A Casa
Quarto Capítulo – Casa – Por Hermione
A primeira vez que me chamaram para atuar em uma produção cheia de efeitos especiais, eu achei a coisa mais sem graça do mundo. Eram horas e horas trabalhando em frente a uma tela verde, com um ventilador na cara, fingindo estar fazendo algo super divertido, como passear pelas velas de um antigo navio.
Foi uma coisa bem decepcionante, na verdade.
Porém, quando eu fui ver o resultado final do filme, pude observar com clareza o enorme trabalho da equipe de efeitos especiais. Eu praticamente acreditei ter pulado em velas e escalado mastros verdadeiros para representar aquela cena. Imaginei o minucioso trabalho necessário para criar aquele cenário a partir do que me parecia ser o nada. Na época, fiquei horas pensando em como aquele trabalho deveria ser realizado.
Estou explicando tudo isso porque agora, dando novamente os meus primeiros passos em uma cidade dos sonhos, eu podia observar a arquitetura, o sol brilhante, o azul do céu e ficar admirada de como a minha imaginação funcionava bem. Era incrível.
Eu estava quase me sentindo orgulhosa de uma coisa sobre a qual eu não tinha controle – ao menos consciente – quando avistei silhuetas humanas ao longe. Fiquei curiosa. Será que eles usavam máscaras também? Apertei o passo.
Fui andando progressivamente mais rápido até que já estava correndo pelos paralelepípedos, a vontade de descobrir seus rostos me empurrando cada vez mais para frente. Porém nunca cheguei a alcançá-los. Um braço saiu de uma parede e me puxou para o lado. Caí em cima de alguém.
- Nos encontramos novamente, senhorita, e você ainda está sem uma máscara. – Falou uma voz ao pé do meu ouvido, fazendo com que um arrepio involuntário percorresse minha espinha. Afastei-me da pessoa, para que pudesse reconhecê-la, embora já imaginasse quem fosse.
- Sobreviveu ao ataque dos policiais?
- Como sempre. – Ele riu para mim. – Venha, vamos procurar uma máscara para você. – O homem que conversara comigo antes de roubar o mercato deu-me o braço, e eu o aceitei. Porque não?
Andamos até o final de uma ruela escura. As casas ali pareciam abandonadas, tinham as janelas e portas fechadas por placas de madeira.
- Conte isso para alguém e estará morta. – Ele avisou, e não consegui decidir se aquilo fora uma ameaça ou brincadeira. Logo em seguida colocou o dedo em uma brecha entre dois pedaços de madeira e puxou para frente. Como uma porta, aquilo abriu, permitindo a entrada para um pequeno recinto escuro. Havia anos (décadas?) de poeira nas paredes. A única parte relativamente limpa era outra porta. Essa estava à mostra, e não disfarçada de tapume. Tentei abrir, porém estava trancada.
- Segunda pedra de baixo para cima na quarta coluna da parede à direita. – Informou-me o homem (observei neste momento, surpresa, que ainda não sabia seu nome). Fui até a tal pedra, e ao agachar-me para ver melhor notei que havia uma rachadura na argamassa em cima dela. Coloquei minhas unhas ali e puxei: a pedra saiu na minha mão, e pude ver que no buraco onde ela antes estava escondia-se uma chave. Peguei-a e abri a porta.
Uma enorme e, surpreendentemente limpa cozinha esperava-nos atrás da porta.
- Este lugar é quase uma lenda. Há cento e quarenta anos nasceu Luna Bianca Ninfa Nostradamus, filha do então governador da cidade. Para ela, Governador Nostradamus resolveu construir este simpático local. Grande demais para ser uma casa comum, pequeno demais para ser um palácio. Bem vinda a Camera delle Notti Bianche¹, palco da Revolução Carmim. Agora o local está abandonado. Ou ao menos acham que está.
Saímos da cozinha e entramos no que parecia ser o hall de entrada, onde haviam escadas para o segundo andar.
- Lily? – Ele chamou.
- Estou no sótão! – Veio, baixinho, a resposta da mulher. Subimos mais um andar, agora por uma escada estreita e escondida. O alçapão estava aberto.
No sótão, esperava-nos uma mulher ruiva, sentada no chão entre pilhas de tecido, linha, costuras e até um busto feminino.
- Lily Evans Potter, eu vos apresento A Garota Sem Máscara. – A mulher movimentou-se mais rapidamente do que eu achei possível: levantou-se, puxou-me pelas mãos e olhou dentro dos meus olhos.
- Me contaram uma coisa, diga-me se é verdade: ontem, você estava usando um... jeans ?
Ela falou a palavra jeans de um jeito quase conspirador, como se a vida dela dependesse daquela resposta. Se fosse um filme, o clímax estaria próximo, eu tinha certeza.
- Sim, eu estava.
****
Revolução Carmim é, de fato, um nome um tanto curioso para uma Revolução. Lílian Evans Potter, durante as horas que passamos conversando, explicou-me que ela tinha esse nome por ter sido organizada e realizada por uma mulher que, aproveitando uma festa qualquer do governador da cidade, deu um golpe de estado (contando para isso com a ajuda de seu marido, capitão das forças armadas ou o equivalente de Mascherina) e tomou seu lugar. Ninguém conhecia seu rosto, pois ela usava uma máscara. Tudo que se podia avistar era sua boca, pintada de um batom vermelho muito forte. A auto-intitulada Rainha governou durante 65 anos (tinha 25 quando tomou o poder) e então sua filha tomou seu lugar, até morrer com a mesma idade que a mãe (fiz as contas de cabeça, morreram ambas com 90 anos).
Atualmente, Mascherina era governada pela já idosa neta da Primeira Rainha. Esta Terceira Rainha reinava sobre uma cidade instável. Apesar de toda a repressão e desconfiança, alguns grupos rebeldes – isolados no reinado das outras duas governantes - uniam-se para depô-la. Não que ela estivesse ligando muito para isso, continuava a governar como se nada estivesse acontecendo.
Toda essa história era muito interessante, e me fez lembrar um pouco das aulas de história do colégio. Porém não foi nem de longe a coisa mais importante que a Sra. Potter contou-me naquele dia.
O que me assustou, mais do que posso explicar para qualquer pessoa, é que ela, Lílian Potter, e o marido – adivinhe só – James Potter, estavam trancados naquela história.
Ah sim, eles sabiam que, em outra dimensão, aquilo era somente uma história. Um roteiro. Claro, se o marido fora o escritor, era óbvio que eles teriam este conhecimento.
James Potter, esqueci de dizer, não era o homem que me trouxera até ali. Ah não. O homem que me trouxera até ali era Sirius Black, muito prazer. E ele era nativo daquele lugar dos sonhos, obrigado. O terceiro homem que eu vira no Mercato aquele dia chamava-se Remus Lupin, e era igualmente um nativo da cidade das máscaras.
O que me convenceu de vez que eu não estava em um sonho bizarro de minha imaginação super-fértil e sim em algum tipo de dimensão paralela foi a história de como Lílian e o marido foram parar ali. Nem em meus sonhos mais estranhos eu poderia imaginar tudo aquilo.
Há vinte e dois anos atrás, eles eram um casal feliz na boa e chuvosa Londres. Tinham um filho de um ano – Harry Potter, por acaso meu agente cuja aparência era praticamente idêntica ao do pai – e seus trabalhos começavam a deslanchar. Lílian era sócia de uma agência de moda que começava a ganhar espaço nas passarelas. James, eu já sabia, era um escritor. De acordo com o próprio, assim que ele se juntou a nós naquela longa conversa no sótão, ele sabia que a obra de sua vida seria uma em que contasse a história da cidade Mascherina. Ele sonhara com o local, e as palavras saíam de sua mente para o papel quase por vontade própria, a caneta dançava sozinha entre as páginas e páginas do manuscrito.
Quando o texto estava pronto, ele e a mulher datilografaram tudo. Fizeram dois exemplares do texto: um para guardar, outro para mostrar a possíveis compradores. Venderam a história quase de imediato. Contentes com o sucesso, decidiram sair para comemorar. Deixaram o filho na casa dos avós maternos, pegaram o carro e foram jantar em um restaurante chique.
Os ao menos esse era o plano. Faltava virar só uma esquina para chegar ao tal restaurante quando veio um ônibus com um motorista bêbado na contramão. Morte instantânea, eles adivinhavam. Porém, ao acordar, estavam dentro do roteiro.
E eu que achava serem os leitores que deveriam imergir na história.
Ali viviam desde então, sem nunca mais terem ouvido falar sobre Londres, Grã-Bretanha ou qualquer outro lugar que fosse da Terra de onde eles vieram. Isso até o dia anterior, quando me viram. Uma mulher, sozinha, sem máscara, vestida em uma calça jeans – tecido que não existe em Mascherina.
Uma coisa que notei é que eles não tinham a idade que deveriam ter, considerando já terem se passado mais de vinte anos no meu mundo (dimensão?). O casal não parecia ser muito mais velho que eu, eu daria trinta anos para cada um. Porém, para eles assim como para mim, o roubo do Mercato fora no dia anterior.
Não consegui achar nenhum sentido nisso, e depois de um tempo dispensei a questão. As engrenagens do meu cérebro se recusavam a processar mais uma informação nova.
****
Acordei na minha cama, segura entre cobertas e travesseiros. A primeira coisa que fiz foi pegar o texto e terminar de lê-lo. Quando acabei, guardei-o na segunda gaveta da minha mesinha de cabeceira, aquela era possível trancar com chave.
Eu tinha certeza absoluta que todo o meu sonho acontecera de verdade.
Ilógico. Totalmente Ilógico.
Mas ainda assim, verdadeiro.
Deus, eu só podia estar louca.
Camera delle Notti Bianche¹ - Significa Casa da Noite Branca em italiano (se me falaram certo >.<)
N/A: bem, eu poderia começar pedindo desculpas novamente pela demora, mas acho que vou simplesmente pular este pedaço. A fic está em xeque. Não sei se continuarei a postar esta fic. É, eu sei, podem me odiar. Mas estou desmotivada para escrever, sem apoio. E fico pensando seriamente se vale à pena.
Mione03, Guilherme Santana Rocha Cardoso, Betina Black , Kitten, *Mione Cullen Malfoy* e Ynna_Potter, desculpem desapontá-los, mas o próximo capítulo (se vier), vai demorar.
Luce Black
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