O Primeiro Confronto



O Primeiro Confronto

Os últimos dias de fevereiro passaram-se tranquilamente, porém com visitas mais intensas às salas de estudos e à biblioteca por parte de Alice, Érika, Alexandre e Carlos, já que as primeiras provas se aproximavam. Os treinos de quadribol de Érika se tornaram mais freqüentes e em seu tempo livre a menina geralmente era vista escrevendo em seu diário ou dormindo em cima dos livros de feitiços. Até mesmo Alice começava a cansar-se da forte rotina de estudos, e quando o fim de tarde era quente, lá estava ela caminhando de pés descalços pelos gramados da escola. O único que parecia incansável em seu propósito de obter as maiores notas possíveis era Alexandre, que não largava os livros por nada.


-“Vamos garotas, pela última vez, qual é o feitiço que destranca portas?” – perguntou ele, a uma desanimada Alice e a uma sonolenta Érika.


-“Alo-o-morra.” – murmurou Érika, em meio a um bocejo.


-“Alorromorra - corrigiu-lhe Alexandre.


-“Tanto faz!” – disse a menina – “Vamos sair daqui? Acho que já estudamos o suficiente por hoje.”


Alice não se deu ao trabalho de responder, juntou seus materiais e se levantou. Fazendo-se de surdas aos protestos de Alexandre, as garotas saíram da sala de estudos em grupo. Ainda reclamando que elas não teriam boas notas daquele jeito, o garoto as seguiu até os gramados, onde os três sentaram-se encostados na velha figueira que ficava ao lado dos estábulos.


Não estavam ali há muito tempo, quando avistaram alguém sair do casarão com uma águia empoleirada no braço.


-“Aquela não é Nicole James?” – perguntou Alexandre.


A garota prendeu um pedaço de pergaminho na pata da águia, que voou de seu braço em direção ao norte.


-“Acho que sim.” – disse Érika, apertando os olhos para ver a garota – “Mas ela está usando uma águia como correio?”


-“Isso não é normal?” – falou Alice, que não tinha muito conhecimento nem do mundo, nem dos costumes dos bruxos.


-“Até onde eu sei, não é nem um pouco normal.” – comentou Érika, trocando um olhar significativo com Alice.


-“Ela é realmente uma excêntrica.” – riu Alexandre, sem prestar tanta atenção ao ocorrido quanto as amigas.


 


*      *      *


 


-“A grande pergunta é: porque ela foi ao corujal, se ela tem uma águia para levar a correspondência?”  - cochichou Alice para Érika, no meio da aula dupla de Trato de Criaturas Mágicas do dia seguinte.


O professor d’Angelo estava mostrando à turma como alimentar pufosos. Algo realmente inútil na opinião da garota, a não ser para manter uma conversa sem ser entreouvida, já que a algazarra na sala era geral.


-“Você tem certeza de que ela estava no corujal naquela noite para despachar uma carta?”


-“Eu vi quando ela escondeu o envelope! Mas o que você sugere que ela estivesse indo fazer no corujal, se não era para enviar uma carta?”


-“Tentando nos ferrar, Alice!” – disse Érika, enquanto tentava fazer o seu pufoso parar quieto.


-“Como assim?” – questionou a outra, incrédula.


-“Veja bem, não foi ela quem atraiu o zelador para a nossa cola?”


-“Você está sugerindo que ela queria nos fazer pegar uma detenção?” – falou Alice, lançando um olhar de esgueira a Nicole James, que estava alimentando seu pufoso ao lado de Monfort.


-“Exatamente! Porque ela sabe que nós escutamos sua conversa com Henry no primeiro dia de aula.”


-“Mas Érika, ela também pegou uma detenção!”


-“Isso aconteceu porque o plano dela deu errado quando nós caímos naquele alçapão.”


-“Eu discordo. Pelo o que pude perceber, Nicole realmente queria despachar uma carta aquela noite, ou você não viu como ela ficou surpresa em nos encontrar? Além disso, como ela poderia saber que nós estávamos indo ao corujal naquela hora?” – objetou Alice.


-“Alguém deve ter contado!”


-“Quem poderia ter lhe contado, Érika?”


-“Um aluno qualquer, até mesmo um fantasma.”


-“Você está jogando verde!” – acusou Alice, rindo pelo nariz.


-“Pode ser, pode ser.” - disse a outra, enquanto empurrava um punhado de comida goela abaixo de seu pufoso, que teimava eu não engolir nada.


-“Muito bem, guardem os materiais e lavem bem as mãos antes de saírem para o almoço.” – disse o professor, ao que Érika e seu pufoso respiraram aliviados.


 Os alunos começaram a se levantar e arrumar suas coisas para saírem da sala. Sem muita demora, estavam todos no Salão Principal para o almoço.


Como haviam ficado para trás, conversando despreocupadamente, Alice Érika e Alexandre se depararam com o saguão apinhado de estudantes, todos tentando ler algo que estava pendurado no quadro de avisos.


-“O que está acontecendo?” – perguntou Alice a um colega de casa, Matheus Dantas.


-“Finalmente a tabela do campeonato de quadribol ficou pronta.” – respondeu Matheus.


-“Finalmente mesmo!” – exclamou Érika, enquanto tentava chegar mais perto do quadro para ver as datas dos jogos.


-“Te esperamos na mesa!” – gritou-lhe Alice, saindo com Alexandre e Matheus em direção ao Salão Principal.


-“Será que essa partida Esmeralda x Safira vai ser tão emocionante quanto todos estão comentando?” – perguntou Alice.


-“Você só pode estar brincando! Vai ser a partida do ano, já que Érika e Nicole são as apanhadoras mais rápidas que Amgis já viu.” – disse Matheus.


-“Elas podem ter vencido o Desafio das Doze, mas resta saber se elas têm habilidade em campo.” – argumentou Alexandre.


-“Bom, isso é verdade, mas ainda assim a partida vai ser ótima, eu posso garantir!” – disse Matheus, num tom de quem encerrava o assunto, enquanto os garotos sentavam-se na mesa de Safira.


Não demorou muito tempo para Érika aparecer, conversando com o capitão do time de sua casa, Álvaro Martins.


-“Vamos ter que explorar nossos batedores,” – dizia o garoto – “já que são muito mais experientes do que os batedores deles. O apanhador é um cara esperto, mas aposto minha vassoura que não é tão rápido quanto você.”


-“Quem são esses batedores?” – perguntou Érika.


-“Os dois entraram para o time esse ano, um deles é André Esteves, do quarto ano, e o outro é Carlos McLean, do segundo. O goleiro deles é novo também. Arthur Bryant, do terceiro ano.”


-“Eu conheço Carlos!”.


-“Sabe se ele joga bem?” – indagou Martins.


A garota negou com a cabeça, Alice resolveu entrar na conversa:


-“Qual vai ser o primeiro jogo do campeonato?”


Érika riu e acabou engasgada com o gole de suco que estava tomando, Martins resolveu responder por ela.


-“Vai ser Safira contra Rubi.”


Os olhos de Alice se arregalaram, assim como os de Alexandre. Naquele momento, dois grupos de corujas grandes e fortes entraram no salão, atraindo os olhares de todos. Cada grupo carregava um pacote fino e comprido. Um deles foi depositado à frente de Nicole James, o outro, diante de Érika Marinho. A tensão que se espalhou pelo salão era evidente em cada rosto, cada olhar voltado às garotas.


-“Abre logo!” – pediu Alexandre, incapaz de se conter.


Tremula, mas já com uma idéia bem clara do que se tratava, Érika levantou-se e começou a rasgar o pacote. Em instantes, uma vassoura nova e reluzente apareceu do meio do papel pardo.


-“ Uma ‘Switz 2000’!” – exclamou Álvaro Martins, quase babando em cima da vassoura.


-“É uma vassoura boa?” – perguntou Érika, quanto passava os dedos pelo cabo bem polido do objeto.


-“Se é uma vassoura boa?” – disse o capitão – “É uma das melhores do mundo!”


-“Como a conseguiu?” – falou Matheus, também impressionado.


-“Pedi para papai me mandar alguma vassoura da Suíça, que é onde ele está agora.” – explicou a garota.


-“Uma Firebolt!” – alguém gritou da mesa de Esmeralda, Nicole havia aberto seu pacote.


-“Isso vai ser realmente interessante,” – comentou Álvaro – “a melhor vassoura suíça contra a melhor vassoura inglesa.”


Por cima das cabeças dos colegas, Nicole e Érika encaravam-se de maneira desafiadora.


 


*      *      *


 


Após uma semana em que a escola inteira não parou de falar em quadribol, o primeiro dia de provas mudou não só os assuntos das conversas, mas também as atitudes dos habitantes de Amgis. Os alunos mais velhos andavam pelos corredores como se fossem zumbis, esbarrando em todos, exibindo grandes olheiras e recitando feitiços em voz baixa, como se fossem mantras.


Agradecendo por ainda não terem chegado nesse estágio, os alunos do segundo ano pareciam os mais tranqüilos. Como já conheciam o sistema avaliativo da escola, não se preocupavam tanto na véspera. Já os primeiranistas, inexperientes em tudo, revisavam matérias de última hora na mesa do café, perguntavam aos mais velhos – pela milésima vez – como eram mesmo as provas ou limitavam-se a comerem calados, com o olhar fixo no nada.


Para os alunos da primeira série, a prova de quinta-feira seria a de História da Magia Brasileira. Sendo assim, não foi difícil encontrar alunos revisando datas e fatos históricos uns com os outros pelos corredores, nas mesas das casas, ou até mesmo nas salas de prova, minutos antes da avaliação começar.


Ao receber a folha de pergaminho com as questões, Alice respirou aliviada – não havia nada ali que ela não soubesse responder. Olhou em direção a fila de estudantes do sexto ano, procurando Natália, quem ela sabia que também faria as provas na sala de Feitiços. A garota parecia concentrar-se ao máximo para responder as questões de sua prova, e Alice sentiu-se agradecida por estar apenas na primeira série.


Sentiu-se agradecida também por saber responder as questões sobre magia indígena primitiva, sobre como os primeiros escravos africanos usavam magia para se libertarem do cativeiro, libertar os escravos não-bruxos e esconderem seus quilombos nas florestas.


-“Apesar da magia africana usada para esconder os quilombos ter sido muito bem desenvolvida,” - escreveu – “também havia colonos portugueses bruxos, o que transformou a escravatura em uma quase-guerra mágica. No entanto, os bruxos foram os primeiros ‘brancos’ a se tornarem abolicionistas.”


O sinal trouxe certo alívio à maioria dos alunos, que entregaram suas provas com uma sensação tranqüilizante de ‘menos uma’.


 Sexta-feira foram as provas de Poções e Herbologia, onde os professores não se resignaram em cobrar o básico – o objetivo das avaliações parecia ser o de extrair o máximo possível sobre Ervas do Sol do cérebro dos primeiranistas. O final de semana correu quase todo na sala de estudos em grupo, onde Alice, Érika, Alexandre, Matheus e mais alguns colegas do primeiro ano revisavam sem parar nomes de feitiços para a prova de segunda-feira.


Foi um alívio para os garotos poderem sentar novamente debaixo da sombra refrescante da velha figueira, tento passado para trás todas as avaliações. Érika escrevia em seu diário mais frequentemente do que nunca, as conversas sobre quadribol voltaram a dominar os alunos e Alice começou a entender um pouco da paixão dos bruxos pelo esporte.


Com uma atmosfera de tensão no ar, o dia do primeiro jogo chegou. Era uma manhã de sábado clara e ensolarada, o vento não passava de uma suave brisa e não havia uma única nuvem no céu.


 Usando roupas com as cores de suas casas, os alunos de Rubi e Safira encheram a parte das arquibancadas reservadas a eles. Muitos outros de Ametista e Esmeralda também foram assistir ao jogo, mas a maioria não tomou partido. Sentada na parte de Rubi ao lado de Matheus Dantas, Alice observava os jogadores entrarem em campo. A menina estivera levemente indecisa, sem saber exatamente por quem torcer. Por fim decidiu que torcer por sua casa seria ‘mais correto’, ou talvez, apenas ‘menos errado’. O que ela não poderia evitar seria ficar feliz por Érika caso Safira ganhasse a partida. 


Os capitães dos dois times, Natália Silvério e Álvaro Martins apertaram-se as mãos. O professor Maia, juiz da partida, mandou que levantassem vôo. Por um momento, todos prenderam a respiração. Ao som do apito, as quatro bolas foram liberadas – a partida começou e com ela recomeçou a algazarra das torcidas.


-“Safira tem a posse da goles!” – anunciou o narrador da partida, um garoto negro de cabeça raspada, que estava no segundo ano da casa de Esmeralda – “São brilhantes os passes dos artilheiros do time azul! De fato, todos estão há três anos na equipe, já que os únicos jogadores novos são o goleiro, Jeremias Silva e a apanhadora, Érika Marinho. Como todos sabem, essa jovem loura é, junto com Nicole James, uma das grandes expectativas para o campeonato deste ano!”


Érika sentiu suas bochechas ficarem vermelhas. Mesmo voando a metros de distância dos espectadores, ela sabia que os olhos de todos estavam fixos nela.


-“E Álvaro Martins tem a posse da goles! Ele desvia de um balaço lançado por Carlos McLean - novidade no time de Rubi - avança pela esquerda e marca! Dez a zero para Safira!”


- Isso!- comemorou Érika, em pensamento. Voando de um lado para o outro, a garota esforçava-se para lembrar-se de seus treinos e das instruções do capitão. - Fique atenta para qualquer sinal do pomo! Preste atenção no que acontece ao seu redor, sem tirar os olhos do apanhador adversário!- eram mil coisas para fazer ao mesmo tempo.


-“E parece que o novo goleiro de Rubi, Arthur Bryant, não é páreo para os arremessos do experiente capitão de Safira!” – bradou o narrador, logo após o segundo gol de Martins.


Varias garotas vaiaram em protesto ao último comentário. Arthur Bryant era um garoto do terceiro ano muito bonito, que tinha várias fãs espalhadas pela escola.


- Concentre-se. Concentre-se. - repetia Érika para si mesma, quase como um mantra.


Do outro lado do estádio, ela via o apanhador de Rubi dar voltas ao redor do campo. Logo abaixo, a disputa pela goles estava acirrada.


-“Incrível! Carlos McLean acaba de acertar um balaço em Sarah Moraes, que deixou cair a goles! Pobre Sarah, essa deve ter doído.”


Para a alegria de Alice e do restante da torcida de Rubi, havia sido Natália quem apanhara a goles. Com grande habilidade, ela desviou de um balaço e evitou um encontrão de Álvaro, acelerando em direção as balizas.


-“A capitã do time de Rubi avança com a goles, perseguida de perto por um artilheiro de Safira.” – toda a torcida vermelha agora gritava, incentivando sua artilheira – “Natália acelera, fica cara-a-cara com o goleiro, arremessa.... e marca! Natália Silvério para a casa de Rubi!”


A comemoração do lado rubro das arquibancadas foi estrondosa.


- Preciso me apressar. - pensou Érika, enquanto corria os olhos pelo campo, em busca de qualquer sinal de um brilho dourado. Quando o time de Rubi conseguiu empatar a partida, ela o avistou, voando a meia altura da baliza esquerda do time adversário.


Aproveitando que estava mais perto do pomo que o apanhador adversário, Érika acelerou em direção ao ponto cor de ouro. Vendo seu gesto, o garoto de Rubi fez o mesmo, esforçando-se para imprimir cada vez mais velocidade à sua vassoura.


Foi uma corrida feroz. De repente, o estádio inteiro pareceu se dar conta de que o pomo havia finalmente sido avistado. As torcidas berravam, incentivando seus atletas. Os artilheiros pararam por um momento, até que se lembraram do que deveriam fazer e recomeçaram a disputa pela goles. O narrador da parida, porém, só falava da disputa pela bolinha dourada.


Érika estava cada vez mais próxima da baliza, mas o outro estava chegando perigosamente mais perto a cada metro. Mantendo a vantagem com dificuldade, a menina estendeu a mão à frente. Naquele instante, um balaço rebatido por André Esteves a acertou no ombro esquerdo, o que a fez desviar o rumo, perdendo a chance de alcançar o pomo. Por sorte, o apanhador de Rubi também se atrapalhou e o encerramento da partida foi adiado.


-“Safira marca novamente! Trinta a Vinte para o time azul. Parece que ainda teremos mais jogo pela frente!” – a voz imponente do garoto de Esmeralda ecoou pelo estádio.


Com o ombro latejando de dor pelo balaço, Érika ganhou altura novamente e voltou a procurar pelo pomo. No entanto, o apanhador de Rubi não se afastava mais dela, passando a vigiar todos os seus movimentos de perto.


- E agora, como vou apanhar o pomo com esse garoto fungando no meu cangote? – irritou-se ela.


-“Essa não!” – o berro do narrador juntamente com o ‘ui’ da torcida a fez voltar a realidade - “Natália foi acertada no estômago por um balaço muito bem, ou muito mal direcionado, lançado pelo time de Safira, que recupera a posse da goles. Álvaro avança novamente e marca seu terceiro gol na partida, quarenta a vinte para os azuizinhos!”


-“Eu não acredito que estamos perdendo!” – lamentou-se um garoto do sexto ano de Rubi, sentado logo à frente de Alice na arquibancada – “A última vez que eu me lembro de ter perdido para a Safira foi quando eu estava no segundo ano, antes da Natália entrar no time.”


-“Ela vai reverter o placar, você vai ver!” – afirmou a garota que estava ao lado do rapaz  – “Além disso, o Alves também não é nenhum otário quando se trata de capturar o pomo.”


Realmente, o apanhador do time de Rubi não era inexperiente, tampouco bobo. Aproveitando-se de que Érika se distraíra com mais um gol marcado por sua equipe, ele mergulhou atrás do pomo, que pairava a poucos metros do chão, próximo ao meio-campo.


-“E parece que Alves avistou o pomo! Sim, senhoras e senhores, prendam a respiração porque Pedro Alves está indo atrás do pomo!”


Érika demorou para perceber o movimento do adversário, mas ainda assim mergulhou atrás dele, imprimindo a maior velocidade que conseguiu com sua Switz 2000. O mergulho foi vertiginoso, a bolinha dourada estava voando ainda mais baixo do que da primeira vez que fora avistada. A garota sentia o vendo rugir em seus ouvidos, estava cada vez mais próxima de Pedro Alves.


Quando o alcançou, era tarde demais.


A garota recuperou-se do mergulho a tempo de ver o adversário erguer o pomo, vitorioso. A algazarra na torcida vermelha era geral.


-“Pedro Alves pegou o pomo! Placar final: Rubi: cento e setenta, Safira: cinqüenta.” – anunciou o narrador – “Parece que Érika Marinho não é mesmo tudo aquilo que se esperava!”


Enquanto o time vermelho se abraçava e comemorava com a torcida, os cabisbaixos jogadores de azul dirigiam-se ao vestiário.


-“Desculpe, gente.” – murmurou Érika aos outros, quando eles deixaram para trás o barulho ensurdecedor do estádio, entrando no túnel que levava aos vestiários.


-“Não se preocupe,” – tranqüilizou-a Álvaro – “não foi sua culpa.”


-“Foi sim!” – insistiu a garota – “Eu me distraí e não percebei que o Alves tinha visto o pomo.”


-“Você parece uma criança mimada! ‘Foi sim!’ Você diz, mas eu digo que não, pois o quadribol é um jogo de equipe, ou não é?” – disse Sarah Moraes, ao que o restante do time concordou com a cabeça – “Além disso, Pedro Alves está no quinto ano de Amgis, entrou no time quando estava no terceiro. Quer você queira, quer não, ele é muito mais experiente do que você.” – acrescentou ela, arrumando os longos cabelos ruivos.


Naquela altura, já haviam entrado no vestiário, onde Érika deixou-se cair em um dos bancos, totalmente sem ânimo. Os garotos, que compunham a maior parte do time, foram todos para o chuveiro, sem se preocuparem em gastar muito tempo com conversas.


-“Acredite em mim, eu sei o que está sentindo!” – continuou Sarah – “Ano passado, na minha primeira partida pelo time – sim, eu entrei para a equipe ano passado – eu perdi um gol feito. Resultado: 190 para nós, 190 para Ametista. E sim, fomos nós que pegamos o pomo.”


Érika sentiu seu queixo cair.


-“Não fique abalada por tão pouco!” – foram as últimas palavras da outra, antes de ir para o chuveiro.


Sentada no banco de madeira, escutando a água dos chuveiros cair, Érika pensava nas palavras dos companheiros. Não se sentia tão mal, mas ainda assim estava infeliz.


 


*      *      *


 


No estádio, Nicole e Henry cumprimentavam o narrador da partida.


-“Parabéns, Paulo.” – disse a garota – “Eu não sabia que você era um locutor tão bom.”


-“Digamos que já tenho alguma experiência no ramo, já que comecei ano passado. Experiência é tudo, você sabe.” – falou o rapaz, passando a mão pela cabeça raspada.


Os três deixaram o estádio para trás, enquanto os alunos de Rubi ainda comemoravam. Andaram alguns minutos pelos gramados da escola, calados, até que Henry decidiu quebrar o silêncio:


-“Recebeu nossa última mensagem?”


-“Se você se refere à última carta de Nicole, sim, eu a recebi.”


Monfort olhou para a garota, que não pareceu estar nem um pouco constrangida em não ter escrito em nome dos dois.


-“Mas você... hum, vai nos ajudar, não vai?” – disse Henry, relutando um pouco ao ver os olhos cor de nanquim do outro fitarem severamente os seus.


Àquela altura, tinham chegado a ala Sul do casarão, que estava completamente deserta, já que a maioria dos estudantes estava no interior da escola, almoçando. Um momento de tensão seguiu-se às últimas palavras de Henry, mas durou somente até que Paulo soltasse sua risada estrondosa.


-“Se eu vou lhes ajudar?” – seu olhar ia de Nicole para Henry, e deste novamente para a garota. Resolveu dirigir-se a ela. – “Você não é nada sem mim, não é mesmo?”


Nicole sorriu falsamente, não havia alegria nenhuma nela.


 


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