Xeque-mate!!!

Harry e Rony esperavam o ungüento finalmente ficar pronto. Hermione mexeu o caldeirão pacientemente enquanto os dois a observavam e conversavam baixinho. Ela reparou que eles estavam olhando demais para ela, então comentou:

- Se vocês tiverem algo a dizer, digam logo! Odeio ser a última a saber de tudo...

- Não é nada... Eu só queria te perguntar uma coisa... -Harry disse meio relutante.

- Então pergunte! Se eu não tiver uma boa resposta, procuro em algum livro e te digo logo pela manhã! -ela sorriu.

- "Há certas perguntas cujas respostas não se encontram em livros..." já dizia Dumbledore...

- Ah... Tudo bem! -ela franziu a testa. -Pergunte assim mesmo...

- Bem... o que há entre você e o Krum? -Hermione parou de mexer o caldeirão e fez uma cara de surpresa, então ele continuou. -Quer dizer, nós reparamos que você anda escrevendo muito para ele ultimamente... então... é sério?

- Eu... eu... -ela tomou fôlego, baixou os olhos e voltou a mexer o caldeirão. -Bem, eu gosto dele... porque é mais velho, viaja o mundo todo, sempre tem muita coisa interessante pra contar... E também sabe sobre o que acontece no mundo lá fora! E sempre lê o profeta diário... É bom ter com quem conversar de vez em quando... -ela estava vermelha, nunca esperava que Harry lhe fizesse essa pergunta.

Harry sorriu satisfeito, então propôs ao amigo mais uma partida de xadrez.

- Agora não, gente! Eu já estou terminando o ungüento...

Eles se entreolharam e aceitaram resignados, já que a amiga havia se esforçado tanto para fazer aquele preparado. Ela pegou o pedaço de carne fedorenta e continuou sua explicação:

- Por último, a gente deve colocar o pedaço de fígado numa atadura... e depois passar a mistura viscosa sobre a carne... e ver o que acontece... -assim que ela passou aquela mistura o fígado murchou, soltando um líquido esverdeado e um odor agradável de remédio. Ela sorriu satisfeita com o resultado e disse. -Agora, me dê o seu ombro!

- Não! Eu não vou colocar isso aqui! -ele segurava o ombro dolorido.

- Ah! Não seja manhoso, garoto! Parece uma menina falando! Ande logo, me dê o seu ombro...

- Vamos Rony, Hermione está certa! -ele sorriu e continuou. -Você não quer que o pessoal da escola fique sabendo que além de aranhas, você tem nojo de um ungüento inofensivo!?! Pense bem, ao menos tem um cheiro agradável!

- Ah... Tudo bem... -ele tirou novamente o suéter e a camisa. -É o único jeito do meu ombro ficar bom, não é? E você fez tudo isso com tanto esmero, Mione... -ele sorriu e cedeu às interpelações dos amigos.

Hermione foi chegando perto dele meio sem jeito, se agachou ao lado da poltrona e então pegou a atadura pelas pontas, mirou bem e tacou com força o preparado no ombro do menino, que urrou de dor.

- AI!!! Ta muito quente!!! Pelas barbas de Merlin, tira isso daí! -ele gritava tentando se desvencilhar, mas ela segurava firme, tentando enrolar a atadura em volta do braço dele.

- Não deve ser tão ruim assim! -disse ela finalmente amarrando a atadura bem firme. -Você vai me agradecer amanhã...

O líquido esverdeado começou a ser sugado pelo ombro, e ele fez cara de nojo misturado com medo, então ele virou o rosto em outra direção e disse com voz trêmula:

- Eu não quero nem ver! Estou sentindo esse líquido entrando em minha pele, minhas veias... Está... está... está passando! -ele olhou para o ombro, apertou o ungüento mais firmemente e falou aliviado. -Está melhorando! Nossa, surpreendente! Obrigado, Mione! Você é ótima!!!

Ele puxou a menina e deu um beijo rápido e inesperado na bochecha dela, que a fez corar. Depois de vestir sua camisa de novo com cuidado pra não tirar o curativo do lugar, ele disse:

- Estou tão bem que, pra mostrar a você como estou agradecido, vou te dar uma canja no xadrez de bruxo! Pode começar com uma vantagem de três movimentos! -ele sorriu amistoso.

- Agora não, Rony. Estou muito cansada e tenho que ir dormir... Amanhã é domingo e eu tenho que acordar cedo para resolver uns assuntos.

- Sei... assuntos... num domingo de manhã... -ele desdenhou da menina.

- Sim, assuntos! Assuntos de meu interesse! -ela retrucou na ofensiva.

- Olha, Mione, se não quiser jogar, eu entendo! Talvez você precise de algum tempo pra treinar...

- Eu não preciso de tempo pra treinar... Eu sei jogar!

- Sei... não duvido disso! Só acho que você não devia ficar tão apavorada, sabe, é só um jogo! -ele falou com voz mansa, porém provocativa.

- Não estou apavorada! Eu sei jogar... Aliás, prepare o tabuleiro que eu vou jogar agora mesmo!!!

- Não quero te forçar a nada, entende? Nós não precisamos jogar agora, se você está com tanto sono... É preciso estar atento ao jogo, sabe? -ele piscou.

- Argh!!! Eu estou atenta a tudo! Aliás, perdi o sono! Poderia passar a madrugada inteira jogando! -ela estava ficando vermelha de raiva.

- Não quero que você jogue alterada, sabe? Medo e raiva desestabilizam o jogador...

- Eu não... -Hermione parou por um momento, fechou os olhos, respirou fundo, e continuou dizendo, no seu tom cético habitual. -Acho que agora é você quem está amarelando... -e ela olhou fixamente para Rony.

- Não estou não... Só queria me certificar que minha oponente estaria à altura do desafio... -e ele sorriu com desdém novamente. -Mas já que você insiste tanto assim, acho que nós devemos começar logo o jogo...

Rony estava diferente hoje, mais ousado e irônico que o habitual. Harry não achava que fosse ele mesmo desafiando Hermione, já que ele sempre acatava tudo o que ela dizia para se livrar das discussões o mais rápido possível. Hermione também estava estranha, normalmente ela levaria os comentários de Rony numa boa, sem muito alarde, na verdade Harry achava que ela nunca levara o amigo muito a sério. Mas hoje não, estavam levando tudo á ferro e fogo, competindo a cada frase. Finalmente os dois pararam de discutir e resolveram jogar de verdade. Rony insistiu que Hermione deveria começar com alguma vantagem, mas ela disse que se era pra perder, que perdesse com honra.

Harry gostou da partida no começo, mas logo percebeu que eles estavam levando o jogo muito a sério. A cada peça perdida, uma injúria era desferida, ou uma frase atravessada, como um golpe certeiro para afundar ainda mais o adversário. "Se eu estiver jogando muito pesado, me avisa que eu pego leve com você... Sabe, não quero assusta-la de começo!" Rony disse após comer três soldados seguidos. "Acho que a sorte está do meu lado agora..." disse Mione, quando comeu o cavalo preto dele. "Às vezes é preciso algo mais do que sorte para vencer o jogo..." Rony retrucou ao comer o bispo branco. "Eu não sou ótima?" disse ela quando tirou um bispo e o outro cavalo de jogo. "Você é convencida... Deixa o jogo lhe subir a cabeça..." Rony rebateu quando comeu mais três peças. "E você está em maus lençóis..." Hermione disse quando após uma jogada de mestre, abateu a rainha e duas torres pretas. "Xeque-Mate!!!" ela completou na jogada seguinte, com um tom de profunda satisfação na voz. Rony ficou pasmo quando, com cerca de meia hora de jogo, finalmente perdeu.

Hermione venceu e estava tão feliz que soltou gritinhos de alegria e pulou no pescoço de Harry, quase asfixiando o garoto. A monitora desceu e veio ver o que era aquela festa, mas quando hermione disse que havia ganhado de Rony, ela cumprimentou a garota pelo feito e subiu às escadas de volta para o seu quarto.

- Controle-se, Hermione! É só um jogo...

- Não é só um jogo, é o seu jogo! E você perdeu!!!

- Sorte de iniciante... Quero ver da próxima vez...

- Tudo bem, quer uma revanche, te dou uma revanche!

- Certo... Vamos ver quem vai ganhar agora!


Novamente eles travaram uma batalha, desta vez mais rápida que a outra. Harry observava tudo de longe, da janela da torre. Estava sentado lá, sentido o cheiro da terra molhada, observando as nuvens se dissiparem, quando Rony soltou um "viva" e veio comemorar com o amigo:

- Você viu aquilo? Eu ganhei! E em tempo recorde...

-Recorde? Pelo que eu saiba o seu recorde foi contra mim,. Lembra-se? Oito minutos de jogo e você me venceu com um "belíssimo" xeque-mate?

- Ah, é... Bem, eu ganhei mesmo assim...

Enquanto Rony comemorava, Bichento ia consolar sua dona que ainda tentava entender onde estava o erro na sua jogada. Harry se aproximou dela e se sentou no braço da sua poltrona, tentando consolar a amiga que agora estava um pouco desanimada.

- Você está tão aéreo hoje, Harry... -Hermione disse enquanto acariciava seu gato que dormia em seu colo.

- Eu? Aéreo? -ele torceu o nariz.

- É... sei lá, meio distante...

- Preocupado eu diria... Há tanta coisa acontecendo lá fora...

- Eu entendo...

- Mas acho que vocês dois é que estão estranhos hoje! Parece que estão em pé de guerra... um diz uma coisa, o outro retruca! Parecem duas crianças... Credo...

- Hum... estou um pouco irritada hoje...

- Por quê? -ele ficou intrigado, pois ela dificilmente deixava alguma emoção transpassar seu jeito sério e comedido.

- Ah... Você não entenderia... Sabe, sou mulher e há certas coisas acontecem que me deixam irritada... -ela corou.

- Aha! Eu sabia! -Rony disse exaltado, ainda feliz com a vitória.

- Sabia o quê? -ela perguntou curiosa.

- Ah, deixa disso! Eu moro com mulheres, entende? Vivo em contato com o universo feminino... -e ele sorriu meio bobo.

- Como assim? -perguntou Harry, agora mais interessado que Hermione.

- Ah... isso não é segredo pra ninguém... -Rony se sentou na poltrona, espreguiçando-se caprichoso, depois olhou para eles com cara de que como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo e completou. -Oras, cara! Ela está naqueles dias...

Hermione corou, assumindo não só tons avermelhados como roxo, verde, azul e violeta. Num primeiro momento ficou atônita, tentando absorver o que o garoto disse, depois retrucou muito aborrecida:

- Você perdeu todo o senso de educação? Quem você pensa que é pra falar assim comigo? Onde já se viu ficar falando dessas coisas desse jeito!!! Que falta de respeito!!! -Hermione estava falando muito alto.

- Ah, mas me diga se não é verdade: é ou não é? -ele sorriu provocando-a.

- Não é do seu interesse! -vociferou.

- Calma gente... -disse Harry, sendo ignorado imediatamente pelos dois.

- Não fique assim, Mione, isso é normal! Aliás, é a ordem natural das coisas... É como perder pra mim no xadrez, uma hora acontece!

- Argh! Você parece aqueles adolescentes descontrolados da sua idade!!! Que ódio! Você é tão imaturo que me estressa!!! Não é à toa que não consigo ficar um minuto ao seu lado sem pensar em mil e umas maneiras divertidas de torcer o seu pescoço! Você é um estorvo!

- Como se sua companhia fosse tão agradável! -ele retrucou ficando vermelho.

- O seu problema é que você morre de inveja de mim!

- Inveja de você? Impossível! -ele fechou a cara.

- É inveja sim! ...E ciúmes!!! -ela sorriu com desdém, colocando as duas mãos sobre a mesa, fazendo o tabuleiro cair. Ela o encarava firmemente.

- Cala a boca, Hermione! Eu não sinto ciúmes de você! Nunca senti!!!

Ele se posicionou como ela, com as duas mãos na beirada da pequena mesa, cara a cara com a garota. Ele conseguia sentir a respiração acelerada de Hermione, que estava com muita raiva. Rony também estava alterado, pois sempre que estava perto dela seu sangue fervia. "Vamos com calma, gente!" dizia Harry ao fundo, sem ser ouvido novamente. Ele estava preocupado com os amigos, mas estes faziam de conta que Harry nem estava ali.

- Aha! Agora entendo porque você sempre me perseguia e me recriminava quando escrevia para o Krum!

- Cala a boca! Eu não tenho ciúmes! Existem garotas muito mais bonitas que você por ai! E elas vivem por perto de nós!!!

- Não, elas vivem por perto de Harry! Você está sempre em segundo plano! -ela queria magoá-lo e ele ainda não entendia o porquê.

- Mione, agora você pegou pesado... -Harry tentou mais uma vez.

- Ah sim, agora falou a expert em relacionamentos! Eu posso não ter muitos amigos e namoradas, mas não me escondo atrás de um relacionamento impossível!

- Não fale assim de Krum! Ele é muito melhor que você...

- Não adianta nada ele ser melhor que eu, se você quer a mim... -Rony em tom ameaçador quase sussurrou isso para a amiga, e esta ficou abalada.

- Querer você?!? Isso é ridículo! Eu te aceito porque você também é amigo de Harry, porque no fundo você me incomoda! -e ela baixou o tom de voz e sorriu irônica. -Você está sempre no meu caminho pra me... me... Me atrapalhar!!!

- Cala a boca Hermione! Ou não responde pelos meus atos... -ele agora estava muito vermelho.

- Há! Você nunca respondeu pelos seus atos! Sempre agindo como um bobo, cometendo erros... Eu sempre tinha que te corrigir... Tentava te ajudar por piedade...

- Piedade? Acredito em você... Como diria Harry, "já está na hora de você aprender a dar nome às coisas", mocinha!

- O que mais eu poderia sentir de um garoto como você! Não perco meu tempo com garotos bobos e sem graça! Houve um tempo em que você me fazia rir... mas hoje, nem isso!!! -e ela era cada vez mais agressiva, como se quisesse exorcizar alguma coisa que guardava dentro de si há muito tempo.

- Cala a boca, Hermione! Ou então eu te faço calar!!! -Rony parecia muito ameaçador, fora de si e sem controle

- Não me mande calar a boca! Isto está atravessado na minha garganta desde o primeiro momento em que te vi! Sempre me olhando de canto de olho, observando cada passo... Como se eu fosse uma idiota! Sempre em segundo plano... Mas eu me esforçava, buscava respostas pra tudo!!! Eu era a melhor! Talvez assim... assim... -ela fez uma pausa, enxugando discretamente algumas lágrimas que insistiam em cair pelo seu rosto. Depois baixou o tom e continuou. -Mas há mesmo certas perguntas cujas respostas não encontramos em livros...

- Cala a boca, Mione... -ele sussurrou comovido.

Hermione fechou os olhos tentando se recompor. "Há algo errado dentro de mim... Fora do lugar... Falar disso dói!" pensou. Já havia discutido demais por uma noite. Rony levantou a mão, depois hesitou. Harry fez que ia impedir o amigo, mas era tarde. Rony tomou a coragem pela qual havia esperado por muito tempo, desde quando descobriu que se aquela garota não fosse sua, não queria que fosse de mais ninguém. Então levou a mão até o queixo de Hermione, e com um leve movimento a fez levantar o rosto. Enxugou uma lágrima ainda quente, e deslizou a mão de seus olhos para a sua bochecha vermelha.

Então segurou o rosto dela com as duas mãos, olhou no fundo de seus olhos e foi chegando mais perto. Sentia o calor da sua respiração, então encostou seus lábios nos delas gentilmente, dando um incrivelmente irresistível beijo, que apesar de ser inicialmente rápido, para ele, que havia esperado por isso há tanto tempo, lhe pareceu que se passou uma eternidade.

Hermione fechou os olhos novamente, numa tentativa de se segurar pra sua razão não falar mais alto e perder por fim aquela mão tão macia e aconchegante que tentava consola-la. Seus lábios, que até agora só haviam lhe proferido injúrias, agora eram quentes e macios, e proporcionavam a ela o beijo mais singelo e o abraço mais acolhedor. Sua cabeça rodava e ela sentiu que perdera o chão. Mas isso não importava, pois Rony a abraçava com força, estava segura.

Ela havia encontrado por fim a resposta para a pergunta que tanto a incomodava: "O que havia de tão errado nela, ou nele, que eles nunca conseguiram se entender direito..." No final, as meias verdades e meias mentiras que contava para si mesma não eram suficientes para calar aquele sentimento tão puro e ingênuo que ela tentava esconder. Agora Rony entendia o que Harry queria dizer: era preciso dar nome às coisas.

Harry se sentia profundamente feliz com aquilo: finalmente algo de bom acontecera, algo que ele também estivera esperando, algo que aqueceu seu coração novamente. "Talvez valha a pena lutar por algo melhor... Cortar o mal pela raiz... Talvez o mundo ainda tenha jeito... E um dia eu seja feliz como eles... Talvez eu consiga achar alguém pra amar depois que tudo isso tiver acabado... E juntos poderemos acabar com o medo que ronda nossas almas... Medo de ser feliz, medo se machucar... Medo de viver de verdade uma vida por inteiro..." ele se pegou indagando à cerca de um futuro melhor. Harry, que havia amadurecido muito nesses últimos tempos e sofrido demais com as intermináveis e sofridas perdas, sorriu mais uma vez, então fez meia volta e ia subir para seus aposentos quando percebeu que havia alguém na espreita.

"...E nas escadas da torre da Grifinória, dezenas de alunos comovidos observavam em silêncio o primeiro beijo de Hermione."




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Espero que vocês não achem o final muito meloso... :D Espero também que vocês tenham se divertido um pouco com as colocações um tanto quanto incovinientes de Rony, com a distância de Harry e o jeito explosivo de Hermione, pois quando esta menina se solta, sai de baixo!!!

Quanto ao beijo final (Que vergonha!!! XD), acho que ficou bonitinho e meloso, mas acho que o primeiro beijo tem que ser assim, senão não vale à pena, né gente?

Agradeço à todos que leram a minha fic e desejo do fundo do meu coração não ter decepcionado ninguém! Um beijo grande e até mais! :D

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