CONFIÇÕES NO EXPRESSO DE HOGWA



O último mês com os familiares não foi nada agradável. Apesar de ter sido um mês praticamente calmo, parecia que tinha rebentado uma bomba de mau humor dentro daquela casa. A meio do mês tinha-se desencadeado um discussão sobre Sirius não achar o sangue-puro importante, a partir dai todos ignoravam Sirius. Apesar dele achar isso bom, acabou por se cansar e de ser censurado. Sirius pediu desculpas, apesar de ter sido desculpado sentia que havia algum desprezo no ar.
No ultimo dia de Agosto, Sirius achou que deveria pedir à sua mãe que o ajuda-se a preparar as roupas para o dia seguinte.
- Mãe - disse Sirius - não te importas de passar os meus manto para amanhã usar?
- Claro que não - respondeu Mrs. Black com um leve tom de repulsa.
- Obrigado - agradeceu Sirius.
Sirius sentiu que a sua mãe ainda não o tinha desculpado completamente pela discussão, mas não ligou, começou a pensar como iria ser bom estar longe daquela casa e dos seus habitantes.
Depois de arrumar todas as suas coisas no malão Sirius foi-se deitar.
No dia seguinte Sirius acordou excitadíssimo, vestiu-se com roupas muggles e desceu até à cozinha onde encontrou toda a família.
- Bom dia - saudou-os vivamente.
- Bom dia - responderam.
- A que horas partimos? - perguntou Sirius.
- Às dez horas - respondeu Mr. Black.
- Em que é que vamos para a estação? - inquiriu Sirius.
- Vamos de transporte muggle - contestou Mrs. Black - de Tachi.
- Diz-se táxi - corrigiu Regulus.
- Ou isso - disse Mrs. Black - quero que estejam prontos a essa hora.
Depois de tomarem o pequeno-almoço foram todos para o quarto arranjarem-se e às dez horas já Mr. Black estava a carregar as malas de Sirius para o porta bagagens da viatura. Depois de meia hora a dentro do táxi chegaram à estação de King’s Cross. Mr. Black colocou as malas num trólei e empurrou-o. Era uma estação enorme com grandes arcadas e paredes de tijolo colossal, vária pessoas apressavam-se a chegar rapidamente aos respectivos comboios e outras saiam das carruagens.
A família Black avançou até a uma barreira entre as plataformas nove e dez.
- Muito bem! - disse Mrs. Black - Agora presta atenção Sirius. Para chegar ao Expresso de Hogwarts só tens de avançar direito à barreira entre a plataforma nove e dez. Não pares e não te assustes, compreendido?
- Acho que sim! - respondeu Sirius com um pouco de nervosismo.
Empurrou o trólei e olhou para a barreira que parecia bastante sólida.
Começou a avançar direito a ela. As pessoas empurravam-no enquanto se dirigiam às plataformas nove e dez. Sirius começou a andar mais rapidamente. Ia se esbarrar contra a barreira e aí surgiriam problemas, encostando-se ao trólei desatou a correr a toda a velocidade, a barreira estava cada vez mais próxima, não podia parar, o trólei estava descontrolado, estava a poucos centímetro. Fechou os olhos, pronto para o embate.
Mas não houve embate algum… continuou a correr… até que abriu os olhos.
Um comboio vermelho-escarlate estava parado junto a uma plataforma cheia de gente. Um letreiro lá em cima dizia Expresso de Hogwarts, 11 horas.
Sirius olhou para trás e viu uma arcada de ferro no lugar de onde antes estava a barreira, com as palavras Plataforma nove e três quartos. Tinha conseguido. De lá saíram Mrs. Black e Régulos seguidos de Mr. Black e avançaram ao longo da plataforma.
O fumo da locomotiva elevava-se sobre as cabeças da multidão ruidosa enquanto gatos de todas as cores enroscava-se aqui e ali entre as pernas do passageiros. As corujas pareciam transmitir inquietação na forma como piavam umas às outras, abafando o chiar das pesadas malas a serem arrastadas pelo chão.
As primeiras carruagens estavam já cheias de alunos, alguns debruçados à janela a despedirem-se das famílias, outro disputando os lugares . Sirius empurrou o seu trólei através da plataforma, enquanto tentava vislumbrar um lugar vazio. Sirius furou por entre uma multidão até encontrar um compartimento vazio, perto do fim do comboio. Ele tentou empurrar, como podia, a mala até à porta do comboio. Arriscou subir com ela os degraus mas não conseguia levantá-la do chão e, à segunda tentativa, escorregou e a mala caiu-lhe em cima dos pés o que lhe provocou uma terrível dor.
- Queres ajuda? - perguntou um rapaz.
- Obrigado! - agradeceu Sirius.
Com a ajuda do rapaz, o malão foi encostado a um dos cantos da carruagem.
- Obrigado - agradeceu novamente Sirius.
- Não foi nada! - disse o rapaz.
Sirius acomodou-se no compartimento e decidiu trocar as roupas de muggle por um longo manto negro.
Um apito agudo fez-se ouvir ao de longe e poucos segundos depois o comboio arrancou devagar. Sirius viu várias famílias a acenar e uma rapariguinha meio a chorar, meio a rir, correu para o comboio até que este ganhou velocidade e ela voltou para trás sempre a dizer adeus.
Sirius viu-as desaparecer quando o comboio virou a esquina. As casas pareciam passar a correr vistas pela janela. Sentiu uma imensa excitação. Não sabia o que o esperava mas tinha de ser melhor do que aquilo que deixara para trás.
A porta do compartimento abriu-se e um rapaz já conhecido de Sirius entrou.
- Está alguém aqui sentado? - perguntou, apontando para o lugar em frente de Sirius - todos os outros estão ocupados.
Sirius fez-lhe sinal com a cabeça e o rapaz sentou-se.
- Já não nos conhece-mos? - perguntou ele.
- Não sei - disse Sirius - mas também tenho a impressão que sim.
- Já sei! - disse o rapaz alguns segundos depois - foi na madame Malkin.
- Sim tens razão! - disse Sirius - Chamo-me Sirius Black.
- James - apresentou-se o rapaz - James Potter.
Enquanto Sirius e James conversavam a porta do compartimento voltou a abrir.
- Er… desculpem, posso me sentar aqui? - Perguntou o rapaz - Este é o único com lugar!
- Claro - disseram Sirius e James em coro.
- Obrigado - agradeceu o rapaz - Sou o Peter Pettigrew.
- James Potter.
- Sirius Black.
Apresentaram-se os três com um aperto de mão. Peter era um rapaz baixo, com cabelo de rato e um nariz pontiagudo.
Enquanto conversavam, o comboio saia de Londres. Atravessava agora, a grande velocidade, campos cheios de vacas e carneiros. Ficaram um bocado em silêncio, a observar o campo e os caminhos estreitos que passavam como flechas.
- Então, já sabem qual vai ser a vossa equipa? - perguntou James.
- Bem, eu acho que vou ficar nos Gryffindor - disse Peter - Os meus pais também o foram.
- Eu também devo ir para Gryffindor - informou James - toda a minha
família o foi. Então e tu, Sirius?
Sirius pensou em dizer que iria para Gryffindor mas achou que mais tarde ou mais cedo eles iria saber qual era o tipo de família que ele tinha.
- Não sei! - disse.
- Não sabes como? - perguntou Peter
- Bem… - disse Sirius - É que eu e o resto da minha família somos totalmente diferentes.
- Diferentes como? - perguntou James - mas se não quiseres contar não precisas - disse apresado olhando para o rosto acanhado de Sirius.
- A minha família foi toda Slytherin - disse Sirius segundos depois - Eles só se preocupam com eles próprios, só querem saber de sangue-puro, eles dizem que naquela família só pode entrar feiticeiros de sangue-puro, nenhum com familiares muggles. Mas eu não sou como eles! Eu não me preocupo com isso! É por isso que os detesto a todos, excepto à minha prima Andromeda. Ela também detesta a família dela por isso que nos damos bem. Mas eu não quero ir para Slytherin, qualquer outra equipa serve para mim. Mas a minha mãe era capaz de me tirar da escola no dia seguinte.
- Não te preocupes - disse James com ar sério - isso não irá acontecer.
- Não conheces a minha família - disse Sirius - eles são capazes de tudo para conseguirem o que querem.
- Nós não deixamos - disse Peter.
- Vocês não podem fazer nada - disse Sirius em vos alta com lágrimas nos olhos. As lágrimas corriam-lhe o rosto com dois límpidos rios.
- Nós não - disse James - mas eu sei quem pode.
- Que queres dizer? - perguntou Sirius soluçando.
- Confias em mim? - perguntou James.
Sirius acenou com a cabeça.
- Então o teu caso pode já estar resolvido - disse James.
Sirius continuou a chorar e James e Peter decidiram deixá-lo até se acalmar. Durante mais hora ficou a olhar para a paisagem que passava rapidamente enquanto as lágrimas não cessavam. Quando a ultima lágrima caiu, Sirius, virou-se para os amigos com um grande sorriso.
Por volta do meio-dia e meia-hora, ouviu-se um grande burburinho no corredor do comboio e uma mulher sorridente e com covinhas no rosto bateu na porta do compartimento deles, perguntando: - Querem alguma coisa dos carrinhos, meninos?
Os três levantaram-se e foram até aos carrinhos que tinham vários doces, feijões de todos os sabores de Bertie Bott, as melhores pastilhas elásticas Droobles, sapos de chocolate, pasteis de abóbora, bolos do Caldeirão, varinhas mágicas de alcaçuz e mais uma infinidade de outros doces. Os rapazes compraram um pouco de tudo e foram sentar-se, todos os doces que traziam ocupavam os restantes lugares do compartimento.
Os três amigos divertiram-se enquanto comiam e conversavam.
Sirius espreitou pela janela. Estava a anoitecer. As montanhas e as florestas destacavam-se sob um céu vermelho-escuro. O comboio parecia estar a abrandar.
James e Peter tiraram os casacos e vestiram os longos mantos negros.
Uma voz ecoou por todo o comboio: ¾ Chegamos a Hogwarts dentro de cinco minutos. Por favor deixem toda a bagagem dentro do comboio. Será levada para a escola separadamente.
O comboio abrandou lentamente e, por fim, parou. As pessoas empurravam-se, tentando abrir caminho até à porta e saindo para uma pequena plataforma escura.
Sirius tiritou com o ar frio da noite. Em seguida, uma luz surgiu, oscilando sobre as cabeças dos estudantes. Um homem gigantesco estava de pé no centro da estação. O rosto estava praticamente tapado por uma enorme juba hirsuta e por uma barba emaranhada, mas mesmo assim era possível vislumbrar os seus olhos, a brilharem como baratas negras debaixo de todo aqueles cabelos.
- Primeiros anos! Primeiros anos! Cheguem aqui! - disse ele e todos os primeiros anos juntaram-se na sua frente - Sou o Rubeus Hagrid, guarda das chaves e dos em Hogwarts.
A grande cara barbuda de Hagrid era bem visível por cima de um mar de cabeças.
- Vamos, sigam-me. Não há mais ninguém dos primeiros anos? Cuidado com o degrau, primeiros anos, atrás de mim.
Aos tropeções seguiram Hagrid que desceu por um caminho estreito e íngreme. Era tão escuro de ambos os lados que Sirius pensou que devia estar ladeado de árvores espessa e cerradas. Quase ninguém falou.
- Daqui a um segundo vocês vão ver p’la primeira vez Hogwarts - disse Hagrid, por cima do ombro - Por esta curva aqui.
Ouviu-se um prolongado - Oooooooh!
O caminho estreito terminara subitamente na beira de um grande lago negro. Sobre uma altíssima montanha, do outro lado, brilhavam, no céu estrelado, as janelas iluminadas de um enorme castelo cheio de torres e torreões.
- Não quero mais que quatro em cada barco - gritou Hagrid, apontando para uma frota de pequenos barcos que boiavam na água junto da margem. Sirius, James e Peter foram seguidos para o barquinho por uma rapariga alta e elegante de cabelos loiros platinados.
- Olá Sirius! - disse ela.
- Oh… Olá Andromeda - cumprimentou Sirius um pouco surpreso.
James deu uma cotovelada em Sirius.
- Oh, pois… Estes são o Peter Pettigrew - apresentou-os Sirius - e este é o…
- James Potter - disse James de imediato com um grande sorriso - muito prazer!
- O que é que se passa contigo? - perguntou Sirius num murmúrio.
- Nunca pensei que ela fosse assim tão gira - disse James sussurrando.
- Tud’a postos? - gritou Hagrid que tinha um barco só para ele - EM FRENTE.
E a frota de pequenos barcos movimentou-se de imediato, deslizando pelo lago que era tão liso como gelo. Iam todos no maior silêncio, a olhar para o grande castelo lá em cima que parecia ainda mais alto à medida que se aproximavam do rochedo sobre o qual estava edificado.
- Baixem as cabeças - gritou Hagrid, logo que os primeiros barcos atingiram a falésia. Todos inclinaram as cabeças para a frente e os braços passaram por uma cortina de folhas de hera que ocultava uma abertura na superfície de rochedo. Foram transportados através de um túnel sombrio que parecia levá-los mesmo por debaixo do castelo, até que chegaram a uma espécie de porto subterrâneo onde treparam para as rochas e para o solo pedregoso. Em seguida escalaram um corredor sobre a falésia atrás do candeeiro de Hagrid, chegando por fim a um relvado húmido e macio que ficava nas sombras do castelo.
Subiram um lanço de degraus de pedra e reuniram-se em volta da imensa porta principal de madeira de carvalho.
- ‘Tão todos aqui?
Hagrid ergueu o seu punho gigantesco e bateu três vezes na porta do castelo.

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