Dica nº 1



CAPÍTULO I

Dica nº 1
“Peça ao homem dos seus sonhos que lhe ensine o que fazer para arrumar um namorado...”


-- Bangue! Bangue! Você está morto! - Sacando de sua pistola imaginária, Dustin Potter correu, feliz, jogando-se atrás do sofá com a rapidez peculiar dos garotinhos de cinco anos de idade. Hermione Granger, babá, vizinha e parceira de travessuras, fingiu o mais intenso pavor.
— Oh, não, não morri! E estou indo atrás de você. Então, é melhor tomar cuidado! — gritou de dentro da tenda que havia improvisado sobre uma poltrona da sala de estar.
— Não! — Dustin devolveu alegremente.
De onde se encontrava, Hermione podia ouvir o roçar das botas de cowboy em suas imaculadas cortinas de linho branco. Fez uma careta, sem coragem de ver as marcas de sujeira. Não importava, consolou-se. Nada lhe era mais caro do que ouvir os gritos de êxtase desse garoto tão querido.
Dustin era muito especial e já havia sofrido bastante, apesar da pouca idade. Passara a confiar nela havia pouco. Até então, era uma criança ressabiada, magoada. A mãe abandonara ele e o pai, cerca de três anos atrás. E o garoto parecia ver na vizinha a figura materna de que tanto necessitava, e Hermione procurava ser merecedora desse afeto.
Alcançando o lenço que estava no bolso do uniforme, agitou-o na entrada da tenda.
— Ei, hora da pausa — falou, e o ouviu subir no braço do sofá, escorregando para o chão.
— O que você quer, Pena Cor-de-Rosa? — perguntou o menino, desconfiado.
— Apenas fazer um acordo com você, sr. Cowboy-com-Bigodinho-de-Leite.
— Não! — veio a resposta enquanto ele disparava pela sala, para ficar bem distante da poltrona da babá.
— Há leite com chocolate... — provocou-o Hermione. Silêncio.
Ela sorriu e pôs a cabeça para fora da tenda. Sabia quanto o menino adorava leite com chocolate.
— E providenciei torradas com geléia de morango. Um homem forte assim deve estar faminto.
Silêncio novamente.
— Há também algumas rosquinhas de baunilha com gotas de chocolate e sanduíche de presunto...
— Está bem — Dustin aquiesceu, correndo ruidosamente para a mesinha do café. Deixando o chapéu do pai dependurado nas costas, tirou as imensas botas e estendeu um dedinho empinado em direção à babá. — Mas ainda não acertamos as contas, Pena Cor-de-Rosa!
Com os cotovelos sobre a mesinha do café, eles mergulharam de cabeça em imensas xícaras de leite com chocolate e devoraram deliciosos sanduíches.
Hermione havia se mudado para a pequena New Hope, no Texas, pouco antes de a mãe do garoto partir. Desde que Dusty a conhecera, tornara-se sua sombra, apesar de meio arredio a princípio.
— Hermione?
— Sim? — respondeu ela, folheando o última edição da revista Metropolitan.
Letras garrafais destacavam na capa a reportagem principal: “Saiba o que fazer para agarrar seu homem.” Ela deu de ombros. Se soubesse como agir nesse sentido, já estaria acompanhada. Talvez o artigo esclarecesse o que andava fazendo de errado.
— De onde vem o leite com chocolate?
— De vaquinhas marrons.
Dustin franziu a testa, intrigado, sem ter certeza se ela brincava ou dizia a verdade.
— Oh...
Hermione lhe deu uma piscadela. Então deixou o olhar pousar nos títulos dos diversos livros sobre seu colo: “Estou bem... estamos bem, então, por que permaneço solteira?”, dizia um deles. Outro colocava: “Você é amiga de todos, mas não é amante de ninguém?”
"Sim", ela respondeu em pensamento. "Exatamente!"
Ainda havia outro: “Como ser irresistível a todos os homens, o tempo todo.” Bem, Hermione não queria ser admirada por todos. Somente por um homem. Alguém adorável, que quisesse ser pai de bebezinhos e lhe dar rosas de vez em quando...
Voltou-se então à sua obra preferida, acariciando-a como se lá estivesse guardado um inestimável segredo.
Se o artigo que havia lido na semana anterior estivesse correto, teria de fazer algo drástico caso desejasse mesmo constituir família. Mulheres por volta dos trinta anos tinham pouca ou nenhuma chance de concretizar esse sonho, diziam sombriamente as estatísticas. E Hermione estava a quase um mês de completar essa idade.
Oh, céus!, pensou, tomando um gole de leite. Era melhor se mexer. O tempo corria.


Harry Potter desligou o motor de sua caminhonete. Com expressão ausente, fitou o teto do carro, aspirando a fragrância usada por Ann Howe, a garota com quem estava saindo.
Energia era o que não faltava a essa mulher exuberante. Normalmente, ele era mais receptivo a seus modos vigorosos e criativos, mas não naquela noite. Sentia-se cansado e sem ânimo. Queria apenas passar momentos relaxantes com seu garotinho de cinco anos, cair no sono... e ter bons sonhos.
A semana, tinha sido exaustiva e a sexta-feira custara demais a chegar. Felizmente, o dia seguinte seria sábado. Com um pouco de sorte, conseguiria persuadir Dustin a dormir até mais tarde.
Bocejando, desafivelou o cinto de segurança e o deixou voltar automaticamente a seu lugar. Suspirou. A semana seguinte prometia ser igualmente estressante, mas o término dos trabalhos no Hotel New Hope lhe permitiria começar o próximo projeto, a reforma da agência de correios. Isso o fazia se lembrar de alguém...
Seus olhos se voltaram à porta da casa de Hermione. Diabos, ela costumava aborrecê-lo com ladainhas a respeito de precisar de mais espaço na sala dos fundos da apertada agência. Entusiasmava-se com a perspectiva de melhoria em suas condições de trabalho e fazia questão de tocar nesse assunto toda vez que se encontravam.
As casas de Harry e Hermione ficavam lado a lado. Seu olhar foi atraído pelas sombras que se formavam atrás da janela da sala de estar. Muitas lâmpadas pequeninas iluminavam as brincadeiras de Hermione e Dustin. Ele podia até sentir a felicidade que de lá emanava.
Sorriu. Ainda bem que Hermione existia. Devia-lhe muito pelas inúmeras noites em que tomara conta do garoto.
Observou Dustin dependurar-se nas pernas de Hermione, ser levado em direção à cozinha e então de volta à sala. Ela era uma garota e tanto! Talvez não fosse a mais linda do planeta, mas tratava Dustin de modo espetacular. O menino praticamente a idolatrava, recusava qualquer programa para passar a tarde em sua companhia.
Harry inclinou-se, pensativo, sobre o volante, ainda observando a brincadeira dos dois. De fato, a moça era muito simpática, mas sinceramente não compreendia a adoração descomunal que o filho lhe dedicava.
Durante, segundos permitiu-se vislumbrá-la ao passar pelo cômodo. Não era mais alta do que um moleque, magra demais para seu gosto e faltava-lhe volume aos seios, para ele um ingrediente feminino muitíssimo especial. A comparação com a voluptuosa Ann era gritante.
Os cabelos castanhos de Hermione tinham uma, aparência severa quando presos com um ou dois lápis espetados, e o rosto, sem um só toque de maquiagem, parecia-se com o de uma adolescente. Além disso, havia os óculos a pender do nariz delicado, tomando-lhe o semblante pesado.
Mas imensamente pior do que o tamanho, os cabelos ou os óculos era o horroroso uniforme de trabalho que ela usava todos os dias. O corte, deplorável, faria até mesmo a ultra-feminina Ann parecer uma tábua. E ele nunca vira Hermione vestir algo diferente. E aqueles sapatos, que desastre! As botinas pretas deviam pesar toneladas...
Harry sabia que Dustin desejava que o pai se apaixonasse perdidamente por ela e a fizesse sua mamãe. Mas, embora detestasse desapontar o pequeno, se um dia ele esfriasse a cabeça e pensasse em cometer novamente o absurdo erro de se casar, não seria com uma mulher como Hermione.
Mas já bastava de devaneios. Decididamente, era hora de aliviar a moça das travessuras do filho. Saiu então do automóvel e caminhou pelo jardim.
Andando no escuro, ele localizou a campainha.
— Dusty — Hermione pediu com paciência, desvencilhando-se das mãozinhas que o penduravam à sua cintura —, deixe-me ir.
— Não vai escapar tão facilmente, sua cabeça de cacto!
— Cabeça de cacto? — Ela riu. Ergueu-o no colo e o fitou nos olhos. — Quem é cabeça de cacto?
— Você! — desafiou-a o garoto.
Hermione, carregando o menino, espiou pelo olho-mágico e destrancou a porta. Como havia suspeitado, era Harry. Já estava no horário, pensou, aborrecida. Uma olhadela para o relógio de parede lhe revelou que já passava da meia-noite.
Era a quarta vez na semana que tomava conta do garoto. Raramente ia a eventos sociais, mas Harry parecia não perdê-los. O homem tinha compromissos todas as noites!
Sacudindo levemente a cabeça, tratou de abrir a porta e o viu parado ali, maravilhoso. Dusty rapidamente se esgueirou para chegar perto do pai.
— Entre — convidou, ajeitando os óculos com o indicador e sentindo a fragrância que se espalhava no ar. Hermione os conduziu para a sala de estar, onde passou a reunir os pertences de Dustin, colocando-os em um saco plástico.
— Papai, papai! — o menino gritou. — Construímos uma tenda e jantei leite com chocolate.
Harry ergueu seu chapéu de cowboy, que pendia nas costas do filho, e acariciou-lhe a cabeça.
— Você se divertiu muito, hein? Já agradeceu a Hermione?
— É claro! Cerca de um milhão de vezes.
Harry olhou para ela, que concordou com um gesto de cabeça.
— Ótimo. — Virou-se para Hermione: — Sinto muito por andar lhe pedindo ajuda com tanta freqüência nas últimas semanas. Estou procurando uma nova babá, mas está demorando, pois não quero mais contratar temporárias.
— Não me importo. Adoro a companhia dele.
Alcançando o sofá, Hermione começou a ajeitar as almofadas e a recolher embalagens vazias de biscoitos.
Harry aparentava cansaço e acabou por se sentar.
— Estou exausto! — ele falou pesadamente, fixando o olhar na mesinha do café e na compra que Hermione tinha feito na livraria.
Ela sentiu uma contração no estômago. Os livros! Droga, devia tê-los escondido! Sua imprudência faria com que toda a população de New Hope soubesse de sua intenção de se casar antes de completar trinta anos.
Harry lhe dirigiu um olhar cético e sorriu.
Aproximou-se e pegou os livros.
— Você está... caçando um marido?
Colocou o chapéu de cowboy e teve um acesso de riso. Ultrajada, Hermione arrancou os livros e as revistas das mãos dele e os jogou sobre as almofadas.
— Não é nada engraçado — respondeu, exasperada. — Estou fazendo uma pesquisa.
— Por quê?
Hermione aguardou até que Dustin pegasse outra cadeira para levar ao cômodo ao lado.
— Porque... já tenho quase trinta anos! - Permaneceu ali, fitando o semblante risonho, como se sua justificativa explicasse tudo.
— E então? — Harry indagou, enigmático.
— Segundo um artigo que li, após os trinta anos as chances de uma mulher encontrar um companheiro são quase nulas.
— Que artigo?
— O que está em uma dessas revistas.
Harry a fitou com ar divertido.
— Então você está prestes a completar trinta anos, hein? Grande feito! Pois eu lhe digo que há três anos passei por isso e minha vida amorosa não foi afetada.
— O problema é que não tenho me dedicado à carreira de namorar pessoas que mal conheço, assim como você faz — ela ironizou.
E era verdade. Ela se dedicara à família e aos estudos. Agora, achava que era hora de arrumar um marido.
Será que seus amigos ficariam surpresos se a vissem acompanhada de um noivo na festa de Ação de Graças?, pensou.
Olhou para Harry, cheia de determinação.
— Ficarei noiva em meu aniversário de trinta anos — anunciou, com um sorriso plácido nos lábios.
— E quando será isso?
— Primeiro de dezembro.
— Mas falta pouco mais de um mês!
— Sim, será na terça-feira, após o casamento de Russo. Com um pouco de sorte, vou comparecer à cerimônia de braços dados com meu pretendente. — Fitou-o, triunfante. — É minha meta.
O casal a cujo enlace Hermione se referia fazia parte do grupo de amigos comuns dela e de Harry.
— Tem alguém em vista?
— Farei uma lista. — Subitamente, sua expressão se avivou. Tivera uma idéia. — Ei, você trabalha com muitos homens. Talvez possa me ajudar.
— Pode ser... — Harry respondeu de maneira distante. Após um curto silêncio, indagou: — Sabe o que fazer para agarrar um homem?
— Ainda não, mas vou descobrir.
Ele lançou um olhar duvidoso para as botinas dela. A expressão foi se tornando mais nebulosa à medida que vistoriava-lhe o corpo.
— Está bem.
— Posso não ser uma loura fatal como Ann. Mas com algumas pesquisas aprenderei muitas coisas. Não deve ser tão difícil assim.
— É...
Harry balançou a cabeça, deixando óbvio que a achava um caso perdido. O gesto apenas serviu para encolerizar Hermione e fortalecer-lhe a determinação.
— Escute bem, você já namorou dúzias de mulheres. Talvez possa me dar algumas dicas. — Aproximando-se, disse: — Que tal um acordo? Tomarei conta de Dusty todas as noites e nos finais de semana e você me ensinará a ser mais sensual.
Estava orgulhosa por ter concebido uma idéia tão excepcional.
— E como vou fazer isso?
Hermione sentiu-se enrubescer. Ele não tinha de ser assim tão franco!
— Bem, não sei ao certo. Nunca fiz algo do gênero. Suponho que possamos começar com algumas aulas a respeito de como manter uma conversa agradável. Depois, alguns passos de dança. Coisas assim. Minha experiência relativa a... namoros é, digamos, bastante... limitada. Saí à noite para ir a bares e danceterias apenas algumas vezes.
De maneira inexplicável, o calor descomunal que ela sentia nas faces se intensificou. Só podia estar com febre.
Enquanto Harry a observava retorcer as mãos, questionava o motivo de a garota se colocar em tamanho turbilhão emocional.
Mas, pensava ele ao ouvir Dustin bater uma cadeira contra a mesa da sala de jantar, isso lhe garantiria alguém para tomar conta do filho.Talvez até conseguisse fazer algo por Hermione. Mas o fato era que, indiscutivelmente, estava levando a melhor nessa barganha.
Causa perdida ou não, ao menos valia a pena tentar. Devia haver um pobre rapaz que não se importasse em ter uma moça como Hermione por esposa. Com sapatos horríveis e tudo.
Finalmente, quando parecia que ela não mais suportaria aguardar, Harry respondeu:
— Está bem. É um acordo. Então, quando gostaria de começar?
Hermione levou um dedo aos lábios, pensativa.
— Na verdade, não tenho muito tempo. Falta pouco mais de quatro semanas para o casamento de Russo.
Sim, era esse o prazo. Então ela atingiria a temida idade.
— Três dias depois do casamento de Russo, completarei trinta anos. Por isso, que acha de começar com as aulas na segunda-feira após o trabalho?
Isso lhe daria tempo para ler o material que havia comprado e se preparar, como se estivesse estudando para um exame.
— Segunda-feira?
— Ou terça — sugeriu, embaraçada.
— Quando quiser — disse ele, fazendo um gesto de indiferença. — Mas segunda está ótimo para mim.
Então, chamou Dusty, se despediram de Hermione e se encaminharam à porta.
Ficaram parados por alguns momentos, fitando-se.
— Ei, quase me esqueci. Peguei o projeto para a reforma da agência dos correios. Tinha deixado isso um pouco de lado porque tive de dar prioridade a outros trabalhos, mas começarei sem falta na segunda-feira.
— Aleluia! — Ela bateu palmas, feliz, o sorriso revelando-lhe as covinhas.
Harry a encarou, a mão pousada na maçaneta. Virando-se, abriu-a e passou sob o batente.
— Haverá bastante poeira e barulho por uns tempos. É inevitável.
— Não me importo. Faça quanta bagunça quiser. Tenho ansiado por essa reforma há meses.
— Eu sei. Bem, podemos ir juntos até lá na segunda-feira. Quero dizer, se você não se incomodar.
— Está bem. Iremos no meu carro ou no seu?
— No meu. Levarei ferramentas na caminhonete.
— Mal posso esperar. Aquela sala horrorosa tem me deixado louca há três anos. Esta cidade é muito grande para uma agência de correios tão pequena.
— Começaremos as aulas após o trabalho, se quiser. Tem idéia de onde poderemos nos encontrar?
— Aqui!
— Por que não vamos para a minha casa? Assim Dusty poderá brincar no quarto e não nos incomodará.




Obs:Capitulo 1 postado!!!!Espero que tenham curtido!!!!As outras fics serão atualizadas essa semana também!!!Bjux!!!

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