George - Parte IV



George - Parte IV

George chegara a pensar em abrir a loja excepcionalmente naquele domingo que antecedia o Dia das Bruxas, mas não poderia faltar ao almoço n'A Toca. Não que já não houvesse perdido muitos daqueles almoços familiares, principalmente nos últimos tempos, mas aquele era especial. Era aniversário de sua mãe e ele sabia que Molly Weasley gostaria de estar rodeada por seus filhos. Mesmo que nem todos pudessem comparecer já que Ginny estava em Hogwarts e Fred...

Não havia conseguido dormir direito. Seus pensamentos, por mais que tentasse evitar, sempre voltavam à Angelina e o pequeno momento de paixão ocorrido entre eles. Derrotado, desistiu de tentar parecer mais bem disposto, segurou firmemente a garrafa de vinho que comprara, verificou se o presente de sua mãe estava guardado no bolso interno de sua veste, apanhou um pouco de pó de flú, jogou-o na lareira e rumou para a Toca.

O almoço em homenagem à aniversariante, feito totalmente por Fleur com a ajuda de Gui e Carlinhos - que desde a Batalha de Hogwarts procurava vir pelo menos uma vês ao mês visitar a família -, estava muito saboroso, embora não merecesse todos os elogios que Molly Weasley receberia se fosse ela a cozinheira. Depois de se fartarem e começarem a se sentir mais relaxados, devido às várias garrafas de vinho dos elfos esvaziadas, os oito Weasley e Harry iniciaram uma acalorada e divertida discussão sobre o rumor que corria pelos corredores do Ministério, de que Percy havia sido pego em flagrante aos amassos com uma bruxa do Departamento de Feitiços Experimentais.

Quando Percy parecia prestes a explodir e Rony acabara de tecer um comentário que contorcera-lhe as entranhas, de tanto que as palavras o fizeram se lembrar de Fred, George virou o rosto para o outro lado, na direção das sobremesas, sentindo-se tolamente disperso. Entendendo errado a atitude do filho, Molly, aproveitando para lhe servir um pouco mais de torta de caramelo, perguntou para George:

- Por que você não trouxe a sua namorada, querido? Eu adoraria conhecê-la.

Com um olhar ressabiado, George rebateu:

- Eu não tenho namorada.

- Mas como não? Seu pai me disse que...

Olhando de relance para o pai, que claramente fingia prestar atenção no estranho argumento que Percy dava sobre o ocorrido, George continuou:

- Papai deve estar vendo coisas demais. E se metendo onde não é chamado. Com licença.

Ignorando o fato de ter elevado a voz ao ponto de interromper a conversa dos irmãos, e de sua mãe estar ollhando-o com os olhos arregalados, George se levantou e rumou para dentro da casa, pisando duro.

Enquanto Gui, Percy e Carlinhos se entreolhavam, sem saber exatamente que atitude tomar com relação a George (as ideias variavam entre abraçá-lo e azará-lo), Rony ficou de pé ao mesmo tempo que Arthur, mas impediu seu pai de continuar, avisando:

- Deixe que eu vou lá falar com ele.

Ao contrário do que esperava, Rony encontrou o irmão sentado no sofá da sala, com a cabeça apoiada no encosto do sofá e o olhos fechados. Em silêncio, sentou-se na poltrona em frente a George e perguntou:

- Você quer conversar?

- Se eu disser que não, você vai me deixar em paz?

- Provavelmente não.

Com um suspiro derrotado, George abriu os olhos e inclinou-se para frente, apoiando os braços nos joelhos. Seu olhar era preocupado e as palavras sairam apressadas e quase num múrmurio, como se estivessem sendo segredadas.

- O que você acha que as pessoas iriam dizer se, de repente... sei lá, Carlinhos começasse a sair com a Fleur?

- O QUE?! A Fleur e o...

- Maldição, - George resmungou, antes de acalmar o irmão mais novo. - Quer fechar essa bocão, seu idiota?! Não é nada disso. Foi só um exemplo.

- Ah, tá. Mas você esperava o que? Você chega e me diz que Gui 'tá sendo corneado...

- Chega! Eu usei um exemplo infeliz, ok? É só que eu queria saber... Ah, deixa para lá. O que você sabe afinal?! Você é só um moleque!

- E você é realmente um velho gagá.

- Não, é só que... Você não entenderia...

- Sem você explicar, fica difícil mesmo.

Mas antes que George rebatesse, uma coisa pequena começou a esvoaçar pela sala, atraindo a atenção. Soltando uma imprecação, Rony agarrou Pichitinho, em cuja perna se encontrava um pergaminho enrolado. Livrou a coruja de sua carga e resmungando, colocou-a sobre o ombro.

- Esse bicho não muda nunca!

- Carta da Mione? - George perguntou, apontando para o pergaminho.

- É, mas eu leio depois.

- Não. Não precisa se preocupar comigo. Eu estou bem. A gente conversa depois, ok? - Diante do olhar cético do irmão, completou: - É sério, Ron. Eu já estava indo lá para fora. A torta de caramelo da Fleur é quase tão boa quanto a da mamãe, não acha?

- Se você diz - Ron falou. Depois, estreitou os olhos e concluiu: - Mas, se você quer mesmo saber a minha opinião, ninguém vai te crucificar se você começar a sair com a Angelina...




Levou horas até que George desistisse de tentar dormir. Depois que saíra da casa dos pais, andou a esmo pelo Beco Diagonal, tomou algumas canecas de cerveja amanteigada no Caldeirão Furado junto com Lino Jordan, como haviam combinado e, quando não encontrou mais nenhuma desculpa para não fazê-lo, voltou para o apartamento sobre a loja de logros.

Já era hora de seguir em frente. Ouvira esse conselho em diversas ocasiões e de diversas pessoas, que chegara a hora de acatá-lo. Mas como? Nenhuma pessoa conseguira explicar. Nem mesmo Harry, a quem o destino obrigara a seguir em frente tantas vezes, conseguira lhe dizer como superaria a morte de Fred, dera apenas uma sugestão. Tente voltar à sua rotina, não se apegue às lembranças nem às coisas de Fred. Não tente esquecer, pois você não irá conseguir... Com um longo suspiro, George resolveu partir para a segunda parte do conselho que ouvira de Harry. Fizera a primeira e tinha que admitir que estava funcionando. A rotina de trabalho o fazia parecer quase normal novamente.

Não se apegar às recordações de Fred era praticamente impossível, já que estas lembranças, em grande parte, também eram as suas. Mas podia abrir mão das coisas de Fred. Talvez mantivesse um daqueles horríveis suéteres com as iniciais deles bordadas, que sua mãe sempre lhes presenteava nos natais. Mas só isso. E apenas um.

Num impulso, levantou-se da cama, apanhou a varinha e rumou para o quarto do irmão, ao lado do seu. Acendeu a luz com um movimento de varinha e conjurou uma caixa onde começou a colocar as roupas que estavam na primeiras gavetas da comoda ao lado da cama. À medida que a caixa ia se enchendo, George sentia que um peso ia sendo tirado de seu peito, mas, ao mesmo tempo, sentia a tristeza invadindo-o.

Já havia esvaziado praticamente todo o armário, quando lembrou do fundo falso que ele e Fred haviam providenciado no móvel. Puxou a segunda gaveta interna até que ela saísse completamente, enfiou o braço no espaço que surgiu e apalpou o fundo da gaveta de cima. Viram isso num filme trouxa, assim que foram morar em Londres e, sabendo que os bruxos normalmente não davam valor às ideias dos que não usam magia, resolveram testá-la. Funcionou muito bem, visto que até ele quase tinha esquecido daquilo, pensou enquanto desprendia a caixa que estava escondida no armário.

George ficou imaginando o que Fred teria escondido ali, sacudindo a caixa e percebendo o barulho de algo batendo contra a madeira. Sentou-se sobre a cama e abriu a caixa em suas mãos com curiosidade, deparando-se com uma caixa menor e com um pergaminho endereçado à Angelina como conteúdo. Foi com uma curiosidade mórbida que ele olhou o que havia ali dentro. O que encontrou não chegou a surpreendê-lo, mas o fez se sentir pior. Teve de conter a vontade quase irresistível, que o acometeu, de colocar tudo de volta nos lugares e atear fogo no quarto. Por um momento, chegou a maldizer a boa educação que recebera de seus pais e que o tornara um homem íntegro, pois de outra forma, poderia simplesmente fingir que não encontrara nada no quarto além de roupas e livros velhos. De qualquer maneira, ele tinha uma memória muito boa e, provavelmente, só a lembrança já seria capaz de enlouquecê-lo.

Não precisou pensar muito para se convencer do que seria correto fazer. Assim, quando finalmente o relógio em seu braço mostrou uma hora mais apropriada, George levantou-se do sofá onde havia ficado pensando em sua recente descoberta e, de vez em quando, abrindo a pequena caixa que encontrara e que descansava sobre a mesa à sua frente, apenas para se certificar que era real. A despeito da friagem que dava sinais do inverno rigoroso que estava para chegar, tomou um banho frio (aproveitando para descarregar toda sua frustração nos xingamentos à água gelada) que o deixou alerta.

Preparou um café forte, do jeito trouxa, e tomou-o lentamente, deixando que os pensamentos que o atormentavam, ou melhor, o pensamento, aos poucos invadisse a sua mente mais uma vez. Ele não tinha alternativa. Na verdade, ele soubera disso desde o instante que vira o conteúdo da caixa escondida no quarto de Fred.

Após a segunda xícara de café, apanhou a pequena caixa sobre a mesa da sala, guardou-a dentro do bolso das vestes magenta que voltara a usar e desceu para abrir a loja de logros, pelo menos uma hora antes do que normalmente fazia.

Algum tempo depois, quando estava atendendo um grupo de crianças particularmente ruidoso, George percebeu que Angelina descia as escadas, vinda de seu apartamento. Como previra, assim que as crianças passaram pela porta, deixando a loja, a jovem se aproximou com um sorriso tímido.

- Algum problema, eu ter usado a lareira?

- Nenhum.

- Então, por que essa cara? - ela perguntou ao mesmo tempo em que passava a mão pelo rosto dele em um carinho que forçava-o a olhá-la.

Essa era outra coisa que tivera certeza que aconteceria. Depois do beijo que haviam trocado no sábado anterior, Angelina esperaria que ele não ficasse tão distante, tão arredio. Ele chegara a imaginar o mesmo. Fora tolo em pensar que pudessem iniciar algo próximo a um romance como se nenhum dos dois tivesse um passado. Como se não tivesse havido Fred.

- Eu preciso te...

George mal começara quando a sineta da porta interrompeu-o. Fechou os olhos, deu um suspiro resignado e murmurou, antes que Angelina se afastasse para atender aos clientes que entravam.

- A gente conversa mais tarde.

No restante da manhã e em boa parte da tarde, George passou tentando evitar a presença de Angelina. Por duas vezes ele fingira estar muito ocupado escrevendo uma relação de material, quando ela entrava no escritório onde havia se refugiado.

No momento em que uma forte chuva começou a açoitar as vidraças da loja, e os clientes já haviam desaparecido por quase uma hora, George desistiu de evitar o inevitável. Apalpou a caixa em seu bolso, foi até a frente da loja, colocou o aviso de "fechado" e trancou-a com acenos de varinha, sob o olhar desconfiado de Angelina. Em seguida, decidindo que era preciso um lugar mais apropriado para conversarem do que entre as prateleiras lotadas de logros, pediu que garota o acompanhasse até seu apartamento.

Depois que Angelina, ainda ressabiada, sentou-se no sofá, George depositou a pequena caixa de madeira que encontrara no quarto de Fred no colo dela e acomodou-se na poltrona, evitando assim, a terrível tentação de trocar tudo aquilo por uma tórrida sessão de amassos.

- O que é isso?

- É seu. Abra.

- Meu? - Com um franzir de cenho e movimentos hesitantes, Angelina abriu a caixa. Seus olhos se arregalaram quando viu o que havia dentro, soltando uma exclamação genuinamente surpresa. - George! Eu não esper...

- Fred comprou isso para você - ele interrompeu com a voz dura.

- Como é? O Fred? Mas...

- Eu encontrei ontem, enquanto estava arrumando o quarto dele. Aparentemente ele ia dar a você quando surgisse uma oportunidade, mas... bem... Ele já havia preparado tudo, veja. Tem até uma carta para você.

- Ele me disse que havia comprado algo pra mim, na última vez que nos falamos... - Angelina comentou mais para si, encarando o delicado anel solitário, cujo brilhante reluzia mesmo na fraca luminosidade produzida pela lareira. - George... eu não...

- Acho melhor deixar você sozinha um pouco para poder ler a carta sossegada.

Levou o tempo necessário para ler uma enciclopédia inteira até que George juntasse coragem para retornar à sala. E soube que ainda não tinha sido o suficiente ao perceber os traços de lágrimas que rolavam abundantes no rosto da garota quando ela o olhou e contou, num sussurro:

- E-ele disse que tinha comprado um presente para mim... Sabe, um pouco antes de irmos para... para a batalha...

George desviou os olhos, sentindo suas entranhas congelarem, sem ter certeza do que falar em resposta. Foi poupado quando notou Angelina se levantando e preparando-se para sair.

- E-eu... eu já vou.

- Ok.

- Até amanhã - Angelina se despediu enquanto rumava, não para a lareira como George esperara mas, para a porta de saída do apartamento.

- Não vai usar a lareira?

- Não. Eu acho que vou andar um pouco... Colocar os pensamentos no lugar.

Enquanto via a porta se fechar atrás da garota, George sentiu-se quebrar. Por um louco segundo desejou, esperou até, que Angelina lhe dissesse que aquele anel não significava nada. Que o que sentia por ele, George, era maior do que qualquer outro sentimento que já houvera experimentado. Mas ele nunca pudera competir com Fred. Em nenhum momento enquanto ele estivera vivo, muito mais agora quando o irmão estava morto.




George não ficou surpreso por Angelina faltar ao trabalho, nos dias que se seguiram - incluindo o Dia das Bruxas em que ele precisou apelar para a ajuda de Ron -, sem dar nenhuma explicação. Na verdade ele achava até melhor que isso acontecesse. O único problema era que, com a proximidade do Natal, as vendas já estavam aumentando e logo ficaria impossível dar conta de tudo sozinho. Por isso, havia colocado um anúncio no Profeta Diário com uma oferta de emprego e esperava que já nos dias seguintes ele pudesse resolver essa situação. O que ele não imaginou foi que justo no dia em que havia se formado uma fila de garotas em busca do emprego, Angelina resolvesse voltar à loja.

Ele ouviu o tilintar do sino preso à porta e apenas pensou que fosse mais uma candidata à vaga, já que estava entrevistando, na sala que usava como escritório, uma garota morena e curvelínea que ele lembrava vagamente de ter cruzado pelos corredores algumas vezes durante a escola, e não podia ver o que acontecia no salão. Talvez, se tivesse podido ver o modo como Angelina encarou a fileira de garotas, George não teria se surpreendido pelo modo como ela interrompeu a entrevista, dirigindo-se a garota mas com os olhos cravados nele.

- Você poderia aguardar lá fora um momento?

Enquanto a garota balbuciava uma mistura de desculpas e reclamações ao se levantar e sair, George se limitou a encarar Angelina com os olhos estreitos. Em seguida, foi até a parte da frente da loja de onde a garota o ouviu se desculpar com as pretendentes ao emprego e pedir que deixassem a ficha preenchida para que ele entrasse em contato.

George não demorou para voltar e assim que ele se sentou novamente à sua frente, Angelina perguntou, num tom que misturava acusação e desespero:

- Por quê? - George se limitou a erguer uma sobrancelha e esperar até que Angelina concluiu. - Por que você me entregou esse anel?

Os olhos de George pousaram no delicado anel de noivado que Fred comprara para Angelina e que a garota colocara em sua mão direita. Tentando, sem muito sucesso, não pensar no que aquilo significava, ele apenas respondeu o óbvio.

- Fred havia comprado para você. Ele explicou no bilhete que estava junto.

- Exatamente! Por que você não... não deixou para lá? Eu pensei que nós estávamos... que nós íamos...

- E depois que eu te entreguei esse anel tudo mudou, certo? - ao vislumbrar os olhos de Angelina fixarem-se nele, cheios de lágrimas, George concluiu: - Então eu agi bem.

- Mas você não...? Eu pensei que você gostasse de mim.

George soltou um riso triste antes de se levantar e, passando uma das mãos pelos cabelos vermelhos, andar até o outro lado da pequena sala para voltar a encarar Angelina.

- Gosto, mas eu não posso competir com isso - ele declarou, apontando para o anel que ela usava.

Num rompante, Angelina aproximou-se de George, agarrou-o pela frente das vestes, e beijou-o sofregamente. Foram longos segundos de uma paixão arrebatadora até que, ainda com os lábios junto ao rosto dele, Angelina assegurou num sussurro angustiado:

- Esse anel não significa nada.

- Reconheça, se não significasse, você não estaria aqui, fazendo essa cena toda - George retorquiu, afastando-se dela. - Você uma vez me disse que não sabia se ainda gostava de Fred - falou sério, lutando contra o gosto amargo do ciúme em sua garganta. - Eu acho que, agora, você já sabe a resposta.

- Eu estou muito confusa.

- E você acha que eu não estou? Você era a namorada do Fred, caramba.

- Eu não quero me afastar de você, mas... eu sinto como se ele estivesse sempre nos rondando - Angelina confessou, enterrando o rosto no peito de George que não conseguiu evitar abraçá-la.

- Eu sei, entendo o que você quer dizer. - Depois de alguns instantes, George fechou os olhos e se amaldiçoou pelas palavras que iria proferir. - A verdade Angelina é que você não gosta de mim. Você apenas vê o Fred em mim...

- Não! É só que eu...

- Talvez seja melhor a gente se afastar por um tempo.

Angelina deu dois passos para trás, encarando-o como se de repente tivesse brotado ramos de Arapucosos em seu rosto. Mas a surpresa foi visivelmente cedendo lugar à mágoa. Os olhos dela correram de George para as fichas da garotas que ele entrevistara, espalhadas por toda a mesa e em seguida ela perguntou:

- Você vai me substituir, não é?

George não sabia exatamente se entendera a pergunta, já que seu cérebro parecia acometido por alguma doença súbita e paralisante, mas decidiu por uma resposta sincera.

- Isso é você quem vai decidir. Eu preciso de alguém ao meu lado... para me ajudar.

 


Depois que o sino atrás da porta principal tilintou denunciando a saída de Angelina, George voltou a se sentar, encarando o monte de pergaminhos e objetos sobre sua mesa e sentindo a raiva borbulhar dentro de si. Com um gesto furioso, varreu tudo para o chão, sentindo uma alegria fria em ver o conteúdo do seu tinteiro cair sobre vários papéis importantes.

- Até que você não demorou muito para perceber que fez uma tremenda burrada!

George fechou os olhos ao ouvir a voz de Fred. A última coisa que ele precisava, no momento, era de ser espezinhado pelo fantasma do irmão morto. Apoiou a testa na madeira fria da mesa esperando que, ao ignorar o irmão, este desaparecesse e ele pudesse, enfim, dar vazão às lágrimas que fechavam sua garganta.

- Nossa, que maduro! Você acha que eu vou fazer o que se continuar me ignorando? Morrer? Só se for de pena.

- Por que você não vai perturbar outro, hein? Eu não sou seu único irmão - George rosnou sem, contudo, olhar na direção de Fred.

- Mas é o único que continua metendo os pés pelas mãos. Eu realmente não acredito que você deixou a Lina ir embora.

- Cale a boca!

- Se não o que? Você vai jogar o tinteiro em mim?

- Eu quero ficar sozinho.

- Então está fazendo um ótimo trabalho - sem se dar por vencido, Fred acomodou-se na cadeira perto da parede, apoiou os pés sobre a mesa e só depois continuou. - Você sabe o que tem que fazer, não é?

- Sei. Tenho que parar de ver e ouvir pessoas que já morreram!

Num rompante, George se levantou e rumou para o apartamento, mas ao entrar na sala deparou-se novamente com Fred, que já estava esperando-o sentado em sua poltrona favorita com um sorriso ironico.

- Booo.

- Vai embora Fred! Você não percebe que só está piorando as coisas?

- Eu? Não fui eu quem deixei a Angelina ir embora, para começo de conversa.

- Mas é você que ela não consegue esquecer!

- E é você quem não está fazendo nenhum esforço para que ela me esqueça.

- Como se fosse fácil, ou possível! - George exclamou exasperado.
 
- Bom, não era em mim que ela estava pensando naquela noite em que vocês dois quase... 'Cê sabe...

- Como você pode ter tanta certeza, hein? Quem pode afirmar se quando eu a beijei, quando ela gemeu, ela não estava vendo a você em vez de a mim?

- Ahá! Eu sempre soube que você era um covardão inseguro!

- E pelo visto doido, já que fico dando ouvidos a um fantasma!

- E pode acrescentar nessa lista burro, por desistir tão fácil da garota que ama.

- Por que você não volta logo de uma vez para as suas nuvens, diabinhas, ou o que quer que tenha no lugar onde você está?

- Porque é muito mais divertido ficar zombando de você. Eu não teria problema nenhum em ficar por aqui algum tempo te perturbando até que tome uma atitude.

Mais uma vez George tentou fugir da aparição de seu irmão, indo para o banheiro e abrindo o chuveiro. Desfiou uma série dos mais repugnantes palavrões que ele conhecia quando avistou Fred num dos cantos e este começou a cantarolar:

- Um fantasma incomoda muita gente, mas o fantasma do Fred incomoda muito mais!

Durante o banho foi até relativamente fácil ignorar a cantoria de Fred, mas depois, durante a tentativa de ler a edição d'O Profeta Diário que deixara sobre a mesa pela manhã, ou escolher uma nova atendente entre as diversas fichas preenchidas, foi ficando cada vez mais complicado. Talvez, se ele estivesse perto de outras pessoas, seu desafinado e espectral irmão desaparecesse. Torcendo para estar certo, deixou o apartamento e foi dar uma volta pelo Beco Diagonal, já formigando de gente por conta das compras de Natal.

Resolvido a não cometer a sandice de sair no tapa com um fantasma - mesmo que esse fantasma estivesse perseguindo-o há algumas horas tentando irritá-lo com uma insuportável paródia de música infantil -, George pagou a conta no Caldeirão Furado forçando um sorriso para a nova atendente e saiu de encontro ao ar frio que corria pelo Beco Diagonal. Desistiu de ir ao encontro do amigo Lino Jordan na Rádio Bruxa e voltou para casa.

Se fosse enlouquecer de vez, que pelo menos fizesse isso entre as paredes de seu próprio lar.



N/B Sally: Uou!!!!! Eu amo o Fred! Ficou excelente, comadre. Cheio de dor, mas sensível a ponto da gente querer dar um obliviate no George para ele poder ser feliz. O fim ficou divertidíssimo, bem ao estilo JK, hihi. Parabéns! Já aguardando o próximo ansiosa!!

N/B Sonia: Ah, do coração eu não morro! Se eu passei mais ou menos, (mais ou menos!) incólume por este vendaval de emoções diferentes e tão intensas, do coração eu não morro! - :D - Capítulo primoroso, mana! Em cada linha! Destaque para a formidável aparição de Fred, e seu bem vindo e certeiro humor afiado! ;) - Beijos, Pri! Aplausos!!! E no mais... PRÓXIMO! PRÓXIMO! PRÓXIMO! ;D

N/A: Aff, demorou eu sei. E sei que o capítulo não está tão grande quanto eu gostaria também. Mas, eu prefiro ele pequeno e com alguma qualidade do que repleto de baboseiras sem sentido, então resolvi postar.

A boa notícia é que a pós está no final (o que me dá mais tempo), mas a má é que ela ainda não acabou e tenho uma monografia para escrever...

De qualquer forma eu agradeço o carinho e a compreensão de vocês que não desitiram de mim. Um grande beijo a:

Ana Potter, Fabíola Cardoso, Lily Rounwood, Bernardo Cardoso, Paty Black,Thayna Zumba, NathyHime, Pedro Henrique Freitas, Livinha, Diana W. Black, Grace Black,Hope-W, Lica e Sô Prates pelos comentários.

Um agradecimento mega especial para Kelly, Sally Owens e Sonia Sag que me aturam pedindo conselhos, ajuda e revisões, para que a fic saia a contento.

Um grande beijo,
Priscila Louredo

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Comentários (1)

  • JOSY CHOCOLATE

     Um fantasma incomoda muita gente, mas o fantasma do Fred incomoda muito mais! Rii demaisss demaisss 

    2011-12-19
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