Será?



2 – Será?

Credo, essa semana foi um saco! Eu não agüento mais olhar para a cara daquele seboso toda noite. Quer dizer, sinceramente, quantas vezes uma pessoa precisa me dizer que eu vou destripar insetos? Ah, mas eu sei por que ele faz isso. Ele ADORA ver a minha expressão. E eu odeio isso. Odeio não poder mandar ele pra bem longe.

Por que eu não posso mandar ele longe? Simples. Toda a Lufa-Lufa quer me matar por causa daqueles pontinhos de nada que a gente perdeu. Sabe... Aqueles cem pontinhos que não vão fazer a menor falta, já que nós vamos PERDER a Taça das Casas de qualquer jeito, mesmo.

Então, pelo bem da minha saúde física, eu não vou falar nada. Nada. Niente. Nothing. É isso aí.

Ta, mas e a minha SAÚDE MENTAL, como é que fica? Vocês, botões, não sabem como é ter que ficar quieta assim. Eu até mandei uma carta para a minha mãe, reclamando. Ela me respondeu dizendo que a culpa era minha, e que era melhor eu dar um jeito de agüentar bem quieta, porque se ele recebesse outra carta da escola por causa do meu comportamento, eu podia ter certeza de que iria me dar MUITO mal.

Pois é. Eu também te amo, mãe. E não, não se preocupe, eu vou aguentar, você não precisa se preocupar se eu vou ou não ficar louca. E não, não reserve um leito no St. Mungus.

Argh.

Outra coisa bem chata essa semana foram as conversas. Ou a falta delas. Porque, veja bem, se antes alguém me pedia para passar a jarra de suco no café da manhã, agora com certeza não pedem mais. Nem a Granger está falando comigo ( embora eu ache que mereça essa parte ).

Juro pra vocês que estou ficando louca. Outro dia mesmo eu me peguei falando sozinha. Eu e Dino Thomas, da Grifinória. Eu estava no jardim, confortavelmente sentada na sob a minha arvore favorita, quando me dei conta que, quando pensava sobre o que escrever no meu trabalho de História da Magia, eu FALAVA. E não sussurrando, mas ALTO. Alto como se eu estivesse falando com a minha mãe, em uma das nossas brigas.

Fiquei apavorada. Olhei para os lados, pra ver se alguém estava olhando e dei de cara com o rosto do Dino, com uma sobrancelha arqueada e um sorrisinho que berrava “DOIDA”. Eu olhei para ele, ele olhou para mim. Ele sorriu e eu fiquei mais vermelha do que um pimentão, e virei o rosto. Vi pela visão periférica que ele virou para a Gina Weasley, a namorada dele, e cochichou no ouvido dela algo que ela pareceu achar bem engraçado.

Ótimo. Simplesmente ótimo. Tudo que eu precisava. Agora os alunos da Grifinória vão me achar maluca. Ma-ra-vi-lha.

Ainda bem que tinha muita pouca gente no jardim, já que estava, sabe, nevando e tudo o mais. Digo, imagina só que azar se Hermione Granger me visse falando sozinha daquele jeito! Não quero nem imaginar o que aconteceria na detenção de hoje.

Continuando. Depois do acidente CONSTRANGEDOR, o Dino ficava olhando para mim de um jeito muito esquisito. E eu fiquei toda: “Ai, meu Merlin, ele acha que eu sou doida e vai espalhar isso pra todo mundo, ou fazer chantagem sobre isso”. Sabe, isso foi o que eu pensei. Mas eu acho que um aluno da Grifinória não seria capaz de uma indelicadeza dessas.

Bom, o negócio é que eu não agüentei, juntei as minhas coisas e disparei em direção ao Saguão de Entrada e, bem, corri o mais rápido que pude para a minha sala preferida do térreo, que estava vazia, como sempre.

Essa sala é o lugar para onde eu vou quando acontece alguma coisa que eu não gosto. Foi lá que eu me enfiei quando o urubu velho (mais conhecida como professora-de-transfiguração-de-quem-eu-nunca-lembro-o-nome) começou implicar com o formato dos meus botões. E não, não estou falando dos botões com quem eu converso, e sim dos besouros que eu tinha que transformar em botões. Quem se importa se a droga dos botões não está no formato que ela pediu? Eles ficaram tão bonitinhos no formato de texugos.

Só que não era a tarefa. Aquela lá é outra doida.

Na minha sala (porque agora é MINHA) tinha um monte de carteiras, algumas quebradas devido aos meus, digamos, ataques de raiva. Um quadro negro, um armário, e, o que eu mais gosto, um espelho de corpo todo. Ta, admito, fui eu quem botou ele lá. Mas e se acontecer uma emergência com o meu cabelo? Como esse povo espera que eu chegue ao dormitório? É muito mais rápido vir aqui, do que descer TODAS as escadas.

Aproximei-me do espelho e olhei o meu reflexo desanimador. Desanimador, sim, senhor. Não é como se eu me destacasse no meio da multidão, sabe? Mas eu também não era feia. Meu cabelo é castanho, meus olhos são castanhos e sou muito pálida. Sempre fui magra, mas nunca fui “durinha”. Minha mãe costuma dizer que eu sou um elástico. Também não sou alta, e nem baixa. E acho que devo mencionar que não tenho lá muito peito. Ou seja, sou a personificação do sem-graça. Não é de se espantar que eu nunca tenha recebido um cartão no dia dos namorados, ou um simples convite para sair.

Sentei no chão, apoiando os cotovelos nos joelhos e a cabeça nas mãos. Achei que talvez fosse melhor encarar a minha situação e pensar numa solução.

Problema nº. 1: Se eu estou tão incomodada porque não tenho com quem conversar, por que não tento fazer amigos? Quer dizer, não é como se eu tivesse me juntado aos grupinhos e conversado animadamente com todo mundo quando cheguei aqui. Na verdade, eu me excluí. E depois eu fico perguntando o porquê... Bem, de não ter amigos.

Torci o nariz para essa idéia. Qual é, eu não sirvo para ser gentil com todo mundo e aturar gente fútil. Essa não sou eu. Então, idéia descartada. Antes só do que acompanhada.

Problema nº. 2: Eu tenho que parar de reclamar por causa dessa droga de detenção. Eu estou orgulhosa de mim mesma. Eu sou corajosa. Eu sou o máximo. Isso! Eu vou virar história.

Problema nº. 3: O que foi aquilo no jardim?!

Conclui que já estava suficientemente calma para encarar a sessão de tortura e me levantei, tirei o pó das vestes (você não acreditaria em como essa sala é SUJA), e fui arrastando os pés. Passei esbarrando em algumas pessoas, mas nem virei para me desculpar. Às vezes eu penso que o Chapéu Seletor está com defeito, porque, se considerarmos o jeito como eu trato as pessoas, eu devia estar na Sonserina.

Tropecei nos meus próprios pés perto das escadas que levam às masmorras e caí de joelhos. Doeu. Xinguei bastante e bem alto, ainda do chão. Foi aí que eu vi um par de tênis a uns dois metros de distância. Olhei para cima e dei de cara com o rosto da, imagine só, Granger.

Eu total pensei que ela fosse rir. De novo. Mas não foi bem assim. Acho que ela me olhou com um olhar que eu só consegui traduzir como... Pena? Ah, era só o que me faltava! Pena.

Tem uma coisa que eu esqueci de contar. Eu sou meio lesada. Eu demoro dois minutos para processar um comando do cérebro, de modo que eu fiquei ali, parada, olhando para ela, e ela me olhando. Não sei o que houve, mas acho que ela cansou de me ver ali, com os joelhos machucados e os cabelos ligeiramente descabelados, e me estendeu a mão, que eu aceitei relutante, e me ajudou a levantar.

Estranho. Nós nunca trocamos gentilezas, sabe? Nunca fomos de papinho pra cá, e sorrisinhos pra lá. É MUITO esquisito vê-la sendo gentil comigo.

- Ahn, obrigada. – eu falei, fazendo uma careta.

Ela também devia estar achando aquilo tudo muito estranho, pois deu um sorriso bem torto. Não pude deixar de notar que os dentes dela estavam de um tamanho normal, e que ela não parecia mais um castor. Mas o cabelo, coitado, continuava a mesma desgraça. É por isso que eu agradeço a Merlin todos os dias por meu cabelo, se não é bonito, pelo menos é LISO.

Ah, sim, voltando à situação. Granger suspirou e disse:

- Olha, eu sei que a gente não se deu muito bem antes... Mas eu não acho que você seja uma má pessoa. – ela parecia estar medindo as palavras com todo o cuidado. – E eu estava pensando... Bem, eu estava pensando se a gente podia começar de novo. Sabe, TENTAR ter uma relação amigável.

Não. Brinca. SÉRIO?

- Desculpe. O QUÊ?! – sinto muito, eu sou lesada.

Ela me olhou como se eu fosse louca (porque ela ainda não sabe que eu sou de fato), e repetiu:

- Eu. Estava. Pensando. Que. Nós. Poderíamos. Ser. Amigas. – cara, que RAIVA me deu. – Talvez. – ela completou, parecendo que tinha pensado melhor.

Há. Amigas. Essa é boa.

- Você é doida? – retruquei, pasma. – Você tem certeza que é capaz de esquecer todas as vezes que eu te chamei de cabelo-de-palha ou bruxa pé-de-chinelo?

Ela arregalou os olhos e eu percebi que nunca tinha dito isso na cara dela. Ops.

- Você me chamou do QUE? – ela gritou.

Ops triplo. Nunca tinha notado como ela é assustadora.

- Ah, desculpa. – tentei consertar, desviando o rosto. – Não foi minha intenção. Eu não tenho muita experiência em conviver com as pessoas.

- Isso é óbvio. – ela disse, bufando.

Ficamos um tempo em silencio. Ela me olhando e eu olhando pra baixo. Nós duas estávamos vermelhas, só que com a pequena diferença de que ela estava com raive e eu, com vergonha. Acho que ficamos assim por uns bons três minutos, vendo quem iria ceder primeiro. Finalmente, ela não agüentou e disse:

- Deixando isso de lado, será que dá pra você cooperar comigo? – nossa, como ela é gentil. – E desse jeito eu coopero com você, também.

Eu devo estar com febre, ou coisa parecida. Porque não me pareceu uma má idéia, sabe? Na verdade, essa podia ser a minha chance. Porque, veja bem, ela não parecia o tipo de garota que se preocupa com o estado das unhas ou coisa do tipo. Para falar a verdade, eu acho até que ela não vê um esmalte há uns bons cinco anos.

- Acho que eu posso dar um jeito. – respondi.

Ela abriu um sorriso de dentes perfeitos (e falsos, sejamos sinceros), e eu, por algum motivo, me senti um pouco melhor.

...

Minha sessão de tortura de hoje foi particularmente agradável. Nunca pensei que Transfiguração fosse uma matéria tão... Enfim. O urubu-cujo-nome-eu-não-sei não me amolou nenhuma vez. Ela apenas torceu o nariz para o passarinho que eu tinha que transformas em um rato cinza, mas que optei por deixá-lo rosa, porque era mais bonito assim.

Acho que a professora Urubu só me repreende desse jeito porque sabe que eu sei fazer certo e só não faço porque não é divertido. Nem preciso dizer que ela nunca me deu um prêmio ou qualquer coisa assim por ser tão boa aluna. Até parece.

De qualquer jeito, eu consegui fazer o exercício, eu sou um gênio e blábláblá. Saí assim que o sinal tocou e fui almoçar. Senti os olhos de todos os alunos da L’L em cima de mim, me amaldiçoando silenciosamente. Argh, também não é pra tanto! Até parece que eles tinham esperança de vencer a Taça das Casas esse ano.

Outra coisa que eu notei foi que, toda vez que eu levantava os olhos do meu prato, Dino Thomas estava me encarando lá da mesa da Grifinória. O que aquele cara quer, pelo amor de Merlin? E, mais importante, onde está Gina Weasley, sua namorada grude? Percorri a mesa da Grifinória com os olhos e constatei que ela não estava lá. Estranho. Normalmente eles ficam o tempo todo juntos.

Bom, deixa pra lá. Ele nem deve estar olhando para MIM, mesmo. Deve ser imaginação. Ou ele deve estar olhando para Ana, que ficou linda depois que abandonou as marias-chiquinhas, e que estava convenientemente sentada ao meu lado. E me ignorando solenemente. E quer saber? O melhor que eu posso fazer agora é terminar de almoçar e parar de inventar coisas.

Chega.

Então, quando eu terminei, levantei e me mandei de lá bem depressa, pois tinha a pequena impressão de que alguém iria me lançar um feitiço se eu continuasse abusando da sorte. Para minha surpresa, Dino se levantou quando eu passei pela mesa dele e me alcançou quando eu subia as escadas. Claro que eu achei que fosse só coincidência, no começo, mas depois fiquei em pânico, achando que era agora que a coisa começava a ficar feia e eu ia me ferrar.

- Ah, nossa, como você anda rápido! – disse ele, depois que eu parei e aceitei meu trágico destino.

Eu olhei para ele com cara de, bem, de nada. Estava rezando que ele me pedisse algo fácil, e não favores sexuais que eu com certeza não iria atender, quando ele continuou:

- Bem, eu estava pensando... – ele disse, sorrindo um pouco. – Que, se você não tiver nada pra fazer... Talvez quisesse ir à Hogsmeade comigo no fim de semana... Você topa?

Ahn? O que? Hogsmeade? Eu? Ir com ele? Certo, qual é a piada?

- Mas se você já tiver compromisso, tudo bem! – ele completou, vendo que eu não respondia.

E a única coisa que me ocorreu falar foi:

- O que diabos aconteceu com Gina Weasley?

Ele sorriu.

- Bem, depois que eu vi você no jardim... Nós terminamos.
O que me leva de volta ao: EU? Ir a Hogsmeade? Eu e DINO THOMAS? Ex-namorado de uma das garotas mais bonitas do quinto ano? Belisque-me porque eu estou sonhando.

- Por que eu? – perguntei, abobada.

Ele não entendeu. Acho que ele não tem a menor idéia que eu tenho complexos de inferioridade.

- Porque você é, como eu vou dizer? – ah, ótimo, nem ele sabe. – Ah, sim. Única.

O que me leva de volta à: Belisque-me porque eu estou sonhando.

E como ele ainda esperava uma resposta, eu assenti, já que não tenho certeza de que conseguiria falar algo coerente. Ele sorriu de novo (e eu esqueci como se respira) e desceu os degraus e voltou para o... Sei lá, aquele salão enorme onde acontece a seleção e todas as refeições.

O que me leva à: E agora, Senhor? O que eu faço?

--- x---

Bom, é isso aí. Obrigado pelas treze pessoas que leram *--*. Obrigada por comentar, Feer, e obrigada pelas dicas. Eu botei a descrição da Lisa aí no meio pra você.
Espero que gostem e que me perdoem por ele ser mais curto do que o primeiro capítulo =D

Até o próximo!

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