Visitas noturnas
Visitas noturnas
-“Quanto tempo ela ficará desacordada, Salete?” – perguntou Alice, observando uma pálida Érika estendida em uma das camas da enfermaria.
-“Não sei dizer, mas posso garantir que não será amanhã de manhã.”
Alice lançou um olhar preocupado à amiga.
-“Ela vai ficar bem.” – murmurou Alexandre, para tranqüilizá-la.
-“Se ela vai ficar bem? Não tenha dúvidas!” – sorriu a enfermeira, confundindo a afirmação do garoto com uma pergunta –“Agora, por que vocês dois não vão jantar? Se não se apressarem, só comerão amanhã!”
-“Podemos voltar mais tarde?”
Salete olhou a menina de cima a baixo, com uma expressão séria.
-“Acho que podem, sim.” – sorriu, conduzindo os dois para fora da enfermaria.
Ao sair, Alice viu Henry Monfort de relance, e teve a impressão de que o garoto estava de olhos entreabertos.
-“Onde está Érika?” – perguntou Álvaro, aproximando-se da mesa de Rubi, onde Alice jantava acompanhada por Alexandre e Matheus.
-“Na enfermaria, graças aquela poção maluca que você a deu.” – respondeu Alice.
-“Eu achava que ela estava doente!” – defendeu-se ele –“De qualquer forma, a Salete me garantiu que o pior que aquela poção poderia fazer a alguém que não está doente de verdade é deixar a pessoa muito elétrica.”
-“Você não a avisou que ela não podia tomar mais de um frasco por dia? Porque foi isso que ela tentou fazer, e se tivesse conseguido, poderia estar morta agora, ao invés de apenas desmaiada!”
-“Alice, me desculpe.” – começou Álvaro –“Só fiz o que fiz pensando no bem da minha apanhadora. E sim, eu disse a ela que não era permitido repetir a dose. Bem,” – suspirou –“era beber a poção e participar dos treinos, ou sair da equipe.”
E com isso, o garoto afastou-se.
Irritada sem saber exatamente com o quê, Alice largou seu jantar pela metade e levantou-se da mesa.
-“Aonde você vai?” – gritou-lhe Alexandre.
-“Para a enfermaria!” – e saiu pisando forte.
As luzes da ala hospitalar estava apagadas quando a garota chegou. - Salete não está, mas acho que ela não vai se importar se eu fizer uma visitinha.
Ela esgueirou-se para dentro, tremendo com o ranger agourento da porta.
Alice olhou de um lado a outro, não se atrevendo a acender qualquer tipo de luz. Haviam dezenas de camas dos dois lados da enfermaria, formando um corredor, mas somente duas estavam ocupadas, uma por Érika, outra por Monfort.
Sem muita pressa, ela aproximou-se da cama da amiga, sem evitar lançar um olhar de esgueira em direção à Henry, que jazia em uma cama do outro lado do corredor. Alice não estava nem há cinco minutos ali, quando ouviu alguém se aproximar. E não era Salete.
- Preciso me esconder, se me pegarem aqui, estou frita. - e escorregou para baixou da cama que Érika ocupava.
-“Estranho,” – comentou uma voz masculina –“ a porta está aberta.”
Quem era a pessoa que falava sozinha e que, obviamente, estava invadindo a enfermaria sem permissão? No mesmo instante em que teve vontade de descobrir a resposta para essa pergunta, Alice se lembrou de que ela mesma estava ali sem permissão e teve que lutar para segurar o riso.
De onde estava, deitada no frio chão de pedra negra, ela escutou os passos do homem que entrava na ala hospitalar. Espichando o pescoço o máximo que se atreveu, ela viu um par de botas sujas de terra se dirigir até a cama de Monfort.
-“Levante-se, garoto, sou eu!” – disse o homem.
-“Até que enfim! Sabe, estava ficando cada vez mais difícil fingir, cada poção que aquela mulher me força a engolir...”
-“Pare de reclamar!” – cortou o homem –“Fiquei muito satisfeito em perceber que você entendeu o meu sinal, no campo de quadribol.”
-“Posso não ter vencido a partida, mas também não sou burro, até porque, eu sou Griffi...”
-“Você é Griffindor, já sei, já sei.” – cortou o outro –“O que eu vim lhe perguntar, é se você finalmente se deu conta de que Nicole James o está enrolando.”
Henry pareceu hesitar por um momento.
-“Você não acha que ela está... bem, deorando demais?” – falou o homem, encorajando-o.
-“Isso é porque o dela já está garantido. Mas eu não trataria desses assuntos agora, as paredes tem ouvidos.” – disse o garoto, fazendo com que Alice percebesse que ele estava se referindo à ela.
O homem das botas sujas pareceu confuso por um momento, mas decidiu, por fim, fazer como Henry sugeria.
-“Pense no assunto.” – aconselhou, antes de deixar o aposento.
O garoto concordou com a cabeça, acompanhando com o olhar a saída do homem. Depois, esgueirou-se silenciosamente para fora da cama.
-“Eu não mandei vocês SAÍREM DO MEU CAMINHO?” – disse ele, abaixando-se e pegando Alice de surpresa.
-“Aaaah!” - Gritar foi inevitável.
-“Vem cá.” – disse Henry, puxando a garota rudemente pelo braço.
-“Me solta, garoto estúpido!”
-“Estúpido? Pelo menos eu não fico escutando conversas alheias.” – e com aquelas palavras, jogou Alice para o lado.
Perdendo o equilíbrio, ela caiu, batendo as costas dolorosamente em uma das camas desocupadas.
-“Você não aprendeu por bem, vai aprender por mal.” – continuou Henry, procurando a varinha no bolso da capa.
Para seu desespero, não conseguiu encontrá-la, já que a enfermeira a havia recolhido e colocado sobre a mesinha de cabeceira, ao lado da cama do garoto. Percebendo a vantagem que tinha, Alice sacou sua própria varinha e a apontou para Henry.
-“Eu acho que não.” – disse ela, levantando-se –“Agora, para o seu bem, volte para sua cama e continue fingindo que é um maricas, desses que ficam desacordados apenas com o efeito de um soco.”
Mesmo ofendido pelas palavras da garota, ele sorriu – aproximar-se de sua cama era a uma excelente chance para reaver sua varinha. Erguendo as mãos como quem se rende, Monfort caminhou de costas para a cama, aproximando-se pelo lado da mesinha de cabeceira. Alice vigiava seus movimentos, mantendo a varinha em riste. Com agilidade, o garoto estendeu o braço e pegou sua própria a varinha.
-“Estupefaça !” – gritou ele, antes que a garota pudesse esboçar qualquer reação.
-“Protego!” – era Salete, que havia corrido e evitado o feitiço, que rebatido, acertou Henry em cheio –“Sinceramente, não sei onde garotos do primeiro ano aprendem esses feitiços perigosos.” – disse, balançando a cabeça.
-“O-obrigada.” – balbuciou Alice, vendo o garoto desmaiado à sua frente.
-“Não há de quê. Mas não se iluda, a senhorita ainda tem uma bateria de perguntas a responder.” – disse a enfermeira, colocando Monfort na cama com um movimento preciso da varinha –“Começando por: o que a senhorita estava fazendo aqui?”
Alice suspirou, aquela seria uma longa noite.
* * *
Três dias depois, Érika finalmente levantou-se da cama, completamente renovada. A garota havia acordado no domingo, mas Salete não permitiu que saísse da ala hospitalar alegando que, apesar de sua impressionante capacidade de recuperação, ela ainda não estava totalmente curada. Henry saíra da enfermaria no domingo de manhã, sendo recebido com aplausos por metade da casa de Ametista e vaias pela outra metade.
Érika mal havia voltado à sua rotina normal quando Alice lhe contou os acontecimentos daquele sábado a noite. Após sua discussão com Monfort, Salete havia lhe questionado sobre os motivos dela estar na enfermaria àquela hora, e a garota não mentiu, achou melhor, porém, não revelar à enfermeira a conversa que entreouvira entre Henry e o misterioso homem das botas sujas de terra.
- Porque você não contou à ela? - escreveu Érika, na última linha do bilhete que as duas trocavam, no meio da aula de Trato de Criaturas Mágicas aquela tarde.
Rasgando mais um pedaço de pergaminho, Alice respondeu: - Já lhe disse, porque isso implicaria em termos que contar a história toda, desde o início.
Érika recebeu o papel, parecendo refletir sobre as palavras escritas nele por um momento.
- Tudo bem, mas o que vamos fazer agora? Quer dizer, acho que você entendeu porque eu digo que as ameaças daquele garoto me parecem sérias, não é?
Alice viu o papelzinho voar sobre seu ombro e pousar em sua mesa. No entanto, não se atreveu a abri-lo, já que o professor d’Angelo pareceu subitamente desconfiar das duas garotas.
Duas semanas antecederam as últimas e derradeiras provas do semestre. Duas semanas em que Alice e Érika foram obrigadas a esquecer o significado prático da palavra ‘descanso’. Determinadas a descobrir de uma vez por todas o que Nicole tanto procurava e porque Henry estava com manias de Griffindor, ao mesmo tempo em que precisavam estudar, as duas não viam a hora das férias chegarem. Mas estas pareciam anormalmente distantes.
-“O time inteiro decidiu passar as férias na escola.” – disse Álvaro, no primeiro encontro que teve com Érika, assim que a garota saiu da enfermaria.
-“Já que é assim, eu também fico. E... bem, me desculpe por dizer que estava doente. Eu realmente... bem, eu precisava de um tempo livre a mais, entende?”
-“Não, não entendo. Mas te desculpo. Sabe, é por isso que não é comum alunos do primeiro ano entrarem para o time de suas casas, não por falta de talento, mas por não agüentarem o tranco. Estou lhe dando uma última chance, Érika. Então, se realmente gosta de quadribol, não a desperdice.”
-“Eu não faltei mais nenhum treino e tenho sido a melhor do time desde então!”
-“Espero que continue assim.” – com aquelas palavras, ele virou-se e saiu.
Sentindo o peso da expectativa de seus colegas de casa sobre seus ombros, Érika parecia cada vez mais cansada. Para completar, Esgaroth estava sempre por perto, parecia utilizar toda e qualquer oportunidade disponível para lembrá-la de que suas notas estavam baixas.
Alexandre, mesmo desaprovando as atitudes curiosas das amigas, esqueceu-se de sua seriedade habitual, redobrou sua paciência e ajudou as duas a revisarem todas as matérias antes das provas.
Agradecendo não ter que se preocupar com quadribol, Alice dedicava-se ao máximo às pesquisas e seguia Mark Taylor aonde podia. No entanto, não pôde deixar de se irritar com as insinuações crescentes de que ela estaria apaixonada pelo quintanista.
Durante um fim de tarde particularmente gélido, o rapaz a procurou e pediu para que conversassem à sós por um instante.
-“O que foi?” – perguntou Alice, tentando não parecer grosseira nem impaciente.
-“Eu, bem, ouvi umas histórias...” – disse Mark, mirando o chão.
-“Histórias?” – fez ela, fingindo-se desentendida, mesmo que já imaginasse aonde ele queria chegar.
-“Olha, eu não quero parecer agressivo nem adiantar o ritmo das coisas.” – ele ergueu a cabeça e encarou os olhos interrogativos de Alice – “Você sabe, certas coisas... bem, certas coisas devem correr sozinhas, sem apressamento. Mas é que eu tenho escutado muitos dizerem a mesma coisa, então resolvi conversar com você.”
-“Desculpe, acho que não estou entendendo.”
Os dois estavam na ala Oeste do térreo, em um corredor aonde os ventos se cruzavam, uivando, nos dias de outono e inverno. Naquele momento, uma rajada particularmente forte passou por eles, fazendo-os se arrepiarem.
-“Amgis inteira está comentando que você está apaixonada por mim, já que não para de me seguir por toda a parte.”
-“O quê?” – perguntou Alice, com sinceridade, já que o vento não a deixara ouvir as palavras do monitor.
-“Você está apaixonada por mim!” – ele repetiu, dessa vez mais alto, fazendo duas secundanistas que passavam no corredor lateral soltarem indiscretas risadinhas –“É verdade?”
Contra sua vontade, Alice corara violentamente, mas conseguiu controlar-se.
-“Não, são só boatos.”
-“Ah... bem, era o que eu imaginava.” – disse Mark, com um sorriso murcho.
-“Que bom! Então, nos vemos por aí.” – e saiu em direção ao salão principal.
-“Até mais!”
Mas, a partir daquele dia, ela o evitou o máximo que pôde.
* * *
Quando, por fim, a semana de provas terminou, os alunos mal puderam acreditar: estavam livres até as oito horas da manhã de vinte e cinco de Agosto. Ou nem tanto.
-“Como sei que os senhores não vão prestar o mínimo de atenção que a minha aula exige, pelo simples fato de que as provas já passaram,” – disse a professora Jacobs, na última aula de Transfiguração do semestre –“vou apenas entregar seus boletins e deixá-los conversar à vontade. Desde que, é claro, a conversa não atinja o volume desagradável de gritos histéricos.”
Mas foi praticamente impossível conter os alunos. Mesmo sendo o horário cujas turmas de Rubi e Ametista tinham aula juntas, as duas casas pareceram se esquecer, durante dois horários inteiros, a desavença no quadribol e juntas fizeram uma algazarra memorável na sala de aula.
Porém, para a infelicidade dos alunos, nem todos os professores foram tão generosos. O professor Kalil os fez praticarem o feitiço para trancar portas até o último minuto de aula, alegando que os resultados das provas práticas haviam sido deploráveis.
De fato, os alunos que estavam tranqüilos em relação às suas notas dos dois primeiros períodos não eram a maioria. O que mais se via em Amgis, principalmente no primeiro ano, era alunos fazendo incontáveis cálculos para saber o quanto precisariam tirar nas próximas provas para passarem de ano. Além, é claro, das numerosas promessas de estudar nas férias e do número cada vez maior de primeiranistas se inscrevendo para passarem as férias na escola.
Alice, contrariando os pedidos de seus pais, optou por não voltar para nas férias. Além de não se sentir confortável a voltar e, muito provavelmente, reencontrar as antigas “amigas”, ela ouvira que Nicole James também ficaria na escola, e isso selou sua decisão. Precisava observar de perto os movimentos da garota.
Finalmente, a primeira semana de férias chegou, e quando Alice acordou, na manhã de segunda-feira e lembrou-se de que não precisaria sair do casarão para a aula de Trato de Criaturas Mágicas, uma sensação de felicidade tomou conta dela. Puxando as cobertas para mais perto de si, a garota determinou-se a contrariar seu hábito e levantar mais tarde aquele dia.
Não havia passado nem cinco minutos que acordara, porém, quando ela cansou-se de ficar deitada. Ao abrir o cortinado de sua cama, sentiu um arzinho gelado bater em seu rosto – havia uma fresta aberta na janela em frente, que deixava entrar a gélida brisa de um típico dia de inverno. Para sua surpresa, ao aproximar-se para fechar a janela, Alice viu que o gramado em frente estava completamente branco – geara na madrugada anterior.
Sorrindo, a garota fechou a janela e apressou-se em trocar de roupa. Cinco minutos mais tarde, usando roupas de trouxa, ela estava do lado de fora da escola, pisando no mesmíssimo gramado que avistara do dormitório. Era uma sensação gostosa, ao mesmo tempo nova, pisar na grama congelada, que se quebrava e estalava com facilidade.
Naquele momento, Alice respirou fundo, sentindo o ar gelado invadir-lhe os pulmões, algo que a fez sentir-se incrivelmente viva. Sem a pressa que normalmente tinha nos dias de semana, ela ficou lá, até o sol estar alto e forte o bastante para começar a derreter o gelo. Quando sentiu fome, deu as costas ao astro-rei e voltou para o casarão.
Com a sensação de que era a única pessoa acordada em toda Amgis, ela adentrou o salão principal, sentando-se no canto da mesa de Rubi. Aquela não era a primeira vez no ano que a garota acordava antes do café-da-manhã ser servido, mas era a primeira vez, em muito tempo, que ela não se sentia cansada.
-“Bom dia!” – disse, bem-humorada, quando Érika se aproximou.
A garota tinha as olheiras mais fundas que Alice já tinha visto em toda a sua vida.
-“Huum.” – grunhiu, sentando-se ao lado da amiga.
-“Caiu da cama?” – perguntou Alice, contendo o riso.
-“Quase isso.” – respondeu Érika, olhando para a mesa, visivelmente a procura do café-da-manhã –“Onde está a p... cadê o café?” – soltou, contendo-se para não falar um palavrão.
-“Não deve faltar muito.” – comentou a outra, notando que elas eram as únicas pessoas no salão, além de dois garotos de Ametista e de Nicole James, que parecia estar concorrendo com Érika ao prêmio ‘as mais fundas olheiras de Amgis’.
-“Espero mesmo que não fa-a-alte.” – disse a Érika, em meio a um bocejo.
-“Porque você acordou tão cedo?”
-“E-e-estu-da-a-ar.” – bocejou a menina.
Alice arregalou os olhos, mas preferiu não fazer nenhum comentário, com medo de estragar a disposição da amiga.
-“Muito bem, Srta. Marinho, vejo que resolveu seguir meus conselhos.” – era Esgaroth, que aproximou-se da mesa e sentou-se em uma cadeira vazia, ao lado da garota.
-“E eu tenho escolha?” – disse Érika, lançando mais um longo olhar para a mesa, como se para se certificar de que nenhum pedaço de pão havia aparecido nos trinta segundos que passara olhando para o gato.
-“Imagino que não...” – comentou Esgaroth.
Alice não pôde evitar divertir-se com a cena, já que, para ela, o que o bichano ‘falava’ não passava do típico miado de um gato.
-“Olha só quem está falando com a James!” – comentou Érika, mudando de assunto.
Alice dirigiu seu olhar para a mesa de Esmeralda e avistou Mark Taylor sentando-se ao lado da garota.
-“Como eu queria escutar o que eles estão falando!”
Érika concordou com a cabeça, colocando a mão no queixo, pensativa.
-“Mas nós podemos! Esgaroth, porque você não vai até lá, disfarçadamente, e escuta a conversa?”
-“De jeito nenhum!” – protestou o gato –“Você não sabe o quão imoral é escutar conversas alheias?”
A garota revirou os olhos, impaciente.
-“Acho que sua mãe fez muito bem em me mandar, você está mesmo precisando de bons conselhos.” – continuou o gato.
-“Esgaroth, porque você não vai miar em outro lugar?” – explodiu Érika, levantando-se e saindo do salão.
O gato, por sua vez, empinou a cabeça e saiu na direção oposta. Alice, perplexa e completamente perdida, ficou paralisada ante à cena.
-“O que aconteceu com a Érika?” – perguntou Alexandre, aproximando-se da garota –“Passei por ela no caminho, parecia realmente furiosa.”
-“Parece que brigou com o gato, mas eu não entendi nada.”
-“É perfeitamente compreensível.” – comentou o garoto, ao que Alice arregalou os olhos.
-“Você também é felinoglota?”
Foi a vez de Alexandre se surpreender.
-“Não!” – negou, sentando-se ao lado da amiga –“Érika me contou o que ele têm feito, só isso.”
-“Como assim? Eu não estou sabendo de nada...”
-“Alice, eu não quero lhe ofender nem acusar, mas você anda tão obcecada com o assunto ‘Nicole-Henry’ que conversar com você sobre qualquer outra coisa têm sido um pouco difícil.”
A garota abriu a boca para responder, mas as palavras não saíram. Durante algum tempo, os dois se entreolharam em silêncio, até que ela finalmente disse:
-“O que Esgaroth têm feito à Érika?”
-“Pressionado em relação aos estudos, à seu comportamento em sala... em suma, ‘enchido o saco’, se é que você entende o que eu quero dizer.”
O café-da-manhã agora estava servido, e o salão começava a se encher ao redor deles. Virando-se para a mesa, Alexandre pegou um pedaço de pão e começou a parti-lo em dois.
-“Ela está bastante estressada, não está?” – Alice perguntou, ainda olhando para a porta por onde a amiga saíra.
-“Uhum.” – fez Alex, com a boca cheia de pão.
Alice encarou o prato vazio à sua frente, completamente sem ação. Ela estava errada em ir atrás do que a preocupava? A idéia de esquecer Nicole, Henry e as conversas entreouvidas já havia passado por sua mente antes, mas não tivera tempo de ganhar a força necessária para se tornar uma ação. Apesar de todos os indícios contrários, a sensação de estar relacionada àquela história era muito forte. Seria loucura? Ou obsessão, conforme dissera Alexandre?
Levantando-se bruscamente, ela rumou para fora do salão.
-“Aonde vai?” – gritou-lhe o garoto.
-“Biblioteca!” – respondeu ela.
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