutor Oliver, diretor do hospital, que entrava no quarto naquele exato momento.
- Ora, doutor! Eu não faço mais do que minha obrigação.
- E é modesta também! – algumas risadas se seguiram, enquanto o velho médico estendia a mão em direção a Ginny, na intenção de cumprimentá-la. - Senhorita...
- Senhora Potter. Ginevra Potter.
Ah, sim! Oliver Walker, muito prazer! Conhece nosso paciente?
- Não, senhor, mas vou tentar identificá-lo.
- Isso seria bom! – o diretor voltou-se para a cama, encarando o paciente – Ele não se parece com um indigente. O prontuário anterior está com você, Dra. Reed?
- Aqui, doutor. – falou Angel, entregando a pasta com a internação anterior.
- Realmente não é indigente. – o diretor olhou a foto tirada um mês antes, em seguida estendendo a foto a Ginny para que a ruiva pudesse compartilhar de sua idéia. – Ficou aqui apenas dois dias e não falou nada. Parece que foi apenas um desmaio, provavelmente de fome e cansaço. Nenhum ferimento, apenas cicatrizes antigas. – doutor Oliver passou as mãos pelos ralos cabelos que ainda possuía. – Agora entendo sua “curiosidade”, Angel. Mas continuo dizendo: cuidado! Ou ele é um bandido, ou fugiu de um manicômio!
Ginny respondeu, em pensamentos, que Malfoy era fugitivo de um manicômio, e riu-se da situação. O velho era experiente e não errara. Mas depois, Ginny se compadeceu de Malfoy: ele pagara muito caro por entrar para a Ordem da Fênix e trair Aquele-Que-Jamais-Retornará-do-Inferno.
- Sim, senhor, eu tomarei! – disse Angel, sentindo novamente a sensação de carinho vinda do velho médico.
- Bem, vou deixar você e sua amiga à vontade. – falou doutor Oliver, com ar brincalhão, antes de sair - Vim somente pra ver em que meu dinheiro estava sendo gasto!
- Ele não parece feliz com a presença desse rapaz aqui. – disse Ginny, com um leve tom de preocupação, assim que o velho médico saiu do quarto.
- Que nada! Ele está só brincando! – Angel sorriu - Eu o conheço! Doutor Oliver tiraria a roupa do corpo se alguém precisasse!
As duas moças riram, descontraídas.
Ginny permaneceu ali por algum tempo, mas não teve como fazer mais nada sem levantar suspeitas. Saiu do hospital direto para o ponto de aparatação mais próximo.
oOo
Ministério da Magia – dias atuais
Harry recebeu Ginny com um beijo leve e uma ponta de preocupação ao encontrar os olhos castanhos de sua esposa.
- Gin? Aconteceu alguma coisa?
- Harry, eu encontrei Malfoy!
O auror se espantou.
- O quê? Como? Onde?
- Ele está com Angel Reed, no Memorial Hospital.
- Meu Merlin! Quer dizer então que a doninha não morreu?
- Harry James Potter!
O rapaz sorriu, sem parecer nem um pouco arrependido.
- Certo, desculpe... Mas o que aconteceu com ele?
Ginny desabou em uma cadeira diante da mesa do marido.
- Pelo que entendi, ele virou um indigente depois de fugir, ficou perdido na Londres trouxa, foi espancado há mais ou menos duas semanas e quase morreu. Angel Reed o salvou!
- E o que uma Reed tem a ver com um Malfoy? – Harry bagunçou os cabelos - Poderosa Circe! Essa história está cada vez mais esquisita! Mas vamos, temos que ir buscar Malfoy...
- Acho que não, Harry. Pra quê? Para trancá-lo no Saint Mungus pra sempre? – Ginny negou com a cabeça - Vamos apenas observar. Só você e eu sabemos! E se essa for a única chance dele sair da loucura? Isso é raro, quase impossível, mas já aconteceu antes... E algo me diz que ele tem alguma coisa a ver com os fantasmas do Solar Reed.
- É... É, talvez você tenha razão, meu amor... Vou guardar segredo e vigiar de perto.
- Sabia que compreenderia, amor!
Harry capturou os lábios da esposa num beijo doce.
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Memorial Hospital, quarto de Draco Malfoy – dias atuais
Angel checou o relógio. Ainda tinha uma hora antes do seu plantão. Aproximou-se do leito de seu novo paciente e capturou suas mãos com carinho.
- Hey, John! Você precisa acordar, já é hora. Pode me ouvir?
Um leve movimento nos dedos aprisionados na mão de Angel se fez sentir. Angel percebeu que o garoto a sua frente lutava para abrir os olhos. Soltou a mão dele e correu para diminuir as luzes, para em seguida voltar a segurar suas mãos.
- Tudo bem, está seguro agora. Pode abrir os olhos pra mim?
Draco, pela primeira vez em seis anos, percebia a voz de alguém perto dele. Era doce e lhe dava confiança, então obedeceu à voz suave que lhe sussurrava. Seus olhos se abriram e ficaram presos aos que o observavam com tanta atenção, e que naquele momento travavam uma luta entre o verde e o castanho. Aquelas íris incandescentes de mercúrio aprisionaram os olhos de Angel também, e a impressionaram. O rapaz não tinha o olhar perdido. John havia encontrado os olhos de um anjo, e o sorriso mais lindo que já vira. Ele percebia tudo isso; não sabia onde estava, ou quem era aquela garota, mas se sentia seguro, finalmente.
- Como se sente?
Draco tentou responder, mas algo o impedia. Levou a mão à garganta, que doía.
- Calma! Você pode levar um tempo pra se acostumar. Se pode me compreender, aperte minha mão uma vez.
Draco apertou de leve a mão de Angel.
- Que bom! – Ao menos ela falava inglês. – Sente dor?
Draco levou a mão à garganta e depois à cabeça. Angel adicionou um analgésico ao soro.
- Já vai passar.
Draco fechou os olhos e dormiu instantaneamente, como se estivesse muito cansado. Seu sono foi calmo e sem sobressaltos. Acordou novamente com a doce voz, que dizia que era hora de retirar uma tal sonda de alimentação. Angel tinha uma pequena folga para jantar, assim resolveu fazer o procedimento pessoalmente.
- Olá de novo! Vou retirar sua sonda! – ela fez menção de tocar no tubo, e o rapaz se retraiu um pouco. – Calma! Não vou te machucar, confie em mim.
Angel retirou a sonda e Draco se sentiu entre incomodado e aliviado, uma sensação estranha no nariz. Ainda sem quebrar o contato, Angel levantou levemente a cama.
- Se você se sentir mal, me fale, ok?
Draco apenas assentiu. Angel continuou a levantar a cama para que ele ficasse um pouco mais sentado, o que o deixou um pouco tonto. Angel percebeu; aproximou-se um pouco mais e tocou-lhe o ombro.
- Tudo bem, já vai passar. – Draco tocou-lhe o braço em resposta. – Não tenha medo.
A tontura passou. Angel trouxe uma bandeja de sopa que parecia apetitosa, apesar de ser comida de hospital, e colocou-a na mesa de apoio, de modo que ficasse bem de frente para Draco. Percebeu que o garoto olhava para os braços com clara frustração (um estava enfaixado, e o outro tinha alguma coisa enfiada nele), sem ter a mínima idéia do que era tudo aquilo e de como poderia comer com aqueles braços inúteis.
- Eu vou te ajudar, mas não se acostume! A propósito, qual é o seu nome?
Silêncio. Draco estava preso ao seu olhar, sem saber realmente o que responder. Angel percebeu.
- Tudo bem! –disse, não querendo deixá-lo mais frustrado ainda. -Podemos te chamar de John, então?
Draco assentiu e deu um arremedo de sorriso. Angel levou a colher a sua boca, e ele comeu, sentindo o carinho que ela emanava. Comeu mais da metade do prato até fazer sinal de que não queria mais. Angel ficou meio desapontada, mas era uma porção boa pra quem não comia a sabe Deus quanto tempo, e por isso levantou-se, aplicou algo no soro e só então voltou-se para seu paciente.
- Vou ter que ir agora. Meu intervalo para o jantar já terminou há quase dez minutos! – Draco segurou a mão da garota, e em seus olhos havia medo. Angel sorriu, tentando passar certa confiança, e pousou uma campainha ao lado do leito do garoto. – Está tudo bem! Eu vou colocar isso aqui do seu lado, e se você precisar de alguma coisa, qualquer coisa, é só me chamar! Vou tentar fugir de vez em quando pra ver como você está, ok?
Draco ainda estava com um pouco de medo, mas sentiu segurança na fala do anjo a sua frente.
- Ok, John. Até mais tarde!
Ele apenas sorriu, e este sorriso deixou seu rosto ainda mais bonito. Angel se afastou meio a contra gosto, mas tinha responsabilidades ali.
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