Hogwarts High



Capítulo 1 – Hogwarts High

Lene não ficou muito bem depois de uma dose dupla de vodka,então pegamos um táxi e voltamos para casa bem antes da festa terminar. Liguei para Lene no domingo de manhã e ela disse que estava morta de dor de cabeça,e eu falei que nos víamos na escola no dia seguinte então. A verdade é que eu estava tensa demais por saber qualquer coisa sobre aquele garoto lindo que tinha sido expulso da festa por Kathy. Ele era ex-namorado dela,pude perceber,mas por que ela tinha ficado com tanta raiva?
Eu estava vendo um jogo de futebol na televisão com meu pai quando minha mãe ligou pela segunda vez desde que eu tinha me mudado. Eles estavam saindo de Surrey apenas hoje,eu desejei sorte para ela e ela ficou calada. Eu sei que as coisas estão meio ruins entre a gente,mas ela é minha mãe,e eu ainda a amo.
-Desculpe,querida. –ela murmurou depois que eu suspirei,cansada.
-Não precisa se desculpar.
-Eu queria mesmo ficar com o Ulisses,mas não queria que você fosse embora,e...
-Mãe,tá tudo bem. –eu tentei parecer calma,mas não a convenci.
Meu pai me encarava com um leve sorriso,como se quisesse me acalmar.
-Boa noite,então. Boa sorte na escola.
-Eu te ligo pra dizer como foi a aula.
-Eu te amo,Lily.
-Eu também te amo,mãe.
E desligamos. Eu me senti muito melhor depois disso,e meu pai me abraçou,e eu deitei no colo dele.
Até que Cristiano Ronaldo fez um gol,e como meu pai é torcedor assíduo do Manchester United,só faltou me derrubar no cão. Eu ri e comemorei com ele,apesar de não gostar muito do Manchester. Eu era totalmente Liverpool,mas ele não era o adversário do Manchester. E,vamos combinar,o Cristiano Ronaldo é bem gato. Bem gato mesmo.
-Lily...?–meu pai perguntou quando eu levantei do sofá para ir dormir.
-Sim? –eu me espreguicei.
-Sabia que eu estou saindo com uma mulher incrível? –ele parecia um adolescente nervoso,e eu não controlei uma risada. – Hey,o que tem de engraçado?
-Conta sobre ela,vai. –eu sentei de novo do lado dele,e ele sorriu de lado.
-Ela se chama Lana,e eu queria que você a conhecesse. –ele me olhou em expectativa e eu dei de ombros,tentando sorrir de forma alegre.
-Ok,eu a conheço. Agora posso ir dormir? –beijei a testa dele e estava na metade do corredor quando ele gritou meu nome de novo.
-Não precisa ficar assim,lírio. Não é nada sério ainda.
-Relaxa,pai.
E saí rindo. É claro que eu me sentia nervosa em conhecer uma possível madrasta depois do Ulisses. Fala sério,ele levou a minha mãe num trailer colorido para viajar pelo país! Não podemos confiar mais no que nossos pais escolhem,sabe como é. Mas sei lá,não deve ser tão ruim assim. Acho.

Acordei mais cedo do que precisava,conferi o material na mochila,vi se o uniforme estava certo. Mas aqueles sapatos me incomodavam. Eu veria hoje se as pessoas usavam outros sapatos,e amanhã poderia ir com algo mais confortável,tipo um tênis,ou sei lá. Meu pai já estava saindo quando eu cheguei para tomar café,e ele falou diversas vezes o caminho da escola,e eu disse que não esqueceria. Tinha ido lá uma vez e ainda tinha o mapa,certo? Não podia ser tão impossível.
Não sei o que me deixava mais nervosa nisso tudo: uma escola nova,a perspectiva de dirigir sozinha pela cidade grande pela primeira vez, rever o garoto lindo da festa e tentar descobrir o nome dele,ou tudo isso ao mesmo tempo.
Entrei no meu carro pequeno,liguei o rádio e o locutor anunciou ‘Falling in love’,do McFly. Eu sorri. Até que o dia não tinha começado mal. O trânsito não era caótico como eu imaginei,e não foi impossível chegar na escola. Procurei uma vaga no estacionamento,e estacionei facilmente. Esta era a melhor vantagem de um carro compacto,você nunca teria problema em estacionar.
Peguei minha mochila,joguei nas costas e desci do carro. Muita gente estava passando por ali,eu não estava atrasada,nem nada assim. Não reconheci nenhum rosto da festa da Kathy,e senti uma pontada de arrependimento de ter negado a carona da Lene. Chegar na escola com alguém parecia bem menos assustador.
Só notei que estava encostada no carro quando um volvo prata estacionou ao meu lado,uma música muito alta tocando. E o garoto expulso da festa saiu de lá. Eu gelei e senti que aquele dia podia ser muito mais difícil do que eu tinha planejado.
Ele me olhou como se tentasse buscar na memória o meu nome,e depois sorriu de lado,arrepiando o cabelo com a mão livre.
-Oi.
Apesar de fazer muita força,minha voz não saiu de jeito nenhum. Então eu apenas sorri e desencostei do carro,tentando andar em direção a escola sem prolongar muito aquela ‘conversa’. Fala sério,esse garoto conseguiu me deixar totalmente sem graça sem ter feito absolutamente nada.
Eu preciso descobrir o nome dele,cara.
-Hey,você é a menina da festa,que é nova na cidade,não é?-ele perguntou,e eu rapidamente notei que ele já estava ao meu lado.
-Sou. –respondi,ainda nervosa,recuperando milagrosamente minha voz.
-E de onde você é?-ele perguntou,e eu reparei que ele estava com o blazer do uniforme aberto e a gravata não tinha nó. Ele estava,com toda a certeza,usando o uniforme de forma errada. Mas nele,aquilo ficava extremamente estiloso.
-Interior de Surrey. –respondi,ficando um pouco mais relaxada e ele balançou a cabeça.
-Garota do interior,então. –ele deu uma risada debochada e eu fiz uma careta falsamente ofendida. – Bem vinda à cidade grande.
-Hum,obrigada. –eu sorri e ele ficou me encarando.
-PADS!-Sirius pulou nas costas dele,aparentemente como se não o visse há séculos. Sirius me olhou como se também buscasse meu nome no fundo da memória – Olá,garota nova na cidade. Eu realmente esqueci o seu nome,foi mal.
Eu dei uma risada e Remo apareceu junto,sorrindo para mim,e depois se virou para o garoto estonteantemente lindo e começou a falar alguma coisa sobre a garota da festa,aquela Mandy. Os três iniciaram uma conversa em sussurros e eu tratei de me afastar.
Eu estava naquela escola enorme sozinha. De novo.
Vi Kathy passar pisando forte,e o garoto lindo revirou os olhos,fazendo uma careta infantil. Eu ri e ele sorriu para mim de novo. Eu tenho que aprender a me controlar para receber esses sorrisos. Saí andando pelos corredores,e peguei o papel onde tinha anotado o número do meu armário.
-LILY!-Lene berrou ao me ver,e me abraçou forte – Conseguiu chegar aqui sozinha?
-Acho que sim. –eu ri e ela bateu na minha testa – Ai!
-Idiota. –ela revirou os olhos,dando uma risada,e depois ficou séria – Acabei de brigar com o Douglas. Ele veio falar comigo querendo conversar,e eu mandei ele ir para um lugar desagradável,o imbecil.
Eu ri,e me lembrei de uma coisa da festa que eu ainda não tinha tido tempo de conversar com Lene.
-O que você tem com o Sirius?
-Ahn?-ela pareceu assustada,e depois riu- Ele é um imbecil também. Galinha até o último fio de cabelo. Ele é destruidor de corações,e toda a população feminina dessa escola gostaria de dar uns pegas nele,e por isso ele se acha a última gota de coca-cola do deserto.
-Pudera,Lene,ele é muito gato. –eu falei casualmente e ela arregalou os olhos. – O que?
-Você não,Lily. –ela bateu na minha testa mais forte – Fique longe do Black,se você zela pelos seus sentimentos.
-Relaxa,ele tem um amigo mais gato ainda,se é que isso é possível. –eu não consegui não sorrir,e Lene me olhou maliciosa.
Mas eu não cheguei a perguntar pelo garoto lindo para ela,porque duas garotas apareceram abraçando ela. As duas,para mim,eram aparentemente iguais. E elas começaram a conversar animadas,e eu sobrei legal,mesmo depois de Lene nos apresentar. Elas eram Joanna e Sarah Saunders,e eram gêmeas. Mas Joanna tinha o cabelo muito curto,e apenas isso as diferenciava.
Entramos na sala juntas,mas elas se sentaram muito atrás. Eu peguei uma carteira no meio,atrás de uma garota aparentemente excluída. Bom,Lene tinha suas amigas ali,estava na hora de aprender a me virar,certo?
-Olá. –eu falei casualmente e a menina se virou para me encarar.
Ela tinha cabelos loiros na altura dos ombros,olhos azuis por trás de uma armação de óculos um tanto quanto intelectual. Ela me parecia bem nerd,mas sorriu para mim ao invés de me excluir mais.
-Oi. –ela respondeu numa voz baixa,e eu percebi que talvez fosse uma das poucas pessoas que falasse com ela. – Sou Emmeline Vance,você é nova aqui,certo?
-Lílian Evans,acabo de chegar de Surrey. –eu falei,e ela assentiu.
-Legal,então está gostando da cidade grande? –ela perguntou com uma expressão curiosa.
-Digamos que estou me acostumando. –eu suspirei e ela não perguntou mais,se virou para frente assim que um professor baixinho chegou seguido por um grupo de alunos,entre eles o garoto lindo que eu ainda não sabia o nome.
Eu não o encarei,e ele,Remo e Sirius foram sentar lá atrás perto de onde Lene estava com suas amigas gêmeas. A aula era de Geografia,e foi bem tranqüila até. Depois tivemos dois tempos de Biologia com um professor muito engraçado que fazia uma piada pra tudo. Ele parecia íntimo de Sirius e James,que brincavam com ele e faziam comentários idiotas.
Quando a aula de Biologia terminou,já era hora do almoço. Emmeline me esperou guardar os cadernos e eu saí com ela da sala. Lene tinha ficado lá dentro conversando com mais outras garotas,e ela sorriu para mim quando passei por ela depois na fila do almoço.
Emmeline me contou que não tinha muitos amigos na escola também,porque a maioria do pessoal que falava com ela no ano anterior tinha se mudado para outra escola. Ela estava tão sozinha quanto eu,e decidi que devia passar o almoço com ela,e tudo mais.
Kathy,Lene e as gêmeas se sentaram numa mesa no meio do refeitório com alguns outros garotos. Procurei com os olhos pelo garoto bonito,e ele estava sentado ao lado de Remo e Sirius numa mesa perto da mesa de Lene,e eu notei que tinham três meninas sentadas na frente deles. Todas com cabelos muito brilhantes e saias muito curtas. Entre elas,Mandy,a menina da festa que aparentemente tinha alguma coisa com Remo.
Emmeline percebeu minha atenção nos ‘populares’ e comentou,enquanto pegava seu suco de laranja:
-Eles realmente chamam a atenção,eu sei.
-Ahn?-me fiz de desentendida,e peguei meus talheres.
-Os populares. –ela esclareceu,e olhou em volta a procura de uma mesa – Ah,não. Todas estão ocupadas.
Eu vi uma garota gordinha de óculos que comia sozinha e parecia fazer cálculos mentais a cada garfada.
-Vem cá. –eu puxei Emmeline e olhei a gordinha. –Olá,podemos sentar aqui?
-Podem. –ela respondeu,maravilhada em ter companhia para comer.
-Sou Lílian Evans,e esta é Emmeline Vance. –eu falei,simpaticamente,e a menina sorriu amarelo.
-Sou Anna Sarrow. –ela falou,ainda sorrindo.
Emmeline me encarou sem entender,mas depois se sentou,e começamos a comer em silêncio.
Lene acenou para mim,e olhou de forma estranha para Emmeline e Anna,e fez sinal para que eu fosse sentar com ela,como se eu estivesse num local proibido. Eu neguei e me virei para Emmeline,que observava tudo em silêncio.
-Você é amiga de Marlene McKinnon? –ela perguntou,receosa e a gordinha me olhou preocupada.
-Ela é minha vizinha. –expliquei,estranhando a reação das meninas – Por que?
Anna voltou a atenção para seu prato de salada e Emmeline desviou o olhar.
Aquilo tudo estava bem estranho. O que tinha de errado com a Lene? E por que eu tinha dito que era vizinha dela e não amiga? Oras,porque amizade é uma palavra muito forte. Acho.
-É sério,o que tem de errado com ela?-eu questionei,depois de comer um pedaço do frango.
-Nada. –Emmeline deu de ombros. –Só é estranho você conhecê-la e mesmo assim se sentar com pessoas como nós.
-Não vejo nada de estranho nisso. –eu dei de ombros e ela sorriu. – Em Surrey as pessoas não se diferenciavam por ser umas mais bonitas que as outras,acho que não estou acostumada com esse tipo de separação social.
Anna riu pelo nariz e balançou a cabeça. Emmeline colocou uma mecha atrás da orelha e seu olhar recaiu sobre a mesa de Remo,Sirius e o garoto muito bonito.
-Presta atenção,Lílian. –Emmeline ajeitou a ponte dos óculos – Eles são,entre os populares,os menos metidos. Remo já foi meu parceiro de laboratório. –os olhos dela brilharam,mas depois ela ficou séria – Marlene McKinnon não é a pior,mas anda com as piores.
Meu olhar recaiu sobre a mesa do garoto perfeito,e Emmeline soltou um suspiro de entendimento.
-Quem é ele? –perguntei,ansiosa,e Emmeline abriu um sorriso complacente.
-Sabia que você estava olhando para ele na aula de Geografia. –ela riu,e eu corei um pouco – Mas não te culpo. Ele é mesmo perfeito.
-Qual o nome dele? –eu me impacientei e ela sorriu mais abertamente.
-James Potter,provavelmente o maior arrasador de corações da Inglaterra. Ele ganha de Sirius Black neste quesito porque nunca dá esperanças para as garotas,e todas elas se apaixonam assim mesmo. Black pelo menos sabe fingir que gosta de você.
Lembrei instantaneamente da frase de Lene.
“Fique longe do Black,se você zela pelos seus sentimentos.”
James Potter,então? Gostei desse nome. Mas eu acho que poderia apelidá-lo de Mr. Charming sem pensar duas vezes. Ele parecia justamente o tipo de garoto que toda garota sonhava para ser seu príncipe encantado.
-Kathy o expulsou da festa dela no sábado,mas ele me pareceu inocente. –eu falei simplesmente,e as duas largaram os talheres e me olharam como se eu tivesse três cabeças.
-Você foi à festa de Katherine Johnson nesse sábado? – Anna perguntou dessa vez,lentamente,como se quisesse deixar bem claro o significado de suas palavras.
-Não fiquei até o final,porque a Lene passou mal e nós fomos para casa bem cedo.
-Sei. –Anna suspirou pesadamente – E como é uma festa dela? É verdade que só vão garotos muito bonitos?
-Bom... –eu vasculhei na minha memória os garotos da festa,mas só me lembrava de James Potter e seus cabelos arrepiados e seu sorriso perfeito – Só garotos lindos.
Emmeline riu pelo nariz,e voltou a comer normalmente. Até que eu reparei que a garota loira sentada em frente a James Potter se inclinara sobre a mesa para falar algo bem perto dele. E o decote dela estava bem debaixo do nariz dele.
-Quem é aquela ali? –eu não precisei apontar para Emmeline entender de quem se tratava.
-Rachel Shimidt. –ela falou com um ar de desprezo – A pior dentre eles. Ela se acha a rainha da escola. Pensa que tem poder sobre todo mundo aqui.
-E,na verdade,ela tem. –Anna sussurrou derrotada e eu ergui as sobrancelhas.
-Ela é a líder dos populares,é isso que estão dizendo?
-Ela é a líder da escola,Lily. –Anna me corrigiu,olhando admirada para Rachel. –Todos gostariam de ser tão legais e bonitos quanto ela.
-Ela me parece tudo,menos legal. –eu confessei casualmente e Emmeline assentiu.
-Ela é,provavelmente,a pior pessoa que você já conheceu.
O sinal do fim do recreio tocou e Anna saiu rapidamente da mesa. Emmeline se levantou,mas ficou esperando eu terminar minha coca-cola,quando Lene chegou e se postou ao meu lado.
-Lily,por que não foi sentar com a gente? –ela perguntou,ignorando a presença de Emmeline.
-Não queria deixar Emmeline sozinha,Lene. –eu falei,sincera,e ela olhou de esguelha para a loira de óculos ao meu lado – E você estava com seus amigos,sabe como é.
Lene fez um sinal com as mãos de ‘Bobagem!’, e saiu me puxando pelo braço. Vi que Emmeline tinha virado o corredor para ir ao banheiro e suspirei irritada.
-Você espantou a Emmeline. –eu falei,entre receosa e divertida. Porque,de fato,era engraçado como as pessoas normais se assustavam com a presença dos populares. Ao mesmo tempo era bem irritante. Eu detestava essa coisa de populares x impopulares.
-Fala sério,Lily. –ela revirou os olhos – Olhou bem para ela? Não é legal andar com gente assim. –eu ia retrucar,mas ela prosseguiu – E aquela gordinha é uma negação. Outro dia ela foi vista vomitando o almoço no banheiro feminino. Tem coisa mais masoquista?
-Olha,eu não sei a idéia que você teve de mim quando nos conhecemos. –eu falei,enquanto andávamos em direção a sala de aula – Mas eu realmente não escolho as amizades por grau de beleza ou de popularidade.
-Hey,eu não disse nada disso! –ela se defendeu,aparentemente horrorizada com o que eu disse.
-Lene,é sério. Emmeline foi super simpática comigo,e ela não tem mais amigos aqui. E,sabe,ela pode não parecer uma modelo da Vogue como as meninas que ocupavam a sua mesa,mas ela é bem legal. –eu comentei,tentando manter a raiva longe do meu tom de voz.
Lene abriu a boca para retrucar,mas Rachel Shimidt chegou balançando seus longos cabelos dourados e me olhou de cima a baixo com seus olhos muito azuis,procurando avaliar minha roupa e essas coisas. Eu franzi o cenho e ela abriu um sorriso que mais me pareceu uma careta.
-Lene,temos Educação Física agora,por que está indo por aí com a...-ela levou um dedo ao queixo,fez cara de pensativa e completou – A roceira de Surrey?
Eu não sei que tipo de força me fez ficar parada de punhos fechados encarando aquela garota,porque minha verdadeira vontade era de bater na cara dela. Bater muito. Até ela ficar suficientemente deformada para não ser mais a ‘rainha’ da escola. E então ela sentiria na pele o que é ser um aluno normal.
O que me surpreendeu foi a careta de Lene,e apesar de conhecê-la a menos de uma semana,eu sabia que ela era bem destemida.
-Não fale assim da Lily,ela é minha amiga. –ela falou,mordaz,e seus olhos cor de mel faiscaram.
-Você costumava ter um gosto melhor. –ela deu uma risada fina e as duas garotas que estavam ao lado dela deram risadas também.
E foi aí que aquela força lá que me segurou para não bater nela resolveu dar o fora. E eu fiz o que ninguém naquela escola tinha tido coragem de fazer até hoje. Eu destratei a rainha.
-Ah,cala a boca.
Pode parecer uma coisa idiota de se falar. Mas teve uma repercussão bem pior do que o normal. James Potter e Sirius Black tinham acabado de chegar,já vestindo a roupa de Educação Física. Eles me encararam como se eu fosse um alien.
Rachel torceu o nariz,e jogou o cabelo para trás.
-O que você disse,roceira? –ela perguntou,tentando parecer ameaçadora.
-Eu disse para você calar a boca. Tem algum problema auditivo?
E eu não consegui conter uma risada sarcástica. Ela arregalou os olhos,assombrada assim como suas duas amigas e como Sirius Black. James Potter estava indiferente,mas eu jurei ver a sombra de um sorriso em seu rosto de traços perfeitos. Lene,por sua vez,parecia entre chocada e excitada.
Rachel se aproximou de mim,me encarando com muito ódio.
-Tome cuidado com o que fala,roceira. As regras na cidade grande são diferentes. –ela sibilou lentamente.
E eu ergui uma sobrancelha,desafiadora,e ela se virou. Saiu pisando forte com suas duas seguidoras no encalço,e um silêncio esquisito se instalou no corredor.
-Você só me surpreende,garota de Surrey. –James Potter falou,com um tom de voz indecifrável,e um sorriso de lado surgindo em seus lábios finos.
-Isso foi...-Sirius parou para pensar na palavra certa – Irado.
Eu dei uma risada e Lene passou um braço pelo meu ombro,com um sorriso severo.
-Foi demais mesmo,ruiva. Você meio que destronou a rainha,entende?
Sirius deu uma risada,e puxou Lene pelo corredor,falando alguma coisa no ouvido dela. Alguma coisa idiota,porque Lene bateu nele umas quinhentas vezes. Eu preferi prestar atenção nos dois,porque era realmente assustador estar sozinha com James Potter.
-Vai me dizer seu nome ou prefere ser chamada de garota de Surrey? –ele questionou quando já estávamos quase chegando na quadra.
Eu me virei para encará-lo,e ele manteve o mesmo sorriso de lado. Ficava muito bonito visto de perfil,sabe como é. Mas acho mesmo que ele ficava bonito visto de qualquer ângulo.
-Garota de Surrey não me parece ruim depois de ser apelidada de roceira,sabe como é. –eu respondi,e percebi só depois o quão idiota isso tinha soado. Mas James riu. Uma risada rouca e curta que eu aprenderia a admirar em pouco tempo.
-Bom,dentro de alguns minutos,todos na escola saberão o nome da garota que desafiou a rainha. –ele respondeu,entre divertido e curioso.
-Eu realmente preferia o anonimato. –dei de ombros e ele riu mais uma vez. Céus,eu não estava tentando ser engraçada. Mas a risada rouca dele era tão perfeita...
-Você é misteriosa mesmo,ruiva. –ele alfinetou,e entramos na quadra do ginásio.
-O que pode ter de misterioso numa garota vinda do interior de Surrey?-eu ironizei e ele ergueu as sobrancelhas,quase como se minha pergunta fosse meio esquisita.
Mas aí Remo Lupin interrompeu nossa conversa,gritando por James nas balizas. Ele sorriu de verdade para mim,e depois saiu andando pelo campo.
-Lílian Evans! –eu gritei e ele se virou para me encarar,as sobrancelhas erguidas de um jeito um tanto quanto sexy. – Sabe,para o caso de começarem a espalhar sobre meu ataque ao trono!
James balançou a cabeça e deu uma risada mais alta,como a de Sirius no dia da festa e depois continuou correndo para as balizas. Eu mordi o lábio inferior,e uma reação esquisita surgia no meu estômago. O que havia de tão chamativo assim nesse garoto? Por que ele fazia meu estômago dar cambalhotas com suas risadas,e por que toda expressão que ele fazia parecia imensamente bonita?
-Lily,você é do meu time. –Lene gritou de uma outra quadra,menor que a dos meninos,e eu fui até ela. – Vamos jogar vôlei hoje.
Eu assenti e fui ao vestiário colocar o uniforme. Rachel estava saindo de lá quando cheguei,e ela me olhou com muito desprezo antes de bater a porta com força.
No jogo de vôlei,Rachel fazia questão de tentar cortar em mim cada vez que a bola vinha em suas mãos. Mas muitas vezes a bola não vinha com força e eu defendia normalmente,o que a irritava bastante. Algumas vezes a bola batia na rede quando ela cortava,talvez porque ela era muito mais de balançar pompons do que jogar realmente.
Depois da Educação Física,ainda tivemos dois tempos de laboratório de Química,e através de um sorteio,meu parceiro foi Remo Lupin.
Além de popular e extremamente bonito,ele ainda era muito inteligente. Conseguimos fazer a experiência e o relatório antes de todo mundo,e quando saímos,ele me chamou para ir comprar alguma coisa na cantina.
-Hum... A rebelde que desafiou a rainha não vai querer nada? –ele perguntou,segurando uma lata de coca-cola.
-Não,obrigada. –eu dei de ombros e saímos andando até o estacionamento.
No meio de caminho,Rachel parou na nossa frente e saiu puxando Remo pelo braço. Ele me lançou um olhar confuso,mas foi com ela ouvir o que quer que fosse. Eu sorri sem graça,mas não me importei de verdade. Ela estava sendo infantil e ridícula,sabe como é.
-Lílian! –ouvi alguém gritar e avistei Emmeline. Sorri para ela,mas ela pareceu séria.
-Você fez mesmo o que estão dizendo que fez?-ela perguntou chocada.
-Hum...Eu mandei Rachel Shimidt calar a boca. –eu respondi,casualmente e ela abriu um largo sorriso.
-Caramba,não sabe como todos estão te admirando. –ela fez um gesto abrangente e eu dei uma risada. – Quero dizer,todos menos os populares,é claro. Embora eu tenha visto algumas cheerleaders comentando isso com um ar de riso reprimido,sabe?
Eu assenti e ela continuou andando ao meu lado. Eu parei ao lado do meu Smart vermelho vivo e ela parou de falar.
-O que foi?-eu perguntei,procurando algo de errado no carro.
-Esse carro. É a sua cara. –ela riu-se e eu ergui as sobrancelhas,sem entender nada. – Quero dizer,é vermelho,ele se parece tanto com você!
-Hum...Vou encarar isso como um elogio. –eu sorri e ela ajeitou a ponte dos óculos – Hum,quer carona,Emmy?
-Ah,não... Eu sempre vou de ônibus,sabe como é... –ela fez um gesto com a mão.
-Anda,vem logo. Só vai precisar me explicar como chegar na sua casa. – eu entrei no carro e ela deu a volta,entrando no banco do passageiro.
-E se você se perder,Lílian? –ela arregalou os olhos e eu dei de ombros.
-Preciso aprender a dirigir em Londres. Não pode ser tão impossível,certo? –ela assentiu e eu liguei o rádio. – E me chame de Lily,por favor. Lílian é formal demais.
O caminho todo fomos ouvindo rádio e eu descobri que Emmy tinha os mesmos gostos musicais que eu. Senti que ela podia realmente ser minha amiga,talvez até mais que a sempre ausente e popular Marlene. Sabe,Emmy também era sozinha na escola,e Marlene tinha todos seus amigos antigos,e tudo mais.
Consegui não me perder para voltar para casa depois que deixei a Emmy no prédio dela.
E quando cheguei ao prédio,ninguém mais,ninguém menos que James Potter estava na portaria com Sirius e Marlene.
-Lily! –Lene acenou,e apontou um pufe ao lado do dela.
-Olá. –eu coloquei uma mecha atrás do cabelo ao sentir os olhos esverdeados de James recaírem sobre mim. Ele sorriu quando eu o encarei e tive que contar até dez para conseguir expressar qualquer coisa além de todo o nervosismo que a presença dele me causava.
-Estamos esperando o síndico descer para pedir o aluguel do Play para sexta à noite. –Lene falou,alegre – Vamos fazer uma social para algumas pessoas,não é legal?
-É sim. –eu respondi,uma dúvida péssima me abatendo. Ela iria convidar Rachel?
-E toda a organização será feita por nós três. –Sirius falou,pomposo,e eu dei uma risada.
-Imagino o que vai dar. –ironizei e ele me mostrou a língua.
-Estava congestionado o trânsito,Lily? –Lene perguntou,ao olhar no relógio.
-Não... –eu ergui as sobrancelhas.
-Você demorou muito,então. –ela deu um sorriso malicioso e ouvi Sirius soltar uma risada pelo nariz. – Aposto que já arrasou corações com toda essa coragem de destronar a rainha.
Eu devo ter ficado da cor dos meus cabelos,já que ela e Sirius deram risadas e James ficou me encarando com um olhar um tanto quando indecifrável. Eu devia ter mantido a boca fechada hoje mais cedo,e não teria toda essa fama.
-Fala sério,até parece que eu fiz algo muito extraordinário. –revirei os olhos,cansada desse assunto. – Bom,eu vou subir. Até amanhã.
-Não quer nos ajudar com os preparativos da social,Lily? –Sirius perguntou,fazendo uma expressão convincente depois de lançar um rápido olhar para James.
Bom,se eu ficasse,seríamos quatro. E quatro é par. Ok,ok,essa foi a coisa mais imbecil que eu podia ter pensado. Até parece que... James Potter... Ah,fala sério. Ele nunca se interessaria por uma roceira recém-chegada,sabe como é.
E,para ser sincera,eu nunca fui a muitas festas. Não é como se eu fosse ajudar em alguma coisa ficando por lá.
-Acho que vocês podem dar conta sem mim. –falei na maior casualidade e Sirius deu de ombros,desistindo de tentar me convencer,e depois lançou um olhar complacente à James.
-Até mais tarde,Lily. –Lene falou,acenando e eu entrei no elevador depois de sorrir para os três.


O segundo dia de aula poderia ser bem menos assustador,porque eu já conhecia algumas pessoas e sabia mais ou menos o ritmo das aulas e das matérias dadas pelos professores.
O lado ruim disso tudo é que todo mundo já me conhecia,o que só aumentou os olhares,cochichos e exclamações de horror por onde eu passava. Em um único dia eu tinha passado de ‘A aluna nova vinda do anterior’ para ‘A aluna nova vinda do interior que tinha mandado a rainha calar a boca’.
Preciso evidenciar que algumas pessoas simplesmente juravam que eu tinha até descido a mão na cara de Rachel Shimidt? Os boatos tinham corrido tão rapidamente (e tão erroneamente também) que eu já era a salvadora dos losers e a odiada dos populares. Ou de quase todos os populares,digamos assim. Sirius e Remo ainda acenaram para mim quando estacionei o carro,e Lene conversou comigo no corredor antes das aulas.
Eu me sentei atrás de Emmy de novo,só que dessa vez,ela não era a única pessoa a falar comigo. Definitivamente não.
-Lílian,certo?- uma menina gordinha de óculos fundo de garrafa perguntou,se sentando atrás de mim e eu apenas assenti. – Hum,queria que você soubesse que eu admiro o que você fez ontem,sabe? Foi bem...Corajoso.
-Certo. –foi a única coisa que consegui responder diante daquela declaração esquisita.
E não parou por aí,na fila do almoço,um garoto loiro de cabelo cuidadosamente penteado para o lado,e olhos castanhos, chegou ao meu lado com um sorriso automático e eu ergui as sobrancelhas.
-Sou Andrew Stanford,é um prazer conhecê-la,Liliane. –ele falou,simpaticamente.
-É Lílian. –eu falei,entre calma e divertida. Por que diabos aquele garoto estava se apresentando?
-Bom,que seja. –ele fez um gesto com a mão e depois abriu um sorriso enorme. –Eu estive pensando se alguém já lhe mostrou a escola,sabe como é.
-Não exatamente. –fui sincera e os olhos castanhos dele brilharam.
-Posso te mostrar no final da aula,então. Hoje temos um tempo a menos,você deve saber.
-Tudo bem. –eu sorri sem jeito e ele sorriu mais ainda.
E então ele saiu do meu lado,se postando no fim da fila com uma alegria esquisita.
Eu só continuei me perguntando porque as pessoas estavam me olhando daquela forma.
Não gostava de toda essa atenção. Era legal quando eu era apenas mais uma aluna daquele colégio gigantesco. Não que uma ruiva não se destacasse na multidão,mas até então isso não era tão forte assim aqui,porque eu não sou exatamente como todas as outras meninas. Meu uniforme não foi propositalmente diminuído,e eu venho de all star e não de salto alto e meia calça.
Rachel Shimidt entrou desfilando no refeitório,curiosamente,parecendo-se muito com o que eu definitivamente me negava a ser. Uma patricinha total. Ela se dirigiu até James,sentado numa mesa do centro com Sirius,Remo e Frank. Todos olharam para ela,e quando eu digo todos,falo sério mesmo. Ela estava com a mesma saia hiper curta de sempre,a meia calça cor da pele em suas pernas longas e torneadas de tanto pular nos jogos animando a torcida. Sua camisa também estava mais desabotoada do que as outras garotas ousariam,o decote totalmente a vista. Sirius prendeu o olhar ali alguns segundos e depois sorriu de lado para James. Seus sapatos de salto alto fizeram um barulho estranhamente maior devido ao silêncio que se instalara no refeitório com sua chegada. E ela não ligava.
O barulho só ficou pior quando ela se dirigiu para a fila,e todos olharam para mim desta vez. O clima parecia tenso,mas eu estava tranqüila. Ela não me assustava tanto assim.
Ela se postou ao lado de duas amigas com saltos tão altos quanto os dela e seus olhos azuis se encontraram com os meus por um instante. Eu a encarei,sem expressão alguma em resposta a seu sorriso falsamente angelical.
O falatório recomeçou,e eu agradeci por todos voltarem a falar. Esse silêncio conseguia ser bem pior do que o normal. E eu já não era muito fã do silêncio mesmo. Nunca fui.
Peguei meu almoço e encontrei Emmy na mesma mesa de ontem,desta vez sem a gordinha que eu não lembrava o nome.
-Você está legal? –ela me analisou como se eu estivesse doente ou algo assim.
-Claro. –peguei meus talheres e comecei a comer – Por que?
-A cena com a Rachel foi esquisita. Ela não parecia tão angelical assim como todos acham.
-De fato. –eu dei de ombros. – Mas eu não ligo,sinceramente. Alguém precisa dizer a essa garota que ela não é o centro do universo para todo mundo.
-Bom,ela realmente acha que é. –Emmy fez uma careta irritada e depois arregalou os olhos. – Droga,não acredito.
-O que? –eu acompanhei seu olhar e preferiria não ter sido tão curiosa. Rachel estava com os braços em volta do pescoço de James. Um prato de salada e uma água com gás na bandeja,e James parecia se divertir com algo que eles conversavam sobre a comida. Riram abertamente e eu notei que Remo e Sirius pareciam totalmente alheios aos dois. Ela,então,beijou o rosto dele e sussurrou algo em seu ouvido. Pude ver as mãos de James envolverem a cintura dela e desviei o olhar para meu prato de comida.
Aquela era a lei natural em ação. Ela era a garota mais bonita e mais admirada. James era o garoto mais bonito e mais admirado. É claro que eles deviam ficar juntos. Era predestinado. Era tão óbvio quanto somar um mais um.
Não entendia porque aquilo me incomodava tanto.
Percebi que incomodava muito mais Katherine,a ex-namorada de James. Não fazia nem quatro dias que eles tinham terminado e ela já o via nos braços de outra. Mas Katherine estava arrasada apenas no olhar. Ainda mantinha seu sorriso presunçoso e conversava com alguns jogadores de futebol em sua mesa perto dos populares. Ela queria superar James Potter.
Eu devia superar James Potter.
Era óbvio que qualquer garota se sentiria atraída por ele. Mas isso não queria dizer que eu fosse conseguir alguma coisa. Eu era totalmente normal para James. Eu nem conseguia imaginá-lo com alguém tão comum quanto eu.
Simplesmente desafiava a lei natural,sabe como é.
-Lily...-Emmy segurou meu ombro e eu pisquei várias vezes. Tinha que parar de pensar tanto assim nele. – Eu não dou uma semana para eles.
-Como? –eu ergui as sobrancelhas. Que papo era esse de uma semana?
-James Potter nunca namorou nem ficou com ninguém por mais de duas semanas,segundo fontes seguras. –ela deu uma risada,e encarou minha expressão indiferente. –Ele simplesmente não é um garoto que se possa prender. Rachel pode ser a rainha,mas não vai conseguir mudar esse velho James Potter.
Eu não falei nada,e continuei comendo,enquanto tomava o cuidado de não deixar meus olhos vagarem de novo para a cena de amassos do novo casal do momento. Porque aquilo ia me causar uma indigestão,tenho certeza.
Depois da refeição,mais uma coisa me surpreendeu,só que desta vez,de forma boa.
Lene veio até mim e caminhou ao meu lado para a aula de laboratório de Química. Sem ignorar Emmy como faria antes. E isso fez com que Emmy não fugisse o mais rápido possível,o que era muito bom. Quero dizer,Lene e Emmy eram simplesmente as pessoas mais legais que eu tinha conhecido em Londres. Seria ótimo que elas se dessem bem.
-Lily! –Lene abriu um sorriso enorme e acenou. – Emmeline.
-Olá,Lene. –eu falei,animada e Emmy apenas uniu as sobrancelhas,visivelmente chocada. –Diga ‘oi’ para a Lene,Emmy. –eu falei em tom de brincadeira,mas Emmy não riu.
-Hum...Olá. –ela gemeu com pouca vontade,mas conseguiu caminhar do meu outro lado.
Lene sorriu para ela. Levemente,sem falsidade ou presunção. Ela apenas sorriu,como sorria para mim,e acho que isso conquistou um pouco mais a simpatia de Emmy.
Antes que pudéssemos começar uma conversa decente,Rachel passou por nós avassaladoramente. E digo isso porque um silêncio incômodo reinou no corredor,todas as outras pessoas observaram-na passar. E dessa vez não era porque eu,a garota que tinha mandado ela calar boca,estava no local. Era porque ela e James estavam com os dedos entrelaçados,e pareciam sérios e ao mesmo tempo satisfeitos.
Assustava o modo como eles eram bonitos singularmente,e juntos então,chegava a magoar o ego das outras pessoas. Não que alguém tivesse um ego superior ao de Rachel,mas ainda havia alguma auto-estima nas pessoas daquela escola.
Eu olhei James,procurando qualquer vestígio de amor,paixão,ou atração por Rachel. Mas sua expressão era vazia e incoerente com a situação. Enquanto ela sorria ‘angelical’,ele parecia estar em uma outra dimensão. Totalmente indecifrável e vazio. Nenhum traço de felicidade. Nenhum traço de amor.
Acho que eu entendia porque James Potter não era um garoto que pudesse ser preso a alguém. Ele parecia independente demais para isso. Até mesmo ao lado da rainha,ele conseguia ter seu brilho próprio.
Nossos olhares se encontraram por uma fração de segundo,e eu olhei para o chão,tentando ignorar os arrepios desagradáveis na nuca,tendo a ligeira impressão de que ele ainda me olhava.
Não ousei voltar a olhar para eles,mas pelo barulho,soube que Rachel tinha parado em seu armário e puxado James para um beijo um tanto quanto cinematográfico.
Eu tossi,chamando a atenção de Lene e Emmy de volta,e continuamos andando.
Sentei numa bancada e Lene e Emmy sentaram na minha frente,ainda caladas e estranhamente perturbadas. Eu suspirei. Os laboratórios eram em quartetos,certo? Precisávamos de mais alguém...
-Eu fiquei decepcionada com James. –Lene falou repentinamente,me encarando como se esperasse um ‘Eu também!’. Mas suspirei pesadamente,me negando a dizer o quanto eu concordava com ela. Mas Lene não desistia. – Quero dizer,eu não esperava que ele fosse ficar com alguém tão rapidamente depois da Kathy. Ela deve estar arrasada,em silêncio,é claro.
-Era de se esperar que ele fosse substituí-la rapidamente. Para falar a verdade,até demorou muito pra ele ficar com a Rachel. –Emmy falou pela primeira vez desde que Lene se juntara à nós,mas ainda assim,parecia que ela falava diretamente comigo.
-Realmente. –Lene deu de ombros – Eles foram feitos um para outro. –senti seu tom de ironia,mas aquela frase me incomodou mais do que devia.
-Deixem esse assunto pra lá,fala sério. –eu me impacientei,e deitei a cabeça sobre os braços em cima da mesa. Não falei mais nada,porque minha voz sairia muito abafada,mas eu também não conseguia pensar em nada para dizer.
Eles foram feitos um para o outro.
Argh.
A sala foi enchendo rapidamente,e uma amiga popular de Lene veio se juntar a nós. Emmy torceu o nariz e cruzou os braços,mas eu sorri levemente para a menina.
Ela era do mesmo estereótipo bonito das cheerleaders populares: tinha cabelos muito sedosos,claros e que iam apenas até seus ombros num corte muito picotado. Seus olhos eram escuros,mas seu rosto era de traços delicados e ela usava o uniforme bem curto como as outras. Ela só parecia um pouco mais simpática e não aparentava me odiar por ter mandado Rachel calar a boca. Menos mal,certo?
-Vou ficar com vocês,ok? –ela afirmou num tom casual e eu não falei nada,mas Lene balançou a cabeça positivamente.
-Meninas,essa é Dorcas Meadows. –ela nos apresentou,mas Emmy já parecia conhecê-la,por isso apenas ergueu as sobrancelhas.
-Lílian Evans. –eu falei com um sorriso.
-Eu sei. –ela riu maleficamente e eu ergui as sobrancelhas. – Oras,todo mundo sabe quem é você.
-Hum... –eu resmunguei. Era bem melhor o anonimato,ah,como era.
-Hey. –ela se inclinou sobre a mesa já que estava sentada do lado da Lene e na minha frente – Isso fica entre nós,ok? –ela baixou o tom de voz – Mas eu acho que todo mundo da escola já simpatizou com você pelo que fez com a Shimidt. Foi demais,Evans.
Eu não sabia exatamente se devia agradecer ou encarar aquilo como algo bom,por isso apenas sorri,e fiquei calada. Já mencionei que preferia o anonimato?
James e Rachel entraram na sala depois de todo mundo,e Rachel não disfarçou que tentava desamassar a camisa,mas mantinha a mesma expressão confiante e nojenta de sempre. James se sentou com Sirius e Remo,e parecia absolutamente normal. Não tentava mostrar a todos que estava dando uns amassos alguns instantes atrás. Ele e Rachel definitivamente não combinavam.
O resto das aulas foi totalmente normal,e no fim do dia,Dorcas e Lene já estavam super simpatizadas com Emmy e eu me sentia ótima por isso. Quero dizer,eu tinha juntado dois grupos que não se misturavam,e tinha arranjado amigos para Emmy. Não que ela não pudesse fazer isso sozinha,mas nessa escola os grupinhos eram muito seletivos e cruéis. Eu não gostava disso,mas parecia melhor do que a tranqüilidade da cidade pequena.
Andrew Stanford parecia realmente decidido a me mostrar a escola depois das aulas,e por isso eu me despedi das meninas quando se aproximou,notando obviamente o olhar malicioso de Lene e as risadas que Emmy segurou.
-Então,por onde começamos? –ele perguntou mais pra si mesmo do que para mim e eu fiquei calada,apenas o seguindo para fora do estacionamento. – Vamos ver um andar por vez,o que acha?
-Ótimo. –eu menti. É claro que preferia estar no caminho de casa a essa hora,mas eu nunca soube dizer não as pessoas. É um grande defeito. Eu sempre prefiro fingir que estou bem quando não estou,para não magoar as pessoas ou coisas do gênero. É algo nobre demais,mas idiota também. Só que Andrew era bem bonitinho. Podia me fazer parar com essa obsessão esquisita por James Potter.
Ele me mostrou cada andar,suas salas e contou algumas histórias dos locais que visitávamos. No final,paramos nas arquibancadas da Quadra ao ar livre e nos sentamos lá. Eu me abracei,porque estava muito frio e o fog londrino deixara o céu mais cinzento e feio do que o normal. Eu gostava disso,de certa forma. Era quase como se Londres se adaptasse ao meu estado de espírito naquele instante.
A neblina,o frio,o cinza.
Isso soa totalmente depressivo,mas quem liga? Aposto que não é qualquer um que é trocado pela mão por um hippie com um cabelo maior que o seu.
-Então...Por que se mudou para cá? –ele perguntou repentinamente,me encarando com seus olhos castanho-claros e eu mordi o lábio inferior. Era a primeira vez que alguém me perguntava isso.
-Questões familiares. –eu disse vagamente,observando o verde escuro do campo e as balizas impecáveis e bonitas. Lá em Surrey,os campos eram mais claros devido ao sol sempre brilhante,e as balizas não eram tão boas assim. O departamento esportivo vivia exigindo reformas nas quadras,mas o diretor sempre investia mais nos laboratórios e salas de informática.
-Não gosta de falar desse assunto. –ele diagnosticou,dando um sorriso de canto e eu suspirei derrotada.
-É.
-Suponho que também não goste de Londres. –ele me encarou duvidoso e eu sorri.
-Está enganado. Londres é incrível. – só não é o meu lar exatamente.
-Rachel Shimidt não te fez mudar de idéia?
-Ah não,até você. –eu revirei os olhos e ele pareceu arrependido de tocar no assunto.
-Desculpe,Lily,eu não...
-Tudo bem. É só que todos se aproximam de mim para me parabenizar por isso. Eu nem acho que foi algum feito tão inacreditável assim. Se alguém tivesse feito antes,talvez não houvesse todo esse reinado em torno dela. –eu falei naturalmente e ele ergueu as sobrancelhas.
-Não me aproximei de você por causa disso! –ele se defendeu,e depois revirou os olhos – Bom,uma hora eles vão esquecer.
-É. –eu sorri – Mas Londres ainda me parece incrível.
-Você ainda não viu nada. –ele se levantou,e me puxou pela mão para descer as arquibancadas. – Precisa ver as festas que temos por aqui.
-Bom,eu fui em uma festa nesse sábado.
-Eu sei. –ele sorriu,e ao ver minha expressão confusa,completou – Tinha visto você lá com a McKinnon.
-Ah. –eu olhei para nossas mãos ainda dadas então fiz uma jogada de mestre. Apontei meu carro vermelho vivo no extremo do estacionamento – Acho que está na minha hora,Andrew.
-Ah. –ele pareceu meio desapontado,mas deu um sorriso logo depois – Até amanhã,então.
-Obrigada por me mostrar a escola.
-Não foi nada. –ele sorriu mais abertamente e me deu um beijo no rosto – Tchau,Lily.
-Tchau. –eu falei,meio zonza com esse ato repentino,enquanto o observava se afastar em direção a um Audi prateado muito bonito.
Cheguei em casa ainda levemente feliz porque aparentemente Andrew tinha sido solidário demais. E por que mencionara as festas? Isso queria dizer que ele provavelmente me convidaria para alguma festa no fim de semana. Eu não podia reclamar. Andrew era mesmo bonito. E raramente,em Surrey,garotos bonitos se interessavam por mim. Na verdade não havia mais do que dois garotos bonitos lá. E todos eram veteranos e tinham namoradas muito mais bonitas que eu,por isso nem me olhavam.
E,convenhamos,além de ser bonito,ele ocuparia minha mente e eu pararia de fantasiar essa maluquice de me sentir atraída pelo James.
Ainda eram cinco da tarde e eu não tinha absolutamente nada para fazer. Tinha tomado banho,feito os deveres,arrumado meu quarto... Sentei no sofá e liguei a televisão,esperando passar algo de interessante. Passava ‘Tudo Acontece em Elizabeth Town’ no Tele Cine,e apesar de ser um filme muito bom,era melhor que nada. E ainda tinha o Orlando Bloom,lindo como sempre.
O telefone tocou e eu fui atendê-lo com voz de poucos amigos. Odeio ser interrompida quando estou vendo algum filme.
-Alô?
-Lily. –aquela voz enjoada e conhecida me fez dar um sorriso involuntário. Eu estava com saudades estranhas dela.
-Túnia.
-A mamãe é mesmo uma louca. –ela suspirou alto – Um hippie? Pelo amor de Deus.
-Ela está feliz. –eu hesitei,mas tentei parecer alegre ao completar – E eu estou feliz aqui em Londres também.
-Todos felizes,oh,claro. –ela ironizou e eu bufei. Petúnia podia ser intragável quando queria – Vou visitar você e o papai nas férias. Isso aqui pode ser bem entediante depois de um tempo.
-Achei que nunca fosse enjoar de Harvard. –eu ri.
-E não vou. –ela se apressou em corrigir – Só preciso de umas férias mesmo. Isso aqui é uma loucura total.
-Certo. –eu deitei no sofá,deixando a melancolia voltar. Ouvir a voz de Petúnia me fazia lembrar de Surrey,de como era bom vir a Londres nos feriados e em alguns fins de semana apenas,de como a comida sem muito tempero e saudável da mamãe era meu maior motivo de reclamação. Acho que agora eu daria tudo por alguns legumes no vapor e seu indiscutivelmente pouco temperado filé de frango. Petúnia parecia tão pensativa quanto eu,e por isso resolvi chamar sua atenção – Londres também perde o glamour quando você passa a morar,entende?
-Não me diga que não fez amigos,sua anti-social! –ela fingiu raiva e eu ri.
-Eu fiz amigos... É só que... Aqui ainda não parece o meu lugar. –eu suspirei e ela fungou o nariz – Tem todas essas cheerleaders e toda essa baboseira de grupinhos.
-Aposto que os garotos gatos compensam tudo isso. –ela contrapôs maliciosa.
-Alguns sim. –eu ri,lembrando imediatamente de James e me punindo por isso. – O namorado da mais nojenta delas é muito bonito.
-Pegue-o para você,oras! –Túnia falou como se isso fosse óbvio – Anda,Lily,não me decepcione nessa perdendo pra agitadora de pompons!
-Cala a boca,Túnia.
-Acho que vou desligar,senão não consigo pagar a conta do telefone e aí já viu. –ela suspirou e eu apenas tossi – Tudo bem,eu estou com saudades.
-Eu sei. –eu ri – E eu também. Mas não vamos estourar sua conta de telefone. Beijo.
-Beijo,mosca morta. E trate de roubar o namorado gato da agitadora de pompons.
-Idiota.
E desligamos.
Eu coloquei o telefone no gancho e fiquei parada em frente à janela olhando o fog natural de Londres,o céu acinzentado e com muita cara de que ia chover. Tantas pessoas nas ruas,tantos prédios muito altos. Eu definitivamente sentia falta do pôr-do-sol ensolarado de Surrey. Dos ventos mais fortes e do frio característico. Mas pelo menos o sol não era coberto pela neblina. E eu não precisaria estar tão melancólica assim.
Suspirei e voltei para o sofá,voltando a ver meu filme.
Quando acabou aquele final feliz e bonitinho,eu fui até a geladeira,procurando algo para enganar o estômago. Não tinha paciência para preparar comida e muito menos ânimo para uma aventura culinária com aquele tempo feio e cinza.
Sentei no sofá de novo,dessa vez vendo clipes na MTV,segurando na mão uma lata de Pringles e outra de coca-cola. Estava na minha super fossa vendo algum clipe do Coldplay quando a fechadura da porta girou e meu pai entrou. Sorridente,quase parecia ter visto o pôr-do-sol mais laranja e bonito do mundo,o que era impossível levando em consideração que estávamos em Londres. Eu arqueei as sobrancelhas e ele me beijou a testa,sentando no sofá logo em seguida.
-Como foi o dia,lírio? –ele perguntou,feliz da vida. E eu não me sentia no direito de dizer que estava na maior fossa e que queria desesperadamente voltar para Surrey.
-Bom. Mas o seu parece ter sido melhor. –observei,sem mentir muito.
-Foi ótimo.
-Eu diria que a Lana tem uma boa parcela de culpa nisso.
-É sobre isso que eu queria falar com você. –ele pareceu angustiado e eu arregalei os olhos – Ela vem jantar aqui amanhã,tem problema pra você?
Por essa eu não esperava. Fiquei calada alguns instantes processando a informação.
Ela não podia ser pior que o Ulisses. Não podia.
Abri meu melhor sorriso e meu pai pareceu aliviado.
-Por mim tudo bem,mas quem vai cozinhar?
Ele riu alto e depois me abraçou apertado. Eu suspirei no abraço dele,me sentindo um pouco menos na fossa. Meu pai nunca deixou de ser meu pai mesmo depois de mudar pra outra cidade,apesar de nos vermos com menos freqüência. Era incrível como ele conseguia me acalmar ainda como quando eu era pequena,e por isso eu tinha mais medo de dividi-lo com alguém. Lana poderia roubá-lo de mim como Ulisses roubara minha mãe. Mas não podia ser pior do que já estava,então eu tentei me tranqüilizar e parecer animada com a idéia.
Talvez eu também pudesse fazer essa expressão de quem acaba de ver o brilho do sol como meu pai. Não deve ser tão difícil.


O terceiro dia de aula tinha conseguido ser menos interessante que os outros. Afinal,o que há de bom numa quarta-feira? Para mim,quartas-feiras são os piores dias sempre. Desde que me entendo por gente eu tenho trauma por esse dia horrível. Tive experiências péssimas,e chegando em Londres não poderia ter sido diferente. Foi e não foi. Bem,História pode ser interessante às vezes.
Cheguei sozinha na escola,como sempre,e estava procurando a chave do armário enquanto andava no meio dos alunos naquele corredor abarrotado de gente quando alguém me envolveu pelos ombros. Senti um perfume forte,mas que não chegava a ser um forte ruim e olhei para o dono daqueles braços fortes. Ele deu um de seus sorrisos marotos e seus olhos azuis faiscaram para mim.
-Andando devagar assim,você só chegará na aula de História amanhã,garota de Surrey. –ele brincou,me conduzindo mais rápido pelo corredor. Senti todos os olhares femininos sob mim e amaldiçoei Sirius e toda sua fama. Mas que droga. Eu já estava ‘famosa’ o suficiente. Quantos olhares e cochichos isso me renderia agora?
-História? Você só pode estar brincando. –eu revirei os olhos e ele riu.
História era,sem dúvida,a matéria que eu mais odiava. Suspirei e me desvencilhei de Sirius ao parar em frente ao meu armário. Peguei o grosso livro de História enquanto Sirius falava mal do professor que eu ainda nem conhecia,alegando que eu também o odiaria e tudo mais. Fomos andando até a sala quando ele finalmente desembuchou o motivo por ter vindo falar comigo.
-Hum...Cadê a Lene?
-Não sei,eu não venho com ela. –falei,sincera,e ele ficou calado até chegarmos na sala.
Claro que todos olharam chocados para nós dois e eu tentei não corar. Sentei na carteira atrás de Emmy e varri a sala a procura de Lene. Nem sinal dela.
-Olá,Lily. –Emmy sorriu e eu correspondi,ainda muda. É sério,eu detesto que todos me olhem como olhavam agora – Hum... Não ligue,eles devem estar achando que você é o novo affair do Black.
-É,eu sei. –respondi meio apavorada.
-Lene te mataria. –ela riu sozinha e eu ergui as sobrancelhas. Não sabia se estava chocada por ela já estar chamando a Lene pelo apelido ou por aquela revelação – O que? Você não sabe a história deles?
-Não. – Emmy balançou a cabeça,e eu fiquei mais curiosa – Me conta.
-Oh,isso é uma coisa que não se espalha. As pessoas só... sabem.
Claro,muito esclarecedor.
-Ahn?
-A Lene te conta um dia.
-Um dia? –eu suspirei – Eu estou curiosa,Emmy! Espera... Como você sabe disso então se nunca foi íntima da Lene?
-Quem disse que a Lene que me contou?-ela retrucou,misteriosa e eu arregalei os olhos. Cadê aquela menina quietinha e excluída de dois dias atrás? Eu acho que as pessoas aqui me surpreendem cada dia mais.
Antes que eu pudesse insistir para que ela me contasse logo,Andrew entrou na sala e se sentou na carteira ao lado da minha,como se isso fosse super normal.
-Oi,Lily. –ele deu um de seus sorriso lindos e eu fiquei muda,arregalando os olhos mais do que já estavam ao constatar que minha primeira amiga aparentemente excluída estava antenada no mundo dos populares. – Ahn... Tudo bem?
Ele me analisava como se eu parecesse esquisita. Oras,o que eu estou dizendo? Eu sou esquisita. Dãã.
-Tudo perfeito. –respondi num tom desesperado demais,feliz demais. E devo ter assustado Andrew já que ele fez uma cara estranha e depois puxou o livro de História da mochila.
Lene entrou na sala por último,sentando-se na cadeira atrás da minha e me cutucou assim que chegou. Eu me virei,e ela estava ofegante e descabelada. Imaginei que podia ser algo com Douglas ou algum outro garoto,então olhei maliciosamente para ela.
-Estava dando uns amassos,senhorita McKinnon?
-É,só se tiver sido com o guarda que me multou por eu ter estacionado numa droga de vaga pra deficientes em frente à Starbucks antes de vir pra cá! –ela respondeu,sarcástica como sempre e depois ficou séria – Minha mãe vai me matar. Mesmo,de verdade. Você está olhando para um cadáver muito,muito ferrado quando a multa chegar em casa com a correspondência. Ai meu Deus,o professor Knight! –ela sorriu instantaneamente e eu me virei para ver o motivo da repentina alegria.
Então entendi porque Sirius o odiava. O professor Knight era quase um Sirius mais velho. Quase porque o cabelo dele era castanho escuro,e não preto. Mas seus olhos azuis também eram profundos,seu sorriso também era perfeito e eu podia jurar que vi um brilho de malícia no seu olhar quando ele nos deu bom dia. Ele era um deus grego. De verdade. Muito,muito,muito gato. Eu imaginei se Sirius ficaria assim em dez anos e quase mandei Lene se resolver logo com ele,seja qual for a ‘história’ deles. Mas olhei para trás e vi um James de cara amarrada para o professor e sorri. Ele era muito,muito mais bonito que qualquer Deus grego. Ele era simplesmente o garoto perfeito e eu não acho que pudesse trocá-lo pelo professor de História,pelo Sirius ou por qualquer outro se pudesse tê-lo. Me repreendi por esse pensamento idiota e voltei a atenção pro professor lindo que se apresentava e colocava o conteúdo das aulas no quadro.
-Bom,a maioria de vocês me conhece. Mas eu vejo rostinhos novos por aqui. –seus olhos super azuis pararam diretamente em mim e eu senti todo o meu sangue migrar para as bochechas – Não querem se apresentar?
A pergunta fora diretamente para mim e Lene me cutucou forte quase me fazendo gritar,mas eu transformei o quase grito num sorriso,e falhei miseravelmente se tentei parecer alegre.
-Bom,vamos começar por você. –ele apontou para mim e eu suspirei baixinho – Como se chama,ruivinha?
Ruivinha.
Ruivinha. Meu professor hiper gato está me chamando de ruivinha. Alguém me belisca para dizer se estou sonhando? Não,não. Se isso fosse um sonho eu definitivamente não gostaria de acordar.
-Lílian Evans. –eu falei rapidamente ao ver que ele esperava alguma reação.
-Veio de que escola,Lílian? –ele perguntou num tom carinhoso e eu respirei fundo. As pessoas já estavam cochichando,já estavam comentando. Mas que saco.
-O senhor provavelmente não conhece. Eu morava em Surrey. –expliquei num tom mais tranqüilo e ele sorriu. Algumas meninas realmente suspiraram com aquele lindo sorriso e eu sorri de volta.
-Bem-vinda então,Lílian. –ele falou antes de se virar para o quadro e começar a escrever algumas datas.
Lene me cutucou de novo e eu me virei para olhá-la.
-Ele não é perfeito? –aquela fora uma pergunta retórica. Lene não tinha dúvidas de estar certa. E eu só poderia concordar com ela,é claro.
Olhei James novamente e ele ainda estava de cara amarrada encarando o professor,que eu descobrira se chamar Michael. Ele ficava lindo com raiva,isso era a pura verdade. Acordei de meus devaneios quando vi que Rachel estava sentada atrás dele e não parava de acariciar seus ombros de alguma forma que para ela devia parecer sedutora. E James não parecia ligar,mal parecia sentir,na verdade. Perguntei-me se haveria algum problema entre ele e Michael,mas não falei nada mais a aula toda. Michael era,além de tudo,muito engraçado e fazia História muito mais interessante do que eu esperava. E,bem,tinha saído do topo das minhas matérias mais odiadas.
O resto das aulas da manhã foi normal,sem muitos problemas já que todas as meninas pareciam encantadas e alegres pela aula de Michael. Eu ri muito depois comentando sobre ele com Emmy e Lene,então mal senti o recreio chegar. Andrew e eu não tínhamos nos falado muito,mas eu o peguei sorrindo demais para mim. Isso podia ser ou não um bom sinal,mas decidi não pensar muito a respeito. Eu estava na escola há três dias,não tinha como ele gostar de mim,ou algo do gênero.
Sentei numa mesa menos perto da lixeira com Lene e Emmy e logo depois me surpreendi com a presença de Dorcas,que vinha hiper alegre contar sobre Michael ter esbarrado nela no corredor no caminho para o refeitório.
-Além de lindo e intelectual,ele é muito cheiroso. –ela nos contou num tom de voz mais alto que o normal e nós fizemos sinal para ela baixar a voz. era a animação,obviamente – Gente,é sério,esse homem é perfeito. Eu daria tudo para conquistá-lo.
-Dorcas... –Emmy riu-se.
-É sério. Eu e ele juntos seríamos perfeitos. Lindos,intelectuais,cheirosos e apaixonados. E seria uma relação arriscada,escondida...Além de ele ser uns dez anos mais velho que eu! Ai,tudo que eu sempre quis!
-Muito bem,agora de volta a realidade. –Lene a sacudiu pelos ombros e nós rimos.
-Te daremos um desconto porque ele é o sonho de consumo de 11 a cada 10 meninas desse colégio. –eu falei seriamente e as três concordaram com acenos de cabeça.
Comemos ainda comentando sobre a perfeição do professor de História quando Emmy se levantou dizendo que ia na biblioteca e Dorcas cismou em ir junto,pois segundo ela,era mais fácil encontrar gente intelectual na biblioteca,e que talvez ela pudesse esbarrar nele de novo acidentalmente.
Lene e eu fomos para o pátio externo e sentamos num banco perto do portão,onde não havia muita gente e ela retirou seu iPod do bolso,me passando um fone.
Eu lembrei de uma coisa que não me saía da cabeça.
-Lene,qual é a história de vocês?
Não precisava dizer mais nada,ela entendeu na mesma hora a minha referência. Mudou a música,mexeu no volume e depois suspirou,me encarando quase que séria. Embora aquele ar presunçoso e irônico quase nunca abandonasse seu rosto.
-É a mais absurda e menos interessante,acredite.
-O que houve,afinal?-eu questionei,impaciente.
-Ah,Lily... –ela suspirou,entediada.
-Anda,Lene,pode contando.
Lene apoiou os cotovelos nas pernas e escondeu o rosto nas mãos. Eu ergui as sobrancelhas e falei,incomodada:
-Tudo bem,não precisa falar se não quiser.
-É que...Remexe numas coisas antigas e doloridas ainda. –ela explicou desanimada – Mas eu conto para você depois.
O sinal tocou e eu assenti,desistindo momentaneamente de saber o passado obscuro de Lene e Sirius. Não podia ser nada tão terrível assim,certo?
A quarta-feira tomou suas proporções reais e foi um tédio nas aulas da tarde. Eu não pude reclamar muito,porque pelo menos tinha o colírio do Michael nos dois primeiros tempos.
Saí da sala por último quando a aula de Física terminou e reparei que um casal discutia poucas cadeiras atrás de mim.
James e Rachel.
Ué,o que faria o casal dos sonhos brigar? Tsc,tsc. Desacelerei no processo de fechar o caderno e recolher minhas réguas e canetas para ouvir um pouco a discussão.
-É exagero seu,Rachel. –James falou num tom casual e a loira bufou.
-Mas eu tenho meus motivos,ok? –eu arrisquei uma olhada para trás e ela já estava falando no ouvido dele,provavelmente seus motivos ou algo assim.
Meus olhos se encontraram com os de James por um segundo e ele pareceu preocupado,desviando o olhar no mesmo instante. Eu joguei a mochila nas costas e saí da sala pisando forte involuntariamente.
Gostaria de entender porque ver os braços dele em volta dela era algo tão irritante para mim.
Emmy,Lene e Dorcas estavam sentadas na escadaria perto da porta principal,conversando e rindo,mas eu não estava com ânimo para aquilo.
-Até amanhã,gente. –eu acenei para elas,esperando uma fuga rápida e indolor para o estacionamento.
-Espera aí,Lily. –me virei lentamente para olhá-las,tentando dar um sorriso – Já vai para casa?
-É o que as pessoas fazem quando a aula acaba. –eu tentei rir,mas elas continuaram me encarando sérias.
-Hoje tem treino do time masculino de futebol,não vai ficar para assistir? –Lene perguntou animada e eu suspirei.
-Não,hoje não dá. A namorada do meu pai vai jantar lá em casa,eu preciso chegar cedo para ver o que a empregada vai cozinhar.
-Tudo bem,então. –Dorcas sorriu singelamente para mim.
-Você é minha carona,Lily. Espere. –Emmy me seguiu e acenou para as duas antes de sairmos andando.
-Você queria escapar de alguma forma,certo? –eu perguntei quando já estávamos dentro do meu carro.
-É. –ela deu de ombros – Acho que esse tipo de programa não é pra mim. Elas vão ficar lá,balançando pompons e eu fico na platéia sozinha sem entender nada que acontece.
-Impossível não entender futebol. É tão legal. –eu sorri e ela ergueu as sobrancelhas.
-Qual a verdade,Lily? –Emmy perguntou relutante e eu mordi o lábio inferior.
-Sei lá. –suspirei assim que parei o carro num sinal. Eu precisava dividir isso com alguém logo. – Não gosto de ver Rachel e James juntos. Simplesmente acho que ele é muito para ela.
-Caramba! –ela levou as mãos à boca e eu arregalei os olhos – Lily,você gosta do James!
-NÃO! –eu me apressei em negar,embora boa parte de mim duvidasse disso – Como posso gostar de alguém que conheço a menos de uma semana?
Alguém buzinou atrás de mim e eu dei a partida,já que mal tinha visto o sinal abrir de novo. Droga de assunto. Droga de James.
-Lily,você não tem culpa. –Emmy riu divertida – É mesmo complicado não gostar dele. ou do Sirius ou do Remo. Eles são os garotos mais legais e bonitos do colégio sem sombra de dúvidas. – eu vi um brilho estranho no olhar dela e dei uma risada – O que é engraçado?
-O jeito como você falou deles. Vamos,Emmy, qual dos três é o seu preferido?
-Ah,Lily,cala a boca! –nós duas rimos mais ainda e ela suspirou – Nenhum deles jamais olharia para mim desta forma. É ilusão.
-Desembucha,Emmeline Vance. –eu dei ênfase em seu sobrenome e ela revirou os olhos.
-Remo é perfeito. –ela admitiu e eu arregalei os olhos,rindo logo em seguida – Mas o assunto aqui é você e James,mocinha.
-Não existe eu e James,Emmy. –contrapus meio séria demais e ela ficou quieta,provavelmente desistindo do assunto até chegarmos na casa dela.
O caminho até a minha casa foi rápido e indolor como eu esperava,mesmo depois dessa conversa com a Emmy.
Não existe ‘eu e James’. Definitivamente.
O dia não estava tão péssimo assim,apesar de ter todos os motivos para isso. E eu estava até que sorrindo quando me sentei no sofá com uma roupa mais arrumada e o cabelo preso e impecável enquanto via meu pai andar pela casa toda arrumando pequenas coisas. Ele não parava de olhar no relógio,e eu poderia jurar que ele contava os segundos para a chegada de sua tão querida Lana.
E o que o deixava mais nervoso era o fato de que ela prometera trazer uma surpresa para nós quando chegasse.
-Pai,eu estou ficando tonta. –comentei asperamente para ver se ele me levava a sério.
-Ela já devia ter chegado a três minutos,Lily. –ele falou como se aquilo fosse o fim do mundo.
-Puxa,é um atraso muito relevante. –eu revirei os olhos e ele riu.
Sorri também. Meu pai ainda era jovem e eu entendia perfeitamente porque as mulheres meio que olhavam ele sempre que saíamos juntos. Ele tinha cabelos loiros como os de Petúnia e olhos cor de esmeralda como os meus. E ele se cuidava,entende? Tinha um corpo bonito e um sorriso galanteador. Eu sempre me pegava pensando no que passara na cabeça da minha mãe para ter pedido o divórcio. Tenho certeza que se ela o visse hoje a noite vestido tão bem e com um sorriso tão feliz se arrependeria amargamente de andar por aí num trailer hippie dos anos 70.
A campainha tocou e ele correu para a porta. Olhou para mim e eu levantei,sorrindo simpaticamente para mostrá-lo que seria uma boa garota durante esta noite,mesmo sendo uma quarta-feira desastrosa como todas as outras.
Mas eu estava enganada.
Aquela quarta-feira é muito mais desastrosa do que qualquer outra.
Eu percebi isso assim que vi a tal Lana parada na porta com sua ‘surpresa’ que usava um vestidinho rosa-choque curto,um sapato Prada e maquiagem. Pior que isso só a expressão divertida e maldosa dela.
Seria uma noite longa e difícil. Ah,como seria.
E eu estava enganada.
Aquilo ali era muito pior do que Ulisses e seu trailer colorido dos anos 70.
Droga.


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N/A: Olá,pessoas *-*
Desculpem a demora,eu estava mesmo 'estudando' muito para passar direto. E ainda teve o show do McFly e do Paramore,e tudo isso me deixou muito sem tempo para escrever. Ouch,eu passei mal no Vivo Rio no show do McFly,odeioooo aquele lugar maldito ><
Espero que eles voltem e façam o show num lugar melhor ._.
E a Hayley é tão pulante :D
ASIHASUISAHIOHOIASHIOSAHOISA
Tá,parei.
Enfim,o final do ano tá aí.. E eu fiquei em Prova Final em História e Geografia ¬¬' Mas aviso logo que o capítulo 2 já está em andamento,e eu pretendo postá-lo assim que acabarem minhas provas se vocês quiserem,é claro.
É isso,então.
Comentem \o/\o/\o/
Beijos & queijos (k)

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