O PRENÚNCIO DA GRANDE CONFUSÃO

O PRENÚNCIO DA GRANDE CONFUSÃO



“Tudo o que eu precisaria agora era um pouco de Felix Felicis”, pensava Harry Potter, enquanto descia as escadarias rumo ao Salão Principal, acompanhado de Rony. Ainda se lembrava do efeito que a poção provocava. Dava sorte, é claro, mas, além disso, dava uma sensação de invencibilidade, de que tudo podia ser feito, de que o dia seria perfeito. E a lembrança da poção advinha, justamente, da certeza de que aquele, em especial, não parecia ser um dia nada perfeito.


Harry acabara de contar ao seu amigo Rony que não conseguira convidar nenhuma colega para ir ao baile como seu par. Mas o que não conseguia revelar é que não somente a timidez, os suores frios no momento em que tentava balbuciar algo levemente parecido com um convite e o fato de as meninas andarem sempre irritantemente em bando o impediram de fazê-lo, mas o fato de que a única menina de quem realmente gostaria de estar junto já estava comprometida e era justamente Gina Weasley, a irmã de Rony! “Seria necessário um dia mais do que perfeito para que tudo desse certo do jeito que eu gostaria”, pensou o garoto.


Mas Harry - disse o ruivo, que caminhava ao seu lado, assimilando o peso da revelação que o amigo lhe fizera - o baile é hoje! Você não pode ir sozinho!


Este ano fora bem mais fácil para Rony e assim que a notícia do baile se espalhou ele se apressara em convidar Hermione. Apesar de mostrar-se repentinamente satisfeita, a garota, antes de aceitar o convite, debochou, num sorrisinho maroto, declarando que ele finalmente havia aprendido a lição. Estava se referindo ao baile no ano do Torneio Tri-bruxo em que Rony ficara furibundo por ela ter ido como par de Victor Krum. O garoto, contudo, estava tão feliz por ela ter aceitado seu convite que nem sequer registrou a alfinetada.


- Bom, Rony – Harry continuou, desanimado – acho que vou ter que me acostumar com a idéia. O pior é que vou ter que agüentar as gozações daquele Malfoy e de seus capangas puxa-saco da Sonserina.


O que Harry não percebera é que Malfoy e seus ditos “capangas” Crabbe e Goyle estavam poucos passos atrás ouvindo toda a conversa. Malfoy não perderia nenhuma oportunidade de humilhar o garoto, mas ao contrário do que seria de se esperar, segurou os dois amigos Sonserinos que já estavam dispostos a partir para cima de Harry.


- Calma rapazes - disse ele, com um sorriso malicioso nos lábios – eu tenho uma idéia bem melhor para nos divertirmos no baile e acabar com a fama de santo desse Potter! E virou, repentinamente, concitando os amigos a acompanhá-lo. A urgência de sua voz não deixava dúvidas de que um plano malicioso tinha brotado em sua mente e também de que precisariam de todo o dia para executá-lo.


Harry e Rony continuaram seu caminho e logo chegavam ao Salão Principal. O almoço seria servido em breve e eles se sentaram em seus lugares habituais à espera das guloseimas que os elfos preparavam. Mas a cena que Harry viu lhe tirou todo o apetite. Gina e Dino Thomas, o “namorado da hora”, como Rony gostava de chamar, de mãos entrelaçadas, sentados quase à sua frente, brincavam com o cabelo um do outro. Seus rostos quase encostados e um sorriso maroto brincando nos lábios de Gina fizeram o estômago de Harry se contrair. Seu rosto também pareceu modificar-se involuntariamente, pois Rony, muito vermelho, não conseguindo segurar sua indignação, conclamou:


-Ei, vocês dois! – gritou do outro lado da mesa – parem com esse assanhamento. Não estão vendo que... - e procurou algo para dizer – até tiraram o apetite do Harry!


Harry sofreu um acesso de tosse violento, maldizendo o amigo por tê-lo colocado naquela situação. Por um segundo Gina mirou-o muito séria, mas logo em seguida descontraiu-se e, em resposta a Rony, puxou Dino para si e lhe deu um grande beijo à vista de todos. A sensação de vazio no estômago de Harry aprofundou-se e ele se forçou a olhar para fora do salão onde, por um momento, teve a sensação de que alguém o espiava para além das grandes portas.


- Grande maravilha vai ser esse baile – pensou, forçando-se a dar as primeiras garfadas na refeição que, agora, lhe parecia totalmente sem graça. Logo depois do almoço, retornando à Sala Comunal, Harry lembrou-se de perguntar por Hermione, que, estranhamente, desde a manhã não havia aparecido para se reunir aos amigos. Rony deu de ombros.


-Sei lá – respondeu – ela disse que tinha muita coisa a fazer antes do baile, como se simplesmente o dia todo não fosse o suficiente! Harry sorriu. Esse era Rony: sensível como a pele de um trasgo!


Subiram para o dormitório e Harry resolveu passar o resto da tarde deitado em sua cama, colocando os pensamentos em ordem. Na cama ao lado, observou seu amigo Rony sorrir sozinho, como se antevisse um futuro bastante agradável. Mal sabiam os amigos, porém, o que os esperaria no baile daquela noite!


xxx


Por uma fração de segundos Gina teve a impressão de que ele a olhava como a uma mulher. Como a uma garota a quem se deseja e por quem se sofre. Seria possível? Era o que se perguntava quando, após despedir-se de Dino sem maiores explicações, rumava tristemente para a Sala Comunal de sua Casa. Desde sempre Gina nutrira uma paixão por Harry Potter, mas desconfiar que um dia pudesse estar sendo correspondida era mais do que suficiente para seu coração bater acelerado e um calor subir-lhe pela nuca até o topo de seus cabelos cor de fogo.


De repente se via com Harry, abraçando-o, beijando-o ardentemente... mas não! E afastava o pensamento como a um inseto inoportuno. Era apenas sua imaginação e, além disso, não estava com Dino? Estava e não estava, era o que lhe respondia uma vozinha sensível aos apelos de seu coração. Dino Thomas “estava” seu namorado, mas não era aquele a quem seu coração elegera. Precisava aconselhar-se com alguém e esse alguém certamente era sua melhor amiga Hermione.


xxx


Trancada na sala dos monitores, Hermione Granger trabalhava incessantemente em uma poção, picando ingredientes que quase religiosamente depositava em seu caldeirão fumegante. Apesar de já ter enfrentado perigos mortais ao lado de seus amigos, de ser uma das alunas mais inteligentes que já transitaram por Hogwarts, trabalhava, naquele dia, por algo muito mais banal do que livrar o mundo de Você-sabe-quem. Trabalhava desesperadamente em uma poção que domesticasse o volume de seus... cabelos!


A urgência de seu trabalho e a dificuldade em realizá-lo, apesar de relativamente simples, eram causados por uma enorme ansiedade e por um nome que não cansava de perpassar em sua mente: Rony Weasley! Hermione se conhecia muito bem a ponto de não tentar esconder de si mesma o fato de que o amava. Amava-o profundamente, com intensidade de que se dera conta apenas quando o vira com Lilá Brown, causando-lhe um furor que, hoje, tentava espantar de suas lembranças. Mas será que seria hoje, no baile, o dia em que iriam finalmente se acertar?. Apesar de amá-lo, às vezes ele a magoava tanto que se sentia incapaz de perdoá-lo, só para descobrir, um pouco mais tarde, que abraçá-lo, quando faziam as pazes, compensava a maioria das briguinhas que tinham pelos mais tolos motivos. Apenas uma dúvida a impedia de ser plenamente feliz. A dúvida de que todas as criaturas apaixonadas padecem pelo menos uma vez em seu amor: Seria ela correspondida pelo ruivo com a mesma intensidade com que o amava? Não sabia, pois às vezes ele a deixava tão confusa...aquele Weasley!


De repente, se lembrou de uma outra pessoa ruiva que lhe poderia prestar auxílio naquele momento. E partiu em busca de Gina, que, além de ser o ombro certo para desabafar, poderia ajudá-la a terminar aquela maldita poção. As duas se cruzaram na passagem pela mulher gorda. Hermione pegou a ruiva pela mão e a arrastou até a sala onde preparava sua poção. Certamente passariam a tarde unidas em suas dúvidas e incertezas, na esperança de que o baile da noite fosse, talvez, a porta da entrada para um futuro de felicidade. Porém, as amigas não podiam imaginar que Draco e seus amigos, naquele exato momento, também trabalhavam ardorosamente em uma poção que fervia, cor de mel, em um caldeirão enegrecido, mas com motivação bem menos inocente do que a que movia as duas garotas grifinórias.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.