No Salão Comunal da Grifinória

...Harry e Rony finalmente voltaram do treino, ensopados da chuva que caia lá fora. Angelina não estava dando trégua desde o último jogo contra a Corvinal, onde eles tiveram um desempenho péssimo. Harry teve de salvar o jogo pegando o pomo após um incrível gol da artilheira do time, e pondo fim a uma interminável tortura que resultou em 180X100 para a Grifinória. Desde então ela convocava treinos dia sim, dia não, nos finais de semana, sob sol quente ou chuva forte, e hoje não havia sido diferente.

Após um bom banho quente para se recompor, os amigos se encontraram no Salão Comunal para terminar as muitas tarefas pendentes, que estavam atrasadas devido aos intermináveis e imprevisíveis treinos. O próximo jogo seria contra a Sonserina, um oponente à altura, e eles sabiam que a capitã do time não estava preocupada à toa. No entanto, Snape não facilitava a vida de Harry, que havia conseguido uma nota extraordinária em sua matéria, o que havia deixado o professor extremamente aborrecido.

Nos últimos dias, o professor de poções havia duplicado o número de tarefas e pediu que seus alunos escrevessem quatro mil palavras explicando os diversos usos da pele seca de Ararambóia, uma cobra de origem amazônica, com uma lista de poções nas quais este ingrediente era usado, explicando qual a sua função em cada uma delas. Hermione, que havia conseguido um "Excede as Expectativas", já havia terminado tudo e escrevia freneticamente a segunda folha de pergaminho quando os dois se sentaram em confortáveis poltronas em frente à lareira.

- Que dia! -exclamou Harry. -Angelina não poderia ter sido mais dura conosco nem que quisesse...

- Não quero nem lembrar... Ela ainda me criticou quando o balaço acertou meu ombro! Como se a minha função fosse me preocupar os balaços! -disse Rony, massageando o ombro esquerdo. -Como eu poderia fazer grandes defesas com o braço deste jeito?

- Não seria melhor se você fosse até a enfermaria para Madame Pomfrey dar uma boa olhada nisso? Não queremos que seu braço piore até amanhã!

- Ele vai ficar bom logo, não se preocupe... -falou tentando disfarçar sua preocupação. -O que me importa agora é esse relatório sobre transfiguração! Acabei dormindo na última aula! Sorte que profa. McGonnagal está um tanto quanto condescendente conosco ultimamente!

- Ela também quer a taça, não seria boba de fazer nada com o goleiro do time! -Harry riu, acompanhado do amigo.

Hermione, que ouvia tudo atentamente de uma poltrona que ficava ao fundo do salão, finalmente se pronunciou.

- Vocês não deviam falar assim de McGonnagal, já que ela é tão boa para vocês! -ela franziu a testa e continuou escrevendo.

- Sem mais lições de moral por hoje, por favor! -disse Rony, referindo-se à capitã mais linha dura de Hogwarts.

- Não é lição de moral, não. Só quero ajudar...

- Se quer mesmo ajudar Mione, nos dê as suas lições e anotações que com certeza já estão prontas! -disse Harry em tom irônico, tentando apoiar o amigo. -Aposto que Snape não ira notar se eu copiar algumas palavras da sua dissertação!

- Provavelmente não, já que ela possui nada menos que cinco mil seiscentas e trinta e nove palavras! Eu mesma contei duas vezes... -disse ela se gabando da sua proeza.

Snape não gostava de sangues-ruins, mas ele tinha que dar o braço a torcer para Hermione, que sempre superava as expectativas do professor e mostrava ser a melhor aluna em muitos anos. Ele tinha uma certa afeição à garota, e demonstrava isso da pior maneira possível quando propunha desafios à turma, e é claro que ela era a única que sempre resolvia tudo com perfeição.

- Se vocês não ficassem perdendo tempo com esse joguinho idiota, teriam tempo suficiente para fazer todas as lições! -ela continuou sem erguer os olhos do pergaminho que estava revisando agora. -Isso nunca levou ninguém a lugar algum...

- Nem todos pensam como você, Mione! -Harry parecia aborrecido com o comentário da amiga.

- Pelo que eu saiba, o seu Victor adorava perder tempo com isso! -Rony tomou cuidado para enfatizar bem o "seu" na frase. -Se eu não me engano, acho até que ele vive disso... jogando na liga oficial... -falou com desdém.

- Mas pelo menos ele é bom no que faz e ganha muito bem para isso! Não é como uns e outros que deixam a própria casa levar dez gols em um único jogo...

Rony ficou vermelho com o comentário da amiga e resolveu se calar, pois já havia tido problemas suficientes por hoje. No entanto ela não se deu por satisfeita: levantou-se de sua confortável poltrona e foi ver o que os dois estavam fazendo. Ela andou meio sorrateiramente, e parou no meio dos dois, apoiada sobre a mesinha que ficava entre as poltronas deles. Primeiro ela colocou a mão sobre o encosto da poltrona de Harry e começou a ler atentamente o que amigo escrevia, então bufou e balançou a cabeça em sinal de reprovação.

- Diga Mione... O que foi que eu fiz de errado desta vez?

- Olhe só pra isso Harry! Você está louco? Desde quando ararambóia é utilizado em poções estimulantes? Se continuar deste jeito, não vou achar estranho se por acaso receber nos seus NIEM's um "Troll" em poções!

- Oras, por que ao invés de me criticar, não me mostra as suas anotações?

- O que é ararambóia? -perguntou Rony interrompendo a discussão.

- É uma cobra... A gente usa a pele dela para poções. - disse Harry.

- Acho que isso não vai ajudar muito nessa lição! -Mione riu.

- Sorte que não passei nessa matéria... -ele ponderou. -Harry, se é uma cobra, por que você não pergunta logo à ela o que há de tão especial na sua pele? -Rony tentou descontrair os amigos.

- É... acho que vou aparatar lá na Amazônia e caçar uma ararambóia para dar o seu depoimento, já que nossa amiga aqui ao lado, que se diz tão inteligente, não está com vontade de colaborar... -Harry disse em tom desafiador.

- Eu não preciso provar nada pra vocês! -ela sorriu com confiança.

- Não... Imagina! Nós sabemos que você é muito boa no que faz, mesmo não vendo o que você escreve ai... -Harry falou arrastado para provocar a menina.

- É verdade... sabe-se lá o que ela tanto escreve... Pra que uma menina tão inteligente precisa de tantos livros? Quer dizer, não que estejamos te acusando de plágio... -Rony disse piscando apara o amigo discretamente.

- Plágio! -Hermione arregalou os olhos. -Eu não preciso plagiar ninguém! Tenho minhas próprias idéias!

- Claro... apesar de nunca tê-las visto... Mas, como somos seus amigos, nós acreditamos em você!

- Oh! Tudo bem... Estou comovida!

Hermione, meio a contragosto, cedeu por fim ao pedido aflito de Harry, que estava deixando ela sem jeito com tantas acusações. "Plágio! Vocês vão ver o que é plágio!" pensou irritada enquanto ia até a sua mesinha e pegava suas anotações sobre poções e transfiguração. Os dois comemoravam em silêncio nas suas poltronas enquanto ela voltava para perto deles.

- Aqui está... mas não se acostumem! Só fiz isso porque também quero que a Taça de Quadribol fique com a Grifinória... mas é pelo bem da casa! Afinal, eu não me interesso nem um pouco sobre essas coisas...

- Sei... -Rony riu. -E é por isso que você namora um jogador profissional...

- Eu não namoro ele... - ela retrucou baixinho. -Mas pare de conversar e me deixe ver o que você está escrevendo ai, Rony...

Ela repousou o braço sobre o encosto do garoto, encostando sua mão no cabelo dele sem querer, fazendo ele se afundar um pouco na poltrona. Mione fez que não se importou e se abaixou mais para ver o que Rony queria dizer com aqueles garranchos, então colocou a mão disponível sobre o ombro esquerdo dele, que imediatamente fez com que ele gemesse de dor.

- Desculpe-me! -disse ela tirando a mão imediatamente. -Não sabia que estava doendo tanto...

- Não é nada... -ele recolheu o braço e ficou a massagear a região dolorida.

- É sim! Deixe de ser teimoso! Tire seu suéter para que eu possa dar uma olhada...

Rony torceu o nariz, meio desconfiado. "A Hermione anda muito estranha ultimamente..." pensou. Olhou para o amigo que parecia apoiar a decisão de Hermione.

- Vamos lá Rony. Não há ninguém mais competente que ela aqui para ver se isso é realmente sério! -Rony hesitou, então Harry continuou argumentando. -Você não quer dar outro vexame no próximo jogo contra a Sonserina por causa de um braço machucado, não é mesmo?

- Tudo bem... se não tem outro jeito...

Rony tirou o suéter e desabotoou os primeiros botões da camisa para que sua amiga pudesse ver o seu ombro dolorido. Ela corou e fez uma cara de espanto quando pegou o ombro do amigo, que estava inchado e com uma imensa mancha roxa em forma de bola. Então novamente fez aquela cara séria e compenetrada de sempre e continuou examinando o braço forte do rapaz por mais algum tempo.

- Você até que é fortinho para um goleiro... -ela sorriu meio sem graça e continuou. -É só pra descontrair, viu...

- E ai, já chegou a alguma conclusão? -Harry parecia muito mais preocupado com o amigo que ele próprio.

- É... acho que alguém aqui deveria fazer uma visitinha à Madame Pomfrey!

- Não posso! Não tenho tempo agora... -disse ele já vestindo o seu suéter castanho.

- Mas é rápido! Nós só precisamos descer, pegar algum remédio com a enfermeira e logo estaremos de volta! -Mione parecia já ter feito o caminho mentalmente.

- Não... Amanhã eu faço isso... -e ele olhou pensativo para os seus pergaminhos, mas não parecia estar lendo coisa alguma.

- Se ao menos eu tivesse os ingredientes certos, poderia fazer um ungüento que é tiro e queda para contusões...

- O que é isso? -Rony perguntou, imaginando algo terrível, ou ao menos nojento.

- Ungüento? É um preparado que a gente coloca na região dolorida. Muito me admira que sua mãe nunca tenha feito isso pra você...

- Ah! Sei o que é! Mamãe teve de fazer isso para os gêmeos certa vez... Eu me lembro que eles explodiram por acidente um monte de bombas de bosta que estavam no bolso da veste deles! Foi tão engraçado!!!

- Então, Mione, por que você não faz isso enquanto terminamos estes montes de deveres? -Harry parecia decidido.

- Mas eu tenho que ir na enfermaria! É longe demais... e está tarde!

- Ah, Mione! Por favor... -implorou o amigo com doçura.

- Mas eu vou sozinha? Sozinha pelos corredores do castelo a essa hora da noite?

- Pegue o mapa do maroto e a minha capa de invisibilidade!

- Tudo bem então... se não tem outro jeito...

Harry subiu até os seus aposentos, enquanto isso Hermione se sentou em sua poltrona e olhava distraída para Rony. "O que foi, Mione?" ele resmungou, fazendo a garota corar. Ela ensaiava mentalmente alguma resposta quando Harry apareceu novamente no salão com a capa e o mapa nas mãos dizendo:

- Vamos logo, Mione!!! -ele ajudou a menina a se levantar do sofá.

- Tudo bem, deixe-me pegar umas coisinhas então...

Hermione foi até a sua mesa num canto do salão, tirou da bolsa um enorme livro, que tinha como título "Mil Ervas e Fungos", e colocou no meio as folhas de pergaminho que havia escrito para o seu tão querido amigo e se dirigiu até a porta.

- Krum pode esperar até amanhã, viu?

- Como?

Hermione fez de conta que não entendeu o que Rony quis dizer com aquilo, mas como ele se calou, ela retrucou, agora um pouco agressiva.

- E você acha que eu vou deixar minhas cartas largadas por ai para qualquer um ler?

- Nós não somos "qualquer um"! -ele parecia emburrado. -E mesmo que você me implorasse, eu nunca iria ler qualquer coisa que você escrevesse para ele...

- Chega, gente! É o ombro de Rony que não pode esperar... -Harry ponderou, colocando a mão sobre as mãos delicadas de Hermione, que acatou o que ele disse.

- Olha, só não desisto de você porque Harry é muito nosso amigo! Senão, nem cogitaria a idéia de ter de ajuda-lo! -e ela fez meia volta e saiu pelo buraco do retrato.

- Você não devia trata-la assim, Rony... -disse Harry voltando a se sentar na sua confortável poltrona.

- Eu sei... mas é que às vezes... -ele abaixou os olhos. -Às vezes meu sangue ferve perto dela... Parece que eu vou explodir!!!

- Isso só pode significar uma coisa... -Harry riu e Rony olhou para seu amigo fixamente, que então continuou. -Que tem alguma coisa nela, ou em você, que te incomoda tanto... E já está na hora de você aprender a dar nome às coisas...

Rony ficou pensativo por alguns instantes. "Dar nome às coisas? Que coisas?" ele pensou consigo mesmo, demorou um tempo até que voltou a fazer os deveres. Enquanto isso, Hermione seguia sorrateira pelos corredores do castelo em direção à enfermaria.




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"Espero que vocês tenham gostado do primeiro capítulo. Por favor, comentem, pessoal!!!"

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