O Eleito e A Harpia
Capitulo 1
O Eleito e A Harpia
Era uma noite fria aquela que via pela janela. A chuva fina não permitia a visão de muito mais do que a portaria do prédio. Não que isso a incomodasse, já que, para variar, ela se distraia lendo um livro de capa azul onde se podia ler “Os julgamentos e suas nuances”.
Ela estava pleiteando uma transferência para o Departamento de Execução das Leis da Magia e estudava por conta. Mesmo que não conseguisse, o que esperava que acontecesse após o rebuliço que aprontara com a lei Dobby, que dava direitos trabalhistas aos elfos domésticos se estes assim o desejassem, Hermione Granger esperava estar preparada.
Lembrava-se com saudade do tempo em que seu namorado chegava na hora marcada. Desde que abandonara o emprego na Gemialidades Weasley, Rony não tinha um horário fixo. Primeiro a desculpa era o curso de auror que o ruivo resolvera fazer incentivado por Harry, depois eram os bruxos das trevas que apareciam aos montes desde que Voldemort se fora.
Agora era Harry quem estava mal. Rony lhe falou pela lareira que estava preocupado com o amigo. Como se ela não se preocupasse! Mas ambos sabiam muito bem qual era o problema do menino-que-sobreviveu: uma certa ruivinha, artilheira das Harpias de Hollyhead.
Harry costumava ir a um estranho pub na Londres trouxa. Era um bar como todos os outros, não fosse três coisas: o lugar nunca estava cheio, graças ao rumor de que era mal assombrado; o seu nome também era no mínimo sugestivo: Charming Chords e outra coisa que o destacava era a maravilhosa pianista que lá tocava. Isabelle tinha um talento incrível, tendo inclusive como segundo emprego o de professora de piano e voz. Era dona de um corpo muito bonito, sempre realçado pelos belos vestidos de noite que usava para tocar e sua enorme cabeleira de um negro tão profundo e brilhoso que beirava o irreal.
- Agora eu entendo porque você resolveu ter aulas de piano – Rony comentou divertido, enquanto sentava-se à mesa onde Harry se instalava às terças.
- Sua namorada vai acabar brigando comigo por sua causa – O Eleito estava a antítese de tudo que as pessoas esperavam dele. Fazia alguns dias que estava cabisbaixo e eram visíveis as marcas em seu rosto das noites mal dormidas.
- Eu avisei a Mione de que iríamos conversar – recomeçou o ruivo tentando esconder a irritação – Morrisey me disse que você quase azarou um trouxa na estação de metrô hoje e não é a primeira vez que se distrai – Rony lembrava muito a sua mãe quando tentava ralhar com Harry. - Por que você não me conta o que está acontecendo?
- Por que tem que estar acontecendo algo? – Harry respondeu, entredentes.
- Será por que você foi eleito no ano passado o melhor auror da Inglaterra? Por que é o cara que venceu Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nominado? Por ser tão bom nisso que nos deu aulas suplementares no quinto ano? Ou você esquece de tudo quando pensa no prêmio que deveria ter entregado à minha irmã no domingo? – Rony irritava-se com aquela passividade do amigo. Ele, que lutara tantas vezes, não podia se dar por vencido tão facilmente. Não era possível que O-Menino-Que-Sobreviveu fosse tão burro a ponto de não perceber o óbvio: sentia falta de Ginevra Weasley.
- Eu estou com a mente em outro lugar – respondeu o moreno, triste.
Sabia que o amigo tinha razão, mas depois do que Gina fizera não havia muito o que cultivar entre os dois, a não ser a dor enorme que ele pretendia esquecer... bem longe de Londres.
- Não acredito que você aceitou! Diga para mim que você está brincando... – a decepção tomou conta de Rony Weasley. Seu amigo aceitara o convite de uma escola estrangeira para ensinar DCAT.
- Não, Rony. Você sabe que eu vou para a Durmstrang no ano que vem e pronto! Nada do que a sua irmã disser mudará isso – O Eleito, na verdade, desejava estar errado.
- Se nada do que ela disser vai mudar, por que não ouvir? – arriscou o ruivo, sabendo que pisava em terreno pantanoso. – No domingo a minha mãe quer fazer uma festa de despedida para você e eu espero que apareça lá! Se não for, irei te azarar com tanta força que você passará seus dois anos de intercambio na ala hospitalar daquela pocilga que escolheu chamar de lar – deixou alguns sicles na mesa para pagar a bebida, o que era inútil já que estavam num bar trouxa, e se retirou, deixando Harry com os seus pensamentos.
Num lugar não muito longe dali...
Hermione tentava se concentrar no livro, mas depois do que Rony lhe dissera pela lareira era complicado não se preocupar com o seu velho amigo. Quase azarar um trouxa sem querer... isso não era típico do Harry. Ele podia ser distraído quando estavam nos churrascos da família Weasley ou mesmo nas reuniões na sua casa, mas nunca numa missão! Sabia que ele não estava bem e, na verdade, desconfiava que a solução para os seus problemas era a caçula da família do seu futuro noivo.
Enquanto pensava, Hermione ouviu um ruído na lareira e, achando que era Rony, demorou a atender.
- Você não morre tão cedo, menina! – disse, sorrindo para a cabeça de Gina na lareira.
- Cruzes, Mione! Se está ocupada, volto noutra hora – disse a ruiva, chocada.
- Deixa de ser boba, Ginny! – Hermione a todo custo tentava segurar a gargalhada. – Isso é uma expressão trouxa e quer dizer que eu estava pensando em você.
- Ah, tá...- a outra parecia mais relaxada. – Você está ocupada? Precisava conversar com uma amiga – Gina tentava ser jovial, mas tinha algo no seu tom de voz que não combinava.
- Venha pra cá já! – nem bem acabou de falar e a sua futura cunhada estava na sala, tentando se livrar da fuligem.
- Onde está o Rony? – perguntou a ruiva para quebrar o gelo.
- Ele tá conversando com o Harry... parece que os nossos amigos resolveram ter problemas juntos.
- Pois é, Mione, era sobre ele mesmo que eu queria falar – ela parecia mais aliviada, pois não tinha a menor idéia de como introduzir aquele assunto na conversa.
- Sinta-se em casa. Eu estava fazendo um chá, você aceita?
- Aceito – a mais nova achou melhor beber alguma coisa. Talvez um chá ajudasse a se acalmar e a começar a contar tudo o que acontecera para Mione.
A antiga sabe-tudo não tinha certeza de como poderia ajudar a amiga, já que em todas as vezes que se tocava no assunto Gina-com-Harry, o menino ficava sério e com olhar perdido. No máximo ele respondia superficialmente e desconversava. Nem mesmo Rony, várias garrafas de cerveja amanteigada e whisky de fogo conseguiram arrancar dele o que acontecera naquela noite em que Gina contou ao ex-namorado que queria jogar pelas Harpias ao invés de casar.
Hermione voltou à sala com uma bandeja com o chá, algumas bolachas e duas fatias de bolo. Se ela já não tivesse apoiado a bandeja na mesinha de centro tudo teria caído já que ela não estava pronta pra tal pergunta.
- Mione, você acha que eu fiz mal em escolher as Harpias? – a ruiva nunca duvidara tanto de sua escolha, mas agora sentia uma tristeza capaz de cortar o coração.
- Você tá arrependida da sua escolha? – a Granger tentava ganhar tempo enquanto o seu cérebro estava a mil, buscando algo realmente bom para dizer.
- Não que eu esteja arrependida - suspirou, derrotada. – Eu sinto como se faltasse algo... – os olhos de Gina estavam perdidos, mas a morena podia imaginar o que eles estavam buscando no alto da estante: uma foto trouxa que eles tiraram na viagem à Disney. Rony e Hermione abraçados de um lado e Harry com um lago sorriso, fazendo cócegas em Gina.
- Por que você não chama o Harry para conversar? – se meteu Rony, que acabara de chegar da rua.
- Oi, Rony. O Harry tá bem? – perguntou a ruiva, só se dando conta do que havia falado quando Rony fez uma careta entre o riso e a falsa decepção.
- Eu estou ótimo, Gina. Que bom que você se preocupou – fingia estar contrariado pelo esquecimento da sua irmãzinha.
- Desculpe-me, Roniquinho. Vim pedir um conselho à Mione, mas acho que você pode me ajudar – era difícil admitir que precisasse de auxilio. Pelo menos para isso servira o quadribol: a ruiva sabia o que era um time. Era isso que fora buscar na casa da amiga: uma equipe para tentar consertar o que acontecera naquela tarde no Três Vassouras.
" O sétimo ano de Ginevra em Hogwarts fora muito difícil. Logo no começo do ano ela assumira o posto de capitã do time de Grifinória que, com a saída de Harry, Rony e Dino, voltava a ficar desfalcado dos seus mais experientes jogadores. Enquanto estava na escola, sua vida passou a ser aquele time.
O Potter estava longe, cursando a escola de aurores, e nem sempre conseguia aparecer em Hogsmade nos dias de passeio. Não se sentia sozinha ou abandonada, mas a falta do namorado às vezes ficava gritante nos dias mais problemáticos, sem contar os NIEM’s.
Foi mais ou menos pela época do Natal que o prof. Slughorn ofereceu-lhe um contato com a Srta. Jones, ainda a capitã das Harpias, que viera ver alguns jogos do time, prometendo a Gina uma vida financeiramente mais tranqüila. A ruiva pensava em devolver aos pais tudo o que eles se esforçaram para lhes dar e, junto disso, poder jogar quadribol. Nossa, seria um sonho!
Mas o Harry tinha outros planos. Ele já possuía uma pequena fortuna e, depois da derrocada do Lord das Trevas, era o caminho mais comum que ele entrasse para a seção de aurores.
Harry e Gina nunca haviam falado sobre aquilo, mas era como um acordo mudo: depois do sétimo ano da garota, eles se casariam e começariam a sua vida em conjunto. Ainda assim, Gina não podia negar que ficara encantada pela vida de glória que as Harpias lhe proporcionariam e por isso fizera o mais impensável.
Quando o moreno sentou-se naquela mesa do Três Vassouras, bem na sua frente, ele puxou uma caixinha do bolso com os olhos brilhantes. O coração de Gina disparou. Agora, tudo o que estava previsto viraria de ponta a cabeça, já que ela tinha assinado um pré-contrato com as Harpias de, pelo menos, três anos. Ele desmontou.
Ela nunca esqueceria o aquele olhar que o seu amor lhe guardara. Só quem amou alguém profundamente seria capaz de entender o que acontecera. Harry esperava apenas a aceitação da aliança para recomeçar e ela o trocara pela fama e dinheiro. Gina também pensara daquele modo, sentindo-se suja. Não podia mais cancelar o contrato e não tinha com o que argumentar. Deveria ter falado sobre aquilo em suas cartas.
Ela simplesmente o deixara virar as costas e sair, sem dizer nada para se defender. A ruiva não tinha defesa. Era uma bruxa adulta e teria que assumir com as suas próprias escolhas.”
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