Capitulo IX
Retornou ao trabalho ainda um pouco fraca, porém animada.
Atendeu os pacientes e riu dos queixumes de um garotinho cujos pontos cirúrgicos acabara de retirar.
- O Dr. Potter não gosta mesmo de crianças- disse ele.- Mostrei meu machucado e ele nem ligou. Falou que já vira piores.
- E deve ter visto. Mas você foi muito corajoso, Patrick. Tanto que merece um prêmio- Gina deu lhe um chocolate.- Vá para casa agora e procure não se meter de novo em encrencas.
- Sim senhora.
Assim que ele saiu, Potter entrou na sala.
- Garoto terrível, aquele- comentou.
- E está muito decepcionado com você. Também pudera, nem se comoveu com o machucado dele....
- Foram apenas dois pontinhos ! Meu Deus que escândalo ele aprontou !
- Mas você sabe como dói.
- Tão pequeno e tão atrevido. Sabe o que me disse? Que não permitiria que eu tirasse os pontos, que só você sabe como fazer isso.
Gina riu.
- Fale a verdade: você não gosta de crianças, não é?
Potter deu de ombros. Recostou-se à soleira da porta, as mãos nos bolsos da calça enquanto a observava.
- Nunca tive muito contato com elas. E, desde que você chegou , lido mais com os adultos.
Ao sentir aquele olhar ardente, Gina voltou-se e seu coração disparou. Entreolharam-se por um momento. Potter pousou o olhar na boca sensual, notando o contorno perfeito., os lábios entreabertos. Tentou adivinhar como seria beijá-la.
Nesse momento Brenda entrou na sala, surpreendendo-os.
- Gina, eu....Oh, desculpe, Dr. Potter. –A enfermeira , que não o notara, acidentalmente esbarrou nele.
- Entre, Brenda.- convidou o médico. – Vim ver se a ficha de Henry Brandy estava com a Dra. Gina. Não a encontrou onde a deixei.
Brenda sorriu, hesitante.
- Está comigo,doutor. Peguei por engano.
- Não há problema.
Olhou para Gina e saiu da sala.
- Espero que não tenham recomeçado a brigar. Seria uma pena.- disse Brenda antes de deixá-la.
Gina nada respondeu, muito intrigada. Ele jamais a fitara de modo tão intenso, e tão abertamente, como acabara de fazer. Lembrou-se de que ultimamente imaginara ter visto sinais de uma certa atração , de um afeto especial nos menores gestos dele, sinais que, tinha certeza, podiam ser meros frutos de sua fantasia.
Não, refletiu, agora não era hora de recomeçar com aquele tipo de tolice. Depois de decidir fazer mudanças radicais na vida, não podia se dar ao luxo de voltar a questionar e analisar cada gesto ou palavra dele, esperando por uma declaração que jamais seria feita. Tinha que pensar no futuro e esquecer aquele amor não correspondido. Não seria fácil, mas precisaria tentar.
A festa natalina do hospital aconteceria na sexta-feira, duas semanas antes do Natal, quando os funcionários estariam livres de compromissos familiares.
Gina resolvera não comparecer. Por isso, preparava-se para voltar para casa. Guardava o estetoscópio quando Potter foi procurá-la.
- Pretende ir à festa esta noite?
- Não, não irei.
- Deixe de bobagem. Passarei para apanhá-la em uma hora – disse ele, recusando-se a ouvir seus protestos. E não diga que ainda não se restabeleceu totalmente. Prometo que não a prenderei até tarde.
- E quanto a Nickie? Ela não se zangará vendo-o comigo?- perguntou ela irritada.
O comentário o surpreendeu.
- E porque ela se zangaria?
- Vocês não estão juntos?
- De onde tirou esta idéia maluca? Só porque a levei ao jantar não significa que estejamos juntos.
- Não precisa dar uma resposta tão malcriada. Afinal, minha pergunta não foi absurda.
Os olhos de Potter pousaram na boca sensual e lá ficaram.
- Na verdade eu gostaria de dar-lhe outra coisa.
Gina ficou tão atordoada com a confirmação que não conseguiu pensar numa resposta adequada.
- Não quero ir à festa , muito menos com você. Não acha que já me perturbou bastante durante o ano ?
Pensa que pode apagar tudo com um convite? E olhe que nem é um convite! É uma ordem!
- Ouça, fazemos parte de uma equipe e nada provocaria mais comentários do que um de nós deixar de comparecer à festa. Não quero tornar a ver meu nome envolvido em comentários maldosos. Já tive a minha cota disso no passado, e graças ao pilantra do seu pai!
Gina voltou-se e pegou o casaco, furiosa.
- Se a memória não me falha, você mesmo me aconselhou a não me culpar pelo que ele fez.
- Isso mesmo !- exclamou ele, raivoso.- Mas você agora está sendo cega e tola.
- Obrigada. Vindos de você , esses, adjetivos são elogiosos.
Potter, embora furioso, percebeu-lhe o tremor. Lembrou-se de que ela estivera doente e acalmou-se.
- Um ex-colega da faculdade comparecerá à festa. Seu nome é Bem Maddox e atualmente clinica no Canadá. È um excelente médico e acabou de instalar um sistema de computação ,em cadeia com redes médicas em todo o mundo. Claro que ainda não podemos nos dar ao luxo de instalar algo tão sofisticado na clínica, mas não custará nada ouvi-lo. Eu gostaria de saber sua opinião ,já que é entendida no assunto.
- Fico muito honrada, pois nunca pediu minha opinião sobre nada.
- Não precisa ficar me lembrando disso a todo o instante. Julguei que estivéssemos em trégua. -ele sorriu- Bem ,voltando a Maddox, eu jamais dei importância a essa revolução eletrônica na medicina, mas, pensando bem, talvez seja interessante. Quem sabe você pode me convencer.
- Está bem, irei, mas prefiro encontrá-lo na festa.
- Por que não quer ir comigo? De quem tem medo ?
Gina não podia admitir que ele a assustava.
- De nada. É que também prefiro evitar comentários a nosso respeito.
- Faça como quiser.
Potter saiu da sala sentindo-se terrivelmente desapontado, embora não pudesse entender por quê.
Continua [...]
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