Deixando Hogwarts



1 - DEIXANDO HOGWARTS 

Mal o dia acabou de amanhecer, e as primeiras manifestações de alegria inundaram Hogwarts como os raios de sol inundando todo o lugar, ainda com traços fortes de que ali, uma hora antes, houvera uma batalha. Bruxos de toda a Grã Bretanha estavam aparecendo, uns eram parentes dos que outrora lutaram, outros estava ali apenas para constatar se os boatos, que agora corriam em todo o mundo mágico, eram verdadeiros e os responsáveis pelos jornais mais importantes não tardaram a aparecer também, entre eles Rita Skeeter do Profeta Diário, que não parava de importunar todos os presentes com sua pena de repetição rápida – “Foi o garoto? Mas onde ele está? Onde está Harry Potter?” – Essa era a pergunta que todos se faziam, onde estava o garoto que desde que nasceu esteve destinado a acabar com o Lord das Trevas? - Parece que todos estão contentes Harry... Acabou. - Mas Hermione, a que preço? Ouça... Eles nem se dão conta, e menos ainda se importam com os que foram sacrificados pra que isso acontecesse, era pra ser só eu! - Pára Harry! Pensa bem, você conseguiu o que nem o próprio Dumbledore conseguiu. Eu também sinto muito cara, meu irmão está lá em baixo, morto... Como você acha que eu estou me sentindo? Você viu o corpo dele? Estava rindo, rindo Harry, todos estavam se sentindo felizes por terem participado da batalha que salvou o mundo. – Ao ouvir aquelas palavras vindas de Rony, Hermione confortou-se, e por um momento imaginou há quanto tempo Rony estaria pensando nisso, ou se depois de tudo o que acontecera ele estaria mais maduro, provavelmente os três estavam. - Eu sei Rony... Eu sei o que é estar morto, ou quase, pelo menos sei o que se sente, e não dói... Eles realmente estão felizes, todos eles, e agora nós também podemos ser, os comensais da morte não têm mais a quem seguir, Voldemort está morto! O problema é que antes de ir ele levou partes de mim, sei que estão felizes, mas quem vai obrigar meu coração a não sentir falta das pessoas que foram minha única família por tantos anos? Hogwarts e todos que nela habitavam ou que se relacionavam com ela eram a coisa mais próxima que eu pude entender por família, e eu os vi morrer por mim... Isso ninguém nunca poderá entender, nem você... Mas eu nunca me perdoaria se um dos corpos que estivessem lá em baixo fosse de um de vocês... ou... ou... da Gina... – Rapidamente Hermione viu Harry olhar para uma ponto fixo através da janela quebrada do dormitório masculino da Grifinória, talvez estivesse pensando em como seria ficar sem Gina, nesse momento Rony discretamente pegou sua mão, e por um segundo ela sentia a agonia de pensar em como seria perde-lo e pela segunda vez naquela sala em menos de uma hora ele tornou a reconforta-la, desta vez com o calor da sua mão seguido de um beijo inesperado e bom, que Harry não tardou a interromper. - Onde está Mostro? Por demora tanto com os sanduíches? - Não sei Harry – resmungou Rony um tanto bravo – E você que não pense em agarrar a minha irmã por aí, eu sei que você estava pensando nisso sr. Potter. – Levava um leve tom que mesclava a vontade rir com a seriedade que tentava passar. - Por que não sr. Weasley? - Você me prometeu cara... - Mas o perigo já acabou – A cena foi interrompida por um estalo, e logo Hermione viu Monstro em uma reverência que fez seu nariz e o medalhão de seu antigo senhor, Regulo Black, encostarem no chão, o elfo-doméstico se desequilibrou e ao endireitar o corpo, ela viu que ele parecia atordoado. - Harry Potter, meu senhor tem que desculpar o Monstro, Monstro não queria demorar tanto, mas é impossível fazer sanduíches com o castelo nesse estado, Monstro não acha panela, pão, queijo... – E tornou a mergulhar em uma reverência ainda mais profunda, dessa vez caiu, Hermione não pode segurar o riso e foi seguida por Rony e Harry, a felicidade e a graça do momento realmente os preenchera, mas não tardaram a perceber o quanto estavam cansados e com sono, Harry tentou voltar a pose de senhor do Monstro: - E como resolveremos isso Monstro? - Monstro já cuidou disso senhor, só não sabe porque demoram tanto. - Quem? – Dessa vez os três amigos fizeram coro, e novos estalos foram ouvidos, logo, pelas contas de Hermione, pelo menos uns dez elfos-domésticos apareceram trazendo bandejas, dos mais variados gostos e tipos de sanduíches, que nem Rony teria experimentado em toda sua vida. - Nossa... O que vou fazer com tanto sanduíche Monstro? - Monstro não quer que Harry Potter fique com fome. E os outros elfos queriam ajudar, aquele que mandou pra longe o Lord das Trevas. - Ta vendo Harry, eu sempre disse pra você trata-lo bem, olha a retribuição, depois dessa você também deveria fazer parte da associação de proteção aos elfos-domésticos a que eu pertenço, o FALE – A menina estava encantada com a gratidão dos elfos. - Cara, eu sei o que fazer com os sanduíches. – Monstro e todos os outros elfos fizeram grandes reverências e desapareceram fazendo os mesmo estalares com que tinham aparecido, entre os risos, hora de alívio, hora de alegria e hora pelas graças de Rony, eles comeram, pensaram em descer, mas ao ouvir a voz aguda e extremamente cortante de Rita Skeeter “onde ele está?”, que mesmo de longe era totalmente audível, os buracos nas janelas facilitavam a passagem dos sons, eles se entre olharam e o pensamento foi o mesmo para os três, era melhor ficar um pouco mais, dormir e deixar as pessoas se acalmarem, não havia mais pressa, agora tinham todo tempo do mundo, Harry se ajeitou em sua antiga cama, Rony cedeu a sua pra Hermione – Mione, eu sei que tem outras desocupadas, mas eu queria que você ficasse nessa – a menina não quis contrariar, achou engraçado que Rony quisesse que ela dormisse no mesmo lugar que antes fora dele, enfim, ele deveria ter seus motivos... A paz tomou conta do quarto, e por fim eles adormeceram. ~~ §§ ~~ Hermione abriu os olhos, perdera a noção do tempo, não sabia por quanto tempo estivera dormindo, ao ouvir a inquietação que provinha de fora e ao notar que estava no dormitório masculino da torre da Grifinória, lembrou-se subitamente de tudo, as lembranças e pensamentos a invadiram de uma só vez, por instantes fechou os olhos novamente, na esperança de acreditar que estava na mesma Hogwarts de seis anos atrás, “ela tinha que se levantar e arrumar suas coisas pra ir pra casa depois de seu primeiro ano, muitas aventuras, emoções como a Grifinória ganhar a taça das casas e os inesquecíveis novos amigos”, levantou-se e caminhou pela torre, finalmente sentiu que estava deixando a escola, nunca mais ganharia pontos pra Grifinória, nem faria os deveres de Rony, ou iria tomar chá com Hagrid, muito menos entraria no salão comunal... Antes não tinha percebido, mas agora um pensamento tomou conta dela “Não fiz o sétimo ano de Hogwarts, nem os NIENS, não sou formada e nem tenho mais idade pra estudar, será que esse ano que fiquei lutando e tentando combater Voldemort vale como garantia pra exercer alguma função bruxa?”, estava deixando de ser estudante dali para sempre, e nem se quer concluíra toda a formação. Neste momento ela observava o retrato da mulher gorda, passagem pela qual passou tantas vezes por seis anos, o retrato deixou passagem para o buraco na parede e uma cabeleira ruiva irrompia de lá. - Mione, já aqui? Por que não me chamou? - Achei melhor vocês descansarem um pouco mais Rony – Sem que ela notasse seus olhos se encheram de lágrimas, o que despertou a curiosidade de Rony. - O que foi? - Vou sentir saudades daqui, já pensou que nunca mais seremos alunos de Hogwarts? - Se alegra Mione, pelo menos não teremos mais testes – Os lábios da menina esboçaram um sorriso que foi ocultado pelos de Rony que a beijava como se o resto do mundo não existisse, finalmente ela estava nos braços dele, sem medo, era o sentimento perfeito que se misturava a paz completa de uma guerra acabada, que foi quebrada por uma voz aguda e bem conhecida, a última que eles queriam ouvir naquele momento. - Mas que belo casal, são os amigos de Harry Potter, srta. Granger e sr. Weasley, podem até conseguir um lugar na primeira página, onde está o nosso Grande Herói? - Não sabemos – Mentiu Hermione e Rony concordou com a cabeça. - Então serve vocês, deixe-me ver – enquanto Skeeter falava sua pena de repetição rápida fazia anotações em uma caderneta suspensa no ar – Se Harry Potter podia matar aquele-que-não-deve-ser-nomeado por que não o fez antes? Por que ele fugiu durante quase todo esse ano? - Ele não fugiu! – Rony já havia perdido a paciência – Já dissemos que, antes de morrer, Dumbledore nos deixou uma missão que ajudaria a acabar com você-sabe... Voldemort! Foi isso que fizemos todo esse ano... - E essa missão implicava roubar Gringotes e um dragão? E por que não pediram ajuda tendo em vista que toda a Ordem da Fênix estava disposta a ajudar juntamente com os aurores do ministério da magia? - Não roubamos Gringotes, exatamente... O ministério estava tomado por Vol...Voldemort e essa era uma missão que apenas cabia a nós... – Hermione agora olhava a caderneta onde a pena rapidamente registrava anotações sem controle certo: "...Alvo Dumbledore, mesmo depois de morto, causou tumulto em todo mundo mágico ao impedir o único bruxo capaz de vencer aquele-que-não-deve-ser-nomeado de fazer isto, instruindo-o a fugir durante todo este ano e roubar o banco de Gringotes para sobrevivência própria e de seus companheiros, Ronald Weasley e Hermione Granger, que foram os únicos a saber de Harry Potter durante o período que esteve fugido, que ainda não deu as caras para explicar o ocorrido, estará com medo de perguntarmos o que foi feito do dragão? Ou como tomou conhecimento de que poderia matar aquele-que-não-deve-ser-nomeado?... " - Nós... Harry não... Ora, como pode? – Indignada fez apenas um aceno de varinha, seus olhos encaravam os de Rita Skeeter por trás dos ridículos óculos, e em menos de um segundo uma chama intensa tomava conta da caderneta e da pena de repetição rápida, esta se remexia e ela teve a impressão de ouvir baixos grunhidos, e antes que Rita pudesse manifestar alguma reação, Hermione puxou Rony pelo braço em direção ao extenso corredor que levava às escadas, torcendo para que Harry não saísse naquele momento e ainda ouviu algo como “Voltem, podemos esquecer este pequeno incidente... Tenho reservas”, mas não olhara pra trás. Seguiram para o grande salão, percebera que Rony ainda a olhava com dúvidas, mas ela não pronunciou uma só palavra. ~~ §§ ~~ Estavam agora na entrada do salão principal e avistaram de longe a grande família de cabelos ruivos em volta do corpo de Fredy Weasley, Remo e Tonks Lupin, Rony olhou-a como se estivesse pedindo permissão e ao mesmo tempo convidando pra ir ao encontro da família Weasley, Hermione olhou-o e lembrou de seus pais, a saudade nunca fora tão grande como naquele momento, ele pegou sua mão pra leva-la até a família, daria o primeiro passo naquela direção e em vez disso recuou. - O que foi Mione? - Não posso Ron! Peça desculpas a sua família por mim, mas eu preciso ir ver meus pais. Eu lancei neles um feitiço de memória pra que pensassem que são outras pessoas e para não lembrar que têm uma filha, caso acontecesse algo comigo ou se um comensal da morte os procurassem... Eu queria protege-los, mas não tenho mais motivos pra continuar com isso nem por um segundo a mais, preciso vê-los, abraça-los, além do mais eles precisam voltar às atividades normais, acho que você me entende, não é? - Acho que sim. Mas você não irá se despedir? – um tom de súplica acompanhou as palavras de Rony. - Eu não vou pra sempre, e não conseguirei sair se parar pra falar com todos. Cumprimente-os por mim, e fique junto com o Harry – Ela deu um passo pra trás e fez que ia desaparatar, quando Rony a abraçou e falou-lhe ao ouvido: - Quando nos veremos? - Logo, mandarei uma carta por dia, você não se livrará de mim Ronald Weasley – ela sorriu por seu tom brincalhão e não costumeiro, ele a beijou como nunca o fizera antes, como se pedisse pra que ela não saísse de perto dele, mas era preciso, ele agora a olhava no fundo dos olhos. - Mione... Vo..Você quer... Digo, aceita... Não... É... Nós, e você... – respirou fundo, e de uma só vez com as palavras se interpondo umas as outras finalmente conseguiu falar – Aceita ser minha namorada? - Ah Ron... – Hermione sentiu-se imensamente feliz, como expressaria isso? E ficou pensando em quanto tempo Rony esperou pra pedir, finalmente tomara coragem, ela o abraçou forte, como se colocando força nos braços ele pudesse entender a resposta e todos seus sentimentos, o beijou novamente, não podia acreditar no que estava acontecendo, o soltou. - Acho que isso é um sim – Ela tornou a beija-lo, sorriu e desaparatou, a última imagem que viu e a única que ficou em sua cabeça foi a do garoto ruivo a olhando com os olhos brilhando e uma das mãos levemente levantada esboçando o que seria um aceno de “até logo”, não se importou com a estranha sensação de estar aparatando, mentalizava e lembrava apenas do rosto de Rony, seu namorado, e seus pés voltaram a tocar o chão. Lembrou de seu destino e tornou a aparatar para o lugar onde ficasse mais próximo de onde seus pais estavam, logo estaria com eles.

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