Reflexões noturnas
Enquanto isso, na ala em que quase nenhum aluno vai
Não entendo porque ainda tenho que continuar aqui – Sirius fala para Aletheia – eu estou me sentindo bem como não me sentia há muito tempo, eu estou pronto para ajudar o Harry
Eu sei como você se sente, senhor Black – Aletheia fala usado toda a paciência que os anos como medibruxa lhe proporcionaram e o tempo que viveu como freira conservaram – e eu lhe asseguro que em breve você sairá
Quando será este em breve? – Sirius pergunta e Aletheia não pode evitar rolar os olhos, neste momento ele se parece muito com um aluno do primeiro ano e não com o homem feito que é – logo, senhor Black, logo
Senhor Black? – ele emite uma risada que parece muito com um latido – senhor Black era meu pai! Por favor, não me chame assim, fica parecendo a Minerva McGonnagal quando ia me aplicar uma detenção. Só Sirius, por favor
Imagino que foram muitas detenções – Aletheia não resiste em perguntar. De alguma forma ela se sente bem neste embate verbal com o irmão de seu amado
Mais do que eu consigo me lembrar – Sirius diz – bons tempos aqueles, nós fomos a prova de fogo para Minerva. Acho que ela pensava que se sobrevivesse a mim e a meus amigos, ela sobreviveria a qualquer estudante
Aletheia não segura um sorriso – o senhor é mesmo impossível, senhor Black – ela vê o olhar que Sirius lança – desculpe, Sirius – ela se corrige – bem que o Reg dizia...
Como assim? – Sirius interrompe a medibruxa lançando a ela um olhar inquiridor – você conheceu meu irmão?
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No salão comunal da Grifinoria
O quarteto se encontra esparramado pelas confortáveis poltronas. Já é tarde da noite, mas o grupo está excitado demais com os últimos acontecimentos para sequer pensar em dormir novamente, e somado ao entusiasmo de finalmente ter em suas mãos o colar da corvinal, está a curiosidade de saber como aquela horcruxe simplesmente foi parar na sala da diretora vinda do nada. Eles passam o tempo formulando diversas teorias cada uma mais improvável que a outra
Embora a forma inusitada com que o colar surgiu deixe a todos cismados, este não é o principal pensamento do grupo. Acima de tudo está descobrir como destruir a horcruxe, e Harry se pega pensando numa forma de convencer aos demais a utilizar novamente o chifre de erumpente e logo chega, desanimado, à conclusão que basta uma palavra da sua ruiva para que os gêmeos se recusem a conseguir o material que ele precisa e por mais que ele queira acabar com isso logo nada o garante que ele teria tanta sorte uma segunda vez
Então o jeito é pesquisar, como Hermione faz com a veemência que lhe é peculiar. O tempo está passando e cada segundo conta na batalha que eles traçarão
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Na ala em que nenhum aluno vai
Aletheia olha para Sirius. Ela sabia que mais cedo ou mais tarde o homem acabaria descobrindo que ela e Reg tiveram um envolvimento, mas sinceramente ela não sabe se está preparada para falar sobre isso agora
Você conhecia meu irmão? – Sirius repete a pergunta encarando-a de forma inquiridora
É, eu conhecia- Alehteia responde de modo vago e o olhar que ela lança a Sirius deixa claro que ela não vai aprofundar o assunto agora – por favor, tome as poções e descanse e nada de dizer que já dormiu por toda uma vida. Eu prometo que amanhã de manhã, se tudo estiver bem, você terá permissão para deixar essa cama
Sirius olha para a mulher na sua frente. Ele não precisaria ser muito inteligente para perceber que ela deliberadamente evitou o assunto, ele percebeu também que a sua face se contraiu em uma expressão de dor ao falar de seu irmão. Então ele resolve não insistir, ao menos por enquanto. Mas isso não significa que ele irá deixar isso pra lá, no momento adequado Sirius pretende questionar Aletheia sobre o tipo de relacionamento que teve com seu Regulus Black
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Local desconhecido
A reunião acabou e os comensais se preparam para sair, mais satisfeitos que nunca. Finalmente algo concreto, finalmente algo mais do que ataques aleatórios para espalhar o pavor
Severo Snape está em silêncio. Seu lorde ainda não falou nada a respeito do seu atraso, mas ele já o conhece bem demais para saber que o Lorde das Trevas não deixa este tipo de insubordinação passar em branco. O castigo é certo, Snape só não sabe se ele será torturado na presença dos outros como um aviso silencioso do que acontece com quem não obedece ao chamado do mestre com presteza ou se será algo em particular
Por sorte ele é um oclumente melhor do que o seu mestre imagina. Snape nem quer pensar nas consequências que haveria caso o Lorde das Trevas conseguisse penetrar em seus pensamentos mais profundos. Não apenas ele, mas várias pessoas teriam um fim muito doloroso. Não que ele tenha esperanças que vá escapar a seu destino, Snape sabe que mais cedo ou mais tarde isso acontecerá, ele só torce que seja mais tarde, que ele tenha tempo de cumprir todas as suas promessas
É difícil saber como agir nesta situação. Snape não sabe se deve se dirigir ao seu mestre e explicar o seu atraso ou simplesmente esperar que ele questione, nunca se sabe qual vai ser a sua reação se alguém lhe atrever a dirigir a palavra sem ter um bom motivo, mas ao mesmo tempo ele pode achar uma ofensa mortal se Snape simplesmente se retirar sem explicar o seu atraso
Felizmente, ou mais provável infelizmente, o lorde das trevas acaba com suas dúvidas lançando-lhe um olhar que diz silenciosamente que Snape deve ficar o ex-mestre de poções respira fundo e prepara-se para o que virá
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Enquanto isso
Já é tarde da noite, mas Aletheia não consegue dormir. Ela nem tenta negar que cuidar do irmão de seu amado é algo que mexe com ela mais do que gostaria. A freira já perdeu as contas das vezes que se pegou pensando em como a sua vida seria se as coisas tivessem sido diferentes
Sirius não se parece nem um pouco com a pessoa que Reg lhe descreveu várias vezes. A visão do seu amado era que o irmão era alguém egoísta e inconsequente, alguém que não ligava para sua própria família. No entanto, a preocupação que Sirius demonstra com o afilhado não parece ser algo que alguém que não se importa faria
Sendo completamente justa, Aletheia tem que admitir que nos últimos tempos Regulus não falava mais de Sirius desta forma. Embora ainda tivesse sérias restrições ao comportamento do irmão, era como se ele finalmente compreendesse
Ela não pode deixar de pensar no triste destino dos irmãos Black, um deles morto ainda jovem de uma forma terrível e o outro ser acusado e preso inocentemente, e quando consegue finalmente a liberdade passa anos encarcerado naquele véu, e quando finalmente retorna ninguém pode dizer que as coisas estão tão boas assim
Ela se prepara para recolher, lembrando de incluir Sirius Black nas suas orações
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Na sala da diretora
Minerva McGonagall finalmente toma a sua última xícara de chá enquanto tenta entender os últimos acontecimentos. Mais do que nunca, ela gostaria que seu amigo estivesse ali para trocar algumas palavras, mas o quadro de Dumbledore está vazio
A diretora suspira, desanimada, pensando em como é possível que seu amigo e mentor continue sendo tão misterioso mesmo depois de sua morte, é como se seu quadro continuasse a guardar segredos
Ela se lembra que pouco tempo antes de sua morte, Dumbledore resolveu que estava na hora de ter o seu quadro pronto. A diretora não achou estranho, afinal todos os diretores de Hogwarts tinham o seu quadro e ela mesma sabe que um dia terá o seu, mas agora ela se pergunta se o fato de Dumbledore a despeito dos anos que esteve como diretor da escola ter escolhido que seu quadro fosse pintado exatamente naquele momento foi apenas uma simples coincidência
A diretora, no entanto, nem pensa em perguntar algo desta natureza ao quadro de seu mentor, pois ela sabe que ele não irá responder, pelo menos não da forma que ela gostaria. Então Minerva sorve o último gole do seu chá e se prepara para se recolher
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Em um aposento das masmorras
Draco tenta inutilmente dormir, mas, como acontece várias vezes, o sono não chega. Algo em sua mente lhe diz que está cada vez mais próximo, que de um jeito ou de outro tudo vai acabar
Ele não pode evitar pensar em sua mãe e desejar com toda a força do seu ser que ela esteja a salvo, tanto das garras do lorde das trevas quanto de seu próprio pai
Muitas vezes o loiro se pega pensando em qual momento da sua vida seu pai deixou de ser o homem que era pra ser o monstro que se tornou e muitas vezes ele chega à conclusão que o monstro sempre esteve ali, mas tanto ele quanto a sua mãe estavam cegos demais pra perceber
Draco não é o tipo de pessoa que sente gratidão, não é da sua natureza. Mas ele se sente grato por estar tendo a oportunidade de não se tornar alguém como Lucio Malfoy
Finalmente o loiro se prepara para deitar, mas ele não o faz, pois neste exato momento Draco percebe alguém mexendo na maçaneta da sua porta
Embora ele saiba que está seguro na escola, ao menos por hora. O loiro não pode evitar que seu coração se sobressalte, ele segura a sua varinha pensando no que deve ter acontecido para alguém procurá-lo a essa hora enquanto pergunta – quem está aí?
Moço – ele ouve uma voz infantil, uma voz que Draco logo reconhece. O garotinho misterioso – abre pra mim, por favor
Por mais cansado que esteja, Draco não consegue ignorar a súplica e abre a porta dando de cara com o menino banhado por lágrimas
Ei – ele diz enquanto coloca o menino pra dentro – o que aconteceu? Onde está sua mãe?
Dormindo – o garotinho diz – eu tive um pesadelo, eu sempre procuro meu pai quando tenho um pesadelo, mas ele não está aqui
E a sua mãe? – o loiro pergunta
Está dormindo, ela é uma garota – o menino diz como se fosse óbvio – se eu contar, ela pode se assustar. Ela também tem pesadelos de vez em quando, eu sei que tem
Draco não pode negar que está cansado e que seu maior desejo era dormir, se possível sem sonhos. Mas algo nele não consegue simplesmente mandar o menino voltar para o seu quarto, então ele diz – vamos fazer o seguinte, você fica por aqui um tempinho, até se acalmar. A gente pode até conversar sobre o seu pesadelo se você quiser, mas depois você tem que voltar para a sua mãe – e ele completa antes que o menino argumente – se ela acordar e não ver você lá, ela vai ficar assustada e não queremos que a sua mãe se assuste, não é mesmo
O pequeno pensa por um instante então ele assente com a cabeça, Draco leva o garoto até a sua cama e faz com que ele se sente – muito bem – o loiro diz – você disse que teve um pesadelo, quer me contar o que foi?
O menino luta contra as lágrimas quando diz – eu sonhei que eu estava sozinho, que eu não encontrava meu pai nem minha mãe e uma voz disse que eu nunca mais ia ver eles de novo... Eu não quero ficar sozinho
Draco olha para o garotinho sem saber direito o que dizer. Resguardadas as devidas proporções, isso tem sido um dos maiores temores do loiro nos últimos tempos, ficar sozinho. Ele não quer ficar sozinho, por piores que tenham sido as coisas que ele fez, Draco sabe no fundo do seu íntimo que ele não merece este castigo. Ele vê que o menino fita como se esperasse que ele dissesse alguma coisa o que deixa Draco meio sem jeito, ele não sabe direito nem como lidar com seus temores, como consolar um garotinho aflito?
Mesmo assim ele tenta – pesadelos são ruins, eu também não gosto. Mas eles são apenas isso, pesadelos, sonhos não podem machucar você
Meu pai fala a mesma coisa – o menino diz – mas mesmo assim eu fico com medo e agora meu pai não está comigo
Draco continua sem saber direito o que fazer com o menino. Ele sempre foi cuidado por alguém, nem que fossem os elfos da sua casa. É estranho pra ele cuidar de uma pessoa, principalmente de uma criança. Ele se pega pensando no que aconteceu com o pai desta criança, é evidente que o menino tem verdadeira adoração pelo homem, um homem que não está presente, que por algum motivo deixou mãe e filho sozinhos em tempos como este. Ele olha para o menino que continua o encarando como se uma simples palavra dele tivesse o poder de fazer as coisas ficaram bem novamente e então Draco percebe que ele pode sim fazer isso. Ele, Draco Malfoy, o jovem que até um tempo atrás tinha como maior ambição ser um comensal da morte e dedicar a sua vida a destruir tudo que não fosse ligado à magia, percebe que tem o poder de ajudar alguém. Mais ainda, ele percebe que no fundo do coração quer fazer isso, então ele diz – seu pai não está, mas eu estou e eu vou cuidar de você, eu prometo...
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Enquanto isso, no ministério
Rufus Scrimgeour não costuma ficar até de madrugada no ministério, ou pelo menos não costumava até as coisas chegarem a este ponto. Não que o ministro não tivesse consciência que as coisas não seriam fáceis, ele sempre soube. Mas o que ele não tinha idéia é que boa parte da população ficaria contra sua pessoa e o que é pior, exigindo que ele tomasse providências contra os trouxas
Ele não é idiota, o ministro sabe que certamente alguém enfeitiçou algum líder trouxa para que atacassem os bruxos, mas pelo jeito alguns imbecis chegaram à conclusão que um trouxa que não poderia ter idéia que os bruxos existem simplesmente acordou um dia e disse: não tenho nada melhor pra fazer então vou jogar alguma coisa que explode num povoado bruxo qualquer. Diabos! Ele vocifera. A maioria nem sabe que os bruxos existem!
Mas ele sabe que precisa fazer alguma coisa, a pressão está cada dia maior. Às vezes medidas extremas devem ser adotadas. Ele diz para si mesmo, enquanto prepara uma nota para seus conselheiros. É hora de agir, por mais que ele não queira, como ministro da magia Rufus Scrimgeour tem que tomar uma atitude, pelos bruxos, por sua honra e por seu cargo...
NOTA DA AUTORA
Eu tardo (muito diga-se de passagem) mas não falho! Finalmente o capítulo. Espero que tenham gostado, eu juro que estou fazendo o possível pra não enrolar muito, sempre que posso estou escrevendo. Obrigada pela paciência e até o próximo. Eu sei que é muita cara de pau pedir comentários depois de demorar tanto, mas como cara de pau é meu nome do meio, quem puder deixar uma palavrinha vai me fazer muito feliz
Bjos
Comentários (1)
Esta ótimo espero ansiosamente o próximo capitulo
2015-06-29