O Observador
Hermione tentou pensar melhor ao respirar fundo, buscando cada miligrama de ar como quem se afoga, no entanto sentiu-o pesado e gélido como-se um dementador acabasse de passar a dois centímetros dela, esta sensação não melhorou muito ao ver que Draco virara-lhe as costas, “não quer mostrar que está em pânico, se o ministro nos pega aqui talvez ele vá para Azkaban”. Sua mente era um caldeirão com idéias borbulhando, formando uma poção de medo e angustia, já passara situações mais perigosas antes, mas tinha prévio conhecimento de que estaria em perigo, esta noite o medo era diferente.
Draco voltou a se sentar na poltrona perto da mesa central, observando-o uma meada de hipótese surgiu na mente da garota e o sorriso lhe veio aos lábios, a situação finalmente fizera sentido em sua mente e as palavras saíram:
- Fala... Que feitiço colocou na porta? Foi o mesmo que a do seu quarto no caldeirão furado, não é mesmo? – disse ela sorrindo por ter entendido a brincadeira. Ele levantou-se quase de um pulo, “como pode fingir esta indignação toda?” – Hei, não brigarei por agora. Quero apenas que tire o feitiço da porta, se queria me dar um susto, já o fez. Agora abra.
- Do que você está falando? Eu não enfeiticei esta porta – O garoto tinha tanta certeza na voz, que a fez duvidar de sua hipótese, por instantes.
- Nós dois sabemos que sim, agora já pode acabar com isso.
- Não Fui EU! – Já estavam frente a frente, encarando-se e o tom calmo de quem aceita brincadeiras deixou o rosto dela. Voltaram a agir um com o outro como os antigos Draco Malfoy e Hermione Granger, e um belíssimo pássaro protagonistamente pintado em um quadro mediano, acima da janela, parou de admirar suas lindas penas refletidas num laguinho límpido para observa-los, se aquele pássaro falasse, como todas as personagens dos quadros de Hogwarts, diria que os dois pareciam duas crianças birrentas do segundo ou primeiro ano, não apenas pelo que diziam, mas também pela postura e pelo jeito como se encaravam.
- Admita Malfoy, foi sim!
- Não FOI!
- FOI! – decretou ela.
- Você está agindo como um Trasgo Teimoso!
- E você tem síndrome de Peter Pan!
- Eu não tenho... O que quer que seja isso... – Seu aguçado tom de dúvida fez com que a garota lembrasse de que Draco não conhecia as histórias ou contos trouxas, e também despertou nela o incontrolável modo explicativo de falar.
- Peter Pan é o personagem de um conto trouxa, ele não queria crescer, por isso decidiu não crescer por meio de fadas e criaturas mágicas, por causa dessa negação que ele tinha por virar adulto, psicólogos denominaram síndrome de Peter Pan quando uma pessoa já adulta não deixa de querer agir como criança...
- Ah... Como os trouxas gostam de falar de magia sem nem ao menos... Esperai, você estava me chamando de infantil?
- Sim, é isto que você é! Um bruxo maior de idade muito infantil, esta brincadeira não tem graça, até teria se você não ficasse negando que a fez.
- Eu estou negando porque não fiz!
- Pára de mentir!
- EU NÃO ESTOU MENTINDO! – Ele estava mais do que irritado, ela ainda mais.
- MENTIROSO!
- Não sou Mentiroso – Baixou o tom de voz.
- É sim! – Hermione também abaixou a voz pra não parecer inferior.
- Eu sou! Melhor, ERA... Olha, o importante é que AGORA não estou mentindo! – Estavam tão próximos agora, que a profundidade daqueles olhos azuis acinzentados a confundiram, de modo que a fizeram perder a fala. Antes que se afogasse desviou o olhar e deu as costas ao garoto.
- Então ache um jeito de tirar-nos daqui. – Disse baixo, sem encara-lo, mas com autoridade.
- Não se esqueça que estamos aqui por sua teimosia de trasgo.
- E não saímos daqui por sua infantilidade de Peter Pan. - Ele puxou o ombro dela, para que ficassem frente a frente novamente.
- O que eu tenho que fazer para você acreditar em mim?
- Pare de mentir.
- Não estou mentindo!
- Está! – O pássaro continuava observando-os.
- Ah, Granger, vamos recomeçar? – Eles irritaram-se um com o outro novamente.
- Vou! Porque eu sei que é o seu orgulho que não o deixa admitir que eu descobri sua brincadeira!
- Não enfeiticei a porta! – Se encaravam de modo tão profundo que poderiam fuzilar um ao outro.
- PROVE! – Enfim Hermione Granger se afogou.
Mesmo sem ter permanecido com os olhos vidrados nos de Draco, eles não saíram de sua mente enquanto estavam fechados, assim como os seus. Todas as suas células mergulhavam, nadavam de maneira descompassada, queria parar de nadar, mas as mãos de Draco em sua cintura davam-lhe uma segurança inigualável e os mantinha próximos. A visão do observador de pessoas, que estava acima da janela, era a de dois corpos que de tão unidos por aquele beijo exacerbado pareciam um só, ao mesmo tempo em que queriam separar-se buscavam um ao outro com toda a intensidade e todos os sentimentos possíveis, os bons e os ruins. Agoniado com a maravilha que era observar aquela união o Pássaro soltou um ganido fino, suave e audível que lhes transpassando os ouvidos acalmou as batidas do coração e por fim soltaram-se, mas continuaram se olhando e ignorando a pintura do tão sublime pássaro, na qual nem tinham notado que existia. Permaneceram próximos e se olhando por alguns segundos, tentando entender o porquê e como as coisas sucederam.
O Silêncio tornou-se tão constrangedor que se afastaram de vez, dando as costas um ao outro, Draco sentou-se na poltrona que já parecia sua, e Hermione postou-se frente à prateleira enfeitiçada, fingindo procurar algo que nem tinha idéia do que pudesse ser, estava tão confusa que não assimilava os acontecimentos.
“Como ele se atreveu? ... Ou nos atrevemos? Que sensação incrível... Incrivelmente detestável... Por quê? E que sentimento foi esse? Ora Hermione, quantas dúvidas, você não é assim, vamos volte a ser você! Por que não há um livro que possa esclarecer nossas dúvidas sobre nós mesmos? Eu detestei! Ou será que eu gostei?”.
O Pássaro voltou a ganir, e pela segunda vez na noite não reparou nele, mas o som a fez ficar mais calma para colocar os pensamentos em ordem. Tentou começar a organizar-se por lembrar o que estava fazendo ali. “Nem ao menos encontramos a penseira... Isso vai nos causar problemas com o ministro... Se ao menos eu tivesse outra pista pra desvendar o livro. Preciso desvendar o Livro Élfico...” Seus pensamentos foram interrompidos por uma forte pancada na cabeça, fazendo com que ela cambaleasse.
- Ai – Ela disse impulsionada pela pancada.
- Está tudo bem com você? – O garoto levantara pronto pra ajudar, apesar de ter evitado o olhar dela, que fez o mesmo.
- Sim – Seu olhar, mesmo que direcionado pra baixo, pedia pra que ele não se aproximasse - foi só um livro que caiu em minha cabeça.
Olhou pra baixo e aos seus pés viu um livro antigo aberto, o natural seria que estivesse com as folhas divididas praticamente ao meio ou próximo como todos os livros que caem desordenadamente, entretanto este estava na página 325, e as letras com o nome do capítulo brilhavam foscamente num tom arroxeado: ‘A escrita Élfica e suas variáveis’. Imediatamente resgatou o livro do chão, olhou a capa tomando cuidado para não fecha-lo, ‘A Filologia Élfica – Por Newton Scamander’, e já no segundo parágrafo do capítulo encontrou o que desejava, a informação era perfeita, explodiu de felicidade.
- Malfoy! – Já dissera, foram ao encontro um do outro, o livro os separava.
- O que foi?
- Achei uma informação muito importante – começou a ler em voz alta – ‘Como já dito no capítulo introdutório, há muitos anos pensávamos que os elfos-domésticos não eram providos de linguagem escrita, por isso ignorávamos esta idéia do estudo filológico, porém estávamos enganados’, esta parte dá pra pular por enquanto – ela ia passando o dedo pelas linhas – Aqui, ‘Os elfos consideram que a escrita é um dom sagrado e homogêneo entre a espécie, todos eles, seja de onde for, possuirá a mesma escrita simbólica e antiga. Por ser sagrada, usam-na apenas em extrema necessidade, e é protegida por um código magicamente implantado assim que registram algo; há rumores de que toda a espécie use o mesmo código mágico, mas nenhum bruxo foi capaz de descobri-lo, a hipótese do código único não é confirmada ou descartada. Apesar de não conseguirmos ler qualquer que seja o conteúdo de suas escrituras, através de estudos tempológicos cogitamos e confirmamos a informação de que a escrita é derivada das runas antigas, pela ramificação da linguagem desenvolvida no oriente clássico.’ Runas! Runas! Eu sabia, que por runas estávamos no caminho. – Olhou-o transmitindo toda a felicidade, que a este momento transbordava.
- Onde você achou este livro?
- Ele me achou! Caiu na minha cabeça. – Parou pra pensar no estranho fato do livro tê-la achado, justo o que ela precisava no momento. Nem se deram conta que estavam frente à janela no mesmo lugar onde antes estavam enlaçados, o observador intrigado (talvez por ainda não ter sido notado pelos observados) ganiu mais uma vez. Foi quando finalmente e ao mesmo tempo os dois notaram o quadro. – Este pássaro é lindo. Não conheço esta espécie.
- Eu também não – A imagem prendia os olhos de Draco – Deve ter sido inventado pelo pintor.
- Que ótima imaginação... Hei, pra onde ele está indo? – O Pássaro voou por cima do lago, admirou suas asas novamente, e num impulso de vôo subiu cortando o céu de tinta, virando um pontinho e desaparecendo. Os garotos ainda ficaram olhando a paisagem na qual antes havia uma bela ave de penas levemente douradas. – Deixe, vamos continuar lendo, afinal, estamos trancados aqui.
- O que vamos fazer quando o ministro chegar?
- Ainda não sei, mas não quero pensar nisso agora, tenho certeza que daremos um jeito de escapar – E dizendo isso, a garota voltou sua atenção para a leitura, sentaram os dois na poltrona e concordaram que ela continuaria lendo em voz alta. Mesmo que estivesse prestando atenção em cada palavra que lia, também estava com uma parte de si voltada pra Draco, podendo atentamente perceber que, enquanto lia, este olhava-na, alternando o foco, entre sua boca, seus olhos, seus cachos castanhos e até por vezes sua nuca. “O que ele pretende?”.
Estavam tão envolvidos na leitura que não repararam o momento exato do retorno do atento observador ao quadro acima da janela, apenas notaram sua presença por ouvirem seu pio suave e agradável.
- Ele voltou! – Exclamou Hermione.
- Quem? – O menino pôs-se a perguntar.
- O pássaro... – Olhou-o sorridente, apesar de envergonhada, ele também sorria de modo sincero e encantador, não trazia o mesmo ar de sempre, era como se fosse outro garoto em forma de Malfoy que estivesse em sua frente, tão próximo, tão próximo, e se aproximando mais... Mais... Mais... Até ouvirem o tilintar da porta se abrindo, e quando olharam viram a silhueta do bruxo alto, negro e careca, usando um único brinco na orelha esquerda... A garota sentia seu coração acelerar e por segundos congelar.
- Ora, temos invasores? – Disse a voz grave e lenta do ministro da magia.
N/A: A PARTIR DOS COMENTÁRIOS POSTADOS ENVIAREMOS O CAPÍTULO 9° QUE JÁ ESTÁ PRONTO, ESPERANDO POR SEUS COMENTÁRIOS. BJUS
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