Prólogo



Prólogo



Eu não sou especial, nunca consegui fazer coisas diferentes das que ás pessoas ao meu redor fazem, talvez a única certeza de que sou um pouco diferente dos outros é o fato de que meu sobrenome ainda causa impacto por onde eu passo. Quando eu digo que não sou especial, estou dizendo para os bruxos, os trouxas certamente me encarariam de um modo diferente, talvez como uma aberração ou talvez como uma divindade...

O que me difere de outras pessoas de minha idade é o que eu sinto, acho que quando sentimos algo em relação à outra pessoa, um sentimento tão grandioso capaz de ser cegante, isso, esse sentimento nos faz ser um pouquinho diferente, um pouco mais... Divinos. Afinal, como Lutero já disse “A natureza humana é má o divino sempre será bom.”

Um equivoco falar sobre bem ou mal, afinal possuo um sobrenome que já me acusa: “Malfoy”, mal, má fé.

Meu pai foi um Comensal da Morte que recebeu absorção da corte acusatória graças à piedade de Harry Potter. Potter afirmou que meu pai não sabia o que estava fazendo, e o defendeu afirmando ás mesmas palavras que um ex-diretor de Hogwarts afirmou um dia: “Ele não é um assassino!”.

Draco Malfoy, este é o nome dele, do meu pai... Ele se tornou médico do St.Mungus, na verdade ele comanda uma grande equipe lá, ás vezes acho que meu pai é médico por remorso, como se pagasse uma dívida com a sociedade a cada vida que conseguisse salvar, a mente de meu pai sempre vai ser um grande mistério para mim.

Minha mãe é filha de burocratas, ás vezes acho estranho seu envolvimento com meu pai, ela é tão cuidadosa e tão meiga que chega a ser um mistério que ela tenha se envolvido com uma pessoa tão “obscura” quanto ele. Quando era pequeno eu costumava me sentar nas escadas de minha mansão apenas para ver meu pai dançar com minha mãe durante a madrugada, quando eu via aquilo o mundo parava e eu só conseguia me imaginar futuramente segurando uma mulher em meus braços do modo que meu pai a segurava. Minha mãe, Astoria Malfoy, sempre foi o exemplo de mulher que eu queria ao meu lado: linda, educada, inteligente, quase perfeita, sua única imperfeição talvez fosse o fato de ser detalhista demais.

- Scorpius! Oh, ainda não está pronto? – A cabeleira loira de minha mãe surgia na porta de meu quarto conforme ela indagava perplexa.
- Só falta fechar o malão... – Comentei saltando da janela fechando meu livro de anotações.

Astoria me olhou com seus olhinhos dourados, ela era bastante alta para uma mulher e muito magra, dava um ar de imponência pouco visto nas mulheres do mundo atual. Forcei um sorriso para ela fechando a imensa mala que seria uma de minhas companheiras de viagem para Hogwarts, conforme eu o fazia eu podia sentir queimando em minha nuca seu olhar protetor.

- Você fica igualzinho ao seu pai quando sorri dessa forma... – Ela comentou me fazendo soltar um risinho pelo nariz e voltar a encará-la com uma sobrancelha arqueada, a verdade é que eu era a perfeita cópia de meu pai em quase todos os tipos de atitudes.
- Posso levar isso como um elogio?
- Você realmente é o seu pai. – Astoria sorria passando a mão pelos longos cabelos lisos loiros. – Muito bem, espero que esteja pronto, seu pai ficou de nos encontrar na plataforma.
- Mãe... – A chamei assim que ela se virou para sair do quarto. – Vou sentir sua falta.
- Eu também. – Ela me respondeu sem se virar deixando a porta de meu quarto vacilante.

Astoria nunca quis que eu fosse para Hogwarts, ela tentou a todo custo convencer meu pai de que havia excelentes escolas no mundo inteiro que fariam questão de me aceitar, mas meu pai fora completamente inflexível quando se tratou desse assunto. Ás vezes acho que meu pai quer provar ao mundo que ele não é um monstro, mas para minha mãe, ele me mandar para Hogwarts foi o ato mais monstruoso que ele poderia ter feito e bem... De certo modo ela teve razão nos primeiros anos.

Hogwarts não foi o paraíso para mim quando pisei lá, assim que meu sobrenome era citado todos me olhavam de maneira hedionda e torciam os narizes como se por fim eu cheirasse muito mal. Nunca deixei transparecer que aquilo me afetava de modo quase insuportável, ergui meu queixo como um Malfoy deveria fazer e durante três anos vivi em Hogwarts na casa da Sonserina completamente só, sem amigos e sem minha família.

Meu terceiro ano melhorou quando eu entrei como Artilheiro Principal do time da Sonserina, em meu primeiro jogo contra a Grifinória deixei Alvo e James Potter a ver navios com minha habilidade no jogo e com isso acabei ganhando uma bela popularidade entre ás casas e com alguns professores, afinal para eles, quem joga quadribol tão bem assim não pode ser uma pessoa terrível não é?

- Sr. Malfoy, Kita pode levar suas malas para baixo? – Uma pequena Elfa de imensos olhos lilás adentrara meu quarto saltitante.
- Claro Kita, pode levar... – Sorri levemente vendo-a arrastando o malão para fora do quarto, se eu negasse isso certamente a Elfa permaneceria em depressão profunda até o Natal e quem sou eu para magoar uma Elfa não é mesmo?

Olhei mais uma vez a minha volta, fixando meu olhar no imenso espelho da parede. As garotas sempre foram atiradas quando se tratava de minha pessoa, John costuma dizer que elas beijam o chão em que passo, sinceramente isso pouco me importa, odeio mulheres atiradas, principalmente quando elas não se tocam de que eu não estou nem um pouco interessado.

- SCORPIUS DESÇA! – O berro de minha mãe ecoava pelas paredes da mansão.

Suspirei fundo apanhando minha jaqueta de couro de dragão a jogando sobre os ombros dando uma última olhada no espelho do meu quarto me retirando dali. Deixar a Mansão Malfoy já não era tão difícil a quatro anos, e agora em meu ultimo ano em Hogwarts eu poderia finalmente me libertar.


A plataforma 9 ¾ aparentemente é convidativa para os primeiranistas, para mim foi o martírio... Vejo o modo como minha mãe se posiciona, ela não cansa de procurar meu pai em todos os cantos desse lugar, a desculpa de me livrar do malão parece acalma-la enquanto a deixo sozinha, minha mãe sempre foi tão protetora quando se trata de mim e meu pai que ás vezes chega a ser sufocante.

- Mais uma vez se livrando das bagagens Cor Cor? – Essa voz, essa irritante voz masculina jamais me confundiria, a única pessoa no UNIVERSO capaz de arranjar um apelido tão patético e idiota para mim só poderia ser ele: John Tahan.

Nem precisei virar muito a cabeça para ver seus cabelos negros espetados e seu sorriso de quem aprontou uma das boas nos lábios, John está com absoluta certeza longe de ser considerado a pessoa mais sã do planeta.

- Se eu pudesse me livrar de você eu certamente me livraria de todas minhas malas John. – Girei os olhos enfiando o malão no trem para finalmente encarar o sorriso maroto do meu grande idiota, digo... Grande amigo.
- Você realmente sabe como ferir os sentimentos de uma pessoa cara!
- Digamos que é meu objetivo de vida, magoar o máximo de pessoas irritantes que eu puder.
- Wow! Que humor hein? O que foi? Esbarrou com algum Weasley?

Eu já frisei o fato de John ser idiota? Bom, ele é MUITO IDIOTA. Meu olhar assassino sempre faz os outros se calarem, mas não no caso dele, aparentemente John Tahan tem uma queda por “suicídio”.

- Não ouse me estressar Johnnathan.
- Perdão meu amado, idolatrado e estimado CorCor, masss... Eu tenho fofocas da hora para te dar, coisas do seu interesse social eu acho.
- Acredite John, nenhuma fofoca sua pode ser de meu interesse.

Sim, ele é um fofoqueiro. John consegue obter mais informações do que qualquer mulher curiosa, ás vezes acho que John é uma mulher disfarçada.

- Nem sobre a Weasley Gatinha? – Ele me sorria debilmente arremessando LITERALMENTE o malão dentro do trem, a menção do nome Weasley Gatinha foi o máximo para me fazer apurar os ouvidos, Weasley envolvida em uma fofoca era algo incrivelmente... Novo!
- Desembucha. – Foi o máximo que consegui pronunciar.
- Bem ela... – John começara a falar de maneira lenta, mas não conseguiu terminar.

Sabe qual é o pior das fofocas boas? É fato de o motivo da fofoca se aproximar exatamente na hora que a fofoca está se propagando no meio ambiente, e bem... O motivo da fofoca estava se aproximando de maneira bem veloz.

Pequena, ok... Estou sendo generoso... Ela é extremamente pequena, deve ter seus 1,58m de altura ou menos, cabelos extremamente ruivos ondulados um pouco abaixo dos ombros e olhos incrivelmente azuis turquesas, muito bonita para uma Weasley na minha opinião.

- Rose Weasley. – Sussurrou John com um sorriso de canto nos lábios.

Ela aparentemente não nos viu, ou fingiu não nos ver, retirou de maneira extremamente bruta a imensa mala do carrinho (mala que por sinal parecia ser maior que ela), a força que a garota fazia a deixava com ás bochechas extremamente vermelhas o que me faz perguntar onde raios está um dos primos ou irmão dela, já que ela anda com uma ronda de guarda costas por onde vai.

- Que ajuda Weasley? – John perguntara de maneira provocativa fazendo finalmente os olhinhos azuis o fitarem com um ódio descomunal.
- Não. – Rosnou a garota puxando com força o malão e tentando o erguer sem muito sucesso.
- Tem certeza? – Desafiou John. – Essa mala é do seu tamanho sabe? Duvido que consiga colocá-la no trem.
- O que isso te diz respeito Tahan? – A voz dela era cortante.

Fitar Rose Weasley se estressando sempre foi uma das coisas que mais apreciei em minha estadia em Hogwarts, ela possui um pavio longo, mas quando estoura é deveras divertido, como no ano retrasado quando seu primo James Potter a disse que ela não poderia entrar no time da Grifinória, bem... A Ruiva praticamente o fez engolir uma goles de uma maneira não muito, suave.

- Bem, eu não gosto de ver meninas bonitas de braços machucados... – John usava seu charme dando uma piscadela para a ruiva que o fitou boquiaberta, talvez não tão boquiaberta quanto eu.

Torci o nariz para John, quem ele pensava que era para começar a paquerar a Weasley na minha frente? Ele não entendeu que minha família e a dela são inimigas e que ele de fato é o meu melhor amigo? Será que essa ANTA ainda não se tocou que eu estou presente? Por Merlim! Bufei impaciente, logo caminhando e arrancando o malão das mãos da ruiva o enfiando dentro do trem logo dando ás costas à cara estupefata que ela fez para mim.

John, meu pseudo-melhor-amigo gargalhou alto logo correndo atrás de minha pessoa, se a Weasley fez algo pouco me importa.

- A cada ano que passa isso fica mais divertido! – John comentava pousando um de seus braços sobre meus ombros. – Quando você vai agarrá-la e dizer que a ama?

Como eu disse antes... JOHNNATHAN TAHAN É UM COMPLETO IMBECIL!

- Desencosta Johnnathan.
- Qual é Corcorzinho, você e a Weasley Gatinha foram feitos um para o outro, lembra ano passado quando você quase teve um enfarte quando soube que ela estava namorando o Robert Galle da Corvinal?
- Eu não tive um quase enfarte Johnnathan! Eu apenas me assustei com o fato de algum ser vivo querer namorar aquilo!
- Ah claro... – John ironizava me olhando com desdém. – Em falar em Robert, eles terminarão no verão.
- Hã?

Parei subitamente, meu cérebro processa mil coisas ao mesmo tempo, a maioria pensamentos assassinos direcionados a essa ameba que eu chamo de amigo, quando ele simplesmente solta que a Weasley terminou com o Sr. Perfeição Corvinal. Bem, eles praticamente foram eleitos o “Casal Hogwarts” no ano passado e simplesmente acaba? É, isso é sinal de que o apocalipse está chegando.

- Aparentemente a Suzan que é amiga da Karen que é prima de Layla que é a melhor amiga da Lílian Potter soube que a Lílian contou para a Layla que falou para a Karen que chegou ao ouvido da Suzan de que o Robert a traiu no verão.
- E o que a Weasley fez?
- Bem, segundo Suzan, a Weasley apenas terminou.
- Só isso? Nada de barracos, socos?
- Nadica de nada, mas pelo que Suzan disse, o humor da Weasley não anda nada bom, nem mesmo o primo dela Alvo Potter tem agüentado!
- Que coisa não? – Sorri abertamente.
- Você está feliz não está?
- Cala a boca John.
- Qual é, pode falar para mim! Eu sei que você está feliz!
- John se você continuar eu vou te bater.
- CorCor está IN LOVE! CorCor está IN LOVE! Uhu Uhu Uhu!

Extremamente idiota, eu sei.

- Quem está apaixonado? – A voz arrastada de meu pai ecoava fazendo com que finalmente a BESTA ao meu lado calasse o raio da boca.
- Ninguém Sr. Malfoy! – John sorria debilmente mostrando os dentes da boca.
- John estava apenas a fim de me tirar do sério. – Resmunguei olhando para minha mãe que sorria gentil, ela sempre sentiu um carinho especial por John, segundo ela John é o irmão que eu nunca tive, sinceramente eu agradeço por não ter tido um, pois se ele fosse como John já teria morrido a séculos.
- Bom... – Draco me encarava com seus olhos cinzas idênticos aos meus. – Ultimo ano hum?
- É... – Respondi calmamente.
- Então, ano que vem faculdade...
- É... Bem... – Cocei a cabeça recebendo um olhar feio de John.
- É melhor vocês embarcarem... – Astoria me interrompia apontando para o trem que havia acabado de soar. – Espero cartas dos dois, John me escreva sobre ás coisas que Scorpius ainda insiste em me omitir sim?
- Claro milady! – John se curvava numa reverencia curvada beijando as costas das mãos de minha mãe dando um aceno de cabeça ao meu pai.
- Pai, mãe... – Suspirei abraçando ambos. – Até o Natal.
- Até querido! – Astoria sorria com lágrimas nos olhos.
- Até. – Draco me encarava com sua costumeira carranca.

Assim que dei ás costas a meus pais pude notar a cara feia de John que veio seguida de um sussurro “Você ainda não contou para eles?”, apenas maneei a cabeça em resposta eu não estava muito a fim de entrar numa discussão sobre o que iria fazer pós Hogwarts, na verdade eu não estava muito preocupado com o futuro, mas sim com o meu presente.

A visão da cabeleira ruiva ondulada a minha frente era motivo suficiente para que eu me perdesse, eu sei que neguei milhões de vezes o fato, mas a verdade é que eu sempre amei Rose Weasley, sempre fui apaixonado pelos seus olhos turquesas e seu sorriso singelo, desde meus 11 anos de idade que eu sinto meu coração bater mais forte por ela e desde meus 11 anos que eu não faço nada a respeito disso.

Alguns ousam dizer que escorpiões não têm coração, apenas veneno, eu prefiro dizer que o coração de um escorpião é protegido por um veneno, escorpiões não gostam de se sentir vulneráveis, entretanto não é pelo fato de não se expressar que quer dizer que um escorpião realmente não sinta. E eu... Bem... Eu sentia algo muito forte por Rose Weasley e talvez isso me diferenciasse de outras pessoas de minha idade.

“Pensar é um Ato, sentir é um Fato
(Clarice Lispector)


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