Um Novo Recomeço
Capitulo VII
Um Novo Recomeço
Solar Reed – dias atuais
Depois de todos os feitiços usados para unir Lizie e Jonathan, depois de todo o desespero que todos ali sentiram durante o ritual, o solar finalmente estava em paz. A noite fora calma para todos e, depois de um desjejum bem animado, era hora de cuidar de assuntos práticos. Draco precisava retomar sua vida o quanto antes. Apesar da noite de amor e entrega, Angel não tinha muita certeza de que o veria novamente. Mas ele precisava cuidar da fratura. Um sentimento de vazio a inundou quando Hermione tocou no assunto.
- Bem, Malfoy, como vai ser? Você vem comigo para o Saint Mungus, ou vai carregar isso – apontou para o gesso na perna de Draco – por mais dois meses?
- Claro que vou me livrar disso! – Disse o loiro, virando os olhos.
- Então, vamos logo! Ainda sabe usar o Pó de Flu? – perguntou Hermione, percebendo os olhos marejados de Angel pela primeira vez.
- Pode me dar alguns minutos?
Draco lançou um olhar para todos os bruxos na sala, que foram se retirando um a um. Era hora de deixar a segurança que Angel lhe oferecera naquele ultimo mês. O garoto de olhos grises havia percebido a tristeza da morena, e seu coração também doía, mas ele tinha que voltar ao mundo bruxo.
- Angel... Olha pra mim. – Draco ergueu o rosto de Angel delicadamente, olhando-a no fundo dos olhos. – Eu preciso voltar. Sei que você poderia cuidar de mim, mas preciso retomar o que é meu. Minha vida. Segundo Potter, eu estive em uma ala psiquiátrica durante seis anos, sem dizer uma palavra sequer. Você mudou isso, meu anjo, quando resolveu resgatar aquele mendigo. Eu não posso levar você comigo, não agora. Minha magia ainda é instável, e eu não posso protegê-la adequadamente. E você ainda precisa se acostumar mais com magia ao seu redor para que possa viver no meu mundo sem problemas. – Draco suspirou. Era um momento difícil para ele também - Me dê uma semana. Em uma semana eu faço tudo que tenho que fazer, e podemos conversar adequadamente.
As lágrimas teimavam em cair, apesar da força que Angel fazia para segurá-las.
- Faça o que tem que fazer. Eu estarei aqui te esperando.
Draco capturou seus lábios em um beijo doce, estreitando Angel em seus braços. Por fim, desvencilhou-se dela e se encaminhou para a lareira na sala de estar, onde os outros bruxos esperavam.
Harry, Ginny e Hermione se despediram de Angel, sem saber exatamente o que lhe dizer. Draco se foi pela lareira sem nem olhar para trás; com certeza não conseguiria partir se encarasse os olhos de Angel mais uma vez. Havia amor entre os dois, tinham certeza disso.
Todos viram a máscara de gelo, a mesma que acompanhara Draco durante o tempo de escola, voltar. Os bruxos ali presentes ficaram confusos. O Draco de sempre reaparecera, e a decepção foi geral.
oOo
Londres bruxa – dias atuais
Malfoy ficou no Saint Mungus por dois dias. Livrou-se do gesso, fez um feitiço para que seu cabelo crescesse mais rápido e, já com a magia estabilizada, foi direto para Madame Malkin. Ele tinha pressa, mas ainda era um Malfoy e tinha que se apresentar bem diante da comunidade bruxa. Nesse mesmo dia procurou Harry.
- Posso entrar? – Disse Draco, parado na porta da casa dos Potters.
- Não esperava que viesse me procurar. – admitiu Harry friamente, dando passagem ao loiro e indicando a poltrona na sala.
- Tio Draco!
Lils irrompeu na sala como um pequeno furacão, indo parar nos braços de Draco. Harry revirou os olhos, mas, ao mesmo tempo, viu a máscara de Malfoy cair por terra enquanto dava a devida atenção à garotinha. Era curioso como eles se davam bem - bem demais, para o gosto do todo-ciumento Harry Potter, aliás. E Lily já havia perguntado dos tios postiços mais de uma vez. Paciência, a doninha havia cativado sua filha. Então talvez houvesse salvação para o loiro, quem sabe?
Ginny finalmente interrompeu o diálogo entre Lily e Malfoy, surgindo na sala apenas para levar a menina consigo para o interior da casa.
- O que o traz aqui? – Harry ainda estava na defensiva com Malfoy. - Com certeza não foi para ver minha filha.
Draco se arrumou mais confortavelmente na cadeira antes de responder, com o costumeiro tom frio em sua voz.
- Preciso da sua ajuda quanto a meu patrimônio, agora que sou responsável pelos meus atos.
- O Ministério declarou que você tem direito a todos o bens pertencentes à sua herança Black, e a mansão Malfoy. – Harry declarou, de prontidão. Ele sabia tudo o que acontecera com a fortuna de Draco, pois acompanhara o processo de perto. - Os outros bens em poder de Lucius foram confiscados. Eu sinto muito.
- Não sinta. Eu não sinto. Não quero nada daquele comensal maldito! – Draco ficou vermelho de raiva, mas logo se controlou. – Como eu faço para formalizar isso?
- Me encontre no Ministério amanhã cedo. – Disse Harry, já mais confiante na mudança de Draco.
Draco se levantou para sair, mas deteve-se um segundo.
– Você poderia... – Ele hesitou por um momento. – Poderia, por favor, me acompanhar até a mansão depois?
Harry ficou boquiaberto, mas respondeu que sim. Draco Malfoy pedindo ajuda? Era o fim dos tempos!
oOo
Solar Reed
Angel chorou lágrimas amargas depois que ficou sozinha no Solar. Não havia nada que pudesse substituir a presença de Draco em sua vida.
Horas se arrastavam na solidão do Solar, que parecia até mais iluminado agora que o fantasma deixara a casa. A neve que tomava conta do jardim já estava derretendo; o clima na ilha era mais quente que no continente, mas ainda teriam mais um mês de inverno pela frente.
Angel logo se pôs a trabalhar para não remoer a solidão. Providenciou uma lápide adequada para o túmulo de Lizie, que antes era marcado apenas com uma pequena cruz de prata, que descobriram apenas depois da leitura do diário com as explicações de Adele. Sabia que não conseguiria permissão para enterrar Jonathan ali com Lizie, mas procurou saber onde ele estava enterrado, o que não foi tão difícil, já que ele pertencia a uma família nobre. O pai de Jonathan havia providenciado um mausoléu ali mesmo na ilha. O local já estava em ruínas, pois ninguém havia estado ali até então. Depois Angel pediria a Ginny para que a ajudasse colocar os restos mortais de Jonathan no jardim de rosas do solar clandestinamente. Como bruxa, ela com certeza saberia o que fazer, afinal, a magia teria lá suas vantagens.
Mesmo com o vento frio que soprava do mar, Angel fazia longas caminhadas pela praia. Conheceu o velho farol onde Lizie quase se matou, assim como algumas das paisagens que estavam no caderno de desenhos de Lizie. Contudo, nada era capaz de substituir a presença de Draco. Angel ficava horas apenas olhando o horizonte. A sina de uma Reed: esperar.
O diário de Lizie ainda continha muitas folhas em branco, então Angel resolveu escrever sua própria espera, sua própria solidão. Escreveu como tudo começou, como conhecera o último Malfoy, como a história dos dois se desenrolara e como a de Lizie teve seu final feliz. Sua história de espera não era muito diferente daquela da antiga dona do diário. Apenas em outra época.
A luz da entrada do Solar, que fora acesa por Ginny no dia do ritual, permanecia acesa. O Solar tinha um senhor novamente. E esperava por ele.
oOo
Mansão Malfoy
Era o final de uma tarde fria de inverno. O vento cortava o rosto de Harry e Draco, agora amigos. Harry apertou a própria capa ao redor de seu corpo, enquanto Draco tocava o portão da casa. A magia de proteção da mansão o reconheceu e abriu as portas para eles.
Passando pelo que um dia fora um jardim bem cuidado, Draco se lembrou de sua mãe. As rosas de Narcissa agora se digladiavam com o mato que crescia livremente pelo terreno; as estátuas quebradas e tomadas pelo musgo mostravam a decadência do lugar. A lembrança doía, mas o loiro continuou, sentindo o apoio do Gryffindor que caminhava ao seu lado. Parou ao pé da escada no hall de entrada.
Draco teve que se sentar no primeiro degrau para respirar novamente. Era estranho voltar ali. Um amontoado de lembranças tomou conta de sua mente, e Draco sentiu-se enjoado. Olhou a sua volta e só viu decadência. Nada havia restado do antigo glamour da mansão. Poeira e destruição por todos os lados.
Harry apenas observava o garoto de olhos grises com atenção. O Ministério já havia feito as varreduras de praxe há anos, à procura de magia negra. A casa, agora, estava limpa.
- Potter. – foi a primeira coisa que Draco disse desde que entraram na Mansão Malfoy. – Pode me dizer o que foi feito dos elfos da família?
- Estão em Hogwarts. Biddy foi a única que se recusou a ser liberta, e espera por você até hoje.
- Biddy!
Um estalido alto de aparatação se fez ouvir quando uma elfa muito magra e suja, de grandes olhos castanhos, surgiu nos jardins com o maior dos sorrisos no rosto.
- O senhor chamou, mestre Draco! Biddy feliz! Mestre de volta!
A pequena agarrou a perna de Malfoy como se aquilo fosse a salvação de sua triste vida. Draco sorriu para ela, e Harry constatou que estes eram mesmo outros tempos...
- Biddy, pode trazer aquela caixa que pedi para você guardar?
- Sim, sim! – a elfa só faltou desmaiar de tanta felicidade - Biddy guardar com cuidado todos esses anos! Biddy busca!
A pequenina desapareceu. Draco levantou-se, já recomposto das lembranças. Definitivamente não poderia ficar ali. Sempre seguido em silêncio por Harry, o último Malfoy percorreu vários corredores até chegar a seu antigo quarto, de onde retirou alguns pertences pessoais - um pôster das Holyhead Harpies, um pequeno punhal e um medalhão com um dragão ao centro. Depois subiu ao sótão, e de lá pegou um dragãozinho de pelúcia. Voltou para o corredor dos quartos e entrou na sala íntima de sua mãe, retirando de lá um porta-retrato com a foto de Narcissa segurando um bebê sorridente com uma penugem platinada na cabeça, a herança Malfoy. De volta ao hall de entrada, Draco sacou a varinha e fez um feitiço silencioso.
- Pronto. Potter, eu passo oficialmente a Mansão Malfoy para o Ministério. Anulei todos os feitiços de proteção que existia aqui. Não posso viver aqui e nem trazer Angel para um lugar que hospedou aquele hipogrifo-depenado-das-trevas. Aqui não é lugar para um anjo.
Harry estava surpreso novamente. Já tinha para si que o caso com Angel fora esquecido e o velho e arrogante Malfoy estava de volta. Mas, pelo visto, estava enganado: Malfoy havia mesmo mudado. Seis anos de isolamento e um anjo haviam feito o milagre.
Biddy aparatou naquele instante com uma caixa de jóias ricamente decorada, a qual entregou a Draco.
- Vamos sair daqui, esse lugar me dá arrepios! – Harry pousou a mão no ombro de Draco – Que tal uma cerveja amanteigada no Caldeirão Furado?
- Firewhisky é mais apropriado. – Draco sorriu e voltou-se para a elfa, que esperava a suas ordens – Biddy, acha que pode ir até o apartamento em Londres e prepará-lo para mim esta noite?
- Sim, mestre Draco! Biddy limpa tudo, arruma tudo e espera mestre! Mestre Draco demora a chegar?
- Sim. Vou chegar tarde e bêbado.
- Vai com calma, companheiro! – Disse Harry, rindo. - Já faz seis anos que você não bebe!
- Companheiro? Essa palavra soa bem agora. Obrigado, Potter! – Draco estendeu a mão e Harry dessa vez a tomou com força. Sim, eram companheiros. Draco sorriu. – Será minha despedida de solteiro! Espero que a ruiva não me azare depois! Mas, se não se importa, gostaria de ir até sua casa. Tenho uma coisinha pra Lils.
- Não precisa dar nada a ela, Malfoy. Ela já é louca por você!
- Por isso mesmo! – Draco deu vários passos em direção à saída da mansão, e então parou ao ver que Harry não o acompanhava. - Vamos logo, testa - rachada! Não embaça!
oOo
Londres bruxa
Harry e Draco aparataram na casa dos Potters. Draco foi recebido com uma cara de poucos amigos de Ginny, que ainda achava que ele havia readquirido aquele perfil de antigamente.
- Antes que me azare, ruiva, pode me dizer o que Angel vai achar desse anel de noivado? – Draco foi dizendo à queima-roupa, desconcertando Ginny, que por um instante não soube o que dizer ao ver-se segurando um delicado anel de pérolas e jades. Uma jóia única que com certeza agradaria qualquer mulher.
– Angel vai amar! – respondeu Ginny, sorrindo ao perceber que estava enganada a respeito da personalidade de Draco. Ao devolver o anel ao rapaz, viu que ele retribuía seu sorriso com certo nervosismo, e achou graça. – Eu vou buscar a Lils. Ela não me perdoaria se o ‘Tio Draco’ fosse embora sem levar um beijo dela!
Ginny desapareceu pela porta que dava acesso à parte íntima da casa, e voltou minutos depois, com Lils correndo na frente. Novamente a garotinha se jogou nos braços de Malfoy ao vê-lo. Draco poderia se acostumar àquilo - aliás, já estava acostumado, na verdade.
Draco colocou Lily no chão para retirar o dragãozinho de pelúcia do bolso, e fez com que o bichinho voltasse ao tamanho normal. Ele já havia limpado o brinquedo na mansão. Era velho, havia pertencido a ele quando criança, o único brinquedo que conseguiu salvar da fúria insana de Lucius.
- Olha o que eu trouxe pra minha bruxinha! – Draco ajoelhou-se para ficar na altura da garotinha. – O nome dele é Drake e precisa de alguém que possa cuidar dele.
- Eu posso cuidar dele pra você, tio Draco! – A pequena abraçou o brinquedo e depositou um beijo no topo da cabeça do dragão. Depois abraçou Draco novamente.
- Fica para o jantar, Malfoy? – Perguntou Ginny, mais aliviada e educada agora.
- Na verdade, senhora Potter, vou levar o seu marido para o bar, onde vou ficar muito bêbado!
- Draco Malfoy!
- Bem, é minha última noite de solteiro, e só tenho o testa - rachada para me acompanhar. Ou terei que ir sozinho?
Ginny virou os olhos, Harry fez olhar de inocente e todos acabaram rindo.
Draco não estava brincando. Realmente ficou bêbado, e Harry teve que carregá-lo até seu apartamento, uma cobertura em um dos prédios mais luxuosos da parte bruxa de Londres. Biddy já esperava por seu mestre com tudo impecável. Harry o jogou no sofá e se despediu da pequena elfa. Já era tarde, e com certeza Ginny estaria com olhares homicidas à sua espera.
Draco acordou tarde na manhã seguinte. Estava um lixo depois de tantos copos de Firewhisky. Definitivamente não beberia mais. Chamou Biddy e pediu para que preparasse uma poção anti-ressaca. Depois que se recuperou, foi até o Beco Diagonal para compras. O apartamento deveria estar impecável para Angel, quando ela estivesse pronta.
O dia já terminava quando Draco finalmente saiu do closet, vestido em um casaco preto que lhe caiu muito bem. Ele caprichou no perfume que ele mesmo havia feito - ser um gênio em poções tinha suas vantagens. Ele também fabricara um delicado perfume para Angel, inspirado nos perfumes que ele havia sentido nos dias em que passara em sua companhia. Sobre o aparador da sala, uma caixinha com o anel que um dia pertencera a Narcissa; era uma jóia especial, especialmente porque não fora presente de Lucius, mas sim de Draco. E rosas, as mais lindas que achou em Londres.
Aparatou na porta do Solar Reed. Olhou para o lampião aceso e sorriu. O garoto dos olhos grises estava por demais nervoso. Não sabia sequer se Angel ainda estava no solar a sua espera, apesar de estar um dia adiantado. Sua semana venceria no dia seguinte, mas para que esperar? Tocou a campainha, e a criada o atendeu. Ela o reconheceu, apesar do cabelo e da roupa diferentes, e deixou-o sozinho na sala de estar para chamar sua senhora.
Angel estava no jardim, apesar do frio que fazia àquela hora. Olhava para as roseiras secas e para a lápide de Lizie, tão absorta em seus pensamentos que não viu quando a criada se aproximou.
- A senhora não vai acreditar! – Exclamou a garota, entusiasmada.
- Ai! Que susto, Mary! – Angel deu um salto, levando a mão ao coração. – O que foi?
- O senhor John está lá na sala! Com rosas lindas!
O coração de Angel falhou uma batida.
- Draco!
A médica saiu correndo para a sala de estar, parando bruscamente na entrada. Manteve uma distância comedida de Draco, afinal, ainda não sabia o que ele fazia ali. A respiração de ambos estava um pouco alterada. Angel percebeu o nervosismo dele, e Draco percebeu a ansiedade dela.
O garoto de olhos grises agora tinha os cabelos crescidos. Vestia preto, malha, blazer e calça social, tudo com um corte impecável. O sobretudo, já esquecido sobre o sofá, denunciava que a conversa não seria curta. Angel nunca o imaginou tão belo.
Foi Draco quem quebrou o silêncio, inseguro e nervoso:
- Angel, eu... Eu estou aqui hoje para te agradecer. – Ele hesitou, vendo que a expressão de Angel dizia claramente que a trouxa não queria agradecimentos, nem um premio de consolação. – Você me devolveu a minha vida. Eu... Eu sei que não te mereço, mas eu... Eu gostaria que você se tornasse minha esposa. No seu mundo e no meu.
Draco despejou de uma só vez o pedido que havia ensaiado todos aqueles dias, e se puniu mentalmente por tirar todo o romantismo do momento. Ele estava pálido, e tentava encontrar uma resposta no rosto de seu anjo. Angel, por sua vez, jamais esperaria um pedido de casamento assim. Uma volta, sim, ela torcia por isso, ainda que não acreditasse muito na hipótese. Mas um pedido formal de casamento? Isso era uma surpresa e tanto!
O silêncio se tornou constrangedor, e foi só então que Angel percebeu que precisava falar algo. Ela se aproximou devagar, retirou as flores das mãos de Draco, colocando-as sobre o sofá, então pousou a mão no próprio peito e só então falou:
- Meu coração bate por você...
E, pousando a outra mão no peito de Draco, Angel pôde sentir as batidas descompassadas do coração dele.
- E o meu por você, anjo... – Draco murmurou, sem quebrar o contato com os olhos de Angel, ora verdes, ora castanhos, em uma busca louca por equilíbrio.
- Sim! – respondeu a médica, por fim – A resposta é sim! Pela eternidade!
Draco tirou do bolso uma caixinha ricamente decorada, e retirou de lá o anel de Narcissa. Tomou a mão de Angel e colocou delicadamente o anel em seu dedo anelar, selando o ato com um beijo sobre ele. Depois a tomou nos braços, e depositou um beijo casto em sua testa, sabendo que as criadas estavam espiando em algum lugar por ali. Com ela nos braços, subiu as escadas. Não havia mais nada a se dizer; havia urgência da parte de ambos. O toque naquele momento se fazia necessário. E eles se entregaram ao amor novamente.
Finalmente, a ansiedade que consumira Angel durante a semana se foi. Draco estava de volta, e eles se amaram na doce entrega de almas que se encontram depois de varias marés. Não havia pressa, não havia medo. Não havia nada que fosse mais importante do que Angel. Nada que fosse mais importante do que Draco.
oOo
- Onde a futura senhora Malfoy pensa que vai? – Draco tentava prender Angel junto a si.
- Não sei quanto a você, mas eu estou faminta e ainda tenho que dispensar as criadas!
- Quanto a estar faminto, eu também estou. Mas acha mesmo que sobrou alguém na casa depois que te carreguei escada acima?
- Seu bobo!
Angel saiu da cama, vestiu seu roupão e mal saiu do quarto quando se deparou com um carrinho de chá coberto por uma linda toalha de mesa. Sobre ele havia um bilhete:
“Senhora,
Tomamos a liberdade de fazer uma bandeja. O jantar está no forno. Ah, também tomamos a liberdade de nos dispensar, visto que a companhia do senhor John é com certeza melhor que a nossa!
Estamos felizes com a volta dele.
Até amanhã!
Mary e Grace.”
Angel sorriu, surpresa pela atitude das duas criadas - elas eram sempre tão sérias e reservadas! Abriu a porta novamente e entrou com o carrinho de chá.
- Este foi o lanche mais rápido que alguém já me providenciou! – Disse Draco, brincalhão – Andou fazendo magias, mocinha?
- Não, claro que não! Mas você impressionou as criadas, elas até se dispensaram! – Angel foi dizendo, enquanto entregava o bilhete a Draco e descobria a bandeja. Tudo ali fora feito com carinho, que estava estampado na riqueza de detalhes que Angel podia observar.
Depois de uma noite cheia de carinhos e muito amor, ambos acordaram com a sensação de ainda estarem sonhando. Draco sentia falta de acordar com o rosto enterrado nos cabelos da sua morena; o cheiro de oceano que Angel exalava era o convite para um dia especial, e esse cheiro seria seu pela eternidade. Amaram-se novamente na manhã fria que se iniciava lá fora, com ares de que a primavera não tardaria a chegar à ilha.
Quando finalmente decidiram sair do quarto já era hora do almoço. A mesa fora posta com esmero, e o almoço caprichado ao extremo. As criadas serviram a ambos com extremo profissionalismo. Angel se surpreendeu, pois ela nunca fora dada a esses requintes. Assim que as criadas saíram para deixar o casal almoçar a vontade, Angel sorriu e disse a Draco:
- Onde estão minhas criadas? O que você fez com elas?
- Não entendi, anjo... – Draco perguntou, levando o guardanapo a boca.
- Elas não eram assim! Definitivamente!
- Ah! Elas reconheceram a classe do Malfoy aqui!
- Nossa! Que convencido!
- Estou apenas constatando um fato. Mas o fato é que está tudo perfeito, amor. – Draco capturou as mãos de Angel e depositou um beijo na ponta de seus dedos. – Obrigado. Mas, quanto ao casamento, Granger me disse que no mundo trou... No seu mundo – Draco se corrigiu – temos alguns trâmites legais a seguir, e que isso leva algum tempo. Então quero fazer o que tem que ser feito ainda hoje.
Angel congelou no lugar, surpresa.
- Bem, eu...
- Não vai dizer que mudou de idéia! – Draco parou o talher no meio do caminho e a encarou com um olhar quase assustado. Angel tratou de acalmá-lo:
- Não, Draco! Que idéia! Eu só fui pega de surpresa... Você não acha melhor nos conhecermos mais, e depois...
- Nem tente! Eu sei que amo você, anjo. Quero que tenha meus filhos, quero acordar ao seu lado todos os dias, olhar o poente e sentir seu perfume, ver nossos filhos correrem e sorrirem, livres, debaixo desse céu, sem medo de nada. Quero voltar para casa todos os dias com você nos braços. Quero realizar todos os seus sonhos. Quero envelhecer a seu lado. E eu serei o homem mais feliz do mundo se isso lhe bastar.
Draco a encarou e uma lágrima caiu de seus olhos grises. Ele havia colocado toda a sua vida nas mãos de Angel.
Angel nada disse, apenas capturou a lágrima fugidia com os lábios e depois desceu para a boca do garoto. O beijo foi tão doce que ambos perderam a noção e o almoço ficou interrompido por um tempo.
- Não se preocupe, meu amor. Amanhã bem cedo vamos a Londres, e eu farei tudo que for necessário. Mas hoje... Hoje quero olhar o poente com você e sentir seu perfume, imaginar minha barriga crescendo com seu filho, sonhar junto com você e imaginar como será envelhecer a seu lado. Quero olhar em seus olhos e perceber que são espelhos que refletem o seu amor por mim. Descobrir e decorar cada pedacinho de você, e no fim descobrir que isso é tudo que sempre sonhei, que seu amor me basta e que vivo somente por você.
oOo
Os preparativos para o casamento em tão pouco tempo foram exaustivos para Angel e para Draco, que organizou uma recepção digna de um Malfoy no mundo bruxo. Era a hora certa de mostrar à sociedade bruxa que ele estava de volta. Angel, por sua vez, teve a ajuda de Ginny.
Paralelo a tudo isso, Draco e Hermione preparavam Angel fisicamente para não ter problemas com magia, visto que viveriam na parte bruxa de Londres até que Draco comprasse uma propriedade apropriada para eles, já que a Mansão Malfoy fora doada ao Ministério da Magia – ou, mais precisamente, para os órfãos da guerra. “Lucius deve estar se revirando no túmulo”, Draco pensava, sorrindo.
Hermione chegou pela lareira no Solar, que servia de base para os amigos se encontrarem. As criadas eram dispensadas na parte da tarde para que eles tivessem privacidade para praticarem feitiços simples perto de Angel. Draco finalmente iria aparatar com Angel para seu apartamento em Londres. Seria a primeira vez que Angel entraria na parte bruxa da cidade e todos estavam ansiosos com isso. A magia de Draco já havia se estabilizado, mas ainda era motivo de preocupação por parte de Hermione, que prezava pela segurança dos dois – um estrunchamento não era bem o que precisavam a apenas alguns dias do casamento.
- Malfoy, como você está se sentindo hoje? – Perguntou Hermione, apreensiva.
- Estou bem. – Draco engoliu a falta de paciência com a sabe-tudo, afinal, ela só estava tentando proteger ele e Angel. – Olha, fica calma, ok? Eu sinto que minha magia está mais forte que antes. Eu jamais colocaria Angel em perigo.
- Está bem, está bem! – Hermione deu-se por vencida – Então nos encontramos no seu apartamento.
Dizendo isso, Hermione desaparatou.
Draco enlaçou Angel pela cintura. Ela estava calada de tanto medo. O loiro a olhou nos olhos e sentiu seu medo.
- Angel, meu bem, não precisamos fazer se não quiser...
- Eu quero, mas estou com medo... – Angel enterrou o rosto no peito de Draco e ele a apertou com força. – Vamos embora, amor.
Draco aparatou com ela. No apartamento, Angel ainda ficou um tempo agarrada a ele, com os olhos bem fechados.
- Angel? Tudo bem? Nós chegamos.
- Sinto-me tonta... Não me solte, por favor...
- Granger? Tem algo errado!
Hermione apareceu ao lado do casal tão rápido que parecia ter aparatado. Com a ajuda de Draco, a bruxa fez Angel se sentar em um sofá. A trouxa não soltou o pescoço de Draco nem por um instante.
- Angel, o que está sentindo? Fale comigo! – Hermione tentava passar calma e tranqüilidade para a amiga.
- Tudo bem, já está passando...
Angel foi relaxando aos poucos, até finalmente conseguir abrir os olhos e soltar Draco. Ela estava muito pálida e suava frio; Hermione a examinou, mas não encontrou nada de errado. Aos poucos a cor voltou à face de Angel, e a letargia que a tomou logo deu lugar à observação de um ambiente novo. Sua nova casa. Hermione pediu a Draco que providenciasse um refrigerante, que aliviaria aquele efeito colateral. Draco assentiu e chamou pela sua elfa doméstica:
- Biddy!
Um som de aparatação foi ouvido, e Angel assustou-se quando viu o elfo aparecer de repente no meio da sala. Foi uma tragédia! Angel gritou, Biddy gritou, Draco gritou com a criatura e mandou-a de volta, Hermione gritou e quase estuporou Draco. A sala virou uma discussão só, até Angel abaixar a cabeça e gritar mais alto do que todos os outros:
- CHEGA!
Silêncio. Angel olhou para Hermione e depois para Draco.
- Ótimo! Agora, Draco, me explique o que foi aquilo. – Angel respirou fundo, tentando se concentrar na explicação que começaria.
- Aquilo é um elfo domestico. – Draco começou a explicação, esperando que Angel compreendesse. – Seu nome é Biddy, e ela está comigo desde que nasci. Não tenha medo dela!
- Ela é um doce, você vai gostar dela. – Ajuntou Hermione.
- Ótimo. Biddy! – Angel repetiu o nome; não era bem um chamado, mas, para o espanto de todos, Biddy atendeu como se Angel a tivesse chamado.
- Senhora chamou Biddy? – A pobre criatura fez uma reverência tão baixa que quase tocou o nariz no chão.
- Olhe pra mim, pequenina. – Angel começou, ainda um pouco insegura. Não havia nenhum animal parecido com aquilo no mundo trouxa. – Não tenha medo, eu não vou te machucar.
Angel sentiu que a elfa estava tão assustada quanto ela, então se sentou no tapete para ficar na altura dela, como se faz com uma criança, estendeu a mão e tocou suas orelhas, depois suas mãozinhas. Biddy tocou os cabelos de Angel. Ambas se estudavam. A garota sorriu e a elfa também.
Draco e Hermione estavam calados e estupefatos. Os elfos só reconheciam uma moça como sua senhora depois do casamento, mas Biddy aceitou Angel de imediato. Não havia dúvidas quanto a isso.
- Biddy, pode trazer o refrigerante da sua senhora agora? – Hermione interrompeu a cena, percebendo que Angel ainda precisava disso.
Biddy aparatou e Angel saiu de seu torpor, assustando-se com o sumiço da pequena. Levando as mãos ao peito, disse, brincalhona:
- Definitivamente tenho que me acostumar a isso!
Quando a calmaria se apossou do apartamento, Draco desabou no sofá, relaxando, mas não muito: ainda continuava assustado com a palidez de Angel.
- Vem cá, anjo, - Draco a chamou, apontando para o lugar ao lado do seu - volta pro sofá.
Depois do refrigerante e de muitas risadas, Hermione viu que estava tudo bem, então se despediu do casal e aparatou para o St. Mungus, deixando Draco e Angel sozinhos.
Draco mostrou o enorme apartamento para Angel. Era maior que o Solar, com certeza; tinha dois pisos e aposentos ricamente decorados. No andar superior ficavam os aposentos íntimos, que Draco parecia ansioso para mostrar:
- E este é o nosso quarto!
Draco abriu as portas com uma solenidade cômica, deixando Angel entrar no aposento. O quarto, que antes era negro, ganhou um aspecto claro e leve com sua nova decoração em branco e azul claro. Os móveis em madeira maciça eram escuros e contrastavam com o ambiente claro. A um canto, um par de poltronas confortáveis de frente a uma lareira; no lado oposto, uma cômoda com espelho e uma cadeira. Sobre a cômoda havia um saquinho de tecido preso com uma fita, ao lado de uma foto de Angel - uma das muitas que Ginny tirara durante o fim de semana no Solar.
Angel olhou para Draco buscando consentimento, para só depois aproximar-se da cômoda, pegar o embrulho e abri-lo delicadamente. Era um frasco. No rótulo, seu nome escrito à mão em uma letra caprichada: Golden Angel tinha a cor dourada do fim da tarde, um momento de inspiração e transformação, que evocava os mistérios da noite. A feminilidade é dourada, com certeza, pensou Angel, embriagada com o perfume que tinha notas de flores e frutos, jasmim e um fundo de sândalo. Ela não entendia muito de perfume, mas a fragrância a fez voltar a um entardecer feliz na praia da ilha. Sua mente vagou por lembranças recentes e por outras há muito esquecidas. Tinha os olhos fechados quando Malfoy se aproximou e a abraçou.
- Espero ter acertado. Se não gostou, posso fazer outro.
- Foi você quem fez?
- Sim. – Draco sorriu – Sou bom em poções, e em perfumes também.
- Ele é perfeito! Obrigada, amor!
Ambos se perderam entre carinhos e beijos, que terminaram na cama do casal. Nada poderia interferir no amor dos dois.
Passaram a noite no apartamento. No dia seguinte iriam até o Beco diagonal para compras. Ginny e Hermione estariam ali para ajudar Angel a comprar vestes bruxas. Esse passeio não agradava muito a Draco, mas Angel dependia da sua magia.
Tudo era tão diferente para Angel! Seus olhos descobriam, maravilhados, um novo mundo, cheio de magia. Quando Angel foi apresentada a Madame Malkin como a futura senhora Malfoy, recebeu o melhor atendimento que a loja poderia oferecer. Suas compras foram separadas e entregues no apartamento em Londres, onde Biddy organizou tudo.
A segunda aparatação não foi assim tão difícil para Angel. Ela se acostumava a cada dia com a magia de Draco, quase parecia algo natural agora. Ao sabor das marés, eles prepararam tudo para o que seria o casamento do ano. Angel pediu a Draco um pouco de discrição na cerimônia bruxa, mas ele era um Malfoy, e é claro que acabou exagerando na festa.
oOo
Bem, desculpem a demora! Espero que gostem!
Jinhos da Belle
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