Um Caminho Para as Trevas

Um Caminho Para as Trevas



Estava preocupado e pelo que podia perceber, Gina também estava. Estava na cozinha, mas muito diferente de ter o prazer de comer algo, ele estava tendo o estômago revirado pela visão que tinha. Quem visse a cena não veria nada de errado, era somente treze pessoas esperando uma senhora. Era justamente o número de pessoas na sala que o preocupava, não que tivesse algo contra o número 13, mas isso significava que todas as pessoas da Divisão estavam ali, coisa que Norma nunca permitiu.
Gina o olhou, parecia que a raiva que ela estava dele tinha desaparecido, e do modo como ela movia seus dedos e lábios percebia-se que ela estava querendo lhe falar algo. Mas ele nem precisava ouvir as palavras da boca dela, já sabia cada preocupação da moça.
Valden lia um livro pacientemente, como se estivesse sentado na praia em um dia de verão. Ryan contava umas piadas para duas pessoas que ele não conhecia, embora esses não estivessem muito interessados na piada. Kate escrevia algo no que parecia um diário, e Marrie terminava de cozinhar alguma coisa. Um homem com alguns poucos fios grisalhos no cabelo estava tão entediado que estava conversando com as plantas, enquanto uma mulher gorda jogava baralho com Laureen Stevens, uma famosa cantora que ele sempre pensou ser trouxa. David fazia uma trança em Gina, estando realmente interessado nisso. Somente ele e Gina pareciam ter noção da gravidade da situação, ou somente os dois eram indiscretos o bastante para deixar isso transparecer.
-David, você pode me pegar um copo d'água?
Quando David saiu ela sentou ao lado de Harry.
-Pare de ficar com essa cara de preocupado, as pessoas notam.
-Mas...
-Todos estão preocupados, Harry. Mas só você demonstra.
-Mas você também não está com a melhor das caras.
-Estava tentando te avisar.
Ela voltou para o lugar dela e sorriu gentilmente para David quando ele trouxe a água ela.
-Sorrisos não pagam meu serviço, mocinha.
O beijo que David deu em Gina fez com que a cara de preocupado sumisse, embora a feição de ciúmes nessa hora também não ajudasse muito. Mas ele nem pôde pensar nisso, pois Norma entrou na sala segundos depois.
-Boa tarde.
-Boa tarde -disse Harry.
Somente ele respondeu ao cumprimento e do modo como os outros o olhavam ele talvez não devesse ter feito isso.
-Eu disse 'boa tarde' -repetiu Norma sorrindo.
-Boa tarde -respondeu um coro em uníssono.
Harry não entendeu nada, cruzou os braços e olhou de cara feia para a sala.
-Bom, não tenho tempo para rodeios. Vocês devem estar estranhando estarem todos aqui, ao mesmo tempo. A questão é que Voldemort embora não tenha enfraquecido, não tem se fortalecido. Através de informações dos espiões que temos, ele não consegue aumentar seu poder por algum motivo. Só que parece que ele descobriu um modo de conseguir o que quer, mas ele terá que, hum... hibernar.
Algumas pessoas riram, entre elas David e Gina.
-Ele fará uma magia para que esse entrave de ganho de poder se acabe, mas para que ele consiga aumentar seu poder terá que ficar em estado de dormência por aproximadamente um mês. Para tal ele construiu um forte, onde ele estará seguro.
-Esse forte está pronto? -perguntou Laureen Stevens.
-Praticamente, e por isso nosso tempo é curto.
-Nós vamos destruir o forte antes ou depois da magia dele? -perguntou David.
-Primeiro: vocês não vão destruir o forte, levaria tempo demais, só vão abalar a estrutura principal e entrar lá para fazer o que tem que ser feito. Segundo, nós vamos esperar até domingo que vem, quando ele já estará em estado de repouso.
-Por que nós vamos esperar? -perguntou Harry.
Norma suspirou de impaciência e várias pessoas reviraram os olhos.
-Enquanto estiver em repouso, ele ficará frágil, Sr. Leão. É talvez muita pretensão achar que podemos vencê-lo, mas pelo menos vamos evitar algo sério.
Marrie trouxe um copo de água para Norma que bebeu e voltou a falar.
-Essa divisão fica muito longe do ponto indicado, além do que vocês são espiões, e por melhores que sejam, destruir coisas não é bem o forte de vocês. Por isso arrumem suas coisas, até amanhã à noite essa divisão estará vazia.

Foi uma mudança fora do comum. Todas as pessoas tinham poucas coisas o que levar, mas Norma tinha caixas e mais caixas de coisas que surgiram sabe-se lá de onde. Harry não teve oportunidade de conversar com Gina, mas achava que ela nem gostaria de conversar com ele.
Apesar de tudo estava feliz, tinha a leve impressão de que estavam se dirigindo para a 5ª Divisão. Nunca pensou que ficaria feliz em ver aquele lugar novamente. Aa questão era que as pessoas lá, embora o olhassem meio de lado e desconfiassem dele, pelo menos o cumprimentavam, trocavam algumas palavras com ele ou coisa assim. Ali, além de Gina só conhecia David, Marrie, Norma e Valden, todos quatro insuportáveis. E agora Gina não conversava muito com ele também, não desde que David chegou e eles brigaram. Lá teria Luna e outras pessoas para conversar.
-Você está estranho, Leão -disse David, notando que ele sorria- Você não é muito dado a sorrisos.
-Muito pelo contrário, Lins, gosto muito de sorrir. Só que você não vale a pena.
Harry riu com gosto como se tivesse contado uma piada engraçadíssima, David levantou uma sobrancelha e saiu de perto.
Quando tudo começou a ser mandado por chaves de portal com intervalos de várias horas (por questões de segurança) o tédio começou a castigá-lo. Se fosse somente a mala individual de cada um e a própria pessoa estaria tudo bem, mas com a bagagem imensa de Norma as coisas não ficavam exatamente fáceis.
Ele estava olhando para o céu falso quando Kate lhe interrompeu os pensamentos.
-Leão, traga sua mala.
Ele a levou sem emoção. Achou que, como muitos, só iria depois que todas as malas já tivessem sido despachadas.
-Pode ficar quieto -disse a voz intimidante de Norma- você vai primeiro. Você conhece o Sr. Zian e ele não terá problema em acreditar. Entregue essa carta a ele e explique discretamente a situação. A senha é: gosto de tomate.
Os olhos de Harry brilhavam com a possibilidade de estar livre mais cedo. Pegou a carta e guardou a senha na memória.

Tinha uma verdadeira Legião de pessoas com varinhas apontadas para ele assim que apareceu na 5ª Divisão. Guy o reconheceu imediatamente.
-Ora, você não morreu?
Harry riu.
-Eu agradeço a recepção, mas para sua infelicidade ainda estou por aí, Guy.
Guy corou um pouco sem graça.
-Não foi bem isso que eu quis dizer...
Harry fez um sinal de que estava tudo bem, então tirou a carta do bolso e entregou a ele.
-Nós podemos conversar a sós?
Guy ficou sério e fez sinal para que Harry o seguisse. Assim que eles entraram na sala de Guy este apontou a varinha para Harry.
-Qual a senha?
-Gosto de tomate.
Guy sorriu.
-E não é que você realmente foi parar na 11ª Divisão?! Sente aí e me diga como isso aconteceu, eu achei que você tinha se perdido e não encontrado o portal. Quando você sumiu eu pensei, dessa vez ele morreu, mas então você aparece de novo.
-Sou mais duro na queda do que possa parecer, Guy -disse Harry sorrindo.
-Qual o recado daquela velha nojenta?
Harry suspirou aliviado.
-Aquele lugar é o inferno! Claro que lá eu estava bem mais ocupado que aqui, mas o pessoal de lá...
Guy riu maroto.
-É, eu sei do que está falando. Estive lá uma vez pra nunca mais. E aquela filha dela, a tal Marrie? É tão insuportável como a mãe...
Harry parecia ter levado um soco na boca do estômago.
-O quê? Marrie é filha da Norma?
-Bastarda. É, meu caro Potter... veja como as coisas são. Pelo que parece o casamento da velha não era grande coisa e ela resolveu pular a cerca. Quando a filha nasceu negra o marido a abandonou. E você sabe o que a cretina disse?
-O quê?
-Que estava muito melhor sem aquele "encosto". Eu não falo com ela mais do que o necessário.
Harry concordou com a cabeça, sorrido bobamente, quem diria, hein? A poderosa chefona Norma e seus segredos escabrosos do passado.
-Mas o que me diz, Potter. A carta não me é muito esclarecedora, claro, pro caso se fosse interceptada. Qual é a verdadeira situação, até onde as informações daqui conferem com as de lá?
É claro, há muito tempo não se mandavam cartas como antigamente, era raro ver uma coruja voando nesses tempos e o preço de uma era uma verdadeira bagatela, ninguém as queria. Então desse modo a comunicação ficara bem difícil, Harry nem imaginava como se trocavam tantas informações entre locais tão distantes.
Ele contou detalhadamente a Guy sobre a reunião que ocorrera na 11ª Divisão, ignorando o aviso de Harry para ser o mais discreto possível, e falou sobre os mínimos detalhes, sem realmente contar algo sobre a Divisão e suas funções.
-Olhe, Potter. Eu não tenho tanta influência quanto a anciã baixinha e não sei tanto quanto ela, mas sei que cada Divisão tem uma função, embora eu só saiba a função dessa Divisão. A questão que me intriga, se lá só tem gente fera, escolhida a dedo, por que eles têm que se abrigar aqui? Não, não falo da localização, o que é óbvio, estamos relativamente perto do forte, mas...
Ele suspirou fundo e limpou o suor que começava a escorrer por seu rosto com um lenço branco.
-Eu sei que Norma gosta tanto de mim quanto eu dela, por nada nesse mundo ela ficaria aqui se pudesse evitar. O mais normal é que ela fizesse um acampamento por perto. Não precisa revelar nada sobre lá, só me diga uma coisa, não há nada por aqui perto que represente um perigo, existe?
-Olhe, que eu saiba, não. O motivo que Norma explicitou por estarmos aqui tem haver com a função da nossa Divisão e pelo número restringido de pessoas. Se há esse perigo rondando, isso não foi avisado a nós.
Guy se acalmou.
-Não, então está tudo bem. Só pra ter certeza eu vou conferir quando ela chegar...
-Você é que sabe. Mas me diga uma coisa, Luna ainda está por aqui?

Harry sentiu muito por Luna não estar mais lá, infelizmente ela pedira para sair da 5ª Divisão por problemas na saúde do pai dela, mas mesmo sem ela lá ele não ficava sem ter com quem conversar, as pessoas agora gostavam dele. Quando todos da 11ª Divisão chegaram encontraram Harry ao lado de algumas pessoas, ele estava tomando um copo de cerveja amanteigada e ria muito. David não deixou de reparar como ele parecia bem menos medonho assim.
-Ele tem mais cara de gente quando está feliz, não é mesmo? -comentou ele com Gina.
Ela sorriu e concordou. Mas não pôde deixar de sentir uma ponta de ciúmes da garota loura ao lado de Harry.
Ele se levantou quando Norma chegou.
-Precisa que eu faça algo?
Ela nem sequer o olhou, saiu andando em direção ao alojamento que fizeram para a 11ª Divisão.
Harry sentiu-se ainda melhor, sentou-se de novo e continuou a conversa em que estavam. Pouco tempo depois se lembrou de que ainda não fora ver uma conhecida.
Ele entrou na enfermaria sem reparar nas pessoas que estavam lá. Sany, a enfermeira, assim que o viu ficou radiante.
-Harry! Não acredito que voltou.
Ele a abraçou e sentou-se numa cama desocupada.
-Creio que por pouco tempo. Mas me diga, como vai?
Ela sorriu e corou, era como se ninguém nunca lhe perguntasse como estava, se estava feliz ou coisa assim. Ela não respondeu muita coisa, mas demonstrava estar feliz.
-Ora, ora, Leão conquistador -veio uma voz conhecida e irritante.
-Sou educado, Lins. Muito ao contrário de você.
David se aproximou de Sany, tomou a mão da garota e a beijou.
-Prazer, Srta. Meu nome é David Lins.
Sany corou e deu um leve sorriso.
-Bom, Harry, eu tenho que cuidar dos pacientes... A gente se vê.
Quando a garota entrou para outra parte da enfermaria David riu maroto.
-Cuidado, Potter. Pedofilia é crime.
-Para sua informação, Sany tem 28 anos.
David fez uma cara de espanto, em seguida riu.
-Poxa você quase me pegou nessa. Eu já ia acred...
-Não estava brincando, Sany Willians tem 28 anos.
-Mas ela não parecer ter mais que uns 15 e olhe lá.
-As pessoas podem ser muito mais do que parecem, David.
E ao dizer isso saiu da enfermaria.

A semana foi agradável para Harry, agora que tinha vindo de outra Divisão, as pessoas pareciam lhe dar maior credibilidade que da primeira vez que estivera ali. Um senhor de idade ouviu dizer por acaso que ele era Harry Potter, situação que Harry achou muita graça.
-Oh claro, e eu sou o Rei Arthur. Ouça garoto, essa história de menino-que-sobreviveu e Você-sabe-quem é um conto de fadas. Eles misturaram a realidade de um bruxo ruim com a ficção de uma história agradável aos ouvidos.
Harry riu e prometeu pensar no assunto com calma, o velho se deu por satisfeito e foi cuidar de seus afazeres.
-Faça o mesmo que ele, Leão -disse Kate, com seu normal mau-humor. Norma está chamando todo mundo lá no nosso alojamento.
Ele se levantou já sabendo o que ia acontecer, começava a estratégia para invadir o forte de Voldemort.
-Bom, agora que estamos todos aqui eu posso começar... A magia foi feita há duas noites, e agora sabemos com segurança que Voldemort não está ativo, é esse o momento que nós temos. Hoje vocês verão o forte, passarão a noite o observando, amanhã nós vamos nos reunir e preparar a estratégia de combate, que obviamente será executada pela 5ª Divisão. Peço que observem os mínimos detalhes, para que não tenhamos que usar dragões, ou qualquer outra coisa que possa chamar grande atenção.
O senhor que conversava com plantas já tinha se levantado quando Norma recomeçou a falar.
-Só mais uma coisa, peço que permaneçam em seus quartos até que eu os mande sair.
Harry não reclamou, felizmente seu quarto ali não precisava ser dividido com David, e mesmo que ele preferisse poder andar pela Divisão, dessa vez atender a ordem de Norma não seria tão difícil. Pegou um livro que Sany lhe tinha emprestado no primeiro dia que chegara da 11ª e abriu onde o marca página estava.
Era um livro bom, falava sobre os trouxas e seus costumes. Não que Harry já não conhecesse tudo isso, mas era interessante o modo bruxo de descrever os trouxas. Harry riu na parte que falava sobre canais educativos na televisão, isso era descrito como "informação passando tela da caixa de imagens, a televisão, e que os trouxas assistem quando não têm mais o que fazer". Não era bem assim, muita gente gosta desse tipo de canais, e não vêem só quando não têm nada pra fazer. O livro citava o tipo de coisas que se passava em um canal educativo, e ele achou muitas curiosidades sobre comportamento animal, operações cirúrgicas e efeitos químicos no livro.
Não sabia que horas eram quando entrou em seu quarto, mas o tempo que Norma levou para chamá-lo não pareceu tão grande. Talvez não tivesse realmente demorado muito, ou talvez porque tinha se divertido bastante lendo o livro de Sany. Mas quando Norma o chamou ele tratou de esquecer o livro e se concentrar em sua missão.
Quando chegou perto dos outros membros da 11ª percebeu que Guy estava ali também, não sabia o porquê.
-Vocês irão voando em vassouras, mas irão voando baixo e devagar. O Sr. Zian os guiará e manterá o ritmo da velocidade do grupo. Sejam o mais discretos possível.
Harry tentava permanecer sério e concentrado na missão, mas estava com a mente longe. Ao montar na vassoura, mesmo sendo essa um pouco velha e ultrapassada, ele se sentiu nas estrelas. Lembrou de Hogwarts e seu tempo de apanhador. A sensação do vento contra o rosto, ter o pomo preso em sua mão, de ouvir a torcida gritar e vibrar. Vagou tanto em sua mente que quase sentia em sua mão a taça de Quadribol.
Ele foi acordado de seu sonho por Gina, ela havia lhe cutucado. Estava sorrindo para ele, era um sorriso sincero e sem raiva.
-Norma tem um grande problema com você, hein? Te entregar uma vassoura é o mesmo que falar "não preste atenção no que está fazendo".
Ele sorriu envergonhado.
-Diz que você não sente falta, Gina. Uma boa partida de Quadribol... há muito que eu não vejo uma.
Ela sorriu sonhadora.
-É, faz uma falta danada. Voldemort podia ser um cara atlético, aí pelo menos o Quadribol não teria sido afetado com essa guerra...
David se aproximou dos dois, parecia um pouco enciumado.
-Sobre o que os pombinhos conversam?
-Sobre Quadribol. Harry era um grande apanhador, está quase delirando por estar em uma vassoura novamente.
-Não é bem assim, Gina. Você também era uma ótima artilheira e também está nas nuvens por estar voando.
Ela riu e concordou.
-Não vou negar, Harry. Mas que se a gente tivesse voando bem rápido e bem alto seria muito melhor, isso seria.
-Se eu fosse vocês dois eu parava de sonhar, antes que vocês decidam concretizar o sonho.
Harry sorriu, David não parecia estar gostando dele e Gina estarem conversando assim tão amigavelmente.
-Fique tranqüilo, David. Isso não vai acontecer.
Gina não tinha prestado atenção no que os dois estavam falando, parecia lembrar de algo, algo bom. Mas assim que Harry chamou David pelo primeiro nome ela voltou sua atenção, não gostando muito do que estava acontecendo. Mas ela não teve tempo de falar nada, o que viu fez com que ela abrisse a boca sem sair som algum, percebendo isso David e Harry olharam também.
Era enorme.

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