Capitulo I
Até onde Harry Potter sabia, uma mulher muito vingativa havia inventado a gravata, para sufocar o homem e deixá-lo tão fraco que pudesse ser puxado e levado para onde ela quisesse. Usar uma dessas coisas o fazia sentir-se nervoso, inquieto e até mesmo desajeitado.
Mas gravatas apertadas, sapatos polidos e uma atitude elegante eram requisitos indispensáveis em esnobes country clubs, com seus pisos brilhantes, lustres de cristal e vasos decorados com flores que pareciam vindas de Vênus.
Ele preferia estar nos estábulos, nas pistas de treinamento, ou mesmo em um bom e esfumaçado pub, onde um homem podia acender um cigarro e falar o que lhe viesse à cabeça. Na opinião de Harry, era em lugares desse tipo que homens de verdade falavam de negócios.
Porém era Arthur Weasley quem pagara para ele estar ali, e o homem queria conversar sobre a possibilidade de Harry mudar-se de Kildare, na Irlanda, para a América.
Para treinar cavalos de corrida era imprescindível entendê-los, trabalhar com eles, até mesmo viver a seu lado. Quem possuía essas qualidades não precisava dar muita importância à moda. Mas country clubs eram lugares para os proprietários, pessoas que encaravam a atividade como hobby, ou então buscavam prestígio e lucro.
Com uma rápida olhada ao redor, Harry concluiu com segurança que a maioria das pessoas que estavam ali, vestidas em seus elegantes trajes black-tie, não possuía a mínima idéia de como escavar a terra para adubá-la.
Ainda assim, se Weasley queria ver se seu empregado sabia como se portar em ocasiões como aquela, misturado à nobreza, Harry não iria decepcioná-lo... Bem, na verdade, o emprego ainda não era de Harry. E ele o queria muito.
O haras Royal Meadows, de Arthur Weasley, era um dos mais famosos e bem-sucedidos dos Estados Unidos. Na última década, caminhava a passos largos para também se tornar um dos principais do mundo. Harry havia visto os cavalos americanos correrem em Kildare, na Curragh. Eram animais espetaculares. Na última vez, poucas semanas antes, o cavalo treinado por Harry superara o americano por apenas meia cabeça.
Mas meia cabeça fora mais do que suficiente para vencer a prova. Mais do que isso. Também fora o bastante para fazer o ilustre sr. Weasley se interessar por Harry Potter.
Isso também tinha bastado para levá-lo àquele lugar. Harry aceitara o convite para viajar até a América, e agora se encontrava em uma festa de gala em um clube esnobe, cheio de mulheres e homens que transpiravam riqueza.
A música era enfadonha, incapaz de contagiar alguém. Mas ao menos ele podia se consolar com a cerveja, enquanto observava aquelas pessoas estranhas.
Os casais pareciam dançar mais por dignidade do que por entusiasmo. Mas quem poderia culpá-los? Afinal de contas, a orquestra era tão viva e animada quanto um velório!
Era uma experiência interessante observar todas aquelas jóias reluzindo. O proprietário do haras em que ele trabalhava, em Kildare, não tinha o costume de convidar os funcionários para festas daquele tipo.
O velho Mahan era um bom homem. E adorava seus cavalos, ainda mais quando eles venciam. Mesmo assim, Harry não pensara duas vezes antes de aceitar o convite para largar seu emprego na Irlanda e correr atrás da chance de trabalhar na América. E se não conseguisse trabalhar no Royal Meadows, iria atrás de outro haras.
Harry gostava de mudanças. E por ser assim, e saber exatamente quando chegava a hora de arrumar suas coisas e partir, conseguira trabalhar em vários dos melhores haras da Irlanda.
Não havia nenhum motivo para que na América as coisas fossem diferentes. Na verdade, podiam ser até melhores. Aquele era um grande país, cheio de oportunidades.
Harry tomou um gole de sua cerveja, e então ergueu uma sobrancelha quando notou que Arthur Weasley tinha acabado de entrar. Foi fácil reconhecê-lo, assim como sua esposa irlandesa.
Weasley era alto e imponente. Seus cabelos misturavam fios prateados e ruivos em doses iguais. Tinha um rosto forte, bronzeado por anos de trabalho ao ar livre. A seu lado, a esposa parecia uma boneca, com um corpo pequeno e delgado e os cabelos ruivos mais brilhantes. Os dois caminhavam de mãos dadas.
Aquilo era surpreendente para Harry. Seus pais tiveram quatro filhos, e sempre haviam trabalhado juntos como se fossem um time. Mas eles nunca faziam demonstrações públicas de seu afeto, mesmo algo tão inofensivo quanto ficarem de mãos dadas.
Um jovem caminhava ao lado do casal. Assemelhava-se ao pai, e Harry o havia conhecido nas pistas de Kildare. Era Rony Weasley. Parecia totalmente confortável naquele lugar, assim como com a esguia e atraente morena pendurada em seu braço.
Até onde ele sabia, os Weasley tinham cinco filhos. Mas só quatro estavam ali: uma moça, um rapaz e um casal de gêmeos. Harry achava que crianças que haviam crescido cercadas de todos os privilégios deviam considerar perda de tempo ocupar-se do dia-a-dia de um haras. Não esperava ter nenhum contato com elas.
Então ela entrou, rindo.
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