Meu Mundo é Você
Não é fácil para ninguém admitir um erro. Ainda mais quando se é O-Menino-Que-Sobreviveu, O Eleito, O Salvador, O Auror do Ano e muitos outros títulos que ele acumulou durante a vida. Harry curtia aquele momento em que se arrumava frente ao espelho. Ali, despido de toda a roupa e as máscaras e títulos, se sentia mais real. Às vezes toda aquela badalação o fazia ter a impressão de ser meio etéreo, como se visse a própria vida de fora.
Em Hogwarts, Ron e seus acessos de ciúme e Hermione e suas broncas o mantinham mais ligado ao que estava à sua volta. Seus amigos foram indispensáveis para que tivesse a chance de enfrentar Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado.
É engraçado como naquela época eu já encarava o meu destino. No segundo ano toda a escola, aquele lugar que foi o meu primeiro lar de verdade, se virou contra mim. Pensava que havia sofrido o bastante nas mãos dos Dursleys, mas ainda não tinha idéia do meu destino. O ano passou ligeiro e, mesmo tendo que agüentar o charlatão Lockhart,- coitadinho, diria ela- encarei o destino duplamente. Pela primeira vez fiquei face a face com o inimigo e salvei a mulher da minha vida, mesmo ela não me merecendo.
A partir do terceiro ano, o mundo bruxo estava cada vez mais entranhado a minha vida. Mergulhei de cabeça na história dos meus pais e conheci meu mais próximo parente bruxo: Sirius. Não que ele fosse um paizão pra mim. Esse papel Lupin fazia bem melhor que Almofadinhas, mas aquele cachorro era o amigo mais velho do qual a gente arranca os maiores segredos da vida. Tenho certeza de que ele ia querer me ensinar a arte de tomar detenções, a paquera, dividir comigo as angústias. Às vezes acho que ele se foi cedo demais. Talvez eu tivesse realmente muito que aprender com o velho cachorrão.
O ano do torneio tribruxo! Nunca desejei aquilo, mas me foi imposto como dezenas de coisas me foram impostas durante toda a vida. Ter uma marca idiota na testa, ser o salvador do mundo bruxo, um inimigo fortíssimo que me levou, diretamente ou não, muitos dos meus melhores companheiros e outra série de coisas que poderia comentar aqui. Mas me foi imposto mais esse desafio. De novo o apoio de Hermione foi crucial. De novo Ron estava firme na sua posição. Os Weasleys estavam se tornando a família que nunca tive. O torneio foi duríssimo e a cada prova parecia como uma preparação para o que estava por vir. Mas nem mesmo o verdadeiro Moody e sua vigilância constante seriam capazes de me preparar para aquela noite no cemitério. Encontrar Voldemort, conhecer os Comensais, duelar com o Lorde das Trevas e sobreviver para contar tudo isso foi realmente muita sorte. Deveria ter desconfiado nesse ponto, afinal ali morria a primeira pessoa, excetuando meus pais, por minha causa. A luta contra Lord Voldemort estava começando a ficar cara demais e eu ainda não estava pronto para apostar tão alto. Mas estaria em breve.
O quinto ano foi um novo mundo. Eclipsados pela Umbridge e suas idéias sádicas, não tivemos outra alternativa senão nos unir. Não éramos mais o Trio Maravilha, mas agora estávamos nos tornando no que o escritor Sir. Rachibanian depois apelidaria de “Inner circle of AD”. Ainda era muito cego para ver, mas Ginny sempre estivera presente na minha vida. A partir daquele momento, ela se tornou mais presente para mim. Luna trouxe uma visão mais sonhadora para todo o grupo, entrementes, se mostrou a mais implacável quando era necessário dizer a verdade. Junto às duas se incorporou a nós Neville Longbotton, que apesar de estar na mesma série em que nós, somente se soltara naquele ano. Se no primeiro ano a luta com o trasgo montanhês selou o destino dos três amigos, a luta no departamento de mistério fez com os laços entre o sexteto se tornassem eternos.
Sabia que chegaria àquele ponto. Fui tolo diversas vezes, mas essa em especial foi uma mancada e tanto. Hoje, olhando para trás, entendo que não havia ao menos necessidade de ter ido ao departamento de mistérios. Sirius tinha diversos defeitos, mas não era burro. Ele não se deixaria capturar pelo Lorde. Ele me queria longe de encrencas. Por causa da minha burrice e teimosia em não treinar oclumência, perdi o meu padrinho talvez no momento em que mais precisava dele. Meu último elo com os meus pais havia-se ido pra de trás do véu apenas para me proteger. E para quê? Afinal a profecia me foi revelada naquele mesmo dia.
Nunca um ano foi tão cheio de reviravoltas como aquele sexto ano em Hogwarts. Dumbledore resolveu participar mais ativamente da minha preparação. Também, ele sabia que não lhe restava muito tempo. Visitamos o Prof. Slughorn e fui levado para a minha segunda casa: a Toca. Que saudades daquele velho lugar! Nem mesmo em Hogwarts me sentia tão feliz quanto na Toca. Ir para casa dos Weasleys era como ganhar uma família outra vez. Como fui besta de ficar longe de lá por tanto tempo.
Mione e Ron finalmente assumiram que eram loucos um pelo outro, houve o time de Quadribol... Foi também nesse ano em que eu tive minhas últimas brigas com o Malfoy - realmente, ele não é tão ruim. Era Comensal, mas apenas porque achava que aquilo manteria a família em segurança, coisa que se provou completamente errada. Como poderia se ter segurança com Lord Voldemort pairando sobre o mundo bruxo? Como éramos inocentes ainda nessa época..
Um único capítulo feliz: a taça de quadribol. Tudo entre eu e a ruiva começou ali. Não era como com as outras meninas. Ela me entendia. Ela sabia do que eu precisava. Às vezes penso que se não a tivesse abandonado no funeral, seria tudo diferente. Talvez fosse, mas escolhi poupá-la. Já naquela época era impossível pensar na minha vida sem aquele ser espevitado.
A segunda grande perda ocorreu naquele ano: Dumbledore se foi e me deixou o legado de continuar a caça às horcruxes e destruir o Lorde das Trevas, mas como? Eu nem imaginava naquela época o que teria de fazer nos anos seguintes.
Sim, nos anos seguintes. Depois da batalha de Hogwarts, passei todo o meu treinamento de Auror caçando os remanescentes Comensais e seus comparsas. Foi quando realmente sentia falta dela. Ela estava lá, na segurança da escola enquanto eu me expunha e não era só para salvar o mundo bruxo, como os jornais diziam, mas também para garantir a segurança dela. Meu mundo era ela, pensava Harry enquanto vestia a última peça.
- Agora eu entendo toda a sua decepção Harry – disse uma voz conhecida. Nem por isso O Eleito deixou de sacar a varinha. Velhos hábitos não se vão tão facilmente.
- O que você faz aqui, ruiva? – foi muita sorte Ginny ter tido um bom professor na AD, pois do contrário não conseguiria conjurar um escudo a tempo. – Como entrou no meu apartamento? – Harry estava a ponto de atacá-la de novo.
- Eu ainda tenho a chave que você me deu, sabe? – disse ela, num tom de censura. – Além do mais não é educado tentar estuporar as visitas aqui na Inglaterra. Talvez lá em Durmstrang seja – sem dúvida Ginny estava começando a se irritar com a teimosia dele.
- Como eu vou saber se é você mesma, Weasley? – ela não deixou passar batido o uso do sobrenome.
- Pergunte algo que só eu sei, Harry! – ela respondeu dando ênfase ao seu nome.
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