Dica nº 4



CAPÍTULO IV


 


Dica nº 4


 


Aula de dança... É infalível!


 


Hermione chegou em casa no início da noite e foi diretamente para o quarto. Tirou os sapatos e sorriu ao sentir o abençoado assoalho nas plantas dos pés.


A que ponto as mulheres chegavam! Por que se impunham tamanho sacrifício para agarrar um homem? Ah, como havia ansiado pelo momento de despir a roupa apertada e espreguiçar-se!


Harry jamais aceitaria sofrer tanto apenas para impressionar Ann. Era aterrorizante, mas começava a simpatizar com ela. Esse negócio de atrair o sexo oposto era o diabo!


Finalmente conseguiu se livrar do sutiã. A peça devia ter mais metal do que a estrutura de um edifício, mas precisava admitir, dava aos seios um aspecto sensacional.


Dirigiu-se ao espelho, prendeu a respiração e gritou de dor ao desgrudar os cílios postiços. O próximo passo era tirar os brincos, as pulseiras e a gargantilha.


Com alívio, começou a se sentir familiarizada com a própria aparência. E, como dizia sua mãe, nada melhor do que um bom banho para renovar as energias.


Já se sentia bem mais tranqüila e vários quilos mais leve. Besuntou o rosto com creme de limpeza e foi para o banheiro, entrando com prazer sob a ducha forte.


Nunca apreciara tanto um banho. Lavou os cabelos com xampu de maçã e os condicionou com um creme à base de abacate e mel, ambos vendidos por Sue Ellen.


Ondas de vapor inundavam o banheiro quando ela desligou o chuveiro, enrolou-se em uma toalha e voltou ao quarto. Fitando o rosto limpo, achou graça nas toneladas de pintura que o haviam escondido durante o dia.


Já estava até pensando em premiar seus esforços com uma boa soneca quando se deu conta do horário. Não tinha tempo a perder, se queria chegar às sete horas na casa de Harry para a primeira aula. Decidiu ignorar os cílios postiços e a forte sombra azul. Optou por uma camada de base, um pouco de pó no nariz e nas faces, rímel e um batom de cor suave.


Não estava exatamente com a aparência fatal recomendada pelas amigas, mas os únicos homens que veriam essa noite seriam Dustin e Harry. E eles não contavam.


Começou a pentear os cabelos, ondulados pela permanente. Desistiu de usar mousse e gel. Após desembaraçá-los, amassou os cachos de forma a ficarem mais enrolados. A aparência era natural e fresca, perfeita para passar algumas horas na companhia dos vizinhos.


Só faltava decidir pela roupa. Precisava de algo confortável para aprender a dançar, e havia poucas opções nesse estilo. Tratou de vestir a calça jeans, cujo zíper só fechava quando se deitava de barriga para cima, e uma blusa creme com mangas amplas.


Recriminou-se pela coragem de pagar dez dólares por algo tão minúsculo e decotado quanto a roupa que tinha nas mãos. A cada segundo ela escorregava, mostrando seus ombros. Teria sorte se conseguisse permanecer razoavelmente vestida a maior parte do tempo.


E o jeans! Estava quase explodindo dentro dele, mas Beth lhe garantira que era assim que os homens gostavam.


Suspirando, Hermione colocou sapatilhas de camurça, pegou meias, um par de tênis e foi para a casa dos Potter.


Harry por um momento não reconheceu a gracinha que bateu à porta, com um sorriso esfuziante nos lábios e nos límpidos olhos azuis.


— Está pronto? — ela perguntou, a sacola com os tênis pendendo casualmente dos ombros.


Estaria louco ou aquela era sua vizinha Hermione? Impossível, a garota tinha um corpo fenomenal, devidamente salientado pelo jeans!


Droga! Se não soubesse que ela viria, nunca teria adivinhado. Como estava linda! Maravilhosa o suficiente para figurar na capa de uma revista famosa, achava. Mudo, deu passagem para que ela entrasse.


Hermione pareceu nem notar seu espanto. Enfiando a mão dentro da imensa bolsa, pegou alguns compact discs.


— Beth me emprestou discos muito interessantes. Disse que são a última moda. Você me ensinaria a dançar ao som da música agitada e da lenta? — pediu. Como não houvesse resposta, decidiu continuar falando: — Vou precisar saber tudo isso. Ainda não lhe disse, mas nunca estive em uma danceteria ou algo do gênero. Mas, como sei que os homens apreciam ir a estes lugares, devo começar a me habituar. — Sorrindo, plantou as mãos nos quadris. — Então, por que não começa me ensinando como me portar quando um rapaz abrir a porta do carro para mim ou puxar a cadeira para eu me sentar ou...


Harry fez um gesto de concordância e continuou ouvindo a lista de coisas a serem aprendidas logo na lição número um. Estava atônito; não podia acreditar na transformação de Hermione. Mais curioso ainda, ela nem parecia ciente da mudança estupenda em seu visual.


Era... assustador. A voz, os assuntos, o jeito de falar... tudo era como antes. Menos o corpo, o rosto. Hermione já não era mais a mesma, tinha de encarar isso. Ao menos não externamente. Estava tão encantadora! Realmente bela, atraente. E ele, sendo como era, reagia às mudanças da maneira mais instintiva, animal possível. Isso ainda ia dar confusão!


Procurou clarear as idéias. O que estava fazendo? Essa era Hermione. Hermione! Sua vizinha. Companheira de Dustin. Atendente do correio. Possuidora de botinas horrendas. Nada mais. Nada menos.


"Supere isso, rapaz", ordenou-se.


— Gostaria também que me ensinasse como levar uma conversação trivial. Sinto-me travada, a língua não me obedece quando estou diante de um homem atraente de verdade...


Hermione deixou a frase no ar e então, caminhando em direção à sala de estar, continuou sua entusiástica tagarelice.


Algo do que tinha acabado de ouvir o perturbou, mas ele se sentia tão aturdido que não conseguia precisar o quê. Limitou-se a segui-la, a expressão intrigada, o corpo em alerta, os sentidos atordoados. Mas, claro, seu orgulho lhe deu uma pontada e o obrigou a se lembrar do que o incomodava.


Ela havia dito que se sentia constrangida quando diante de homens atraentes de verdade.


Harry nunca tivera problemas em atrair as mulheres que queria, de fato, elas se jogavam a seus pés toda sexta-feira à noite, no Little Joe's Café. Hermione podia até perguntar a Sue Ellen, que sabia muito bem o que acontecia ali.


Mas quanta tolice! A garota decidira mudar o corte de cabelo e subitamente a opinião dela começava a lhe incomodar! Bobagem. Desde que Elly Mae o abandonara, deixara de se preocupar com o que as mulheres achavam. Nem quis saber se Ann o achava bonito. Então, por que lhe seria relevante o que se passava pela cabeça de Hermione?


— E então? Acha que já é suficiente para a primeira lição? Sorrindo, ela se sentou no sofá e começou a trocar as sapatilhas pelos tênis.


Oh, céus! Até mesmo os pés eram graciosos. Ele pensou em sugerir que a vizinha colocasse aquelas botinas pavorosas, mas lembrou-se de que haviam sido doadas a uma instituição de caridade. Droga! Precisava da velha Hermione. Aquela que parecia uma tábua adornada com peças pré-históricas.


— Acho que sim — respondeu simplesmente. — Já temos assunto à vontade.


— Ótimo — murmurou ela ao acabar de amarrar os cadarços. Olhou ao redor. — Onde está Dustin?


— Tomando banho. Depois vai brincar só um pouco e nos deixará a sós. Teremos pelo menos meia hora antes de sua turbulenta chegada. Então... por onde devemos começar? — Harry perguntou, sentindo-se estranhamente tímido.


Tímido? Ele? Não ficava assim desde o primeiro beijo partilhado com Elly Mae, no estádio de New Hope, há milênios!


Hermione, entretanto, parecia cem por cento relaxada, notou, irado. Via-o apenas como um objeto capaz de lhe trazer vantagens.


Mas que asneira estava tomando conta de sua razão? Precisava deixar de tolices, se quisesse que a noite transcorresse de maneira agradável. Sentindo-se um mártir, respirou longa e profundamente, preparando o espírito para os acontecimentos futuros.


Harry dirigiu-se ao aparelho de som. Ligou-o e tirou um compact disc da caixinha acrílica, pondo-o para tocar.


— Vamos dançar para alegrar a noite! — sugeriu, deixando a música vibrante preencher o ambiente.


— Certo — Harry aquiesceu, movendo a mesinha lateral e a poltrona para mais perto da parede.


Orgulhava-se de dançar com maestria. Deixou o som pulsante invadir seus poros. Isso ia ser bem divertido. Quem diria? Ele ensinando a vizinha a dançar! Passou a mão pelo queixo, apreensivo. Se ao menos fosse tão simples assim...


— Vamos lá — falou, com voz mais intensa do que o habitual, ao conduzi-la para o centro da sala. — A primeira coisa a fazer é relaxar. — Tocou-lhe a pele nua do ombro e a sacudiu de leve. Como era macia! — Deixe a música invadir seu corpo. Ouça. Aprecie.


— Está bem.


Fechando os olhos, Hermione soltou os ombros, e os lábios entreabertos tornaram-se um martírio para o improvisado professor.


— O mais importante, neste tipo de dança, é criar movimentos que a façam sentir-se à vontade. Pode-se fazer qualquer coisa, há bastante liberdade, mas alguns passos universais podem lhe dar uma boa base.


Abrindo os olhos, Hermione o fitou atentamente, procurando captar a seqüência dos gestos.


— Como... por exemplo?


— Mexer os quadris. Assim — mostrou ele, dançando ao sabor da música.


— Oh! — ela exclamou, sem fala.


— E, é claro, as mãos acompanham o corpo. Pode ser desse jeito — explicou, fazendo ondas imaginárias — ou assim — colocou-as atrás da cabeça — ou como você quiser.


— Certo.


Hermione começou a se mover, mas de maneira descoordenada e dura. Sem mencionar que achava tudo aquilo meio ridículo. Será que todas essas voltas e rebolados a fariam conquistar um homem?


—Vamos lá! — Harry ordenou, já dominado pelo ritmo contagiante. Pegou-a pelas mãos, rodopiando alegremente.


— Solte-se, menina!


— Mas parece não haver nenhuma lógica nesses passos...


— Sim — Harry concordou. — Mas, de certa forma, há uma beleza especial em tudo isso. É como fazer amor. Vale tudo.


Hermione arregalou os olhos.


— Espero que isso não esteja na programação de hoje à noite — murmurou, preocupada.


— Bem, se precisar de algumas orientações nesse assunto...


— Não, obrigada — respondeu ela, assustada, tornando-se vermelha.


Harry continuou a dançar animadamente enquanto Hermione ordenava a seus tênis que se movessem de maneira mais harmônica.


Sim, ela precisava de conselhos, nunca tivera um relacionamento íntimo. E, para sua mortificação, só havia beijado uma vez um homem, e no rosto. Para dizer boa-noite.


Isso, entretanto, não era de estranhar, considerando-se a forma peculiar com que sua mãe afastava todos os corajosos que se arriscavam a levá-la até o portão. A senhora considerava a vidraça da frente da casa uma extensão de seu corpo, e lá permanecia durante todo o tempo em que uma das filhas estivesse nas proximidades do jardim. Não era à toa que Halle pulava a janela do quarto todas as noites, para escapar dos aguçados olhos maternos.


Embora não tivesse intenção de aceitar a oferta ridícula de Harry, o pensamento de fazer amor com ele continuava imensamente tentador. Mas queria ir além. Queria casar-se com ele. Caminhar junto. Partilhar do amor de Dustin.


Droga, mas onde estava com a cabeça? Aquele era Harry, seu vizinho. Apenas isso.


— Olhe para mim — ele ordenou. — É o grande segredo. Olhos nos olhos. — Orientou Hermione a enlaçar-lhe o pescoço e colocou as mãos na cintura fina. — Nunca havia notado que seus olhos são azuis.


— Talvez porque eles não sejam — Hermione apressou-se em dizer, molhando o lábio inferior com a língua.


Estava se saindo tão bem... mas o jeito de Harry a deixava tensa. Como relaxar na presença de outro homem se mesmo ao lado do vizinho ficava toda trêmula? Além do mais, era praticamente impossível permanecer calma, grudada a ele dessa maneira.


Era providencial poder se habituar a tantas novas situações. Só com muito treino estaria perfeita para dançar com seu futuro marido. Quem sabe, com a prática, até viesse a gostar daquilo. Mas por enquanto...


— Estou usando lentes de contato. Meus olhos são castanhos, da cor de meus cabelos.


— É mesmo? — ele sussurrou, provocante.


Parou de fitá-la e passou a lhe ensinar como acompanhar o parceiro em rodopios pela sala. Foi então que a magia a envolveu, inebriou, extasiou. Antes que se desse conta da leveza que a dominava, sentiu que amava dançar.


Havia uma sensualidade naqueles movimentos. Algo totalmente novo para ela.


— Ei, o que vocês estão fazendo? — Dusty falou, detendo seu galope e segurando a toalha presa à cintura.


Os dois se afastaram, um tom de culpa pairando no ar. Evitavam olhar um para o outro.


— Oi, batata doce! — Hermione o saudou, abaixando-se para acolhê-lo. — Estamos dançando.


— Dançando? — o menino inquiriu. — Oh, não! — exclamou aflito quando a toalha foi ao chão, deixando-o nu.


— Dusty, vá se trocar — o pai pediu, e ambos contiveram a risada ao vê-lo correr peladinho pela sala em direção ao quarto.


Hermione e Harry permaneceram algum tempo parados, como que procurando retomar o clima quebrado pelo pequeno. Sabiam que algo diferente surgia bem no instante em que foram interrompidos.


Aquele era um relacionamento platônico, pensou cada qual com seus botões. Não podiam ficar se entreolhando, como se fossem namorados. Hermione? Harry? Por favor! Voltem à realidade!


E então, sacudindo as cabeças, os dois se fitaram.


— Acho que já é hora de uma pausa — ele sugeriu.


— Sim — foi a resposta quase inaudível dela.


Nesse momento, Dusty retornou à sala, novamente enrolado na toalha.


— Que tal leite com chocolate, cowboy?


— Jóia!


— Mas, antes, por que não procuramos seu pijama?


— Está bem.


Harry os observou caminhar de mãos dadas rumo ao quarto do filho. Demorou o olhar nas curvas que o jeans justo traía. E novamente experimentou uma dor esquisita em seu assustado e ferido coração.


  


Dustin adormeceu. Inclinando-se sobre o garoto, Hermione beijou-lhe a pele fresca e sorriu ante a expressão de doçura.


Algum dia, rezava, teria um menininho para chamar de seu. Alguém tão maravilhoso quanto Dusty, que a faria ser mais feliz do que jamais sonhara.


Era por isso queria tanto se casar. Até se apaixonar por Dustin, não conseguia definir o que lhe faltava. Desconhecia a maravilha de ganhar beijos afetuosos de uma criança. Não imaginava o que uma fantasia para o Dia das Bruxas podia significar para um garotinho de cinco anos.


Mas, principalmente, não havia se conscientizado de quanto precisava ser amada. Devia a Dusty a graça de ter percebido tudo isso.


Ajeitou com carinho as cobertas e só então pressentiu Harry à porta do quarto. Perguntou-se há quanto tempo ele estaria ali.


— Dustin a adora. Sabe disso, não é? — ele comentou, sorrindo. Hermione retribuiu o sorriso.


— Sim. Mas eu o amo muito mais.


Harry fez um gesto de concordância, como se compreendesse a profundidade do relacionamento que havia frutificado entre ela e o filho.


  


— Melvin-Jasper? — Hermione perguntou, com uma careta. — Não pode estar falando sério.


Estavam sentados lado a lado no sofá, tomando chá gelado e checando a lista de solteirões que Harry havia preparado.


Uma suave música country os embalara desde o término da aula de dança. Ele implorara que parassem porque seus pés não mereciam mais castigo, mas a verdade era que a libido o atormentava.


Sentira-se estranho ao abraçar a atendente do correio de New Hope. Era como estar com uma freira ou algum outro tabu do gênero.


— O que há de errado com Melvin-Jasper? — perguntou, inclinando-se para trás.


— Fico com sono toda vez que falo com esse moço. E aquela calça caindo? Será que você não poderia conversar com seus amigos e lhe dar de presente um par de suspensórios, ou algo assim?


Harry lhe lançou um olhar estupefato.


— Parece não ter se importado em ficar na companhia dele quando do campeonato de boliche, no outono passado — argumentou, defendendo o desajeitado Melvin.


— É verdade. Mas somente porque achei engraçado alguém conseguir jogar as bolas com tanta precisão, apesar da imensa calça caindo. Bem, então quer dizer que considera Jasper adequado, hein?


Harry mordeu o lábio inferior, fitando-a de maneira ausente. Hermione tinha razão. Não podia imaginar os dois construindo uma vida juntos. Embora Melvin-Jasper, quando não derrubava cerveja no chão, fosse uma boa pessoa, não simpatizava muito com banhos. E isso complicava as coisas ainda mais.


— Está bem. Corte-o da lista. - Hermione obedeceu com vigor.


— Vejamos... que outras cartas você traz na manga?


— Listei aí todos os rapazes solteiros que conheço — Harry se defendeu, aproximando-se mais para poder ler.


O perfume dela era delicioso. Delicado e feminino, parecia um buquê de flores. Dava-lhe vontade de mergulhar de nariz na pele macia e...


Afastou-se quando Hermione virou-se para lhe falar.


— Jake Spencer?


— O que há de errado com ele?


— Ei, onde tem estado nos últimos meses? Jake Spencer e Priscila Barrington vão se casar em breve. Priss está esperando um bebê. — Apontou para a lista. — A mesma coisa acontece com Mitch McCord. Ele e Jenny Stevens estão juntos há alguns meses. — Jogou as mãos para o alto, exasperada. — Vê? Eu lhe disse que não restaram homens solteiros para mim!


— Ei, calma! — ele falou, tirando a listagem de suas mãos. — Deve haver uma ou duas pessoas descompromissadas aqui. Veja estes três. — Estendeu-lhe a nota, para inspeção. — Trabalham para mim. Tenho absoluta certeza de que são livres.


— Sei, sei... — Hermione rosnou, estreitando os olhos. — Vou checar na polícia como está a ficha criminal deles.


— Muito engraçado!


— Bem... perdoe-me por não confiar em seus instintos para encontrar um marido. Mas, depois que me sugeriu Mitch e Jake, comecei a ficar preocupada.


— Como sabe essas coisas todas? Quero dizer, eu jogo pôquer com eles e desconhecia suas vidas particulares. Nunca conversamos sobre assuntos mais sérios.


— Quando foi a última vez que jogaram?


— Na primavera passada, acho.


— Ah, bom. Ouça, se quiser estar sempre bem-informado, fique atento ao jornal diário de Agnes e sua gangue, na porta dos correios. Não falha nunca. — Fitou-o, preocupada.


— Se soubesse disso antes, tentaria dissuadi-los de se casar? — Viu Harry dar de ombros. — Acho que guarda muita amargura pela decepção com Elly Mae.


Ele fez um gesto em direção ao corredor que conduzia aos quartos.


— Elly não machucou somente a mim.


— Eu sei.


— Você realmente está empenhada em caçar um marido, não é?


— Tenho de tentar.


Harry cocou a cabeça, pensativo.


— Espero de todo o coração que não venha a se arrepender.


— Prometo aprender com seus erros.


Ele estendeu um dedo para alcançar-lhe o queixo.


— Torço para que não precise disso.


Ficaram lado a lado, cada um imerso nos próprios pensamentos até que o relógio centenário da sala de jantar deu suas badaladas.


— Meia-noite? — Hermione perguntou, surpresa. — Preciso ir embora. Vou acordar ao alvorecer. Leva uma eternidade arrumar o cabelo e fazer a maquiagem. Não sei como Sue Ellen sobrevive a isso dia após dia.


— E eu não sei por que ela faz isso.


— Para ficar bonita — Hermione explicou. — Como Ann.


— Se você diz...


Qual seria o motivo do comentário tão sarcástico? Acaso os homens não gostavam que as mulheres tivessem a melhor aparência possível?


— Bem, boa noite.


— Quer uma carona amanhã?


— Sim, e prometo caminhar sozinha até o carro.


— Não me importo. Dusty adorou a maneira como você voou para o chão. Estava convencido de que fez aquilo de propósito.


Harry gargalhou.


— Nós deveríamos sair para praticar as lições em breve — ela sugeriu.


— Ótimo. Que tal depois de amanhã?


— Acho que estarei livre — Hermione respondeu, esnobe. — Pedirei a Gina que tome conta de Dustin na quarta-feira. Tchau.


— Até amanhã — Harry respondeu com suavidade, e aguardou até que ela entrasse em casa.


Não conseguiu se mover até que todas as luzes da residência vizinha se apagassem.


  


A campainha à porta da Butique para Bebês entoou lima canção de ninar enquanto Hermione adentrava aquele mundo estranho, que um dia desejava habitar.


Ursinhos e bonecas, mobiles, babados, rendas, chupetas e mamadeiras. Só de caminhar pela loja já sentia um aperto no peito. O lugar cheirava a loção para bebês.


Gina Wesley ergueu os olhos e sorriu para ela. Hermione sentia uma afinidade pela moça. Algo especial e gratificante. Alta, esguia, com longos e brilhantes cabelos ruivos, Gina era querida por todos, até pelas fofoqueiras da cidade.


Mas, desde que engravidara, há oito meses, muita coisa mudara no tratamento que lhe dispensavam. As pessoas não se conformavam em não saber a identidade do pai da criança. Há anos a cidade não tinha uma oportunidade tão fértil de especular. E quem sofria com isso era a pobre Gina.


Mas talvez a garota finalmente recebesse uma trégua. A mudança na aparência de Hermione seria o foco dos comentários, ao menos durante alguns dias. As linhas telefônicas deviam estar apinhadas, graças à teia de informações traçada pelas marocas, para divulgar sua "caçada a um marido".


Hermione mal pudera acreditar no que acontecera pela manhã. Agnes, Minny e Ethel haviam invadido o correio para proclamar em altos brados que, se ela não se emendasse, certamente iria para o inferno. Mais do que nunca, simpatizava com Gina.


— Olá, Hermione. Adorei seu novo visual. Deve ser maravilhoso ter uma cintura fina como a sua.


— Oi, Gina. Pois eu acho que quem está bonita é você.


— Ugh! Gostaria de já ter tido o bebê.


— Está tudo pronto? — Hermione quis saber. Então riu e olhou ao redor. — Acho que fiz uma pergunta tola. Deve ter tudo aqui.


— Eu...


"Droga! Por que não fiquei calada?", ela se repreendeu.


Claro que faltava algo: o pai da criança. E como devia ser difícil assumir sozinha a responsabilidade por uma nova vida! O melhor a fazer era mudar de assunto.


— Bem, só espero que tenha o bebê antes do casamento de Malfoy. Será o grande acontecimento social da estação. — Sorriu para Gina, que baixou o olhar e mordeu o lábio inferior. — Quanto a mim, por ocasião da cerimônia... — A voz de Hermione foi sumindo ao notar a dor na face da amiga. — Oh, querida, você está bem?


Nunca havia passado muito tempo ao lado de uma mulher grávida. Quais seriam os primeiros sintomas do trabalho de parto?


— Estou bem — Gina garantiu, sorrindo debilmente. — Só uma leve indisposição.


— Tem certeza?


Hermione pensou em se oferecer para ferver um pouco de água. Não sabia para quê, mas em todos os romances alguém fazia isso para cuidar de uma grávida.


— Absoluta. Sinto muito, não quis interrompê-la. O que estava dizendo?


— Oh, sim. Bem, tenho certeza de que você já sabe. Estou procurando um marido.


— Talvez Agnes tenha comentado... Hermione sorriu.


— Não fique assim. Não é nenhum segredo. Muitas pessoas estão me ajudando. Sue Ellen, por exemplo, arrumou meu cabelo e me ensinou os segredos de uma bela maquiagem. Beth remodelou meu uniforme. Veja só — falou, apontando para os cílios postiços e o enorme decote. — Respirou fundo para recuperar o fôlego antes de prosseguir: — Pessoalmente, acho tudo muito exagerado, mas elas garantiram que os resultados serão incríveis. Conhece Harry Potter, meu vizinho? Está me dando aulas de dança, etiqueta no namoro e coisas assim. Não tive muita experiência quando adolescente...


— Não se sinta mal em relação a isso, querida. Eu também não tive — Gina falou, pegando-lhe as mãos.


Hermione sabia que, se confiasse nela, estaria fortalecendo um relacionamento gratificante. Um pensamento feliz passou por sua cabeça. As pessoas da cidade eram muito agradáveis. Mesmo Agnes e sua turma traziam boas intenções em seus corações preconceituosos.


Piscando para ocultar as lágrimas, apertou as mãos de Gina.


— Harry e eu gostaríamos de saber se você poderia tomar conta de Dusty amanhã à noite, para que possamos ter uma aula prática. Não acho correto incomodar os outros em função de problemas pessoais, mas como você terá seu pequenino em breve...


— Quarta-feira à noite? Não tenho nada planejado. Vou adorar contribuir para você encontrar um marido.


O suspiro de alívio de Hermione foi audível.


— Obrigada, você é um amor. Vou dar uma passada no restaurante para ver se Sue Ellen poderá me dar uma ajuda especial com o penteado. Depois, voltarei para o correio.


Gina acariciou ternamente a barriga.


— Não me agradeça ainda. Tenho o pressentinento de que você poderá me retornar o favor um dia desses.


Hermione caminhou até a porta, amaldiçoando os sapatos altos. A campainha anunciou sua saída.


— Adorei o comentário — falou, agarrando-se à porta para não cair. — Vejo-a amanhã à noite.






Obs: Oiiii pessoal!!!!Espero que tenham gostado do capitulo....Confiram também A noiva do outro pois postei o último capitulo hoje....Bjux a todos!!!!!

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