Hogwarts



Quando eu vi aquela coruja entrando eu pirei. Total.

Essa é a pressão de fazer parte de uma família puro-sangue. Ou você recebia a carta e teria a prova que era da família, ou eles ficariam te encarando como se um gato com seis patas e quatro olhos. Assim aconteceu com o único caso de bruxos abortados na minha família, minha prima Mandy. Ela não é convidada para nenhuma reunião de família. Nem sequer lembram do aniversário dela se você quer saber. Não sei como ela consegue viver desse jeito, eu já estaria mergulhando na mais pura amargura.

Mas a questão não é Mandy. Eu tinha uma amiga chamada Carol, a gente se conhecia desde que eu tinha dois anos de idade. Ela era uma garota morena com olhos castanhos escuros. Alta, magra e realmente bonita. Era puro sangue também, isso talvez nos aproximou um pouco. Nós duas recebemos a carta para Hogwarts e eu lembro da gente comemorando no meio da rua com vários vizinhos nos olhando e alguns ainda riam da nossa cara. As pessoas nunca gostam da felicidade alheia, falo isso por experiência própria.


Finalmente chegou o dia primeiro de setembro. Minha mãe estava mais animada do que ela geralmente é. Ela me acordou com um grande prato a lá Inglaterra, com torradas, ovos e bacon. Eu geralmente acordo sem um pingo de fome, então a primeira coisa que eu senti foi meu estômago se contorcendo, não de fome, de enjôo.

- Obrigada mãe, mas eu não to com um pingo de fome. Você me conhece e sabe que eu acordo sem fome. – Eu falei para ela enquanto afastava aquele cheiro de perto de mim.
- Ah filhotinha, só um pouquinho vai? A mamãe fez com tanto amor... – Disse ela fazendo biquinho e uma voz infantil.

Eu peguei apenas uma torrada fazendo uma cara feia, que decididamente ela notou e ficou me encarando, e logo depois retirou o prato da minha frente.

- Bom, se você não quer, tem quem queira. Carol! (Carol tinha dormindo na minha casa, pois seus pais tinham que resolver uns problemas no trabalho, ou melhor, no ministério da magia). Eu só a observei sair da porta do meu quarto, com uma expressão emburrada exageradamente... Exagerada.

Eu coloquei a torrada sobre o criado mudo sem dar ao menos uma dentada e coloquei a roupa que demorei longas duas horas para escolher. Segundo minha mãe, eu devia ir “deslumbrante”, pois a primeira impressão é importante. (Quem não sabe disso, Mãe?) Coloquei minha blusinha branca predileta junto com um casaco preto com umas pedrinhas brilhantes que minha mãe tinha comprado para mim, minha calça jeans habitual com minha sapatilha com um lacinho. Sim, eu como toda iniciante fiquei meio intrigada com essa história de ir vestida como “trouxa” para um lugar bruxo. Mas minha mãe disse que é para se trocar dentro do trem, então fiz que entendi com a cabeça e comecei a perguntar para ela mais coisas sobre a escola.

Logo após disso comecei a arrumar meu malão, com tudo já comprado fazia uma semana. (Meu livro de poções já estava com uma mancha de suco de abóbora, que eu toda animada derrubei. Desde que tinha 11 anos, antes mesmo de entrar para Hogwarts, eu já era uma maníaca por poções). Peguei a minha varinha que estava ao lado da torrada e logo depois fechei o malão. Eu que sempre fui uma criança que achava que podia fazer tudo, tentei levar o meu malão para baixo, mas logo depois que eu o deixei cair em cima do meu dedo mindinho do pé esquerdo e ter a sensação que o tinha decepado desisti e chamei o meu pai, que com um simples feitiço, o levou para baixo como se fosse uma pena.

A hora da despedida foi de longe à hora mais chata. Primeiro que eu nunca tinha ficado mais de um mês longe da minha mãe, e segundo que o chororó que ela fez antes de eu embarcar chamou atenção de todos que estavam por perto. Quando consegui me desvencilhar dela dei um abraço no meu pai, que me deu um beijo na testa e falou para não me meter em encrencas (Uma coisa meio difícil, sempre fui uma criança curiosa). Entrei logo no trem para conseguir uma cabine sozinha com Carol, eu era uma garota um pouco anti-social. Acenei na janela e achei uma no final do trem. Depositei tudo ali, coloquei o meu gato Stu (Que era o nome do gatinho do meu desenho favorito: “Stu e os amiguinhos da floresta”.) num acento ao meu lado e fiquei observando a paisagem lá fora. Carol se sentou na minha frente.
- Oi, er... Posso me sentar aqui? – Eu levei um susto e virei para olhar quem tinha falado comigo. Era uma garota loira com incríveis olhos azuis. Fiz que sim com a cabeça e coloquei Stu no chão, mas a garota sentou ao lado de Carol com um sorriso no rosto. Eu retribui o sorriso e coloquei Stu novamente em cima do banco.
- Qual o seu nome? – Eu perguntei na forma mais amigável que o meu sentido anti-social permitia.
- Anne McPhell, e você? Ah que gatinho lindo! – Ela respondeu para mim e logo depois olhou para Stu que estava enroscado de tal forma que era difícil saber onde estava sua cabeça.
- Lana Hinson, e essa do seu lado é Carollyn Walsher, mas todos a chamam de Carol. - Olhei para Stu – Gostou dele é? – Eu perguntei com ela com uma voz um pouco fria, se tinha alguma coisa que eu não gostasse que tocassem ou até mesmo olhassem era meu gato. Tinha muito ciúmes dele.
- É, fofinho... – Ela percebeu a mudança no meu tom de voz e pareceu um pouco encabulada. – Primeiro ano também?
Fiz que sim com a cabeça e Carol murmurou um sim.
- Vocês tem idéia em que casa querem ficar? – Anne perguntou ansiosa – Eu quero ficar na Sonserina, acho uma das melhores casas! Minha mãe foi da Sonserina!
- Eu quero Sonserina também. Meus pais foram da Sonserina. – Eu respondi ficando nervosa. Até esse ponto eu ainda não tinha pensado nesse negócio das casas.
- Eu quero ficar na Grifinória... – Carol falou diminuindo um pouco a voz ao falar Grifinória. Eu e Anne olhamos para ela surpresas – Minha família a maioria foi de lá, minha mãe disse que se eu ficasse na Sonserina ela me deserdava, acho que era só uma ameaça boba, não acreditei e não vou acreditar.
- Grifinória? Por essa eu não esperava Carol! - Eu disse surpresa para Carol que deu um sorrisinho amarelo.
- É, Lana... – Ela falou em um tom conclusivo que eu entendi e mudei de assunto.

Ficamos uns 5 minutos em silêncio até que eu, como sempre, quebrei-o.

- Então Carol, você foi naquele campeonato de Quadribol que teve em Bristol? – Eu sabia que ela tinha ido, mas aquela falta de assunto estava me matando.
- Ah, fui! East Hopps ganharam, eu te disse desde o começo, eles são os melhores!
- Eles não são os melhores. Butters ganham de qualquer um, pena que o apanhador Michael quebrou o braço uma semana antes do campeonato e eles não tiveram tempo de treinar um apanhador novo a tempo, então, foi meio que no improviso. Mas tenho certeza que se isso não acontecesse, Butters teriam ganhado do Hopps! – Eu falei com raiva na voz. Eu e Carol sempre tivemos essa rivalidade quando se tratava de Quadribol.
- Você tem certeza? Acho que não hein? Hopps treinaram um bom tempo e puxado, eles estavam superiores a todos, ou melhor, sempre estiveram – Disse Carol com um sorrisinho.
- Há há que mentirosa! Diz pra ela Anne que os Butters são os melhores! – Falei histérica para Anne que me olhou com um olhar indiferente.
- Tanto faz, não torço para nenhum deles... – Olhei para ela, espumando – Mas eu semprei achei o Butters melhor, é.
- Ta vendo Carol? Duas contra uma! Perdeu, infelizmente – Eu disse ironicamente para uma Carol estressada.
- Ta Lana, ta. Como sempre você leva as coisas na competição! – Carol disse se emburrando.
- Ah, eu sempre fui assim! Você que não sabe perder! – Eu disse debochada para Carol que riu sarcasticamente.
- Eu que não sei perder? Há há. Quem que quando perdeu pra mim numa partida de Quadribol ficou um mês sem olhar na minha cara? Ah, lembrei, foi você! Você que não sabe perder Lana – Disse Carol para mim de um jeito que despertou meu espírito assassino.
- Eu sei perder sim! Eu não olhei na sua cara porque você estragou minha bolsa! – Eu disse inventando uma mentira.
- Não sabe não
- Sei sim
- Não sabe não
- Sei...
- CHEGA! – Disse Anne se levantando irritada – Se vocês continuarem com essa discussão eu saio dessa cabine!
- Ta, paramos – Disse Carol envergonhada para Anne.
- É, paramos sim. – Eu disse sorrindo para Anne que sentou de volta.

Ficamos conversando sobre nossas férias até chegar a Hogwarts. Nós três levantamos e pegamos juntas num barquinho que nos levariam até Hogwarts. Quando chegamos, a professora McGonagall estava nos esperando em frente à porta do castelo. Ela tinha uma aparência severa. Era alta, magra, usava o cabelo em um coque e vestes verdes. Ela nos conduziu a uma sala vazia onde parou na nossa frente e olhou para todas as pessoas ali presentes, através de seus óculos que faiscava com a luz do local.
- Bem vindos alunos do primeiro ano. Eu sou a professora McGonagall. O banquete será servido em alguns instantes, mas, antes disso, você serão selecionados para pertencer a alguma casa. O chapéu seletor irá fazer esse trabalho. Ele irá analisar seus pensamentos, os seus modos e irá classifica-los em quatro casas: Grifinória, Lufa-Lufa, Corvinal e Sonserina. – Eu ouvi um garoto ruivo dar um suspiro aliviado e um garoto loiro perto de mim cochichou alguma coisa relacionada com Sonserina a dois meninos que pareciam mais ter 15 do que 11. – A Seleção é um ritual muito importante aqui em Hogwarts porque enquanto estiverem aqui, sua casa será como sua família. Irão passar a maior parte do tempo juntos. Quando eu chamar o seu nome, se dirija até o banquinho que se encontrará na frente das mesas. Eu irei colocar o chapéu seletor sobre suas cabeças, e vocês serão selecionados. Por favor, me sigam. – Ela saiu da sala e todos nós a seguimos.
Chegamos até a porta que dava ao Salão principal. Eu vi Carol tremendo ao meu lado e Anne murmurando coisas que eu não conseguia entender. Fiquei encarando a porta, tremendo se possível mais do que Carol. A porta abriu sozinha. Eu respirei fundo.


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