Mentiras



Mentiras

- Posso saber no que você estava pensando quando esmurrou o menino? – perguntou Neville, olhando fixamente para o filho em sua sala, em Hogwarts. – Não foi essa a educação que lhe dei. Sou professor aqui, e esse tipo de atitude me deixa em uma situação muito complicada. Não esperava esse tipo de atitude de você.
Frank não encarava o pai. Ele tinha a expressão dura, quase emburrada, para um garoto de 13 anos, que sempre fora tímido e educado.
- Não vai me responder? Estou esperando sua justificativa!
- Ele falou um monte de mentiras do senhor, e isso eu não ia admitir.
- Que tipos de mentiras? – perguntou Neville, intrigado com a resposta.
- Scorpius disse que o pai dele contou que o senhor sempre fora um covarde. Que era um retardado. E que só mudara porque Harry Potter o ajudara, senão seria um covarde para sempre.
“E agora?” pensou Neville. “Como explicar que, de certa forma, Scorpius não mentiu?”.
Neville se sentou em uma cadeira, e puxou um banco para que o filho sentasse em sua frente.
- Nem sempre percebemos o quanto de coragem nós temos até que ela se torne necessária, Frank. Eu demorei muito para descobrir a minha, e de certa forma, Harry me ajudou muito. Vivia atormentado pelo o que aconteceu a seus avós, e achava que nunca seria capaz de honrá-los como mereciam. Hoje sei que faço jus ao nome Longbottom, e a casa que estudei aqui em Hogwarts, assim como você. Scorpius disse uma parte da verdade, eu fui um covarde por algum tempo. Não por temer as coisas, mas por não me achar capaz.
Frank deixou transparecer a decepção com o que o pai acabara de lhe contar. Sempre vira o pai como um herói, uma pessoa com uma coragem digna dos mais importantes Grifinórios de toda a história de Hogwarts.
- Não fiz o que fiz querendo ser um herói, ou marcar meu nome na história do mundo mágico. Lutei porque era preciso, e pelas pessoas que amava. Um dos maiores diretores de Hogwarts disse uma vez que a maior coragem é se propor a fazer o que é correto e não o mais conveniente. Hoje sei que tenho essa coragem. Mas acho que a maior coragem que podemos ter é a de aceitar nossos limites, e fazer tudo que estiver ao nosso alcance.
Frank finalmente entendera onde o pai queria chegar, e sorriu para ele.
- Bem, agora temos que discutir suas detenções por ter brigado com Scorpius Malfoy. Acho que três sábados seguidos é o suficiente.
- Mas pai, só fiz isso para te defender! Será que é justo eu receber detenções por isso? – tentou barganhar Frank.
- Sendo professor, não posso admitir brigas entre meus alunos, e o correto é lhe dar detenções. Mas em casa sou apenas seu pai, e poderei sentir orgulho pelo que fez – disse Neville, com um sorriso maroto para o filho. – Agora pode ir.
Frank levantou correndo, e estava quase saindo da sala quando seu pai lhe chamou, dizendo:
- Você descobriu sua coragem bem mais cedo do que eu. Não sei se notou, mas Scorpius tinha o dobro do seu tamanho.
Frank sorriu, e saiu da sala do pai.
Neville não conseguiu impedir que uma velha lembrança viesse à sua cabeça. Feliz, viu um menino gorducho gritando “Eu valho uns doze Malfoys”, e se jogando sobre Crabble e Goyle em seguida, durante uma partida de quadribol.

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