Sob os meus Cuidados
Ainda com certa dianteira, Draco correu até Hermione, e por estar de costas, não viu o delinqüente tirar algo de dentro das roupas e apontar em direção à sua cabeça, mas a morena viu...
Foi apenas uma fração de segundos, ainda com a visão turva ela percebeu que o loiro se aproximava e rapidamente a tomava nos braços num gesto protetor que naquele momento ela recebia com extrema gratidão, no entanto, antes que o corpo dele pudesse se unir ao seu, percebeu o gesto do agressor que sacava um objeto metálico das vestes, apontando-o para Draco de forma letal. Nenhum instante de lógica lhe foi permitido antes do estampido romper o silêncio ao tempo em que mais um relâmpago riscava os céus, com um esforço sobre-humano, girou o corpo puxando Draco para si numa tentativa de livrá-lo da rota do tiro, e fechou os olhos, esperando o pior.
“Precisava tirá-la de lá”, esse foi o único pensamento de Draco enquanto lutava contra os ladrões, e assim que conseguiu uma brecha, correu para a morena, mas antes que pudesse prendê-la entre seus braços, sentiu mãos pequenas e macias agarrando sua blusa, empurrando-o em direção ao asfalto molhado. A força do puxão o surpreendeu, fazendo-o desequilibrar no momento exato que um vento estranho passou próximo a lateral de seu corpo. A confusão era tamanha, que Draco só lembrou-se do grito apavorado de Hermione antes de firmar os braços em torno dela e aparatar, impedindo que batessem no meio fio.
No instante seguinte eles já haviam reaparecido, e um sorriso de alivio sugou os lábios do loiro; por um momento tenebroso ele realmente achara que não conseguiria tirá-la de lá em segurança, mas graças a Merlim, tudo acabara bem, e do jeito certo.
Apesar de ter conseguido evitar que eles batessem no asfalto frio, não podia dizer o mesmo do chão de seu quarto, de modo que ele caíra por cima da bruxa pela segunda vez aquela noite, com a diferença de que, agora, estava de frente a ela; fato que proporcionou a si ter a visão completa do rosto angelical levemente arranhando e sujo de sangue, devido a um corte na lateral da cabeça. Os olhos sempre vivos permaneciam fechados, impedindo-o de ver seu habitual brilho.
Definitivamente, aquilo não era o que esperava ver. Sentindo como se tivessem comprimindo seu coração contra um bloco de gelo, saiu de cima da morena, erguendo-a nos braços com pressa e cuidado, para então poder acomodá-la em sua cama. Ao fazê-lo, percebeu outro agravante, assim como seu rosto, a braço da mulher também sagrava, porém em evidente maior quantidade e uma linha grossa e preta marcava o local onde a bala atingira de raspam; confirmando que o estampido que ouvira antes de aparatar fora mesmo um tiro.
Tremendo da cabeça aos pés, gritou por seu elfo doméstico antes de correr em direção a seu banheiro, fazendo levitar todas as poções cicatrizantes e contra a dor que possuía, quase as derrubando tamanho era seu desespero.
O ser mágico já estava lá quando retornou, encarando ele e a bruxa com os olhos ainda mais esbugalhados e atentos, enquanto aguardava ordens.
- Quero uma bacia com água morna, já! – gritou imperativo, o elfo assentiu e ouviu-se um pequeno estalo em seguida.
Com um movimento da varinha, acomodou as poções no criado mudo ao lado da cama, e sentou nesta, conjurando alguns panos limpos antes de começar a tratar os ferimentos da nascida trouxa. Primeiro ocupou-se do corte na cabeça, e não pode contar um suspiro de alivio ao ver que era superficial. Depois de remover todo o sangue, pegou um pano limpo e o banhou no liquido incolor, retirando-o segundos mais tarde para pousá-lo precisamente no machucado. Enquanto esperava o corte sumir, voltou-se para o rosto da moça, com um novo pano, molhou sua extremidade com a água morna recém trazida de seu elfo, e o passou vagarosamente pela face fustigada.
Eu poderia perder
Perder meu coração esta noite.
Se você, não se virar e for embora agora
Não havia muitos, o que fez o loiro entristecer-se em segredo, pois não tinham mais nenhuma razão para acaricia-lhe o rosto. “Jamais pensei que a nossa noite pudesse terminar assim... Esperava pelo menos ter a chance de te levar para jantar”, pensou o loiro, trocando novamente de pano, seu olhar atento agora no braço da bruxa. Uma expressão feroz tomou-lhe a face ao observar a pouca, mais ainda assim, existente, gravidade do ferimento. “Aqueles malditos! Como puderam nos atacar daquela maneira? Mas eles irão pagar muito caro por se voltar contra um Malfoy!”, jurou numa fúria intensa, porém silenciosa. Deixaria aquele acerto de contas para mais tarde, naquele momento, sua maior prioridade era a mulher deitada em sua cama.
Pois do jeito que me sinto
Acho que poderia
Poderia perder meu controle
E deixar você ficar
Sem perceber, um sorriso irônico nasceu no canto de seus lábios. “Se pelo menos fosse em outra situação..”, ponderou Draco, rindo amargamente para si próprio.
Pois poderia
Te pegar em meus braços
E jamais deixar você ir embora
Continuou sua tarefa com demasiada atenção, tocando-a com extremo zelo e respeito, e esperando pacientemente qualquer reação que denunciasse seu despertar, mas ele só veio acontecer vários minutos mais tarde, quando a notou remexer-se inquieta na cama, uma expressão de dor cruzando seu rosto, a qual atingiu sem pena o coração do homem. Ver aquele sentimento ali, era o mesmo que condenar um inocente ao beijo do Dementador, insuportavelmente errado.
Curvou-se até está próximo ao ouvido da bruxa, para então sussurrar:
- Hermione?
Não houve resposta, mas a morena continuou a se mover lentamente, agoniada com algo que ele sabia ser a ardência em seu braço. Sabendo que preferia ser torturado por dias a fio a ver isso, apanhou um novo frasco de poção, o liquido dentro dele era num tom verde-musgo mais claro que o habitual, e um odor irritante encheu o quarto quando retirou a tampa. Delicadamente, a fez beber metade do vidro, esperando que assim seu sofrimento ameniza-se, e, por tabela, o dele também.
Deu uma olha rápida no relógio em seu pulso, mais alguns segundos e a poção faria efeito...
- Hermione? Hermione, meu bem, você pode me ouvir? – disse Draco, encarando a face da tradutora em expectativa.
Mesmo contra vontade, engoliu a coisa pegajosa e de gosto terrível que fora obrigada a beber, tinha consciência de que alguém falava consigo, mas o zumbido alto em seus ouvidos não a deixavam destingir a mensagem. Sua mente girava em confusão, e latejava muito, tanto que chegara a desejar que algum abençoado a arranca-se fora. Porém, nem isso se comparava a dor vinda de seu braço, aquilo ardia, ardia insuportavelmente.
Pode sentir braços fortes a rodeando, a voz calorosa agora estava desesperada, fazendo-a desejar poder dizer-lhe que não havia necessidade daquilo. Ela estava bem! Não totalmente, claro, mas iria ficar. Se conseguisse, de certo sorriria ao sentir uma mão acariciar sua face. Tentou abrir os olhos, mas suas pálpebras pareciam chumbo, um obstáculo difícil de vencer. Porém, não desistira, aos poucos, a dor cessou permitindo que relaxasse e lentamente a consciência fosse retornando.
Devagar, acostumando-se com a luz do lugar, abriu os olhos, encontrando um par de íris cinza a encarando com nítida e incomum preocupação. Franziu levemente o cenho, feliz pela ação não lhe ter provocado nenhuma dor, que lugar era aquele? Lembrava vagamente da tentativa de assalto que sofrera, de como a aparição de Draco Malfoy a aliviara, depois do pânico dominante ao ver a arma de fogo nas mãos de um dos ladrões, de como se esforçara para tirá-lo da mira do tiro...o tiro... Merlim!
- Draco? O que aconteceu? – perguntou Hermione, de olhos arregalados, erguendo de leve o corpo, numa intenção clara de se levantar, mas que foi firmemente barrada pelo toque suave de seu chefe.
- Não se atreva a levantar, Hermione – disse o loiro, seu tom de voz imperativo, o que fez a bruxa arquear ambas as sobrancelhas.
- Você não pode me dar ordens fora do trabalho, senhor Malfoy. – rebateu, afiada, e tornando a tentar se reerguer, e sendo impedida novamente. – Eu preciso ir para minha casa! – disse a morena, exausta demais para ir contra a pressão que as mãos do loiro faziam em seus ombros.
Eu poderia
Me apaixonar
Por você
- Sinto dizer que não vai poder, senhorita Granger – disse Draco, abrindo um pequeno sorriso que por um momento pareceu de vitoria aos olhos da ex-grifinória – Mas de jeito nenhum sairá da minha cama, ou da minha casa, vai passar a noite aqui.
- Não vou não! – disse Hermione, os olhos arregalados numa visível surpresa – Deixe-me sair daqui!
- Já disse que não... – ele sorriu internamente da teimosia dela – Você não tem condições de ficar sozinha, precisa de cuidados.
- Vai virar minha babá então? – indagou a morena, mordaz.
Para sua surpresa, o loiro pareceu considerar por alguns instantes, para então fazer surgir aquele sorriso que tanto odiava e dizer:
- Digamos que está com sorte esta noite. – Hermione não pode conter um bufo de exasperação que escapou de seus lábios, fazendo o loiro alargar ainda mais seu sorriso. – Vai querer tomar um banho? – indagou Draco, prestativo – Pode usar o banheiro do quarto.
- Não, obrigada. – respondeu Hermione, categórica. Não iria ceder, ele não tinha direitos sobre ela, nenhum.
- Seria melhor se tomasse um – insistiu Draco, seu tom de voz deixando de ocultar por completo a diversão que sentia ao ver o brilho de orgulho nas íris da moça.
- Por acaso está insinuando que estou cheirando mal? – quis saber Hermione, encarando-o com os olhos semi-cerrados; sua raiva aumentando a cada palavra dita.
- Não! – ele apressou-se em dizer, chocado com a dedução distorcida da bruxa. “Céus! Que gênio!”, pensou, ocultando um novo sorriso. – Por favor, Hermione, não me entenda mal... – ela o fuzilou ainda mais – O que eu quis dizer, o que eu estou querendo lhe dizer, é que seria melhor para você relaxar com um banho, serviria para amenizar as dores! - disse Draco, procurando dar ênfase às últimas palavras – Você se sentira melhor depois, eu garanto.
A morena o encarou de forma penetrante, os olhos amendoados tentando achar qualquer vestígio de falsidade nos cinzas do bruxo, por menos que fosse. Entretanto, para sua completa admiração e surpresa, apenas encontrou uma forte sinceridade.
- Eu não tenho roupa – murmurou a morena, após um breve silêncio. Draco sorriu, sabendo que vencera aquela pequena batalha particular.
- Não se preocupe com isso – ele se levantou – O banheiro fica logo ali, vou providenciar uma muda de roupa e comida para você – disse Draco, estendo a mão na direção da morena, na intenção clara de ajudá-la a se erguer.
Meu amor
Eu só posso
Ficar imaginando como seria
Te tocar
Como me sentiria
Ele parecia estupidamente alegre, como se tivesse acabado de ganhar um valioso presente, Hermione ergueu a sobrancelha imperceptivelmente, nunca o vira assim antes. Ainda que relutante, ela aceitou a oferta de ajuda, mas cambaleou por ter se erguido rápido demais, fato que a fez ver-se obrigada a apoiar-se totalmente em Draco, o qual a recebeu de braços abertos. Na verdade, ele parecia está apenas esperando por isso. Encostou a cabeça em seu peito, os olhos fechados ouvindo-o sussurrar para ser mais cuidadosa, enquanto esperava que o quarto parasse de rodas ou a náusea que a atingira cessasse. O qual viesse primeiro, era lucro.
- Obrigada. – disse a morena, ao se afastar, já recomposta.
- Estou a disposição – ele deu uma pequena e alegre risada, enquanto a sustentava pela cintura, a guindo até o banheiro – Se precisar de algo, não hesite em gritar – disse Draco, encarando-a seriamente. Ela devolveu o olhar, assistindo de perto o brilho cinza do loiro mudar para algo semelhante a preocupação. – Não estou certo se devo deixá-la só.. – comentou, parecendo dilacerando quando a soltou de seu agarro – Você pode desmaiar na banheira, se afagar e eu não vou está lá para...
Mas se arriscar
Se arriscar esta chance agora
Será que amanhã você ainda vai me desejar?
- Vou ficar bem – interrompeu Hermione, corando intensamente com a intenção do loiro de permanecer ao seu lado, no banho.
- Quero que deixe a porta entreaberta. – a morena franziu o cenho, confusa. - ... para poder ouvi-la gritar... – completou o tradutor, uma pitada de constrangimento em seu timbre.
- Não será necessário – protestou a bruxa, firme.
- ... E terá dez minutos – ele continuou, como se não tivesse ouvido-a.
- Mas...
- Passando disso, eu entro e a arrasto daí – disse Draco, a ameaça ficando mais evidente em seus olhos. Hermione sentiu o queixo despencar, horrorizada com a possibilidade, o rubor em sua face, já intenso, chegou a limites antes desconhecidos.
- Ora, francamente, eu já...
- Agora são 9:55 – informou o homem, encarando o relógio com um meio sorriso nos lábios.
- Só pode está brincando – rebateu a morena, incrédula. Ele não podia está falando sério.
- 9: 53, e contando..
Com um suspiro de exasperação, ela adentrou o banheiro, se certificando de que a porta estava entreaberta, mas sem condições de alguém ver algo. Simplesmente negava a aceitar a concretização daquela ameaça sem fundamentos, por isso despiu-se rapidamente, ignorando a dor nos músculos ao fazê-lo. Mas foi ao encarar seu próprio reflexo no enorme espelho do recinto, que não pode conter um gemido.
Céus, ela estava um caos!
Seu cabelo mais parecia um ninho de ratos gigante e tinha as sombras de possíveis arranhões pela face, sua expressão era de pura fadiga mesclada com um pouco de surpresa e uma pitada acentuada de raiva. A certeza que Draco a vira assim, pior, a observara num estado muita mais horripilante que aquele -, afinal, pelo que entendera, estivera sob os cuidados (e ainda estava) dele antes de acordar-, a fez soltar outro gemido de puro desconforto.
Infelizmente ou não, negara-se a refrear o sentimento de gratidão, o qual não tardou a perturbá-la. Nunca imaginara que o sonserino esnobe dos tempos de escola pudesse se arriscar daquela forma por ela quando adulto, e, o mais importante, jamais relacionara a expressão “aspirante a herói” a “Draco Malfoy”, muito menos com o sutil completo que ponderava agora: seu herói.
Balançou a cabeça em negativa, afastando aqueles impróprios da mente, e se concentrando no banho, procurando relaxar cada parte do seu corpo e aproveitar da espaçosa banheira no tempo que lhe fora dado. “Dez minutos”, lembrou-se outra vez, com um resmungo de desaprovação.
Por via das dúvidas, não demorou no banho, erguendo-se com cuidado e enrolou-se na toalha azul felpuda, - procurando devidamente ignorar quem seria seu dono -, a qual estava próxima da banheira em seguida. Tentando ser o mais cuidadosa possível, atravessou o banheiro enquanto se secava, feliz por não ter escorregado em nenhum momento, evitando assim, um socorro totalmente desnecessário e constrangedor.
Aliviou-se ao ver sua varinha, assim poderia limpar suas peças intimas e secar a toalha e o banheiro. Depois de feito, voltou-se a enrolar na toalha, e espiou pela brecha da porta para se certificar se era seguro sair. Felizmente o quarto estava vazio, fato que a acalmou em demasiado, andou até a cama, apanhando com cuidado a camisa social branca que fora deixada ali. Vestiu-a sem pensar duas vezes e adorando, secretamente, o aroma contido nela. Era o cheiro dele, tinha certeza.
Foi só então que viu a bandeja com comida em cima da cômoda do quarto, em cima desta também havia um pequeno bilhete, o qual teve sua total atenção pelos primeiros minutos antes de seu estomago reclamar pela falta de alimento.
“Lembre-se, dez minutos! Posso não está ai, mas a estou monitorando, Granger!” Um pequeno sorriso sugou os lábios da morena sem a mesma perceber, e novamente, sua face começar a ganhar uma tonalidade mais acentuada. “Amanhã quero ver essa bandeja de comida limpa, moçinha. E sim, isso é uma ordem.” Hermione ergueu ambas as sobrancelhas, um brilho de desafio cintilando em seus olhos amendoados. “Irá dormir no meu quarto hoje, faça bom proveito dele. E, por favor, não se envergonhe de pegar um de meus livros, talvez um desperte seu interesse. Deve ter relaxado no banho, mas se precisar de uma massagem ou algo do jeito, me chame. Estou a dois quarto de distancia, à direita. Há poções contra a dor na escrivaninha, tome se precisar, e eu sei que vai.
Nos vemos pela manhã, Hermione.
Tenha bons sonhos.
D.M”
Maneou a cabeça de um lado para outro, rindo-se divertida, ao terminar de ler. Seu chefe, de certo, era alguém que precisava ser estudado por especialistas. Sentou-se na cama, puxando a bandeja para o colo, deixaria a maçã intocada de propósito. Logo que estava satisfeita, levou o objeto para a escrevinha do quarto e pegou um frasquinho da poção, o tomando em um único gole. Seu braço aliviou quase que imediatamente. Retornou a cama, mas não antes de apanhar um livro na estante do quarto, acomodou-se entre as cobertas, e se pôr a ler.
Foto que não durou muito, pois vencido pelo cansaço, aos poucos o corpo sucumbiu e os olhos se fecharam, permitindo que a mente voasse livre. Mas ao contrário do que acontecia com a maioria das pessoas, o sono não permitia à Hermione o deleite de experimente frações de felicidade, e sim uma nova oportunidade de reviver a dor.
A superfície era perfeitamente plana e parecia refletir a luz como um espelho frio. O gelo havia se tornado seu refúgio, seu palco, seu lar... Ali ela reinava soberana, deslizando em manobras perfeitas, adornadas por seus gestos delicados. Não havia como desviar o olhar, a cada movimento ela encantava mais com sua beleza.
Aos poucos, exigia mais do próprio corpo, aumentando a complexidade da rotina. Gostava de correr, da velocidade que o gelo lhe permitia alcançar e jamais demonstrava medo ou hesitação, arriscando-se em saltos e piruetas complicadas, mas que ela as executava de uma forma tão especial, que quase conseguia convencer seus expectadores que se tratava de algo fácil.
Um anjo, com vestes em um azul que variava do marinho ao mais leve celeste, bailava em meio à imensidão branca, agitando delicadamente as mãos, enquanto girava e saltava pelo ar. O corpo frágil já não contestava o esforço excessivo e se transformava em uma máquina precisa e incansável, para lhe permitir viver tamanha paixão.
Deslizava cada vez mais rápido, era preciso velocidade para completar mais um giro. Qualquer erro, naquele instante, poderia lhe ser fatal, mas não hesitava, pois seu coração confiava. Sabia que ele estava a sua espera, pronto para sustentá-la quando ela mesma não poderia.
Ele sempre esteve lá, como um porto-seguro, uma fortaleza inabalável que a protegia e guiava para as sensações únicas. Ao seu lado, tinha tudo. Mas pouco a pouco o sonho de gelo começou a derreter. Em seus olhos, a plena confiança foi encoberta pela sombra da inveja.
Já não havia um abrigo. Mesmo assim, cega pelo amor, ela ignorou todos os avisos e mais uma vez correu para encontrá-lo, lançando-se em um perigoso salto, que, dessa vez, não encontrou auxílio. Então, veio a torturante sensação de sentir o próprio corpo sendo bruscamente atirado contra algo sólido como concreto e um gosto amargo na boca.
Não queria cair novamente, mas a cada noite a escolha errada feita no passado, retornava em seu subconsciente, castigando-a pela impudência cometida. Suplicava para acordar, não queria reviver mais uma vez toda a dor, mas a mente não obedecia.
Continuou a correr cada vez mais rápido sobre o gelo e saltou de olhos fechados. Primeiro veio à brisa, que desalinhou o penteado que segurava os fios castanhos, em seguida a sensação única de flutuar por alguns segundos, antes de novamente encontrar o impacto e a agonia. Após infinitas repetições, a seqüência já definitivamente marcada em seu coração, foi quebrada e ao invés do sofrimento, o corpo encontrou abrigo e proteção num abraço inesperado.
Havia mais alguém ali, alguém que não conhecia o medo e que era capaz de se arriscar sem qualquer explicação. Ele simplesmente estava lá para ampará-la, segurando-a com firmeza e confiança de uma maneira tão natural, como se sua vida fosse dedicada a isso.
Por alguns segundos, ela hesitou temendo abrir os olhos e encontrar o rosto do seu protetor, mas a curiosidade, que por vezes aguçava suas virtudes, também podia se transformar num meio para suas fraquezas. A tentação era forte demais. Precisava saber quem poderia ser capaz de segurá-la daquela forma e assim, ignorando às incertezas que perturbavam seu coração, escolheu primeiro tocá-lo.
A mão delicada deslizava pela pele nem tão macia, mas também longe de poder ser chamada áspera. O relevo possibilitava adivinhar os traços e pouco a pouco o tato identificava cada detalhe do estranho que a acolhia. Ao tocar os lábios, imediatamente percebeu que ele sorria. E podia dizer com certeza que sorria para ela e isso a encorajou a finalmente abrir os olhos e descobrir que mais uma vez, Draco Malfoy era o homem que a salvava.
E ainda que nenhuma palavra fosse dita, a simples expressão de seu rosto e o modo como ele a abraçava provocaram uma súbita tranqüilidade que inesperadamente se revelou capaz de aplacar toda a tensão, convertendo rapidamente um pesadelo em um sonho tão doce, que fez a moça desejar jamais acordar.
Observar alguém em sono profundo nunca foi uma idéia recorrente na cabeça de um homem prático e direto como Draco Malfoy, porém este homem havia se perdido em algum lugar, cedendo espaço para outro que mantinha os olhos atentos ao menor movimento de uma moça mergulhada no mundo de Morfeu.
Então acho
Que deveria guardar segredo
E jamais deixar você saber
O dormitório era iluminado apenas por uma fraca réstia de luz, parecia que um único raio de luar decidira acentuar ainda mais sua beleza, focando-a como se fosse um holofote. Os olhos permaneciam presos e cada parte de seu corpo parecia implorar por qualquer tipo de contato, porém isso ainda lhe era proibido.
Eu poderia
Me apaixonar
Por você
Com a respiração irregular e músculos doloridos, o corpo demonstrava sinais de exaustão. Mas a mente não permitia que ele se movesse um centímetro que fosse para longe da moça adormecida. Aproximou-se com bastante cuidado; Não ousaria acordá-la naquele instante, mas a tentação era grande demais para ser ignorada.
E eu sei
Sei que não está certo
E acho que
Acho que deveria
Deveria fazer o que tenho que fazer
Os rostos estavam tão próximos que ele podia sentir a respiração delicada e harmoniosa, permitida somente por um sono profundo. E um sorriso involuntário dela o fez sorrir de volta. “Linda! Parece um anjo...”, pensou consigo mesmo, sussurrando de leve:
Mas eu poderia
Me apaixonar
Por você
- Mon ange sans ailes! - Então se afastou com toda a delicadeza.
Os primeiros raios de sol a fizeram despertar ainda dominada pela estranha sensação de calor e proteção que experimentou durante o sonho. Foram necessários alguns segundos para que se desse conta de que não se encontrava em sua própria cama e que as roupas que vestia definitivamente não lhe pertenciam.
Levantou-se com cuidado e procurou qualquer sinal de seu anfitrião, mas não encontrou. E o que deveria lhe ser um grande alívio, de repente soou como uma pequena decepção. Tomou um banho rápido, procurando ignorar a dor provocada pelo contato da água com o ferimento, para somente depois se dar conta de que suas roupas também haviam desaparecido.
Sem escolha, desceu as escadas trajando apenas a camisa.... Uma visão e tanto para o rapaz que acabava de deixar a cozinha com uma bandeja de prata nas mãos. Vendo-a ali, vestindo apenas uma de suas camisas, com os cabelos ainda molhados e sem qualquer artifício de beleza, compreendeu que ela jamais poderia estar mais bonita.
Julgando a casa vazia, Hermione não hesitou em descer as escadas à procura do lugar para onde suas roupas teriam sido levadas, provavelmente haveria um elfo domestico no caminho que pudesse lhe informar, e então partiria para a própria casa; não sabia ao certo como poderia agir na presença de Draco Malfoy depois do sonho que tivera. “Pensei que grifinórios não fossem covardes!”, zombou uma voz ácida em sua mente. “E eu não sou!”, protestou, começando a descer as escadas. “Ah, claro, só está fugindo como uma ratinha do medo do gato, boa demonstração de coragem, Granger!”. “Ora, não lhe devo explicações, sua consciência enxerida, cale-se!”
Iria descer o próximo degrau, ainda resmungando silenciosamente contra sigo mesma, quando ergueu o olhar, se deparando com um deus loiro a encarando fixamente no andar inferior de um modo que a fez cessar a respiração por alguns segundos. “Não é real, eu morreria se fosse! Por favor, que eu ainda esteja sonhado!”, pensou a morena, temendo que se soltasse sua respiração, seu som, pudesse fazer sua ilusão se desfazer em pedaçinhos.
Sempre estou
Sonhando com você
Beijando meus lábios
Acariciando meus cabelos
Trajando apenas uma calça de moletom azul marinho, Draco mais parecia um modelo de capa de revista, daqueles que aparecem na sessão “Sexy até debaixo d’água”, e as quais, - quando era apenas uma adolescente boba-, ela secretamente arrancava e colava no diário, numa página feita especialmente para aquilo.
A lembrança da não mais existente página do “Os Mais”, somada a imagem que os olhos registravam agora, foi processada pelo seu sistema nervoso, fazendo com que cada nervo de Hermione começasse a reagir e um incomum calor subisse por seu rosto. Eles se encaravam sem qualquer pretensão de trégua, e naquele instante não era possível decifrar o olhar que o loiro lhe lançava despudoradamente, o qual ela, de fato, jamais ousaria pedir uma explicação.
Me abraçando
Com ânsias loucas
Imaginando...
Draco permanecia parado e em silêncio, mas na mente de Hermione, ele não era inocente, nem um pouco. De certo algum tipo de maldição fora lançada sobre si, a impedindo de se mover ou simplesmente racionar com o mínimo vestígio de lógica. Algo que, tinha absoluta certeza, estava relacionado ao brilho cinza daquelas íris, escondido ali; dominando toda a extensão de seu corpo e a perturbando como nenhum outro conseguira fazer. Afinal, com que direito ele o olhava daquela maneira, como se pudesse ver muito, muito, além?
“Oh Deus, ele não pode fazer isso! É errado, ele é meu patrão! Oh não, por favor, que eu não tenha de ser obrigada a me demitir de outro emprego por algo assim...”, pensou Hermione, nervosa.
Aquele encontro não havia saído como ele planejara, mas naquele momento, vendo-a tão próxima, se perguntava silenciosamente se o resultado poderia ter sido melhor. O olhar dela parecia transformado e ele estava certo de que ali se iniciava uma espécie de cumplicidade que poderia ser bastante promissora. E ele faria de tudo para isso chegasse a suceder-se. “Eu preciso dizer algo... Vamos, Draco pare de agir feito um idiota e diga algo”, ordenou a si mesmo, porém as palavras pareciam morrer em sua garganta, fazendo-o praguejar por está agindo como um garoto inexperiente.
Que me ama
Do jeito que te amo
Sabia que seu olhar não era um dos mais discretos, queria realmente ceder a tentação de apreciar aquela imagem maravilhosa da bruxa parada no meio de sua escadaria, trajando simplesmente uma de suas camisas sociais de seda branca, com os cabelos soltos e molhados caindo como uma cascata de chocolate em seus ombros e costas, emoldurando sua face rosada de um modo faria os anjos de Botticelli sentirem inveja. Mesmo as vestes sendo grandes para seu tamanho, as longas e torneadas pernas da morena estavam expostas, dando a ele a oportunidade de admirá-las pela primeira vez depois de tanto tempo que trabalhavam juntos. Ela era mesmo de tirar o fôlego, e ele agradeceu aos céus por estar segurando algo, caso contrario, não sabia se conseguiria se conter.
O silêncio agora se tornava um pouco mais do que constrangedor. Mantê-lo era algo como confessar os pensamentos nada inocentes que invadiam a mente dos dois, e cientes disso, ambos decidiram que deviam rompê-lo o quanto antes.
- Como está seu braço?
- Pensei que não tinham ninguém na casa.
Parecendo ainda mais desconfortáveis, eles riam ao notarem que haviam falando ao mesmo tempo. O rubor na face de Hermione cresceu, fazendo-a desejar abrir a própria cova e jogar-se nela, porém, notou o loiro segurar a bandeja com um tanto mais de força do que devia, já que os cois de seus dedos aparentavam uma brancura acima do normal. Perguntou-se mentalmente para quem era aquela comida, recusando-se a crer na resposta obvia que sua mente lhe dera.
Então eu deveria
Guardar tudo para mim
E jamais
- Pensei que ainda estivesse dormindo – ele disse, tirando a morena de seus devaneios, enquanto pousava a bandeja na mesinha de centro. – Você dormiu bem? – indagou, sem conter a curiosidade e a preocupação em seu timbre.
“Foi o meu melhor sono em anos”, pensou antes de responder em um falso tom casual: – Sim, o braço incomodou um pouco, mas nada demais. – ela deu de ombros, falsamente descontraída, ao tempo que decidia se deveria descer os últimos degraus ou não.
Um sorriso que sugou os lábios de Draco fez o coração da tradutora disparar várias batidas e uma forte necessidade de segurar o corrimão a tomou, era como se suas pernas a avisassem que não continuariam sustentando-a por muito tempo. Talvez algo em sua face denunciasse a sua falta total de coragem, ou ainda fosse por vontade de deixá-la eternamente fraca dos joelhos, que o fez se aproximar, rompendo os poucos metros que a protegiam dele. Algo travou em sua garganta, provavelmente sua respiração, quando os dedos frios do homem tocaram com uma delicadeza infinita a gaze em seu braço, seu olhar cinza percorrendo a dimensão do machucado com demasiada atenção, deixando-a apenas com a agradável tarefa de observá-lo.
Jamais deixar você saber
Saber que eu poderia
Me apaixonar
- Não se preocupe com isso... Prometo que em poucos dias não restará nem mesmo uma pequena marca. Continuará perfeita. – disse Draco, erguendo o olhar do machucado e, inconscientemente, subindo mais um degrau.
Para grande surpresa dele, a moça riu, encarando-o numa modéstia e incomum simpatia nos brilhantes olhos amendoados, antes de falar:
- Mas eu não sou perfeita, nunca fui – Hermione maneou a cabeça em negativa, seu riso ainda ecoando para o deleito do loiro.
- Sim, você é – disse Draco, convicto, sua mão descendo ao encontro da cintura da morena com deliberada lentidão, dando a ela chance de se afastar, ação que nem sequer passara pela mente da morena, aliás, nada suficientemente lógico surgira em sua consciência entorpecida pelos olhos do homem a sua frente.
Que eu poderia
Apaixonar
Por você
O ex-sonserino sentiu a boca secar ao olhar detalhadamente a da bruxa, e sem pensar duas vezes, se aproximou mais, indo de encontro a ela enquanto tentava transparecer falso controle. Algo explodiu dentro dele quando os corpos de ambos se tocaram, e pelo tremor trespassou o dela, teve certeza que Hermione sentira o mesmo. “Então ela não é assim tão indiferente”, pensou com um sorriso de canto, inundando o olhar castanho com sua própria paixão, e sendo afogado em igual intensidade pelas íris misteriosas da mulher.
Meu amor
Eu poderia me apaixonar
Os hálitos de ambos já se misturam, deixando-os cada vez mais a mercê um do outro, então seus lábios se tocaram pela primeira vez, num pequeno e lento roçar, o qual os fez sentiram algo que há tempos permaneceu esquecido: a sede do querer mais. E de certo teriam, com imenso prazer, saciado-a se o som de alguém aparatando na extremidade da escada, somando a um chamado alegre e infantil, não os tivesse sobressaltado a ponto de Hermione soltar um grito de susto ao tempo que se desequilibrava, fato que os fez quase rolar escada abaixo.
Eu poderia me apaixonar
Por você
Acidente que apenas não aconteceu graças à agilidade de Draco, adquirida nos tempos em que jogava Quadribol e na própria guerra, que puxara a garota de volta para si. Ele só não contara que pudesse escorregar, fazendo-os cair sentados no degrau seguinte, com uma Hermione Granger muito bem sentada em seu colo enquanto seus braços o envolviam pelo pescoço, enquanto ele mantinha os seus próprios possessivamente na cintura da morena. Com o movimento, a roupa da ex-grifinória subira, deixando a mostra quase por completo sua coxa, coisa que só tornara a cena ainda mais constrangedora.
Eu poderia
Me apaixonar
Por você
Uma voz feminina, carregada de segundas intenções, quebrou o silencio que se seguiu, tornando difícil dizer qual dos dois jovens adultos estariam mais envergonhado.
- Hm, chegamos em má hora?
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N/Rhaissa: E chegamos ao final de mais um capítulo! Espero que tenham gostado de mais esse, e que nós digam o que estão achando do nosso trabalho em conjunto! (sorrindo totalmente). Muito, muito, muito obrigada a todos os comentários e votos, obrigada por todo apóio que vocês vem dando a nós duas; ele é muito importante e muito especial para nós, podem ter certeza disso. Outro obrigada especial ao nosso capista, que é muito bom no que faz! ^^
Agora, quem será que chegou mesmo na hora? [Foi muita maldade, não acham? Os dois estavam tão bem sozinhos....] Quem acertar ganha um doce! (rindo muito)
Bom, acho que é só. Até o próximo pessoal!
Beeijocas estreladas a todos! ^^
N/Imogen: Bom, esse foi o segundo capítulo da nossa fic. Um trabalho que eu realmente estou adorando fazer! Prometemos para breve um capítulo 3 recheado de emoções!
Muito obrigado a todos que estão nos acompanhando e principalmente aos que deixaram todos aqueles comentários maravilhosos! Isso realmente é muito importante para nós, autoras.
Agradecimento especial ao Azobispo, meu mago das capas, que sempre, sempre arrasa!
Beijos!
Imogen.
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