O MAL DE ARTHUR



CAPÍTULO 35


 


O MAL DE ARTHUR


 


 


 


 


Arthur Sinclair Weasley era Ministro da Magia da Inglaterra e da Grã-Bretanha há mais de quinze anos, desde que Cornelius Fudge o indicara para compor a chapa de sua sucessão, tendo Amélia Bones como Vice-Ministra. Já vira e passara por muitas coisas, desde o tempo em que chefiava o Departamento de Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas, mas nada se comparava ao que ele estava passando agora.


Há cerca de três meses, começou a sentir um desconforto abdominal que, nas últimas duas semanas, havia evoluído com desagradáveis episódios de dor, mas que logo passavam. Além disso, vez por outra sentia náuseas que o obrigavam a reduzir a quantidade de alimentos, o que já estava deixando-o mais magro.


O que mais o assustou foi o que acabara de ver. Nos últimos dias percebera traços de sangue em algumas ocasiões, mas daquela vez era sangue vivo. Havia chegado o momento de falar com alguém sobre aquilo, por mais que tivesse medo de encarar a realidade. O médico do Ministério levantara a possibilidade, mas ele relutava em admitir, mesmo que os sintomas levassem a uma só conclusão. O Dr. Ivaldsen prometeu segredo, tanto por amizade quanto por sigilo profissional, mas aconselhou Arthur a consultar um especialista no St. Mungus o mais breve possível.


Saiu do banheiro anexo ao seu gabinete e resolveu passar pelo refeitório. Por mais que o risco de dores e náuseas existisse, ele não poderia ficar indefinidamente sem comer algo. Talvez algo leve, tipo uma fruta, não lhe caísse mal. Escolheu uma maçã pequena e, quando viu tâmaras, colocou algumas no prato.


A maçã caiu bem, não o deixou nauseado. Enquanto pensava em para quando deveria agendar uma consulta no St. Mungus, pegou uma tâmara e preparou-se para levá-la à boca mas, quando estava quase comendo a fruta, uma mão forte segurou o seu pulso.


 


_Eu não comeria essa tâmara se fosse você, Arthur. _ disse “Olho-Tonto” Moody.


_Alastor! Mas por quê? _ perguntou Arthur, surpreso.


_Digamos que ela não está boa e pode fazer com que seu problema piore.


_Que problema? _ Arthur tentou desconversar, enquanto Moody examinava a tâmara com seu olho mágico.


_Para cima de mim, Arthur? _ observou Moody, com um olhar bastante significativo, guardando a tâmara em um saquinho plástico _ Somos amigos há muito tempo e faço sua segurança tanto ostensiva quanto velada desde que você foi eleito Ministro, há mais de quinze anos ou seja, você não consegue me enganar. Vamos dar uma passada na Seção de Farmacologia, com o Longbottom. Acho que ele poderá nos ajudar bastante.


 


Foram à Seção de Farmacologia, onde Neville trabalhava em uma poção experimental, cuja finalidade era potencializar um Feitiço Revelador no qual Luna estava trabalhando. Ao vê-los entrar, interrompeu o trabalho.


 


_Ministro, Prof. Moody, sejam bem-vindos.


_Olá, Neville. _ disse Arthur.


_Longbottom, preciso que você analise esta tâmara. _ disse Moody.


_Sem problemas, Prof. Moody. Algo de especial?


_Nada muito complicado, acredito que ela não iria fazer muito bem a quem a comesse. Faça uma análise ompleta, como das outras vezes, OK?


_OK. Dentro de algumas horas já terei resultados.


 


Os dois saíram da sala, indo em direção ao gabinete de Arthur, a fim de utilizarem a lareira segura.


 


_Mas para onde vamos, Alastor?


_Vamos para o St. Mungus. Talvez o Dr. Matlock possa encaixá-lo na agenda de hoje.


_Será que é mesmo necessário? _ perguntou Arthur.


_Deixe de ser teimoso e vamos lá, Arthur. Está parecendo uma criança trouxa, com medo de ir ao dentista. Felicius Matlock é um dos maiores especialistas nessa área, tanto entre os Medi-Bruxos, quanto entre os médicos trouxas. _ disse Moody, enquanto entravam na lareira e rodopiavam, rumo ao St. Mungus.


 


Lá chegando, saíram pela lareira da recepção e foram à ala na qual o Dr. Matlock atendia. Chegando ao consultório...


 


_Bom dia, Ministro. Bom dia, Sr. Moody. Eu estava à sua espera.


_Como é que é, Alastor?


_Bem, eu tomei a liberdade de agendar a consulta para você, Arthur. Teimoso e distraído como você é, ia demorar para vir. _ disse Moody meio sem jeito, olhando para baixo e fazendo uma cara de cachorro que derrubou o caldeirão _ O Dr. Matlock está aqui para ajudar.


_É, eu sei. Ele quase me virou pelo avesso, há dois anos.


_E já estava mesmo na hora do senhor retornar. Vamos iniciar com uma TCT, “Tomografia Computadorizada Tecnomagizada”. Depois, mais alguns exames de imagem e de laboratório. Aliás, o senhor está em jejum, Ministro?


_Comi uma maçã, não faz muito tempo. Por quê? _ perguntou Arthur, já meio que adivinhando o que viria a seguir.


_Então, creio que vou ter de lhe aplicar um “Colon Exonera”. Aliás, que incrível esse feitiço ter sido criado por um adolescente, enquanto era aluno de Hogwarts.


_Ai, ai, ai. Não me diga que... _ Arthur não terminou a frase.


_... Exatamente o que o senhor está pensando, Ministro. _ disse o Dr. Matlock.


_Mas tinha de ser justamente... COLONOSCOPIA? _ perguntou Arthur, com uma cara de desagrado.


_Veja o lado bom da coisa, Arthur. _ disse Moody, tentando diminuir a tensão daquele momento _ Pelo menos não vicia e depois dos cinquenta, é preciso fazer a cada dois anos, mais ou menos. E nós já passamos um pouquinho dessa idade.


_É, eu sei. Fiz uma, há uns dois anos. _ disse Arthur, com uma cara desanimada.


_Então já está na época de uma nova. _ disse o Dr. Matlock, pegando o prontuário de Arthur no arquivo _ Seu último exame teve um bom resultado. Vamos ver se o de hoje não apresenta alteração.


 


Arthur se despiu, colocou o avental e deitou-se na mesa do aparelho, para realizar a TCT. Em seguida, coletou sangue para exames e, por fim, chegou a hora mais desagradável: o preparo para a colonoscopia. O feitiço “Colon Exonera”, criado por Draco Malfoy durante os tempos de aluno, mostrara ter uma grande utilidade no meio hospitalar, proporcionando um preparo muito mais rápido para certos tipos de exame. O que não tornava menos desagradável o fato de ter os intestinos totalmente esvaziados em questão de segundos.


Um gole de Poção Sedativa e Arthur Weasley estava pronto para o exame. Depois de realizado, passou um tempo na sala de recuperação, até que terminasse o efeito da poção que havia tomado. Quando acordou, o Dr. Matlock o chamou ao consultório. Sobre a mesa, estavam os resultados dos exames.


 


_Ministro Weasley, jamais vi algo assim em todo o meu tempo de profissão. Procurei me especializar nessa área e para isso estudei e continuo estudando em hospitais bruxos e trouxas de referência. Meus últimos cursos foram nos EUA, onde estive no Johns Hopkins e na Clínica Mayo e no Brasil, onde fiz excelentes cursos de aperfeiçoamento no Hospital AC. Camargo, em São Paulo e também no Hospital Santa Rita e no Hospital Bruxo Negrinho do Pastoreio, em Porto Alegre, todos eles centros de referência para Oncologia, como eu já disse. O resultado dos seus exames apresenta uma inconsistência que, mesmo raciocinando em termos de magia, é praticamente impossível.


_O que houve, Dr. Matlock? _ perguntou Arthur, assustado e curioso.


_Suas queixas e mais os seus sinais e sintomas batem perfeitamente com câncer de cólon distal, mais precisamente do sigmoide. Mas...


_... Câncer de cólon, Dr. Matlock? Sei que é um tipo bastante agressivo, pois Minerva McGonnagall me contou que o pai dela morreu de um. _ disse Arthur.


_Alistair McGonnagall, que faleceu quando ela era aluna, eu sei. Mas o que estou dizendo é que os exames revelaram os sinais dos efeitos de um câncer de cólon, mas não se identifica o principal.


_O principal? _ perguntou Moody, que estava presente.


_Sim. Não há o menor sinal de neoplasia primária ou de metástase. E olha que o senhor foi examinado das pontas dos cabelos até os dedos dos pés. _ disse o Dr. Matlock, mostrando as imagens da TCT, as fotos da colonoscopia e os resultados dos demais exames.


_Então isso significa que não é câncer? _ perguntou Arthur, aliviado.


_Sim, Ministro. _ respondeu o Dr. Matlock _ mas eu não ficaria táo aliviado, porque o quadro é muito debilitante. A grosso modo, seria um câncer sem um tumor, o que torna a coisa mais grave, pois é uma síndrome totalmente desconhecida e, já que não há tumor primário e nem metástases, mesmo as poções antineoplásicas e as formas mais atuais de quimioterapia trouxa não teriam efeito, considerando que não há células tumorais a serem atacadas. Precisarei realizar mais pesquisas e estudos para descobrir a causa dessa síndrome. Por enquanto, o senhor deve se alimentar bem e levar uma vida normal. Tome estas poções para as dores e as náuseas e esta outra para os sangramentos. Entrarei em contato, assim que tiver novidades.


Saíram do St. Mungus e resolveram caminhar um pouco pelas ruas de Londres, tentando digerir as revelações do Dr. Matlock. O tempo estava bom e o sol brilhava, embelezando Holborn e dando um ar bem-humorado aos geralmente fleumáticos londrinos que passavam pela Bloomsbury Way. Rumaram para a Great Russel Street, pois resolveram fazer uma visita ao British Museum.


_Bem, ao que tudo indica, não é um câncer. _ disse Moody.


_Não vejo muita vantagem nisso, Alastor. _ disse Arthur, com um suspiro meio desanimado _ Não há tumor, mas essa síndrome esquisita vai me matar, da mesma forma.


_Acho que há uma grande diferença, Arthur. Veja bem, se não for câncer, significa que deve haver algum tratamento, bastando descobrir o que é. _ disse Moody., admirando a Pedra de Roseta _ Assim como Champollion decifrou os hieróglifos egípcios através desta pedra, também decifraremos esse mistério, embora eu já tenha minhas desconfianças.


_Acha que podem ter armado isso para mim? Provocado essa síndrome?


_Temos de pensar em todas as possibilidades, Arthur. Sabe que é uma característica minha desconfiar de tudo e não deixar nada ao acaso. Desde quando você começou a sentir-se mal?


_Mais ou menos uns três meses. _ disse Arthur, admirando algumas peças de ourivesaria persa.


_E você tem feito suas refeições no Ministério?


_Sim, é bem mais prático.


_Percebeu se outras pessoas têm apresentado os mesmos sintomas?


_McCrory, da Divisão de Reversão de Feitiços Acidentais. Mas ele já está bem, agora.


_Hmm, interessante. _ disse Moody, seu rosto marcado por cicatrizes assumindo uma expressão séria _ Vocês almoçaram juntos, alguma vez?


_Sim, umas três ou quatro vezes, pouco antes de eu começar a... ei, você acha que estão tentando me envenenar? _ perguntou Arthur.


_Não, Arthur, eu não acho que estão tentando te envenenar. EU TENHO CERTEZA DE QUE ESTÃO TE ENVENENANDO. Já desconfiava, mas agora você me forneceu as peças que faltavam. Só que eu nunca vi um tipo de veneno assim, que mimetiza os sinais e sintomas de um câncer. Vamos voltar ao Ministério, pois acho que Longbottom já deve ter os resultados pelos quais estou esperando.


 


Retornaram ao Ministério da Magia e foram ver Neville. O bruxo os recebeu com uma cara bastante preocupada.


 


_E então, Longbottom? _ perguntou Moody _ já tem algo de concreto para nós?


_Sim, Prof. Moody. _ disse Neville _ Realmente, é um veneno desconhecido, o qual eu consegui isolar hoje. Analisei as amostras de alimentos que o senhor me trouxe, todas elas recolhidas do prato do Ministro. A análise microscópica revelou substâncias aparentemente inócuas mas que, quando combinadas, vão induzindo os sinais e sintomas que o Ministro Weasley tem apresentado, o que reproduz o quadro de um câncer de cólon.


_Vocês já estavam desconfiados, então? _ perguntou Arthur.


_Sim, Ministro, já há algum tempo. _ respondeu Neville _ Veja bem, se fosse um veneno comum, bastaria utilizar o Identificador de Substâncias, equipamento padrão dos Aurores, para descobrirmos o que é. Mas é algo totalmente novo, parece que foi sintetizado em partes.


_Em partes, Longbottom? _ perguntou Moody _ Então seria um composto binário?


_Na verdade um composto ternário, Prof. Moody. _ disse Neville _ Enquanto fosse binário, provocaria os sintomas. Mas só tornaria o quadro irreversível quando fosse adicionado o catalisador.


_Que estava na tâmara, não é? _ Arthur deu seu palpite.


_Exatamente, Ministro. O senhor vai passar mal durante algum tempo, enquanto o veneno estiver sendo eliminado do seu corpo, o que eu acho que vai demorar um pouco, pois o seu organismo deve estar saturado do veneno. O catalisador só apareceu hoje, naquelas tâmaras. Vamos combinar as três fases do composto e usar o Identificador de Substâncias.


 


Em uma placa de Petri, Neville juntou algumas gotas das soluções, que estavam em três frascos diferentes. Tocou a mistura com o Identificador de Substãncias e verificou o que aparecia no display do aparelho, criado anos atrás por Severo Snape e Derek Mason.


 


_ “Substância tóxica híbrida, químico-biológica, em forma ternária, preparada para reproduzir as manifestações de um câncer de cólon, origem desconhecida, provavelmente sintetizada por meios mágicos”. _ disse Moody _ O que reforça minhas suspeitas de que certamente é armação do Círculo Sombrio. Plantaram um elemento aqui, muito provavelmente na cozinha, na aquisição de gêneros, nos fornecedores ou em todas as etapas, para garantir que os alimentos alterados chegariam à mesa do Ministro no refeitório. Um fato que me alertou foi que McCrory por três vezes almoçou com Arthur e apresentou alguns sintomas. Mas, como foram poucas vezes, logo passou. Já no seu caso, Arthur, o processo foi contínuo e prolongado, saturando seu organismo e, se você tivesse comido aquela tâmara, o quadro se tornaria irreversível.


_Ou seja, eu morreria de um “câncer sem tumor”. _ disse Arthur.


_Exato, Ministro. _ disse Neville _ Embora o senhor ainda não esteja livre de riscos. A eliminação do veneno poderá demorar e o senhor ficará bastante debilitado, talvez tendo de ser hospitalizado.


_Entendo. _ pensativo, Arthur sentou-se em uma cadeira _ Eu só gostaria que nada fosse dito à minha família, por enquanto. Ambas as situações, quer fosse um câncer, quer seja um envenenamento intencional por parte do Círculo Sombrio iriam deixá-los mais preocupados do que o normal. Deixemos para cominicar a eles apenas se eu tiver de ser hospitalizado.


_Por mim tudo bem, Arthur. _ disse Moody.


_Por mim também, Ministro. _ disse Neville _ Mas há uma pessoa da família que deverá ser comunicada. Harry tem de ficar sabendo.


_De acordo, Neville. Vamos deixar Harry ciente dos fatos.


_Sim, ele poderá ser de grande ajuda para rastrear a origem do veneno, embora eu desconfie que seja algo do Necronomicon. _ disse Moody _ Mas ele só poderá fazer alguma coisa depois que retornar da Ucrânia.


_Ucrânia? _ perguntou Arthur _ O que ele foi fazer por lá?


_Acho que foi a Odessa, matar as saudades de Sergei Karkaroff e conferir como ficou a reforma do clube “Crepúsculo Escarlate”, depois do estrago que ele fez. _ Moody deu uma risada que acentuou algumas das cicatrizes do seu rosto.


 


 


Em Odessa, Harry Potter estava parado em frente ao clube “Crepúsculo Escarlate”, que ele havia destruído da outra vez em que estivera lá, à procura de Draco e Janine. O lugar estava um pouco diferente, não se parecia mais com aquele templo de música eletrônica e consumo de “Ecstasy” do qual se lembrava (“Talvez por ainda ser cedo e também devido à reforma que Mikhail Barev financiou”, pensou Harry).


Aproximou-se da porta de entrada, viu que o segurança ainda era o mesmo e que ficou branco quando o reconheceu.


 


_Calma, não estou atrás de confusão. Karkaroff está aí? _ perguntou Harry.


_O... o que você quer com ele, Potter?


_Por enquanto, só conversar. Mas se você ficar enrolando, eu posso ficar meio irritado.


 


Assustado, o segurança conduziu Harry para dentro do clube, enquanto o bruxo ria por dentro (“Uma pressãozinha de vez em quando pode ser  de grande ajuda”, pensou ele). A decoração do clube estava mais típica, nada de Techno, apenas canções folclóricas russas e ucranianas. Havia mulheres bastante bonitas, denotando que o lugar ainda possuía um viés de casa de encontros, mas não se via nada que pudesse parecer com saída para quartos portanto, à primeira vista, não era um bordel. A presença de famílias e grupos de excursões de turistas também dava outro ar ao local. Harry sentou-se ao balcão e fez seu pedido.


 


_Чистая водка, пять градусов ниже, пожалуйста (“Chistaya vodka, pyat‘ gradusov nizhe , pozhaluysta”, Vodka pura, a cinco graus negativos, por gentileza”).


 


Ao ouvir aquelas palavras e aquela voz, o Bartender gelou por dentro. E ao voltar-se e dar de cara com o rosto sorridente de Harry Potter, por pouco não se borrou. Deu a ele a vodka e desapareceu para os fundos. Divertido, o bruxo ficou ali, tomando sua bebida em pequenos goles (“A fama me precede”, pensou).


 


_Вы не пришел снести мою собственность снова, не Гарри Поттер (“Vy ne prishel snesti moyu sobstvennost‘ snova , ne Garri Potter”, “Você não veio demolir meu estabelecimento novamente, não é, Harry Potter”)? _ ouviu-se uma voz no banco ao lado.


_Не в зависимости от результата нашей беседы, Сергей Игоревич Каркарова (“Ne v zavisimosti ot rezul‘tata nashey besedy , Sergey Igorevich Karkarova”, “Não, dependendo do resultado de nossa conversa, Sergei Igorevich Karkaroff”). _ respondeu Harry.


_Que bom. _ respondeu Karkaroff aliviado, em Inglês _ A única coisa que não consegui retirar foi aquela marca que você deixou na parede. Aliás, é bom que ela fique ali, para que eu não me esqueça do que pode me acontecer. Ainda sinto arrepios quando me lembro daquele maldito rato passeando pela minha barriga.


 


Com efeito, a marca que Harry deixara gravada na parede permanecia, a figura de um pomo de ouro tendo sobreposto a ele um raio em forma de “N”. A marca do “Nêmesis”.


 


_Ótimo. _ disse Harry _ Mas não se preocupe, vim em paz. Onde podemos conversar?


_Há boas salas reservadas, camarotes bem confortáveis. Poderemos conversar com privacidade. _ disse Karkaroff.


 


Sentados a uma mesa, em um dos camarotes, assistiam à apresentação de um grupo foclórico e Harry levantou o assunto.


 


_Por que foi que Mikhail Barev, o líder da “Veneno das Estepes”, financiou a reconstrução do seu clube?


_Direto, hein? A história é longa, Harry Potter. _ disse Karkaroff _ Mikhail Barev e eu nos conhecemos desde a infância, embora eu seja bruxo e ele trouxa. Eu o salvei de se afogar certa vez e ele disse que quando eu precisasse, poderia pedir qualquer coisa. Depois que você destruiu meu clube, eu tinha de reconstruí-lo, para não morrer de fome.


_Aah, lá vem você com o “mimimi”. _ disse Harry _ Até parece que você não tinha uma boa reserva para emergências.


_Nem tão boa assim, Harry Potter. E eu fiquei bastante malvisto entre as famílias, por me associar com Choo-Pak e o Círculo Sombrio. Mas, pelo menos, não corro o risco de ter a minha cabeça conservada em resina e colocada para decorar a ponte de acesso a Roanapur.


_Mas você sabe muito bem que Barev tem ligações com o Círculo.


_Nem tão profundas, Harry Potter. _ disse Karkaroff _ Sei que ele conseguiu falsificar os documentos do desmonte de um submarino, o “Simbirsk”, vendendo-o ao Círculo. Isso permitiu a ele formar sua família na Krasnaya Mafiya. Mas isso ainda foi nos tempos do “Planejador”, antes de “Sombra” e “Escuridão” assumirem. Sua colaboração com o Círculo tem sido esporádica, principalmente porque aquela sua “amiga” de Roanapur já tratou de fazer a caveira dele, junto às outras famílias.


_É, a palavra da Czarina tem muita influência junto às famílias, principalmente depois que a Máfia Russa desistiu de colaborar oficialmente com o Círculo Sombrio. Seu clube está diferente, Karkaroff. Nada mais de Raves?


_Não, Harry Potter. E também parei com o tráfico de “Ecstasy” e nem pensei em traficar “Gelo-Lilás”. O que faço agora pode não dar mais tanto lucro quanto as minhas atividades anteriores, mas é muito mais saudável e evita que um certo Auror de óculos e cicatriz na testa resolva fazer uma visita e “redecorar” meu estabelecimento.


_Sábia atitude, Karkaroff. _ disse Harry, com um sorriso _ Agora você trabalha com apresentações típicas para turistas?


_Sim. Os turistas gostam dos shows de folclore russo e ucraniano, bem como da gastronomia típica.


_Mas estou vendo umas garotas de aparência bem... “profissional” circulando no salão.


_São clientes, consomem e pagam, como quaisquer outros. Mas eu não intermedio nenhum encontro e nem tenho quartos. Isto aqui não é um bordel, Harry Potter. Se um casal se conhece aqui e quer sair, que vá para um dos hotéis das proximidades, quanto a isso eu não posso fazer nada.


_Alguns dos quais também lhe pertencem, de acordo com o que eu descobri.


_Só recebo as diárias, Harry Potter. Não cobro porcentagem nenhuma porque eu não agencio mais mulheres. Meus dias de proxeneta ficaram no passado.


_Aliás, o ambiente parece bastante respeitável. Vejo que as famílias e grupos de excursão predominam. _ comentou Harry.


_Também alugo para casamentos, aniversários e outras festas. É, tenho conseguido levar uma vida confortável e, o mais importante, bem mais saudável e segura, mantendo os Aurores e o Círculo longe. _ disse Karkaroff.


_Não estou mais vendo seus antigos capangas, Yuri e Sasha, nem “Gazela Prateada”. Não trabalham mais para você? _ perguntou Harry.


_Não, eles foram trabalhar para Barev. Os três queriam continuar nas antigas atividades e, pensando bem, Yuri e Sasha não têm muita inteligência para fazer outra coisa. Anatoly é bem mais inteligente do que os dois juntos.


_Se bem que para isso não precisa muita coisa. _ disse Harry, divertido.


_Éle agora é segurança pessoal de Barev, fez uma plástica, mudou a cor dos cabelos e mudou de nome. Mas não sei se ele quis fazer uma lembrança ou uma gozação comigo.


_???


_Ele resolveu adotar o nome de... “Sergei Bichinsky”. _ disse Karkaroff, enquanto Harry não conseguiu segurar o riso.


_Realmente, Anatoly Orumov ou melhor, “Sergei Bichinsky”, tem um senso de humor bastante distorcido. _ disse Harry, aos risos _ Ele fez a cirurgia?


_Não, desistiu. Ele me disse que, depois da proximidade com a sua adaga Tanto, não quer saber de lâmina de espécie alguma perto dele. _ Karkaroff tomou um gole de sua bebida e pousou o copo na mesa _ Estou tentando levar a vida de forma mais honesta. O Círculo não me incomoda, porque eu não tenho conhecimento de nenhuma operação importante deles e, se eu ficar longe do tráfico e das outras atividades, os Aurores também não virão atrapalhar meus negócios. Aliás, continuo trabalhando com veículos de luxo, mas nada mais roubado. Sou dono de uma concessionária, tudo dentro da lei.


_Logo vi que aquela VW Touareg não estava na frente do clube à toa.


_Vindo de quem dirige uma Infiniti FX35...


_É, me pegou. _ Harry olhou para Karkaroff _ Gosto dela, é bonita, estilosa e espaçosa. Mas Barev esteve aqui, recentemente.


_Sim, só que como cliente. Alugou o clube para o casamento de uma de suas filhas. Nada relacionado com suas “atividades profissionais”.


_Você está dizendo a verdade, Karkaroff. _ disse Harry _ Usei Legilimência desde que entrei no seu clube e constatei que você está realmente se afastando do Círculo Sombrio, o que é muito bom.


_A gente só vive uma vez, Harry Potter. _ disse Karkaroff _ Eu quero viver bastante e o melhor meio para isso é ficar longe de encrencas.


_Então eu vou indo. Fico contente de não precisar destruir seu clube, Karkaroff. Afinal, todo mundo merece uma segunda chance.


_E o Círculo? “Sombra & Escuridão” também? _ perguntou Karkaroff, em tom meio zombeteiro.


_Para toda regra, há uma exceção. _ disse Harry _ Neste caso, duas.


 


Harry saiu do clube e Karkaroff suspirou, aliviado. Depois de todo o trabalho que tivera para limpar o seu nome, a última coisa que queria era um prejuízo descomunal, causado por um dos maiores Aurores da corporação e um dos mais poderosos bruxos da atualidade. A destruição de seu clube seria um golpe fatal na reputação que estava se esforçando em criar.


 


Hogwarts, intervalo de almoço


 


Tiago havia estudado as táticas para o próximo jogo, contra a Lufa-Lufa, estando satisfeito com o resultado. A Grifinória estava em vantagem, com duas vitórias anteriores e era a favorita para o título, novamente. O que não significava que poderiam dar mole. A Lufa-Lufa tinha jogadores bastante habilidosos e não poderia deixar de ser levada a sério. Então o bruxinho focou-se em outra questão. Tentar descobrir quem eram os responsáveis pelas pichações nas paredes dos corredores da escola. Ele pensava que poderia ser algo mais fácil de ser resolvido, então pedira a Soraya que tentasse utilizar Psicometria na pichação, mas a bruxinha revelara ao amigo que havia um fortíssimo Feitiço de Confusão que a impedia de ver com clareza o momento em que havia sido lançado e quem estaria ali naquela hora, talvez já prevendo a hipótese de alguém tentar usar aquele tipo de dom no local. A saída seria tentar encontrar algum tipo de feitiço ou Poção Reveladora que ultrapassasse aquela barreira. Já havia procurado em vários livros e a solução talvez fosse “emprestar” a Capa de Invisibilidade de seu pai e ir xeretar na Seção Reservada da Biblioteca. Ou então pedir ajuda às duas pessoas mais qualificadas que conhecia. Só que uma delas metia medo e a outra estava em Londres. Naquele momento, sentiu-se enlaçado por um par de braços e ouviu uma voz sussurrando docemente em seu ouvido.


 


_Alô, alô. Terra para Tiago Potter, câmbio.


_Mensagem recebida e compreendida, câmbio. _ respondeu Tiago, voltando-se e abraçando Narcisa.


_Estava em qual galáxia, Ti?


_Em uma na qual eu pudesse encontrar uma forma de identificar quem está fazendo esses Feitiços de Pichação nas paredes. Nem Soraya conseguiu descobrir nada, mesmo usando Psicometria. Acho que terei de fazer uma visitinha “à la Ninja” à Seção Reservada.


_Estamos juntos nessa, mano. _ disse Lílian, que estava chegando com Mariel, Mirela, Julius e Sun-Li.


_Talvez nem seja preciso, Tiago. _ disse Julius _ Papai está trabalhando em uma Poção Reveladora bastante forte e mamãe em um Feitiço Potencializador para ela. Ele me disse que já vai iniciar a fase de testes, o que significa que...


_... Se for realizado um teste secreto nas pichações de Hogwarts, talvez possamos descobrir quem é o pichador.


_Ou, pelo menos, descobrir a que horas o feitiço foi lançado. Assim eu posso utilizar a Psicometria e ver quem estava naquele trecho do corredor, restringindo assim a nossa lista de suspeitos. _ disse Soraya.


_Grande parte dos quais estou certo de que é da minha Casa. _ disse Albert Pettigrew, que chegava ao local, com Leilane _ De alguns eu tenho quase certeza e de outros eu desconfio. Mas creio que o cabeça não é serpente e sim texugo.


_Mas com duas pequenas serpentes do lado. _ ouviu-se uma voz.


_Randolph! _ exclamou Lílian _ Mas que susto! Por onde tem andado?


_Realizando minhas próprias investigações, paralelamente. Albert está certo, mas não temos como provar.


_Daí a importância de realizarmos o teste com a poção e o feitiço que meus pais estão desenvolvendo. _ disse Julius _ Vou agora mesmo ao Corujal, mandar uma mensagem para eles.


_Ótimo. Vamos para as aulas que já está na hora. _ disse Tiago, consultando o relógio. Os amigos foram para suas respectivas aulas.


 


Cidadela de Bóreas”, com vista para o “Sol da Meia-Noite”.


 


Na tentativa de encontrar um modo de fornecer pistas para Harry sobre a localização da base do Círculo, contornando o “Fidelius Conditio” imposto por “Escuridão”, Draco Malfoy sentia que estava se aproximando cada vez mais da resposta, faltando só um pouco para descobri-la.Precisaria sair um pouco daquele lugar perdido no meio do nada, a fim de se inspirar. Só que fisicamente não seria possível. Então, recolheu-se aos seus aposentos e trancou a porta. Sabia que estava sendo monitorado, pois “Escuridão” desconfiava de tudo e de todos, tentando descobrir onde estava o vazamento de informações. Acendeu um bastão de incenso e diminuiu as luzes do quarto. Para todos os efeitos, realizaria um período de meditação.


Deitado na cama, atingiu o ponto de equilíbrio e relaxamento ideal e, em seguida, seu corpo astral desprendeu-se do físico e pairou sobre ele, o Cordão de Prata limpo e brilhante. Seu plano para não ser dominado pelo Saiminjutsu, pela Acupuntura e pelo Kobudera de Nitobe Suwo havia funcionado perfeitamente.Abandonou as regiões árticas, em busca de climas mais amenos para se inspirar. Em um instante, estava no Brasil e flutuava em frente ao Cristo Redento, fazendo uma silenciosa prece na qual pedia que Ele o iluminasse. Olhando para baixo, deixou-se envolver pela beleza da cidade, cartão-postal do Brasil. Com a velocidade do pensamento, deslocou-se dali e logo estava em terras mais ao Sul, sobre as ondas das praias ao redor de Garopaba. Quando se deu por conta, estava em Porto Alegre. Enquanto admirava o pôr-do-Sol no Guaíba, a ideia veio à sua mente. Clara e cristalina, como se sempre tivesse estado ali. Satisfeito, retornou ao seu corpo físico, na “Cidadela de Bóreas”. Agora dependia de “p” repassar a informação a Harry e que ele a decifrasse. Se havia alguém que poderia fazê-lo, era Harry Potter.


 


Falando em Harry...


 


Assim que retornou de Odessa, o bruxo foi ao Gabinete do Diretor, estranhando ao ver o padrinho e mais Hermione, Gina e “Deniece” (Janine) ali, todos com caras preocupadas.


_Como foi na Ucrânia, Harry? _ perguntou Sirius.


_Não precisamos nos preocupar com Karkaroff. Ele está tentando construir uma nova reputação e para isso abandonou de vez as antigas atividades. Mas por que estão com essas caras?


_Harry, p-papai... _ e Gina não conseguiu terminar a frase. Chorando, abraçou o esposo.


_O que houve com Arthur? _ perguntou Harry.


_Está baixado no St. Mungus, em estado grave. _ disse Hermione _ Estamos aguardando que Martinette nos dê notícias.


 


Como que sublinhando as palavras de Hermione, o rosto da Medi-Bruxa surgiu na lareira.


 


_Gente, tenho notícias. O estado do Ministro Weasley ainda é grave, mas não corre risco imediato. “Olho-Tonto” Moody está com ele e quer falar com Harry.


_Já estou indo, Martinette. _ Harry deu um beijo em Gina e entrou na lareira.


_Eu também vou! _ exclamou a ruiva, entrando logo em seguida. Aquela internação repentina não era nada normal.


 


E ela sabia que um período angustiante estava para ter início.

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