VERÃO
– Verão –
As nuvens pesadas de chuva anunciavam um triste dia pela frente, mas o bom sinal era que o implacável sol havia sido escondido. A Rua dos Alfeneiros, com suas perfeitas e quadradas casas, arrumadas milimetricamente, e pintadas com esmero sem igual, estava nublada, a chuva já esperada.
A Rua dos Alfeneiros era o típico lugar comum em que nada de estranho acontece, além de por vezes a filha da vizinha arranjar um namorado roqueiro. Mas ali, justo naquela rua tão sem graça, uma das coisas mais estranhas aconteceram.
A porta do Nº 4 se abriu naquela manhã, e um garoto magricelo, de cabelos negros muito arrepiados e lindos olhos verdes saiu da casa, carregando um pincel e uma lata de tinta.
O garoto se chamava Harry Potter, e fazia anos que algo tão estranho como ele não surgia naquela rua. Harry usava roupas velhas do primo, duas vezes maior que ele, seus pais estavam mortos e ele morava com os tios, além do mais ele odiava as férias de verão, e preferia voltar para a escola o mais rápido possível. Mas isso não era o mais estranho.
Harry Potter era um Vampiro.
– Moleque! – Bradou a tia, espiando pela janela da sala. – Pinte isso logo, que as visitas já vão chegar.
Harry pensou em dizer “Elas não vão chegar já, são oito da manhã, eles só jaó chegar em doze horas!” mas apenas assentiu. Ele apanhou o pincel e o mergulhou na tinta, para começar o lento e penoso processo de pintar a cerca de madeira dos Dursley.
As horas passaram, e Harry ficou com calor, tirando a camisa. Ele exibia um físico forte para a sua idade, e em muitos pontos ele já mostrava músculos futuros. Harry ajeitou os óculos redondos no nariz, e mergulhou o pincel na tinta novamente, quando seu primo surgiu.
Duda Dursley era um tipo de garoto que podia ser chamado de “filhinho de papai idiota”. O garoto gordo e mal educado não pensava duas vezes antes de bater em alguém, ou quebrar alguma coisa, mas seus pais o mimavam até os ossos, fechando os olhos para os problemas do filho. Tio Válter e Tia Petúnia receberam cartas da escola de Duda, listando todos os problemas do garoto, e conseguiram arranjar uma desculpa para cada uma delas, desde “incompreendido” até mesmo “muito ativo”.
– E então, aberração? – Provocou o garoto, dando uma lambida em um sorvete de quase trinta centímetros de altura. – Ainda não foi preso por ser um monstro?
Harry evitou qualquer fala sarcástica, além de evitar pular no pescoço do primo. Apenas segurou o pincel com tanta força que o sentiu rachar.
– Não, ainda não fui preso – Sorriu ele. – Quem sabe amanhã?
Duda deu um passo para trás.
– O quê você está fazendo? – Perguntou o garoto, com um sorrisinho malicioso.
Harry não agüentou.
– Esperando a minha próxima vítima!
O primo arregalou os olhos. Harry batera em um ponto fraco. O garoto saiu correndo, derrubando o sorvete no processo. O moreno olhou o lugar onde o garoto estava e deu de ombros, voltando à pintar a cerca.
Horas depois que ele terminou, e suas costas estavam doendo, assim como seus braços. Harry guardou as coisas na garagem, e entrou pela cozinha. Na mesa, uma única torrada e um pouquinho de sopa o esperavam como almoço e jantar.
Harry olhou pela vidraça, e viu duas grandes bolas verdes o espiando. Mas quando piscou, não havia nada.
– Certo, Petúnia, vamos repassar – Disse Tio Válter. – Duda?
– Eu abro a porta e digo “Posso guardar seus casacos, senhor e senhora Manson?” – Repetiu Duda sem emoção.
– Meu perfeito cavalheiro! – Guinchou sua mãe. Harry se segurou para não rir.
– E você? – Rosnou Tio Válter?
– Estarei em meu quarto, sem fazer barulho e sem falar com ninguém – Disse Harry, em tom monótono.
– Certo. Às oito e dez Petúnia avisa que o jantar está pronto. Às oito e trinta nós nos sentamos na sala e oferecemos o café.
– Às oito e quarenta eu puxo a Sra. Manson para uma conversinha – Continuou Tia Petúnia. – E antes das nove...
– ...Eles já terão assinado o contrato, e ganharemos rios de dinheiro! – Sorriu Válter.
– E uma casa de férias!
– Sim, filhão. Nossa própria casa de férias.
Petúnia então levantou e checou o grande protagonista da noite: um enorme pudim cheio de glacê e açúcar, alto e robusto, senhorial e calórico. Ela o colocou com cuidado no topo da geladeira branca, e recolheu os jornais com os quais forrara o chão da cozinha. Duda e Válter foram buscar os ternos, e Harry apanhou discretamente as migalhas de sua torrada, levando-as na camisa. Subiu para o quarto sem fazer barulho, e então trancou a porta ao entrar.
O malão de Harry e todos os seus livros fora trancado no armário sob a escada, antigo “quarto” do garoto. O que era bem ruim, já que Harry tinha lições para serem feitas. Edwiges, sua linda e branca coruja fora presa em sua gaiola, e um triste cadeado a trancava lá dentro. Harry morria de dó da majestosa ave, que parecia infeliz e fraca sem voar. O jovem Vampiro deu as migalhas para a coruja, que as bicou tristemente.
– Sei que quer voar... – Sussurrou Harry, alisando suas penas por entre as grades. – Logo estaremos livres novamente.
Harry sentou na cama, e olhou para a janela. Durante todas aquelas três semanas, Harry não recebera uma única carta dos amigos que fizera no ano anterior: Rony Weasley e Hermione Granger.
Harry sentia-se inseguro quanto à isso, pois quando finalmente parecia que conseguira amigos, eles o abandonavam naquele silêncio penoso. Ele estava trancado e confinado naquela casa onde era tão bem vindo quando uma pelota de mofo, enquanto os “amigos” se divertiam.
Harry foi até a escrivaninha, e abriu uma das gavetas. Felizmente ele estocava ali um tinteiro e uma pena amassada, que guardara antes do primeiro ano na Escola Vampira de Hogwarts. O garoto apanhou um grande volume encadernado em couro.
O livro se revelou um álbum, com fotos de seus pais, dos amigos deles. Harry passou os olhos pelas figuras sorridentes, pelo rosto belo e calmo da mãe, o sorriso travesso do pai... Os abraços deles, as demonstrações de carinho...
A última foto mostrava um pequeno bebê no colo dos dois. Harry passou o dedo na foto, e sorriu ao ver o riso feliz que o pequeno Harry Potter dava.
Ele fechou o álbum, e puxou o outro livro, que ficava abaixo deste. Harry colocou o álbum de volta na gaveta, e puxou a cinta que trancava o livro.
Uma fria atmosfera preencheu o quarto. As páginas se folhearam sozinhas até a última página escrita. A letra firme e levemente inclinada de Harry preenchia as folhas. Aqui e ali havia um desenho, um diagrama, ou uma carreira de símbolos.
Harry molhou a pena, e iniciou seu “despejo”.
A última coisa que Grindewald lhe dissera, ao fim de seu treinamento no ano anterior, era que Harry devia despejar um pouco de sua própria essência em algum lugar, ou alguma coisa. A vontade de experimentar seus poderes, a raiva dos tios ou de alguma situação podia formar em Harry um mortal instinto de fazer mal a alguém. E nos piores dias naquela casa, Harry podia provar o quão certo isso estava. Por isso conseguira roubar o caderno em branco do armário sob a escada, além da cinta. O garoto o preenchia com seus experimentos, conhecimentos ou pura maldade, criando doces planos de controle de sombras. Nas linhas firmes de tinta negra estavam descritos os métodos de se mover nas sombras, controlar, criar, aumentar, adensar, escurecer um ambiente, localizar sombras e o início do novo golpe de Harry: bússola de sombras.
Harry estava a dias tentando aprimorar essa nova habilidade, que consistia em ampliar seu controle ao máximo, e usar a sombra das pessoas para identificar suas posições. Isso era complicado, pois Harry tinha dificuldades em visualizar a forma da sombra, e confundia a geladeira com o Tio Válter. Além disso o tamanho da sombra contava, e o Vampiro penava para entender se a sombra era humana ou um carro pequeno.
O caderno se encheu de mais planos e esquemas, e Harry o trancou, acorrentando os poderes que ele jogara no livro. Tal objeto lotado de informações não podia ficar jogado por aí. Harry o encantara com grandes e reais defesas, o tornando quase selvagem ao defender seu conteúdo.
O garoto se recostou, e pensou nas pessoas que viriam. Um homem de negócios que o Tio há anos puxava o saco. Pensou se apanharia muito se estragasse o jantar.
A questão era que conforme seus poderes cresciam, Harry enfrentava sérias dúvidas quantos às regras e leis da sociedade. Muitas vezes não entendia, ao relembrar seu passado, porque não fizera certas coisas como roubar brinquedos ou doces que queria, fugir de casa, bater no primo ou enganá-lo.
A única “bússola moral” que Harry podia seguir era Hermione, cujo senso de justiça era inabalável e com toda certeza poderia lhe indicar um caminho. Mas ela não entrara em contato com ele um único dia, fazendo com que a essência maligna de Harry se agitasse. Ele realmente não queria bolar alguma vingança contra ela, nem queria lhe enviar um “presentinho amigável” por tê-lo abandonado depois de prometer que escreveria. Também não queria fazer isso com Rony, mas era a garota de fofos cabelos castanhos que o perturbava realmente.
Harry coçou a cabeça, e ouviu o toque da campainha. O garoto suspirou e apagou a luz do quarto, para que ninguém o percebesse. Ouviu a porta ser aberta e o tom falso e arrastado de Duda.
Ele pulou na cama, e então ouviu um forte barulho, como um estalo de chicote.
E não sabia que seus problemas estavam apenas começando...
_______________________
E aqui estamos de novo \o/
Começando a segunda parte da série, Câmara Secreta, agardeço pelos comentários e votos que recebi. Essa segunda parte da história se enfoca mais no início da relação de Harry e Hermione, e as dúvidas deles. Agora que não é mais necessário dizer de onde veio a essência maligna de Harry, foco também as trasformações e dúvidas que essa essência operam nele. Vocês viram duas coisas importantes nesse capítulo: Harry "despeja" maldade em um livro, e Harry não possui bússola moral.
Para os que não entenderam, a bússola moral é o quê nos diz o quê é certo e o quê é errado. Por culpa de sua maldade interna. Harry a perde aos poucos, e não consegue mais entender porque roubar ou matar é errado. Aos poucos ele coloca o "eu" acima do resto e perde o medo de fazer de tudo para conseguir o quê quer.
A única "bússola moral" de Harry é Hermione, e vocês sabem como ela é justa e sensível. Mas o quê pode acontecer se ela fosse machucada? Ou se ela morresse? Harry perderia a noção de moral? Teria sua vingança?
Uma pergunta que recebi de um amigo é em relação à descrição da Fic. "Harry poderia se aliar à Voldemort?". A resposta é sim, ele poderia. O Voldemort-diário não é o que matou os pais de Harry, e então a vontade de mais poder poderia aliá-los.
Mas nunce se sabe. Até o próximo capítulo!
Agradecimentos especiais à Polaris, KON e Pedrinho. Para o último, só posso agradecer os elogios e desejar uma boa leitura. Espero que gostem desta nova parte da saga Vampire Version \o/
anúncio
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!