Prólogo




Prólogo



A chuva caía insistentemente e batia na janela do Audi preto do meu pai. Eu suspirei mais alto que esperava,e ele me olhou por debaixo de seus óculos de aros quadrados. Deu um sorriso sem graça,mas ainda assim,reconfortante. E eu tentei retribuir,embora ainda estivesse apavorada.
Eu nunca tinha passado por nenhuma mudança assim. Na verdade,eu nunca tinha ficado muito tempo na capital da Inglaterra. Era estranho todas aquelas luzes,todas aquelas pessoas que pareciam estar com pressa constantemente,todo aquele glamour que só Londres,a Cidade mais cara do mundo,tinha.
Sempre morei no interior de Surrey,e nunca tinha cogitado a idéia de sair de lá.
Até a semana passada,quando minha mãe se casou de novo. Com o cara mais hippie que eu já tinha conhecido. O pior de tudo é que eles estavam começando uma jornada por toda a Inglaterra. Minha mãe insistiu para que eu fosse junto,explicou que eu poderia terminar o ensino médio com estudos por correspondência,e que seria uma grande experiência cultural para mim.
Mas é claro. Experiência cultural. Cruzar a Inglaterra num trailer colorido dos anos 70 com o marido hippie,que tinha o cabelo bem mais comprido que o meu,da minha mãe. Claro. A experiência cultural que eu mais estava esperando.
Neguei-me veemente a concordar em ir junto,e liguei para o meu pai. Apesar de visitá-lo uma vez por ano apenas,eu ainda me sentia no direito de pedir para morar com ele já que minha mãe queria que eu fosse com ela morar num trailer viajando pelo país.
Eles acabaram brigando feio,como sempre acontecia quando discutiam o meu futuro,ou da Petúnia. A grande diferença é que Petúnia tinha se mudado há quase um ano para os Estados Unidos,para tentar uma bolsa para Harvard. É claro que ela conseguiu. Petúnia sempre foi a filha mais velha,mais inteligente,mais bonita,e conseqüentemente,mais querida dos meus pais. Claro que ela também era a mais fria,e por isso não foi difícil atravessar o oceano e ir morar sozinha num apartamento minúsculo nos E.U.A,contanto que ela estudasse numa das melhores universidades do mundo e conseguisse um bom emprego.
E,pudera,ela já tem dezenove anos,pode fazer o que der na telha. Eu ainda tenho dezesseis. Meus pais têm que saber de cada passo que eu dou,cada decisão,e essas coisas.
Não dei um passo como o de Petúnia,para conseguir minha liberdade. Mas creio que decidir morar na capital já foi um bom começo. Vou para um colégio ótimo e conseguirei estudar em Oxford. Longe do trailer da minha mãe e do seu novo marido hippie. Longe da calma do interior de Surrey. Perto do glamour da cidade grande. Perto das pessoas constantemente apressadas.
Londres.
Vi vários prédios com luzes acesas,mesmo já sendo quase onze da noite. Estranhei isso,mas não comentei nada. Porque na minha cidade pequena,todos se recolhiam às dez da noite.
E para falar a verdade,eu tinha trocado poucas palavras com o meu pai. Ele entendia todo o meu rancor por ter sido praticamente ‘trocada’ por um hippie e um trailer colorido. Ele entendia que eu não queria conversar. Pelo menos não hoje. Em apenas um dia,eu tinha conseguido arrumar um mala média com alguns pertences,e embarcar para Londres no primeiro trem que saísse,sob os protestos de minha mãe que eu devia ter esquecido alguma coisa.
Como se ela ligasse para algo além dos fios dourados até a cintura de seu novo namorado,o tal de... Como é mesmo o nome? Ubah. Utah. Ulisses Ubah,era isso mesmo.
-Chegamos,lírio. –meu pai falou,suavemente,um sorriso alegre no rosto.
Eu sorri de volta,porque seria impossível não sorrir diante daquele prédio enorme com várias luzes acesas,e com um portão alto e prateado. Olhei tudo em volta,a rua era movimentada,tinha uma livraria,um restaurante desses com mesas do lado de fora,e até mesmo um pet shop. Acho que eu poderia comprar um cachorro,como sempre quis.
Meu pai estacionou o carro numa das vagas da garagem,e quando subimos pelo elevador,pude notar como a portaria era bonita,cheia de sofás e quadros,e uma mesinha de centro. Tinha um casal sentado num pufe,falando baixo,e eles nem notaram nossa presença. Até meu pai falar o nome da garota,e ela acenar para ele. Tinha cabelos escuros e olhos cor de mel. Ela olhou para mim e abriu um enorme sorriso.
-Então esta deve ser Lílian. –ela falou,e o garoto ao seu lado me encarou.
Ele sim chamava atenção. Tinha cabelos claros e olhos azuis,e parecia um daqueles integrantes de bandas moderninhas,um estilo meio skatista,meio rockeiro. Ele era realmente bonito.
Não falei nada,mas tentei abrir um sorriso.
-Sou Marlene McKinnon. –ela se adiantou para mim,estendendo a mão de unhas feitas e pintadas de vermelho vivo – E este é Douglas Stanford,meu namorado.
-Lílian Evans. –respondi,apertando sua mão,e ela me deu um beijo no rosto.
-Seja bem-vinda,Lílian. –ela falou,simpática,e depois se virou para a porta –Estávamos de saída,mas a gente se vê.
E Douglas acenou,seguindo-a porta afora.
-Marlene é nossa nova vizinha,Lily. A mãe dela trabalha comigo há anos,mas veio morar aqui há pouco tempo.
-Legal. –eu entrei no elevador,e me olhei no espelho,sem conseguir deixar de me comparar com Marlene. Ela era uma garota tipicamente da cidade grande. Usava roupas modernas,seu corte de cabelo era diferente,e ainda tinha as unhas enormes. Eu nunca conseguia deixar as unhas daquele tamanho. Nem se eu quisesse.
-Ah,ela também estuda em Hogwarts High. Acho que vocês poderão ser boas amigas. –ele comentou,ao abrir a porta para que eu passasse.
Eu guardei para mim o pensamento de que Marlene parecia exatamente o meu oposto,e que,portanto,não poderia ser minha amiga. Fala sério,ela era bonita. Parecia ser popular,afinal,estava saindo a essa hora da noite com seu namorado,mesmo sendo uma quarta-feira. E ela tinha um namorado. Muito bonito,diga-se de passagem. E eu... Bem,meu currículo de namorados era bem pequeno e pouco proveitoso. E nenhum dos meus namorados fora tão bonito quanto o namorado dela. Por Deus, essa tal de Marlene seria tudo,menos amiga de uma roceira recém-chegada na cidade grande.
Desviei os pensamentos de Marlene,quando meu pai abriu a porta do apartamento 804.
A sala era espaçosa,e toda mobiliada com móveis escuros,mas o chão e as paredes eram de um branco que chegava a reluzir. Dois sofás pretos de couro,uma televisão enorme,uma mesinha de vidro no centro,e um quadro abstrato de rabiscos azuis. na mesinha do telefone,uma foto minha com Petúnia,quando eu tinha uns sete anos. Sem um dos dentes da frente,e meus olhos cor de esmeralda encaravam o fotógrafo,provavelmente meu pai,com uma alegria enorme. Eu acho que era feliz nessa época que ele ainda morava em Surrey com a gente,quando não era um advogado de sucesso,quando não tinha pedido o divórcio ainda. Petúnia chegava até a ser quase uma boa irmã para mim.
-É demais,papai. –eu disse,olhando para a foto.
-Venha ver o seu quarto,então. –ele me puxou pelo corredor,e abriu a terceira porta.
As paredes do quarto eram brancas,como as da sala,mas a cama Box era enorme,e tinha lençóis verdes com almofadas lilás. Eu sorri. Ele ainda lembrava das minhas cores preferidas. Tinha uma mesinha com um laptop e uma televisão na parede. O armário era branco também,e tinha dois espelhos enormes. Na parede,ele tinha colocado um quadro de metal,cheio de imãs,com apenas uma foto. Era do meu verão aqui em Londres,quando eu devia ter uns treze anos. Eu estava abraçando ele,em frente ao Rio Tâmisa,e meus cabelos voavam na minha cara,mas eu parecia feliz.
-É perfeito,papai. Perfeito! –eu o abracei forte,pela primeira vez desde que tinha descido do trem. Ele afagou meus cabelos,passando todo o conforto que eu procurava.
-Fico feliz que tenha gostado,meu lírio. –ele sorriu,me encarando – Você vai ser muito feliz aqui.
Eu assenti,e me joguei na cama. Ele riu,e sentou na ponta,ligando a televisão.
-Ah,eu te aconselharia a dormir logo.
-Por que?-eu ergui uma sobrancelha,abrindo um sorriso enorme ao ver que tinha acabado de começar ‘Top of the Tops’,meu programa favorito.
-Porque amanhã será um dia longo. –ele sorriu,misterioso,e se levantou.
-Certo,eu estou bastante cansada mesmo. –dei de ombros,e ele se debruçou sobre mim,me dando um beijo na testa. – Mas aonde iremos?
-Fazer algumas compras. –ele piscou antes de se dirigir até a porta do quarto. – Ah,suas toalhas estão no banheiro já. –ele apontou a porta perto da janela e eu vi que teria também meu próprio banheiro. Arregalei os olhos e ele riu,batendo a porta em seguida.
Fiquei algum tempo vendo televisão até meus olhos pesarem muito,e tomei um banho rápido para ir dormir. Arrumar o armário com as poucas coisas que tinha trazido poderia esperar até o dia seguinte.

Tomei um banho mais demorado quando acordei,na quinta-feira,e fui tomar café já arrumada e com o cabelo ainda muito molhado.
-Bom dia! –eu falei,ao me sentar na mesa da cozinha com meu pai.
-Olá. –ele ergueu os olhos do jornal,e sorriu. – Vamos a um lugar agora,e depois eu vou para o trabalho e você pode ficar no shopping para comprar algo que te interesse.
-Como é?-eu me assustei quando ele mencionou que eu poderia ir ao shopping depois que ele fosse trabalhar. Eu definitivamente não ia saber como voltar para casa sozinha.
-Roupas,sapatos,essas coisas. –ele explicou,pensando que eu estava perguntando sobre o que comprar no shopping.
-Papai,como vou vir para casa sozinha?
-Pegue um táxi. –ele riu da minha ignorância total,e eu bufei. É claro que eu tinha esquecido que no interior de Surrey não havia táxis. E muito menos shopping.
-Como se eu soubesse andar num shopping numa cidade grande. –eu murmurei,e ele tossiu.
-Chame Marlene,querida. –ele continuou lendo o jornal,e eu me servi de suco de laranja.
-Papai,ela deve estar com o namorado,ou com as amigas dela. Por que ia perder tempo fazendo compras com uma roceira?- eu bufei de novo,e ele dobrou o jornal,virando a atenção para mim.
-Não se refira a si mesma desta forma de novo,Lily. –ele falou,suave,mas ainda assim,firme. – E Marlene é uma garota muito bondosa,mesmo que você ache o contrário.
-Não disse que ela era má. –eu me defendi,mordendo um pedaço do pão de forma com cream cheese – Só que ela deve ter outros programas,papai.
-Não custa chamá-la. –ele bebeu um gole de seu café – Ela mora no 801.
-Não vou incomodá-la. Eu posso me virar sozinha. –dei o assunto por encerrado,voltando a atenção para meu sanduíche de cream cheese.
Meu pai não voltou a argumentar,provavelmente tinha percebido que eu não ia chamar Marlene para lugar algum. E ele pareceu feliz de novo quando entramos no carro,meia hora depois,em direção ao misterioso lugar que ele não queria revelar para mim.
O carro entrou numa concessionária,e eu pensei que talvez meu pai estivesse pensando em comprar algum acessório para seu Audi preto,ou qualquer coisa assim. Até ele se dirigir a uma mulher de meia-idade,que perguntou se eu era Lílian. Ele sorriu e assentiu,e ela mandou que a seguíssemos.
Eu estava entendendo cada vez menos,até que ela parou diante de um Smart,da Mercedes,aqueles carros minúsculos e lindinhos que são muito usados na Europa. Ele era vermelho vivo,e talvez não fosse de primeira mão. Mas eu me encantei da mesma forma.
-Ele é... Para mim?-perguntei para meu pai,entre chocada e alegre.
-É um bom começo para quem acabou de tirar a carteira. –ele deu de ombros,um sorriso singelo surgindo nos lábios.
-Eu amei!-abracei meu pai bem forte,e ele riu. – Eu nem sei como te agradecer,papai...
-Espero que você seja uma boa motorista. –ele balançou uma mão,como se dissesse que não precisava agradecer,e estendeu uma chave para mim.
Eu abri meu maior sorriso e entrei no carro,ligando-o e admirando seu painel,os bancos cor de gelo,o volante pequeno. Era incrível. Era meu primeiro carro. E não podia ser melhor.
Saí quase saltitando da concessionária,e meu pai tagarelava sobre algumas lições de como dirigir numa cidade grande,e sobre como eu deveria andar sempre com um mapa no carro.
Levariam o carro para mim na sexta-feira,depois que a papelada fosse oficializada e eu pudesse finalmente usufruir dele.
Meu pai me deixou no shopping,entregou algumas libras para eu pagar o táxi de volta e me deu seu cartão de débito. Ele não faria isso se soubesse o quanto eu preciso de roupas...
Entrei no shopping sem saber por onde começar. Fui ao banheiro ver como estava arrumada e me arrependi de ter saído de casa com um vestido floral e uma bota de couro marrom. Meu cabelo ruivo estava solto com uma faixa preta,mas ainda assim,eu parecia muito uma menina do interior. Suspirei e observei um trio de amigas que se maquiavam no espelho. Todas elas usavam calças jeans, vestidos com meia calça, saias jeans e sandálias de salto. Elas perceberam que eu as encarava e murmuraram alguma coisa sobre minhas roupas,para depois começarem a rir. Eu suspirei,irritada e saí do banheiro.
Ora essa,eu posso muito bem começar a me vestir bem. Certo? Mas é claro que sim.
Não,eu não posso. Percebi isso quando entrei na primeira loja de departamentos,e fui em direção a ala feminina. Tinham muitas roupas descoladas,e eu não achava nada que fosse ficar legal em mim. Peguei várias peças mais básicas,como calças jeans,camisetas e casacos de moletom e fui experimentar. Aqui era bem mais frio que em Surrey,por isso fiquei com dois casacos de moletom. Um era da GAP,cinza com as letras cor de rosa,e não tinha zíper. O de zíper era verde água e me pareceu bem descolado. Acho. Decidi também levar duas camisetas de mangas curtas,uma branca com uma frase legal escrita e outra preta,lisa.
Saí do manequim decidida a levar somente aquilo,até avistar a parte dos sapatos. Uma garota estava experimentando um all star prateado lindo,e eu decidi levar um também,já que o meu vermelho estava meio velho. Optei por um branco,de couro e fui para o caixa finalmente.
Andei mais um pouco pelo shopping,parando em algumas lojas e escolhendo mais algumas roupas mais básicas,até que decidi comer alguma coisa. Já era quase hora do almoço e eu ainda perambulava cheia de sacolas pelo shopping. Entrei numa lanchonete de Fast Food,e comi numa mesa solitária. Observei vários grupos de jovens que pareciam curtir o final de férias. E estava saindo da lanchonete quando ouvi uma voz levemente conhecida me chamar.
Quando me virei,vi Marlene McKinnon com suas roupas descoladas, saindo de uma mesa onde uma garota loira estava sentada.
-Fazendo compras,han?-ela apontou as sacolas,e balançou seus cabelos picotados em camadas,abrindo um sorriso simpático.
-É...Minhas roupas de interior não são muito legais para se usar em Londres. –eu ri secamente,e ela ergueu as sobrancelhas.
-Adorei sua bota. –ela falou,sincera,e eu estranhei,mas preferi apenas sorrir. – Olha,minha amiga já está indo encontrar o namorado,se quiser,eu posso te acompanhar nas compras.
-Não precisa se incomodar. –eu neguei,lembrando que Marlene,apesar de simpática,não era uma pessoa parecida comigo,ou algo assim. Amigos precisam ser parecidos,certo?
-Fala sério,Lílian. Eu não tenho planos para esta tarde,e acho que vai ser divertido fazer compras. –ela correu até a menina,a puxando para perto da gente,sem que eu pudesse piscar para digerir alguma coisa que ela tinha falado. Tipo,divertir? Ela queria rir do meu péssimo gosto por roupas,era isso?
-Olá. –a menina loira sorriu,simpática,mas eu não gostei do olhar que ela lançou para meu vestido floral. – Sou Katharine Johnson.
-Lílian Evans. –eu estendi a mão e ela me deu dois beijinhos no rosto,ainda com o olhar zombeteiro no meu vestido.
-Vamos fazer compras,Kathy,tem certeza que prefere o cinema? –Marlene riu-se,e a loira jogou os cabelos para trás,olhando para o corredor do shopping.
O celular dela tocou uma música muito animada e ela atendeu,com uma voz enjoada,falou poucas palavras e se despediu,alegando que seu namorado já a esperava na porta do cinema.
Marlene murmurou algo que eu não entendi,e me puxou pelo cotovelo para uma loja enorme e totalmente irada perto da praça de alimentação. Era toda cheia de coisas coloridas,e pufes esquisitos. Um deles era em forma de baleia.
-Aqui você vai encontrar muitas coisas legais. –ela falou,pegando algumas peças de uma arara de roupas e me estendendo uma blusa verde muito diferente que eu provavelmente nunca conseguiria vestir sozinha. – Verde fica bem em você. Combina com seus olhos.
Eu sorri,sem jeito e fui experimentar a blusa. Mal tirava a roupa e Marlene pendurava mais coisas ni meu cabide,sem fazer a menor cerimônia,como se aquilo fosse um programa de velhas amigas. Claramente notei que Marlene era sim uma pessoa agradável. Ela me fez rir muito a tarde inteira,me arrastando por lojas e mais lojas,me fazendo sair do shopping com tantas bolsas que eu achei que precisaríamos voltar para casa com uns quatro táxis.
No caminho de volta ela me pediu para chamá-la de Lene,e me intimou a ir com ela até o salão,porque,segundo ela,meu cabelo era bonito demais para ter esse corte reto e sem graça.
E assim foi feito. Deixei as coisas em casa e fui no salão com a Lene. Ela me apresentou seu cabeleireiro,o tal de Vernan,e ele soltou um gritinho de horror quando eu soltei o cabelo para ele olhá-lo.
-Você pinta o cabelo,certo?-ele perguntou,mexendo na parte de trás do meu cabelo.
-Não,essa cor é natural. –eu respondi com um meio-sorriso.
-Que sorte,Lílian! Eu poderia citar uma enorme lista de pessoas que passam horas aqui tentando atingir este tom de ruivo,sabia? É simplesmente lindo. Nem muito berrante,nem muito escuro. É perfeito.
-Obrigada. –eu murmurei,sem graça,e Lene abriu um sorriso.
-Vernan,o cabelo dela é mesmo muito bonito. Acho que ela precisa de um corte para valorizar essa cor rara,não?
-Mas é claro! –ele me empurrou até uma cadeira em frente a um espelho enorme. – Vamos cortá-lo picotado,pode ser? E você quer que eu tire um pouco o comprimento,ou mantenho?
-Eu gosto desse tamanho.
-Certo. Você vai ficar mais linda ainda,querida!-ele bateu palminhas,alegre,e saiu para pegar seu material.
Lene se sentou num sofá perto da cadeira e abriu uma revista. Eu suspirei. Não acredito que tomei um banho de loja e ainda vou picotar o cabelo. Isso tá parecendo um daqueles quadros de mudanças que a gente vê na televisão nos programas de domingo. Sabe,a pessoa geralmente se veste super mal e tem o cabelo horrível. Daí em um dia ela fica linda de morrer.
Como se lesse meus pensamentos,Lene soltou uma risada e comentou:
-Você vai chegar totalmente diferente em casa,Lily. Como naqueles programas de beleza.
Eu ri,e Lene me acompanhou. Eu estava realmente gostando dela. Não pareceu tão difícil assim arranjar uma nova amiga na cidade grande. Mesmo que ela fosse muito diferente de mim. Veja só,agora eu terei o cabelo parecido com o dela. Em camadas.

Meu pai repetiu diversas vezes que meu cabelo estava bonito e que minhas roupas eram ótimas. E eu não parava de perguntar quando iríamos comprar o uniforme e o material da escola,já que as aulas começavam em três dias e eu não tinha nada! Meu pai prometeu que faríamos isso no sábado de manhã,que era para eu ficar tranqüila. Certo,eu fiquei tranqüila.
Na sexta-feira,eu passei o dia inteiro arrumando meu quarto,e enchendo os armários com todas as roupas que Lene tinha me ajudado a comprar.
O sábado estava sendo um dia normal,eu tinha ido na escola comprar as coisas com meu pai. E posso dizer que aquela escola era realmente enorme. E fantástica. Eu me encantei assim que meu pai estacionou o carro e falou que era ali. Era toda de pedra,quase como um castelo,e me lembrava muito as fotos que eu tinha visto de Oxford na Internet. Claro que não era tão grande quanto a universidade de Oxford,mas era realmente incrível também. Compramos todos os livros e os uniformes e depois voltamos para casa,bem a tempo de almoçar junto com Hellie,a empregada do meu pai. Ela era do interior de Surrey também,então eu fiquei a tarde inteira conversando com ela sobre a cidade. Hellie tinha saído de lá com vinte anos para tentar a vida na cidade grande,e me explicou que deixou o marido com o filho por lá,já que os dois não queriam deixar a vida de fazenda.
Eu estava sentada no sofá passando todos os canais de filmes quando o telefone tocou.
-Lily!
A única pessoa que eu conhecia na cidade era Lene,e eu reconheceria seu berro animado mesmo que a gente só se conheça há dois dias.
-Olá,Lene.
-O que tá fazendo?
-Ah,meus amigos vem pra uma social aqui...-ironizei,e ela soltou uma risada pelo nariz. – Por que?
-Faz uma social pros amigos novos e nem me chama? Ok,me decepcionou feio agora,Lílian Evans.
-É sério,McKinnon,não tem planos com seu namorado e seus amigos?
-Tenho,e é justamente por isso que te liguei. Vai ter uma festa na casa da Kathy,aquela do shopping,e eu queria que você fosse.
Certo,Kathy não tinha ido com a minha cara. E muito menos eu com a dela. Fala sério,eu posso entender que ela não tenha gostado do meu vestido,mas por que me olhar daquele jeito? Credo.
-Não,acho que passo esse convite,Lene.
-Ah,vamos,Lily... Você vai conhecer muita gente da escola nessa festa!
-Meu pai saiu e eu nem tenho como avisar,talvez atrapalhe ligando pro celular dele na hora de um jantar de negócios.
-Lily,fala sério!
-Ok,ok,eu vou. –me dei por vencida,e fui até o quarto ainda com o telefone no ouvido – Que tipo de roupa?
-Bom,eu vou com um vestido normal e uma bota,porque não está tão frio hoje.
-Certo, jeans e aquela blusa que realça meus olhos? –ri e ela me acompanhou.
-Ótimo,passo aí em quinze minutos.
-Certo.
-Beijo!

Desliguei o telefone e fui me vestir,já que tinha acabado de sair do banho. Quando já estava pronta,liguei para o meu pai,e ele disse que não teria problema se eu voltasse com a Lene e se não aceitasse bebida de estranhos,e toda essa coisa.
Era engraçado,porque às nove e meia eu já estava no banco de trás do carro do Douglas,enquanto ele e Lene discutiam que música deviam colocar para tocar,e se eu ainda estivesse no interior de Surrey,estaria praticamente me arrumando para dormir. A vida na cidade grande chegava a ser intrigante.
Chegando na festa,Lene e Douglas davam ‘oi’ para algumas pessoas,e todos me olhavam como se eu fosse mesmo a novidade,sabe como é. até que eles pararam num grupo de três pessoas. Um garoto loiro e alto que tinha olhos castanhos e uma cara de certinho que me fazia imaginar como ele podia estar segurando um Red Bull. Talvez fosse popular por ser tão bonito,além de,é claro,ter um sorriso muito fofo. Os outros dois eram um casal,o garoto tinha cabelos negros e olhos escuros,mas também era muito bonito. A menina tinha um cabelo muito curto e preto e olhos esverdeados e parecia uma daquelas modelos da seção que posavam com roupas comportadas nas revistas,apesar dela também estar segurando uma lata de Red Bull.
Lene beijou todos no rosto e falou,numa voz animada:
-Esta é Lílian Evans,gente,ela chegou do Surrey esta semana!
-Olá! – o casal falou em coro e o garoto loiro apenas sorriu.
-Estes são Frank Longbotton e Alice Connory. E este é Remo Lupin.
Eu sorri para eles,e Alice se adiantou para me dar dois beijos no rosto. Ela já parecia estar sob o efeito do álcool,pelo que pude notar.
Lene e ela chamaram os namorados para dançar,e por incrível que pareça,eu até me senti bem em ficar sozinha com o garoto loiro aparentemente mudo desde que eu cheguei.
-Então,Surrey?-ele perguntou,simpático,depois que eu encostei no balcão do bar e fiquei rindo da Lene discutindo sobre o modo de dançar do Douglas.
-É. –não sabia mais o que responder. Ele era realmente bonito e eu não estava tão acostumada com isso. sabe,festas,álcool e garotos bonitos e gente muito popular. Eu quase não tinha amigos em Surrey.
-Por que veio pra cá?-ele continuou tentando manter uma conversa,e eu o encarei.
-Ah,pelo meu pai. –não era uma mentira,se for parar para pensar. Eu não queria viajar num trailer,então vim ficar com o meu pai. Ora essa.
-Hum. –ele bebeu um gole do Red Bull,e uma garota passou por ele,dando um sorriso muito malicioso. –Olá,Mandy.
-Remo. –ela me olhou de cima a baixo e eu me afastei um pouco. Não ia atrapalhá-lo com sua possível garota. – E você é....?
-Amiga da Lene,ela acaba de chegar em Londres. –ele esclareceu,num tom de quem diz que mal nos conhecemos,e eu apenas sorri.
-Sei. –ela se virou para ele,me ignorando totalmente e se inclinou,sussurrando algo no ouvido dele. Ele riu e respondeu no ouvido dela também,e depois ela foi embora ainda sorrindo muito.
Eu virei o rosto,procurando alguma coisa para fazer nessa festa,que não fosse atrapalhar Remo com as garotas,até que ele me puxou pelo cotovelo.
-Não vai beber nada?
-Ah,não,obrigada.
A verdade é que eu nunca bebi,e acho que não seria uma boa começar a beber assim,numa festa repleta de desconhecidos.
-LOONY! –uma voz falsamente esganiçada berrou vinda do outro lado da festa e eu olhei a tempo de ver um garoto abraçando Remo bem forte. –Que saudades,garotão! Pegou a Mandy já ou ela ainda tá naquele chove não molha desde...- ele parou de falar,me olhou de cima a baixo e riu- Ah,entendi,agora você tá com a ruiva aí,né?
-Não! –eu respondi antes de Remo e ele riu. Eu ia dizer ‘Somos só amigos’,mas eu não sabia se Remo e eu já éramos amigos. Quero dizer,nós trocamos o que,umas quatro frases?
O garoto soltou uma sonora gargalhada e eu reparei que ele era muito bonito. Tinha cabelos negros e lisos,que pareciam despenteados mas ainda assim arrumados. Ele era mais alto que Remo,e tinha olhos de um azul muito profundo,além de ter um sorriso lindo.
-Então a gata tá sozinha?-ele ergueu uma sobrancelha e eu franzi o cenho – Sirius Black,ao seu dispor.
Eu não tive tempo de falar nada,porque mais um garoto chegou falando coisas rápido demais,possivelmente sem notar minha presença e eu parei para olhá-lo. Dos três,ele era,sem dúvida,o mais bonito. Tinha cabelos escuros e arrepiados e seu rosto era de traços fortes e praticamente perfeitos. Além de ter olhos esverdeados e um sorriso de dentes perfeitamente brancos e alinhados,pelo que vi quando Sirius falou uma palavra esquisita e ele riu. Percebi também que ele tinha um pequeno alargador na orelha esquerda e na direita,tinha dois brincos. Ele era muito estiloso,e sua beleza era estonteante.
-Cara,eu não sei mais o que fazer com a Kathy!-ele terminou seu monólogo e escondeu o rosto nas mãos.
-Termina logo com ela e vai curtir a festa. Se liga como a safra tá boa hoje. –Sirius piscou para mim e eu fiquei muito vermelha. Muito,muito vermelha mesmo.
Então o garoto estonteante me encarou,e eu provavelmente perdi toda a cor do rosto. Ele deu um sorriso de lado e bateu na cabeça de Sirius,ainda sem tirar os olhos de mim.
-Alerta vermelho...-Remo riu-se e antes que alguém pudesse falar mais alguma coisa,Kathy chegou puxando o garoto muito bonito pelo braço para um outro canto da festa. Eu fiquei levemente desanimada,porque queria mesmo ter falado mais com ele.
-Eu quero uma dose dupla de vodka! –Lene falou para o barman,se postando entre eu e Remo,e eu reparei que ela estava muito irritada.
-Hey,devagar aí,Kim. –Sirius comentou debochadamente e Lene mostrou o dedo do meio para ele. – Wow,menina esquentadinha.
-Cala a droga da boca,Black! –ela bateu no balcão do bar e eu arregalei os olhos – Tá se divertindo,Lily? Porque eu perdi minha noite. Douglas é um imbecil. A propósito,trouxe dinheiro pro táxi,né? Porque eu nunca mais piso naquela merda de carro daquele idiota!
Remo pediu outro Red Bull,e Sirius segurou o riso,erguendo uma sobrancelha para prestar atenção no que Lene dizia.
-O que houve?-eu perguntei,sem saber que isso desencadearia num monólogo sem fim.
-O que houve?O QUE HOUVE? Eu vou te explicar o que houve!-ela pegou a vodka,e bebeu um gole bem grande,fazendo uma leve careta – O imbecil do Douglas tava olhando pra uma loira imbecil na pista de dança,só porque ela tava com uma saia tão curta que qualquer um veria toda a intimidade dela! Daí eu disse para ele parar e ele disse que eu parecia uma velha falando,então eu xinguei ele e ele me largou e saiu andando,e eu fiquei muito,muito,muito irritada! Sabe por que,Lily? –ela bebeu outro gole da vodka,e bateu o copo no balcão – Porque ninguém larga Marlene McKinnon. É Marlene McKinnon que larga as pessoas. E ponto final. O imbecil do Douglas devia saber disso antes de fazer essa merda.
Eu fiquei calada,esperando outra enxurrada de palavras,até que Sirius comentou suavemente,se aproximando de Lene:
-Posso te levar pra casa,Lene.
-Dispenso a sua carona,Black.
-Ah,qual é,a minha casa é bem aconchegante.
-Eu quero carona para a minha casa,Black. A minha casa.
-Não sei porque você é tão insistente em negar o que sente por mim,Kim.
-Já falei quinhentas vezes pra não me chamar desse apelido idiota,Black!
-E eu já falei quinhentas vezes pra você não me chamar de Black.
-Cala a boca. –ela bebeu o resto da vodka num gole só,e me encarou –O que tá achando da festa,Lily?
Parei um segundo para pensar,até que Sirius deu outra gargalhada sonora e apontou um canto à nossa esquerda. Eu,Remo e Lene olhamos para lá e vimos uma Kathy muito esganiçada berrando alguma coisa com o garoto lindo que estava aqui alguns minutos antes. A festa toda tinha parado para olhar,e para ouvir.
-Você me paga,idiota!-ela o empurrou e ele revirou os olhos,e recebeu um tapa no rosto. –EU TE ODEIO MUITO,MUITO! E FORA DA MINHA FESTA AGORA!
Ele estava com a mão no local do tapa,com uma expressão indignada. Ele olhou para onde eu estava e reparei que Sirius e Remo trocaram olhares rápidos antes de saírem atrás do garoto,deixando a festa na mesma hora junto com ele. Nossos olhares se cruzaram por um instante e eu vi ele murmurando algo com Remo,que apenas sorriu e acenou para mim e para Lene. Ela só acenou e eu sorri,muito mais para o garoto lindo do que para qualquer outro dos três. Ele sorriu de volta e eu tive que agradecer por estar encostada no balcão,já que minhas pernas pareceram estremecer.
Quem é esse garoto,afinal?


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N/A: Hey ;D
Deem um desconto porque é minha primeira ficde verdade,sabe como é. E eu sei que está totalmente um lixo meio ruinzinho este prólogo,mas é só mesmo pra apresentar um pouco da história. Temos muitas águas (???) pela frente. Eu to aceitando comentários de qualquer estilo,desde xingamentos e coisas como 'Garota,sai daqui,você é ruim nisso' até um elogio ou um 'Continua', porque preciso saber se devo mesmo continuar aqui.
Enfim,é isso 8D
Beijos&queijos.



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