Capitulo XXVI (Ultimo Cap.)
- Oh, Arthur! - Molly levou as mãos à cabeça.
- Pai, não se atreva! - Num gesto impulsivo, Gina ergueu os braços. - Ah, já sei! Tive uma idéia. Por que simplesmente não batemos uns nos outros até descarregar todo esse surto de raiva?
- Você tem o direito. - Harry mantinha os olhos nos de Arthur, mas não fez menção de reagir.
- O diabo que ele tem! Eu sou uma mulher crescida. Uma mulher adulta - Gina gritou, batendo no braço do pai. - E fui eu que me joguei em cima dele.
Quando o pai se virou para encará-la com aquele olhar frio, ela sentiu uma perversa satisfação.
- Isso mesmo. Eu me joguei em cima dele. Eu o desejei, fui até ele e o seduzi. O que vai fazer? Me pôr de castigo?
- Não importa como aconteceu. Eu sou experiente, e ela, não. Eu não tinha o direito de tocar nela, e sabia disso. Se fosse você, já teria me dado uma surra.
- Não vai haver nenhuma surra por aqui! - Molly avançou, segurando o marido pelo braço. - Querido, você está cego? Não vê o que está acontecendo entre esses dois? Agora solte o rapaz. Sabe muito bem que vai deixar você bater nele, sem reagir, e isso não lhe dará nenhuma satisfação.
Não, Arthur não estava cego. Ao fitar Harry nos olhos, viu a própria vida assumir novos contornos. O bebê dele, sua garotinha, tinha se tornado mulher para outro homem. O mesmo homem que naquele momento parecia estar se sentindo tão miserável quanto ele mesmo se sentia.
- O que pretende fazer?
- Posso sair daqui assim que arrumar minhas coisas.
Em vez de espantado, Arthur sentiu-se divertido. Mas se esforçou para não demonstrar isso.
- É mesmo?
- Sim, senhor. - Pela primeira vez na vida Harry soube que não iria conseguir colocar tudo o que queria na mochila. - Reivers é capaz o suficiente para me substituir até que encontre outro treinador.
"Maldito orgulho irlandês", Arthur pensou. Bem, mas ele tinha uma vida de experiências para saber lidar com aquilo.
- Eu o informarei quando quiser demiti-lo, Potter. Molly, nós ainda temos aquela espingarda em casa?
- Oh, claro que sim - Molly disse sem perder o ritmo. E perguntou-se se alguma vez estivera tão orgulhosa do homem com quem se casara, ou se o amara tanto. - Acho que posso encontrá-la num instante.
Arthur soltou Harry e se virou para Gina.
- Nós vamos conversar mais tarde.
Lágrimas voltaram a correr pelo rosto dela quando viu os pais se afastando de mãos dadas, unidos como sempre tinham sido.
- Competi por muitas coisas - ela disse em voz baixa. - Trabalhei por outras e desejei várias. Mas no fundo sempre quis ter o que eles têm. - Virou-se quando Harry caminhou até a escada e sentou no primeiro degrau. - Ele não vai atirar em você, Harry, se ainda preferir fugir daqui.
Não era a arma que o preocupava, mas o desenrolar dos fatos depois daquela conversa em família.
- Acho que estamos todos confusos. Foi um dia muito agitado.
- Sim, foi mesmo.
- Eu sei quem sou, Gina. O segundo filho de uma família de classe média baixa. Meu pai sempre gostou de jogo e uísque um pouco mais do que devia, e minha mãe vivia cansada de tanto trabalhar. A vida era assim, e a levávamos em frente. Sei quem sou - ele continuou.
- Sou um treinador de cavalos danado de bom. Nunca fiquei num emprego, num lugar, por mais de três anos. Deve entender isso. Eu nunca quis me sentir preso.
- E eu estou prendendo você...
Ele ergueu a cabeça, seus olhos pareciam distantes e vazios. - Você poderia. Mas então, como seriam as coisas?
- Por falar em cabeças-de-vento. - Ela suspirou e então caminhou até ele e se agachou.
- Sei quem eu sou, Harry. Sou a filha mais velha de pais maravilhosos. Tive o privilégio de ser criada num lar cheio de amor. Desfrutei muitas vantagens.
Erguendo a mão, Gina impediu-o de falar, e continuou.
- Sei quem eu sou. Sou uma professora danada de boa e criei raízes aqui. Posso fazer a diferença, não importa onde esteja, porém escolhi este lugar. Mas também percebi que não quero fazer isso sozinha. Quero prender você, Harry - ela murmurou, segurando o rosto dele entre as mãos. - Estive trabalhando duro por semanas para construir uma jaula para conter essa fera que você tem aí dentro. Desde que percebi que eu o amava.
Suspirando, Harry levantou-se e a tomou pelas mãos.
- Você está misturando as coisas. - O pânico fez o coração dele disparar. - Eu lhe disse que sexo complicava tudo.
- Sim, disse. E parece claro, uma vez que você foi o primeiro homem com quem estive. Como eu poderia saber a diferença? Por outro lado, isso não leva em conta o fato de eu ser uma mulher esperta que conhece a si mesma. E sei que a razão de você ter sido o único homem com quem fiquei é porque foi o único que amei. Harry...
Gina tentou se aproximar mais, sorrindo, quando Harry procurou se afastar.
- Já tomei minha decisão. E sabe como sou teimosa.
- Eu treino os cavalos de seu pai.
- E daí? Minha mãe também trabalhava para ele.
- Isso foi diferente.
- Por quê? Oh, porque ela era uma mulher... Que tolice a minha não perceber que não podemos nos amar nem construir uma vida juntos. Agora, se você fosse o dono de Royal Meadows e eu trabalhasse aqui, então tudo estaria bem.
- Pare de me fazer parecer ridículo.
- Não posso. - Ela encolheu os ombros. - Você é ridículo. Mas eu o amo mesmo assim. Tentei encarar os fatos razoavelmente. Gosto de agir com sensatez na maior parte do tempo. Mas... - Gina sorriu. - Simplesmente não funcionou assim no seu caso. Olhei para você, e o meu coração, bem, ele insistiu em me desobedecer. Eu o amo tanto, Harry! Não pode admitir o mesmo? Não pode olhar para mim e apenas dizer?
Ele passou a ponta do dedo levemente sobre o hematoma na têmpora dela.
- Se eu fizer isso, não haverá como voltar atrás.
- Covarde. - Gina observou os olhos de Harry estreitarem-se, e pensou como era adorável conhecê-lo tão bem.
- Você não vai me encurralar.
Agora ela riu.
- Observe - desafiou, e então o prendeu contra o corrimão da escada. - Pensei em muitas coisas hoje. Você tem medo de mim... daquilo que sente por mim. É você que vive me evitando quando estamos em público, me colocando de lado quando eu o procuro. Isso me magoa.
A simples idéia o horrorizou.
- Eu nunca quis magoar você.
- Não, sei que não queria. Como era possível não me apaixonar por você? Uma cabeça dura e um coração de ouro. Combinação irresistível. Mesmo assim, me magoou. Mas achei que era apenas seu lado esnobe. Nunca imaginei que pudesse ser medo.
- Não sou esnobe nem covarde.
- Me abrace. Beije-me. Me diga.
- Droga. - Ele segurou-a pelos ombros e simplesmente ficou assim, incapaz de empurrá-la ou abraçá-la. - Foi na primeira vez que vi você, no primeiro instante. Entrou naquele salão e meu coração parou. Como se tivesse sido atingido por um raio. Eu estava bem até você entrar naquele salão.
Os joelhos de Gina falsearam. Cabeça dura, coração mole e agora, de repente, um romântico.
- Por que não me disse? Por que me fez esperar?
- Achei que fosse passar...
- Passar? - As sobrancelhas dela arquearam-se. - Como assim? Como se fosse uma gripe?
-Talvez. - Harry soltou-a e levantou-se, virando-se para contemplar as montanhas.
Gina fechou os olhos, sentiu a brisa fresca no rosto desarrumar-lhe os cabelos. Quando voltou a se acalmar, abriu os olhos e sorriu, também se erguendo.
- Isso realmente foi um banho de água fria.
- Sou eu quem lhe diz isso. Eu nunca quis possuir nada - Harry começou, ainda de costas para ela. - Era uma questão de princípios. Mas quando um homem decide se estabelecer, as coisas mudam.
"As coisas mudam", Harry disse a si mesmo outra vez. Talvez ela tivesse razão, e ele estivesse fugindo havia muito tempo. Será que depois de viajar tanto tinha chegado ao lugar ao qual estava destinado?
Destino. Era irlandês demais para não respeitar seus desígnios, para deixar de abraçá-lo na hora certa.
- Tenho algum dinheiro guardado. É uma soma considerável, já que nunca fui de gastar muito. O bastante para construir uma casa, ou pelo menos começar uma. Você gostaria de ficar perto... de sua escola, de sua família?
Gina teve que fechar os olhos outra vez. Lágrimas só serviriam para desestimulá-lo.
- Gosto de pensar nesse tipo de detalhe, mas não é uma prioridade agora. Você vai me dizer, Harry. Eu preciso que me diga...
- Estou tentando. - Ele virou-se. - Nunca pensei em formar uma família. Quero ter filhos com você, Gina. Quero você. Por favor, não chore!
- Estou tentando. Ande logo.
- Não posso ser apressado numa hora dessas... - Ele foi até ela. - Não quero ser dono de cavalos, mas posso abrir uma exceção para o presente que você me deu hoje. Como um símbolo. Eu não tinha fé em Finnegan, não acreditava que ele pudesse vencer. Também não tinha fé em você... Me dê sua mão...
Gina estendeu a mão e fechou os dedos sobre os dele.
- Diga-me.
- Nunca disse essas palavras para outra mulher. Você será a primeira e a última. Eu amei você desde o primeiro instante, como se fosse mágica. Com o tempo, esse amor foi crescendo e me dominando como se fosse uma coisa viva dentro de mim.
- Era tudo o que eu precisava ouvir. - Gina levou a mão dele aos lábios. - Case comigo, Harry.
- Com os diabos! Será que nunca deixa ninguém tomar a iniciativa?
Ela teve que morder a língua para não rir.
- Desculpe-me.
Soltando uma risada, ele a tomou nos braços, erguendo-a do chão.
- Bem, com os diabos! Claro que vou me casar com você.
- Agora mesmo?
- Agora mesmo. - Harry encostou os lábios na têmpora dela, beijando-a. - Eu amo você, Gina, e já que é cabeça-de-vento o bastante para se casar com um bastardo irlandês vil e insensível, e acredito que seja, vou subir até aquela casa e pedir sua mão para seu pai.
- Pedir minha... Harry, realmente...
- Vou fazer tudo direito. Mas talvez seja bom você ir comigo... caso ele tenha achado a tal arma.
Gina riu e encostou o rosto no dele.
- Vou proteger você.
Harry colocou-a no chão. Começaram a caminhar juntos através das coloridas flores de outono, das cercas brancas e do campo onde os cavalos perseguiam as próprias sombras.
Quando Harry segurou na mão dela, Gina fechou os dedos com força sobre os dele. E nesse momento soube que possuía tudo com o que sempre sonhara.
FIM
Aaa gente infelizmente é o ultimo cap :S Gostei tanto de estar escrevendo esta fic! Espero que gostem do ultimo cap. Obrigado a todos que estiveram acompanhando a fic!
Obrigado pelos comentários a:
- Fl4v1nh4
- Quézia
- Vullcano
- Guta Weasley Potter: Fico feliz que vc tenha gostado ^^ Ta ai o próximo capitulo!
- Hannah B. Cintra: Ainda to viva... AUAHSUASUA´ Agente se vÊ por aki xD´
Comentários (2)
Adorei!Simplesmente perfeita!;*
2012-09-07Maravilhosa essa Fic!
2011-06-12