UMA CERVEJA MUITO AMANTEIGADA

UMA CERVEJA MUITO AMANTEIGADA



A hora do baile se aproximava e Harry estava nervoso. Tal como numa partida de quadribol, montara uma estratégia para que pudesse sobreviver incólume àquela noite.

Como um bom capitão chegaria cedo, assim poderia avaliar o terreno, sem mencionar o fato de que, assim, menos pessoas notariam que ele estava sem um jogador no time, ou melhor, sem um par para acompanhá-lo. Como bom apanhador passaria a noite se desviando dos balaços e gozações sonserinas e, na primeira oportunidade, apanharia seu pomo rumo à liberdade e segurança de seu quarto.

Tomou um banho demorado, para relaxar, e quando Rony despertava de seu sono vespertino, já se encontrava totalmente vestido em uma elegante veste a rigor, trabalhando laboriosamente na miserável tentativa de aquietar os cabelos rebeldes do cocuruto.

Após dar um breve adeus a Rony, que já sabia dos planos do amigo, desceu para Sala Comunal que se encontrava ainda vazia. E aproveitando-se do fato de que todos ainda estavam em seus dormitórios, certamente ainda se arrumando para a festa, cruzou ligeiro o ambiente e passou pela Mulher Gorda.

Andou sorrateiro pelos corredores, evitando principalmente Pirraça e rapidamente chegou ao Salão Principal da Escola, agora praticamente irreconhecível.


As mesas das casas haviam sumido dando lugar a uma enorme área de circulação, na qual havia sido montada, mais para o lado, uma agradável composição de mesinhas e cadeiras onde se podia sentar para conversar e... namorar, pensou Harry, contrafeito ao pensar em Gina e Dino sentados ali, juntinhos. Mais a frente havia uma pista de dança e onde antes repousava a imponente mesa dos professores fora conjurado um enorme palco mágico, onde alguns poucos músicos bruxos afinavam estranhos instrumentos musicais.

Harry colocou-se estrategicamente ao lado do palco, onde podia dominar todo o salão e verificar, a cada minuto, a entrada dos casais pela porta principal. Seu objetivo inicial fora conseguido. Agora só lhe restava esperar começar a "grande diversão".

Não demorou muito e os primeiros casais começaram a apontar por sob as arcadas da entrada. O primeiro que Harry viu foi Neville e Luna, que estava muito bonita em um vestido prateado, com os cabelos loiros caindo-lhe pelos ombros desnudos. Harry notou, com um sorriso contido, que Luna não condescendera em livrar-se de seu colar de rolhas de cerveja amanteigada. Mas Neville nem parecia notar outra coisa senão a beleza frágil da avoada garota.

Depois dele vieram uns casais que, Harry reconheceu, eram da Sonserina. Draco, felizmente, não vinha entre eles. Certamente deixaria sua entrada triunfal para depois.

Angelina Johnson apontou trazida pela mão de um setimoanista que Harry conhecia apenas de vista. Cho Chang entrou logo em seguida. Vinha muito bonita em um vestido vermelho. Os cabelos negros emoldurando-lhe o belo rosto oriental. Harry abaixou os olhos quando notou a garota lançar um olhar geral pelo grande salão e parecer ser a primeira notá-lo em seu "canto seguro".

Nesse mesmo momento, a banda de músicos bruxos começou a tocar uma canção bem conhecida e o salão parecia cada vez mais cheio quando Harry viu seu amigo Rony e uma garota cruzarem a grande porta da entrada.

Harry notou, com satisfação, que as vestes de Rony, ao contrário do baile anterior, eram muito bonitas e caíam muito bem com o ar confiante e seguro que ostentava. E ele parecia muito satisfeito segurando a mão de uma garota que somente após uma segunda olhada mais atenta Harry reconheceu como ... HERMIONE!

Apesar de saber que Mione certamente viria tão bonita como na vez anterior, a visão de uma bela e sorridente garota, diferente daquela amiga que sempre trajava as vestes de monitora e carregava livros por onde quer que fosse, não deixou de surpreender Harry. Ele não sabia se era o vestido preto que apenas deixava adivinhar suas formas ou os cabelos amansados de uma maneira tão graciosa e que dava ao conjunto uma leveza quase etérea. Ele não sabia se era o sorriso radiante em seu rosto levemente rosado. E não sabia se era o colar que ressaltava a brancura de seu colo e as linhas elegantes de seu pescoço. Mas sabia que Mione, e quase riu do nome infantil que certamente não se aplicava àquela mulher, estava diferente aquela noite... não, reconsiderou, precisando fazer justiça... ela estava linda!

Mal se refizera da surpresa e seus olhos miraram a figura de uma bela jovem ruiva que entrava no Salão. Seu coração pareceu falhar por um segundo, mas continuou a bater de maneira acelerada e preocupante. Um suor frio inundou sua fronte e ele pareceu mesmerizado pela visão de um anjo rubro. E o que mais perturbou Harry é que ela não vinha acompanhada.

Gina estava realmente bonita. Seus cabelos, bem arrumados, davam-lhe uma beleza exuberante. E embora se vestisse de maneira simples, o tecido amoldava-se a seu corpo de uma maneira tal que inspirava os olhares masculinos por onde quer que passasse. Fiel a este fato, o olhar de Harry desprendeu-se dela apenas quando a Professora MacGonagall assumiu o posto principal em cima do palco, dando sinais de que falaria algumas palavras.

- Boa noite a todos os alunos e professores – começou a velha professora com o ar contido de sempre – O Professor Dumbledore pede desculpas por não ter podido comparecer, mas deseja a todos que esta noite sirva para que esqueçamos, ainda que por fugazes horas, as agruras destes tempos difíceis. Cuidemos apenas de nos confraternizarmos em clima de paz e diversão saudáveis. E espero que esse objetivo seja respeitado e cumprido por todos nesta noite. – E pontuou estas últimas palavras com um arquear de sobrancelhas de quem está pronto a dar detenções em pleno dia de festa.

Antes que os aplausos tivessem cessado Harry sentiu uma mão em seu ombro. E antes que se virasse, o perfume de flores que invadiu suas narinas e o bater desordenado de seu coração lhe permitiram saber imediatamente de quem se tratava. Estaria frente a frente com Gina Weasley.

- Harry, o que está fazendo aqui nesse canto? Parece que está escondido! – disse a ruiva, sorrindo, e o garoto não pôde deixar de pensar o quanto próximo ela estava da realidade.

- Anhh – ele hesitou antes de continuar – estava apenas dando uma volta...acho que não vou demorar muito por aqui.


- É verdade que você veio sozinho? – Gina perguntou, com um sorriso nos lábios.


- É verdade – respondeu o garoto, envergonhado, desejando ardentemente que fosse possível desaparatar dentro de Hogwarts.


- Ninguém que valesse a pena? – tornou a ruiva, tentando aparentar uma expressão totalmente inocente. Mas na verdade ansiava pela resposta daquele garoto de olhos verdes e o fitava como se tentasse adivinhar seus sentimentos.

Para Harry aquela era uma pergunta perigosa e logo um turbilhão de pensamentos invadiu a sua mente. “Para os diabos com o idiota do Dino Thomas”, pensava seu demoniozinho interior, “Beije logo essa garota bonita Potter!”. Mas nem mesmo esse demônio o fazia esquecer que ela era irmã de Rony. Ele inspirou profundamente, procurando ar, mas antes que pudesse responder foi interrompido por uma voz que lhe era bastante familiar. Era a primeira vez que se permitia ficar minimamente feliz por encontrar com um sonserino. Mas logo estaria arrependido de tal sentimento.

- Olhem só pessoal! – apontava Draco Malfoy, gritando e gargalhando com o seu grupo de amigos – Parece que o idiota do Dino Thomas foi para o banco de reservas da Weasley antes mesmo de começar o baile! – e virou-se para Harry – E parece que você é o convocado da hora Potter!

- Cai fora Malfoy!- retrucou Gina, tentando manter a calma, ao mesmo tempo em que segurou devagar, mas com firmeza, o braço de Harry, que permanecia mudo, lívido de ódio.

Nem Harry nem Gina notaram que a poucos metros dali Pansy Parkinson chamava a atenção da Professora MacGonagall para a cena. A professora caminhou tão rápido que, um segundo depois, parecia ter se materializado entre os garotos.

- O que está acontecendo aqui? – perguntou, severa.

- Nada de mais Professora – respondeu Draco, com um misto de cinismo e dissimulação – Acho que o Potter está meio estressado... talvez esteja precisando dar uma... relaxada – e enfatizou essa última palavra olhando diretamente para Gina.

- Imbecil! – reagiu Harry, que não conseguiu conter sua explosão. Porém, antes que pudesse prosseguir, antes que pudesse explicar que estava apenas reagindo a uma provocação, a Professora MacGonagall o silenciou rispidamente.

- Quieto Sr. Potter! O senhor não me ouviu dizer agora há pouco que o espírito dessa festa é o de confraternização? Não quero saber de brigas aqui! E agora eu quero que o senhor e o Sr. Malfoy apertem-se as mãos e tratem de esquecer este incidente... e não adianta fazer essa cara Sr. Potter. Os senhores ouviram o que eu disse? – indagou, olhando de um jovem a outro.

- Professora – disse Draco, cinicamente – Não sou eu que pretendo estragar essa agradável festa. E como prova de minha boa vontade proponho ao Sr. Potter não somente um aperto de mãos, mas um brinde- E com um ar conciliatório apoderou-se de duas canecas de cerveja amanteigada que repentinamente tinham surgido nas mãos de Pansy Parkinson, estendendo uma delas a Harry. O garoto, no entanto, permaneceu impassível.

-Senhor Potter... – E um brilho faiscante perpassou pelos olhos da professora.

Com um misto de ódio e revolta Harry pegou a caneca que lhe era oferecida e enquanto respondia, entre dentes, a um “Saúde!”, conclamado por Draco, bebeu, para descer o bolo que se formava em sua garganta, até a última gota da caneca.

Draco pareceu satisfeito e, despedindo-se casualmente, saiu rindo com o resto dos sonserinos, no que foi acompanhado, até uma distância segura, pela previdente Professora MacGonagall.

Harry suspirou mais uma vez antes de se virar para Gina, que ainda segurava seu braço, tensa com tudo o que havia acontecido. Olhou-a nos olhos e soube que precisava falar, soube, nesse momento, que tinha que falar para ela o que sentia. Mas foi uma outra voz que chamou o nome da ruiva.

- Gina – Dino Thomas estava ali parado, parecendo transtornado por encontrá-la com Harry naquele canto do salão. Mas quando tornou a falar não deixou transparecer nenhuma grama de ressentimento – “Acho que precisamos conversar”. Após uma breve pausa acrescentou, em tom de súplica: “Por favor!”.

Gina mordeu o lábio inferior, visivelmente contrariada, mas nada disse. Quando passou por Harry este baixou os olhos silenciosamente e a viu afastar-se com Dino para um canto distante do salão.

Nesse momento o mundo ao redor de Harry começou a girar incontrolavelmente.

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