Desespero




Capítulo XXII


Desespero




E nem deu tempo de eu tomar meu delicioso banho, tirar aquela maquiagem e tirar um pouco aquele efeito da bebida. Apenas coloquei meu uniforme e fui correndo para a minha primeira aula. Posso dizer que foi desastroso! História da Magia é uma canção para dormir.


 


Sentei-me ao lado de Parvati que estranhou meu estado.


 


- Bom dia, Hermione. - Disse quando me sentei.


 


- Boa noite... - Soltei um pouco tonta posicionando meus livros de maneira confortável para que eu deitasse.


 


- Nossa, o que aconteceu?


 


- Depois, Parvati... - E não lembro mais nada depois disso.


 


Acordei com Parvati me sacudindo, dizendo que a sineta já tocara.


 


- Sua maquiagem está totalmente borrada! Não acertou a mão hoje? - Me levantei quase caindo novamente na cadeira. - Opa, o que a senhorita andou aprontando? - Me ajudou a levantar.


 


- Sem perguntas difíceis, por favor!


 


No mesmo momento, Harry apareceu a minha frente. Demorei para focaliza-lo.


 


- Posso falar- - Olhou a minha situação. - Tá tudo bem?


 


- Você sabe o que aconteceu com ela? Parece que nem dormiu!


 


- Bom, preciso falar com você, pode vir comigo? - Nem concordei, pegou em um dos meus cotovelos e acelerou o passo para outro caminho diferente daquele que Parvati me conduziria.


 


- Pode falar, a minha próxima aula é Herbologia e mais um atraso, a professora me mata. - Massageei uma das têmporas sentindo uma leve dor de cabeça.


 


- O que houve com o Ron? - Parei de andar lentamente e o encarei.


 


- Ele não saiu do quarto?


 


- Ele saiu mas tá horrível, eu sei que vocês nem dormiram, mas nada se compara a ele. - Suspirei ajeitando meus livros.


 


- Ele terminou com a Deena.


 


- Por que? - Perguntou surpreso.


 


- Uma carta da Luna no quarto dele querendo reatar e ele jogou tudo para cima! Eu sei, a Deena sabia e quase todos sabiam que o Ron era louco por ela, mas isso que ele fez é sacanagem! Ela está completamente arrasada!


 


- Não acredito que ele fez isso. - Passou uma das mãos por debaixo dos óculos.


 


- Vá conversar com ele, pede pra ele pensar bem no que está fazendo, a Luna não é disso, a Luna é desmiolada!


 


- Eu sei o que está pensando. - Mudou um pouco seu tom de voz. - Que a Gina tem um dedo nisso.


 


- Para falar a verdade, isso nem passou pela minha cabeça. - Fui sincera.


 


- Vou falar com ele de novo.


 


- É, faz isso, eu vou dormir mais um pouco. - Virei-me fazendo um gesto com uma das mãos.


 


- Tô sabendo de você e do Antônio. - Parei e voltei a encará-lo. Tinha um sorriso malicioso nos lábios. - As notícias correm rápido de mais. - Dei uma piscadinha.


 


- Não irei ficar sentada esperando por você.


 


Sorriu e pegou o caminho das escadas principais.


 


***


 


A notícia que Ron tinha acabado com Deena e que eu estava com Tony já estavam na boca de todo mundo. E lógico que cometários malvados e sem fundamentos apareceram. Na hora do almoço, ouvi vários do tipo: ela é muito rápida! Terminou com um e já está com outro! Eu fingia que não escutava e pegava meu caminho até as meninas.


 


- E a Deena? - Perguntei sem dar bom dia ou boa tarde.


 


- Trancada no quarto, não quer falar com ninguém.


 


- Acho que daqui a pouco passa. - Sentei-me. - Nossa, dormi em todas as aulas. - Me debrucei na mesa.


 


- Aonde você foi ontem a noite?


 


E agora? O que eu falaria?


 


- Saí com o Tony. - Abriram sorrisos maliciosos menos Sarah que estava cutucando a comida com a ponta do garfo.


 


- E é sério o rolo de vocês?


 


- É... - Disse sem graça.


 


- A gente sempre suspeitou que o Tony era louco por você. - Disse Parvati sabiamente enquanto se servia de suco de abobora. - E a proposito, você está péssima.


 


- Obrigado, Parvati...! - Ironicamente.


 


Senti alguém sentar ao meu lado e logo um beijo no meu pescoço.


 


- Dormi todas as aulas. - Soltou rindo.


 


- Eu também.


 


- Bom dia, meninas. - Responderam em coro.


 


- E aí, o que Ron disse? - Tony coçou a cabeça.


 


- Ah, ele tá arrependido mas confessou que é apaixonado pela Luna.


 


- Ele não tem coração... - Soltou Parvati.


 


- Cadê a Anne? - Perguntei olhando para elas.


 


- No quarto, dormindo. - Ergui uma sobrancelha. - Parece que ela também teve uma noite bem agitada.


 


- Er, eu vou ver a Deena. - Levantei-me junto com Tony.


 


- Não é melhor você tomar um banho antes? Repetindo, você está péssima.


 


- Você sabe levantar a moral de alguém...! - Fiz um sinal com a mão e peguei meu caminho entrelaçando meus dedos nos do moreno.


 


***


 


- Tony, eu vou cair dessas escadas! Pára! – Disse rindo me soltando das caricias dele.


 


Andou com uma das mãos na minha cintura e a outra segurando sua mochila em um dos ombros. Passei uma das mãos na nuca em sinal de cansaço.


 


- Também estou morto... Mas valeu apena. - Rimos.


 


Parei de subir os degraus. Mirada no chão, minha boca foi se abrindo lentamente, meu olhar subindo e meu olhos crescendo, até chegar a uma mão, jogada grosseiramente num dos degraus, estava na porta do meu quarto. O sangue estava escorrendo consistente e quente por dois degraus. Larguei minhas coisas no chão e corri até o corpo. Era Deena. Na outra mão, uma faca roubada da cozinha.


 


- Deena! Pelo amor de Deus, Deena, fala comigo! – Tony tinha ido ao meu lado e lá tinha feito um feitiço para parar de sair o sangue.


 


- Temos que levá-la para a Madame Pomfrey, Hermione! – Soltou se levantando passando uma das mãos na testa. Estava com a camisa do uniforme salpicada sangue, não vi seu sobretudo, gravata nem seus livros. Acho que veio solitária e livre até aqui.


 


- Não! Todos os alunos irão ver! – Adverti tentando erguê-la. Ainda estava lúcida mas não respondia aos meus chamados. - Por que você fez isso, sua idiota?! – A erguemos. Era horário de almoço, todos os alunos estariam nos corredores. Seria terrível alunos do primeiro ano verem Deena totalmente ensangüentada, assim como nós que também já estávamos lavados em sangue da garota.


 


- Leva ela pra dentro, eu vou chamar a enfermeira! – Desceu as escadas quase pulando todos os degraus. Abri a porta com o pé e comecei a arrastar Deena, a jogando em cima das minhas costas. Ela era pesada, realmente pesada. a coloquei na minha cama, de uma forma torta, não muito confortável, mas o que podia fazer?!


 


- Deena, por favor, não morra... – Tirei a faca da sua mão a jogando contra o guarda roupa fazendo um grande barulho. Apoiei um joelho em cima da cama e segurei em sua mão abaixando meu olhar para o corte que parecia começar a sangrar novamente. – Deena- – Estava chorando. Sussurrei seu nome mais algumas vezes deitando a minha testa no meu braço, ela balbuciou alguma coisa como 'dor' que me chamou a atenção. – Deena! Volta pra mim, loira, volta pra mim! – Dei dois tapas em seu rosto e olhei para a porta totalmente aberta que ainda não entrava ninguém. Que desespero estava aqui dentro.


 


Se ela morrer, a culpa é sua, mesmo não sabendo nem o que ela estava fazendo ali... Mais lágrimas caíram até sentir uma mão em meu ombro me tirando dali. Tony acabara de adentrar, logo veio Madame Pomfrey, o professor Snape e Minerva, todos muito preocupados e aterrorizados. As marcas de sangue que tinham tingido o meu carpete foi a primeira coisa que passou na minha cabeça, um pensamento digno de ser rotulado inútil nessas situações.


 


- Ela tem pulsação? – Perguntou Snape apoiando-se na cama e pegando em seu pulso apontando a varinha e sussurrando um feitiço um pouco longo.


 


- Muito fraca! Temos que levá-la para a enfermaria! Ninguém pode vê-la! – Disse Madame Pomfrey.


 


- Todos os alunos estão nos corredores há essa hora, como você quer que isso aconteça sem ninguém vê-la, Papoula?! – Disse McGonagall jogando um olhar em nós. Tony me abraçava, eu escondia meu rosto em seu ombro. Tinha parado de chorar, só não queria encarar minha amiga naquelas situações.


 


- Retire o feitiço contra aparatação, Minerva. – Ergui minha cabeça para Snape. Ficou doido de vez.


 


- O que disse? – Sussurrou com os olhos grandes e estalados.


 


- Vamos logo, mulher, ela está morrendo!! – Gritou começando a mudar de cor. Seu rosto antes alvo e calmo, agora vermelho e tenso. Minerva pegou sua varinha e apontou para o teto, disse o feitiço e rapidamente um grande estralo aconteceu. Slughorn segurou em seu ombro e aparatou dali. Logo depois, foi Madame Pomfrey. Tudo aconteceu tão rápido que nem tive tempo de raciocinar. McGonagall ergueu sua varinha e outro grande estralo aconteceu.


 


A velha estava estática, olhando para nós, para a faca perto dos nossos pés, para os lençóis banhados em sangue, nossas roupas, o chão. Tudo estava tão difícil de acreditar. Passou uma das mãos no rosto e respirou fundo.


 


- Limpem isso e depois, para minha sala. – Saiu do quarto batendo a porta com força.


 


Ficamos parados. Tony apoiou sua testa na minha têmpora e suspirou fechando os olhos. Eu olhava para a porta analisando o que estava se formando na minha cabeça. Uma linha de raciocínio clara, não mais turva como estava no começo de tudo aquilo.


 


- Faz um favor para mim? – Ergueu uma cabeça e me encarou. – Limpa só a entrada? O resto eu limpo depois. Tenho que resolver uma coisa. – Me soltei dele e fui até a porta.


 


- Mione, você está pensando em- - O interrompi abrindo a porta e saindo de lá correndo. – MIONE! – Gritou colocando sua cabeça para fora. Pode gritar, não irei voltar até resolver isso.


 


Corria ofegando e pedindo para que logo o encontrasse. Todos me olhavam assustados. Uma menina com sangue nas vestis e no rosto, correndo como uma louca atropelando todos sem pedir licença ou se desculpar... Era mesmo de se estranhar. Biblioteca, não. Sala de estudos, não. Sala da Grifinória, não. Dormitório Masculino.


 


Parei em frente à porta com receio de entrar, podia encontrar alguém que não queria. Mas dane-se. Abri a porta de supetão, nem tive o trabalho de fechá-la. Comecei a subir as escadas com alguns avisos que aquilo era o dormitório masculino e que poderia ter pessoas peladas em qualquer canto. Como se eu fosse ver alguma coisa que desconhecia.


 


Abri a porta do quarto de Harry, Ron e os meninos. Todos estavam lá, sentados em suas camas, conversando tranqüilamente. Ao me verem na porta, cessaram qualquer tipo de ruído. Ron levantou-se de sua cama e foi ao meu encontro.


 


- Me fala que esse sangue não é seu. – Harry também tinha se levantado e ficado há dois passos do amigo, me olhando com olhares assustados.


 


- Você, vem comigo. – Disse olhando Ron com desprezo. Sai daquele quarto descendo as escadas um pouco mais calma do que a vez que entrei. Alguns pararam e me olharam. – Perderam alguma coisa? – Fui curta e grossa fazendo muitos dali disfarçarem.


 


- Hermione, dá pra você- - Fiz um gesto com a mão e o interrompi. – Hermione!


 


Não disse nada, apenas peguei em seu pulso e passei para fora da Sala Comunal da Grifinória indo até um andar um pouco habitado. Meus passos se aceleraram, ele ainda não entendia, fazia perguntas, pedia para que eu parasse. Esperei chegar na porta certa e abri já entrando, não podia perder tempo.


 


- Hermione, é um banheiro feminino. – Parou um pouco perto da porta. Nem era o banheiro da Murta que Geme, era um banheiro comum onde qualquer menina podia entrar e expulsar o ruivo a socos. Abri todos os reservados batendo as portas com força, não tinha ninguém. – Ok, senhorita mistério, agora você pode me contar o que está acontecendo? – Apontou para minhas roupas antes de cruzar os braços.


 


- O que você disse para a Deena quando vocês terminaram? – Mais direta? Impossível. Seu olhar mudou, suas orelhas ficaram vermelhas e seus olhos ficaram sem vida, olhando absolutamente o nada. Começou a gaguejar mas eu continuei. – Ron, não me esconda nada, será melhor para você. – Voltou a gaguejar levando as duas mãos no rosto e depois nos cabelos.


 


- Não me diga que o sangue é- - Deu algumas voltas. – O que aconteceu com a Deena?! – Pegou em meus ombros e me sacudiu. Soltei-me com brutalidade e cruzei os braços.


 


- Ela tentou se matar, Ron, se não fosse por mim e pelo Tony, ela estaria morta nesse momento.


 


Eu vi a expressão de puro desespero em seu rosto. Passou as duas mãos e depois se encostou a uma das paredes, deslisando até o chão.


 


- O que você disse para ela? - Perguntei indo ao seu lado cruzando os braços.


 


- Eu só disse- - Suspirou passando a mão no rosto mais uma vez. - Oh Meu Merlin.. Deena...


 


- Ron, não é hora para se lamentar! Já aconteceu e nada mudará isso! Apenas me diga: o que você disse a ela para deixá-la daquele modo?


 


- Eu disse que amo a Luna- - Engoliu uma laranja. - Eu sei que não devia ter dito isso! Eu fui um idiota, é que as coisas aconteceram tão rapidamente! Eu ainda estava um pouco bêbado! A gente nem discutiu direito! Eu só disse que não podia ter mais nada com ela, não poderia enganá-la mais!


 


- Por que você ainda dá ouvidos a Luna?! Ela tá pirada, Ron!


 


No mesmo momento, Harry entrou correndo no banheiro.


 


- O que houve?! - Perguntou indo ao meu encontro.


 


- A Deena quase morreu por minha causa! - Respondeu o ruivo chamando a atenção do moreno.


 


- Como quase morreu?!


 


- Deena tentou se matar, estava com um dos pulsos cortados na frente do meu quarto. Se eu e Tony não chegássemos a tempo, algo muito ruim poderia ter acontecido. - Cruzei os braços. - Não sei o que passou pela cabeça dela.


 


- E como ela está?


 


- Não sei, Snape levou-a para o Hospital. - Ron bateu a cabeça algumas vezes na parede e murmurou coisas. - E você conversou com a Luna, Ron?


 


Silêncio.


 


- Escuta, Ron, eu sei que não é hora pra te dar sermão, mas-


 


- Hermione, você pensou antes de dizer isso?! Se não é hora de dar sermões, não dê, por favor! - Disse completamente nervoso se levantando e andando de um lado para a outro.


 


- Cara, o que você tem que fazer agora é esperar, não pode ficar nervoso, aconteceu e já era.


 


Ron olhou piedosamente para nós com os olhos banhados em lágrimas.


 


***


 


Levamos o ruivo para dar algumas voltas fora do castelo. Era de tarde, estava abafado e o sol insistia em brilhar. Nos sentamos numa parte vazia do jardim. Harry num banco junto comigo e Ron no chão, encostado a uma pedra gigante. Tentávamos mudar de assunto mas tudo girava em torno de Deena.


 


- Eu- - Apoiou-se nos braços. - A Deena estava super bem ontem, eu até achei que ela aceitou bem o fora que eu dei nela...


 


- Ah, Ron, fracamente! Ela não aceitou bem coisa nenhuma, eu que fiquei consolando aquela loira a noite toda. - Suspirei.


 


- Pára de se lamentar, espera alguma notícia da McGonagall.


 


- Fácil falar, Harry, uma pessoa não está morrendo por sua causa!


 


- Várias pessoas morreram por minha causa. - Disse quebrando as pernas de Ron.


 


- Ok, garotos, podem parar. - Pedi cruzando as pernas.


 


O silêncio de nós confrontou com o som ambiente daquele local ao ar livre.


 


- Vamos mudar de assunto... - Soltei passando uma das mãos no pescoço. Eu ainda não tinha dormido.


 


- Terminei com a Gina.


 


Ron e eu viramos nossas cabeças em sua direção deixando nossas expressões bem claras.


 


- Co-Como disse?! - Perguntou o ruivo.


 


- Terminei com a Gina. - Disse tranqüilamente.


 


- Por que?!


 


- Cara, cansei de bancar o idiota, eu gostava dela, mas- - Suspirou. - apenas cansei.


 


- Filho da mãe! - Levou uma mão a boca. - E ela?


 


- Como toda menina quando damos um fora nelas. - Ron ergueu uma sobrancelha e não gostou do trocadilho de Harry. - Me desculpe, eu não-


 


- Até que enfim, não?


 


- Você deve estar adorando... - Apoiou-se mais atrás do banco olhando para o outro lado. - É, Hermione, você estava completamente certa sobre ela! Meus parabéns! Eu devia ter te escutado antes, me desculpe por ser tão rude com você e-


 


- Você está sendo totalmente irônico, não vou aceitar esse discurso!


 


- Que bom, me poupou saliva. - Rolei os olhos.


 


- Bom, mas esse terminou é terminou mesmo, né? Não quero ver você pegando ela por aí, querendo ou não, ela é uma Weasley e tenho que preservar um pouco de honra que ainda lhe resta...


 


- Difícil... - Cantarolei. - E Harry Potter está livre, leve e solto... - Sorri maliciosamente.


 


- Mas você não, Hermione. - Soltou Ron erguendo seu olhar para mim. - O Tony tava querendo te pegar desde quando você entrou nessa droga! Não seja canalha com ele.


 


- E não serei, meu caro Ronald. - Com o mesmo sorriso no rosto. - Bom, já está melhor. Vou estudar para meu seminário amanhã, vejo vocês dois depois, rapazes.


 


Levantei-me.


 


- Podem confabular sobre mim, falem bem, falem mal, mas falem. - Pisquei.


 


- Como tem tanta certeza que nós falaremos de você? - Perguntou Harry divertido.


 


- Quer assunto mais interessante do que eu? - Ri.


 


- Vamos dar licença ao ego da Hermione, ele é bem grande, sabe... - Mostrei a língua e sai em direção ao castelo num mero sorriso no rosto.


 


***


 


- A adivinhação por meio de oráculos pode ser...


 


- Tá um pouco “explicação de livro”.


 


Joguei-me na minha cama enquanto Tony se ajeitava numa das poltronas.


 


- Você pode falar como se estivesse conversando, naturalmente, sabe?


 


- É difícil conversar naturalmente quando se trata do trabalho mais importante da sua vida.


 


- Não foque em ninguém, não fale olhando na cara de ninguém, ignore todos aqueles idiotas!


 


- Eu não consigo... - Deitei-me na cama colocando as duas mãos no rosto.


 


- Hermione, eu te conheço muito bem, eu sei que você consegue. - Sentou-se ao meu lado.


 


- Parece que você não me conhece... Eu tremo na frente de multidões!


 


- Vamos começar do começo, então?


 


- Que começo? - Ergui-me e fiquei sentada ao seu lado.


 


 


- Quem é você? Quem é Hermione Granger?


 


Mordi o lábio inferior e abri um pequeno sorriso malicioso.


 


- Posso ser a menina que te encanta, a garota que te fascina ou a mulher que te enlouquece.


 


- Olha só... Discurso ensaiado! - Aproximou-se de mim com um mero sorriso no rosto mas antes que me beijasse, coloquei as pontas dos dedos em seus lábios.


 


- Eu tenho que estudar. - Levantei-me e peguei novamente a minha folha.


 


***


 


- Então, a senhora não tem notícias dela?


 


- Pela terceira vez, senhorita Granger, eu não tive notícias da sua amiga, eu não sei o que pode ter passado pela cabeça dela para querer se matar desse jeito!


 


Estávamos em sua sala, na troca de aula. McGonagall parecia querer esconder algo de mim, eu insistia mas aquela bruxa velha não soltava.


 


- Pode ficar tranqüila, senhorita Granger, se eu tiver notícias dela, a senhorita será a primeira a ser informada. - Aquilo não tinha me convencido. - E seu seminário? Está preparada?


 


- Claro. - Disse confiante.


 


- Não iremos pegar leve, senhorita.


 


- Eu sei disso, vocês não perdem a oportunidade de nos ferrar mesmo. - Ia abrir a boca indignada com essa minha frase. - Até mais tarde, professora. - Pisquei maliciosamente e peguei meu caminho para fora da classe.


 


Eu não perdia a oportunidade de ler aquele meu resumo de tudo que ia falar. Tinha até preparado uma aula prática, tinha pegado borras de café, algumas cartas de tarot, só faltou mesmo uma bola de cristal, mas como achei muito clichê, nem tive o trabalho de encomendar uma.


 


Dispensei o almoço e parti para o jardim, longe de todos, um local onde eu poderia estudar, decorar, aprender, ler linha por linha, entender palavra por palavra e absorver letra por letra. Era calmo de mais ali, ficava a dez minutos do castelo, um jardim quase nunca visitado por alguma alma.


 


Tudo tinha seu toque de perfeição. Eu tentava ler em voz alta, mas aquele silêncio era tão gostoso. O clima estava ameno e eu protegia dos raios de sol de baixo de uma árvore. Deitei e fiquei lendo e relendo, até que uma sombra com a silhueta de alguém pairou em cima de mim. Eu queria xingar, mandar para o inferno mas ao ver quem era, minha vontade era, além de tudo isso, matá-la.


 


- O que você quer aqui? - Sentei-me aborrecida.


 


- Eu fiquei sabendo. - Sentou-se ao meu lado mas eu levantei pegando as minhas coisas.


 


- Ah, lógico... - Revirei os olhos enfiando as folhas dentro da minha bolsa. - E você está satisfeita por isso, Luna? Está satisfeita por ser o pivô da história?!


 


- De maneira alguma, Hermione!


 


Luna estava numa aparência horrível, pior do que eu ontem, com certeza. Seu suéter estava sujo de alguma coisa que não consegui identificar, seu cabelo, antes bem arrumado, agora estava como tempo atrás, preso de um jeito estranho com fios soltos pelo rosto. As unhas ruidas e o esmalte vermelho se esvaindo.


 


- O que você quer?! Eu tenho que estudar, tenho um seminário daqui uma hora. - Virei-me de costas.


 


- Quero te contar o que aconteceu. - Parei e virei-me encarando aquela loira.


 


- O que você sabe?


 


- Primeiro, eu quero que você jure que não irá contar para o Ron.


 


- Não vou jurar coisa nenhuma, fala logo, sua situação não é muito boa.


 


Eu estava visivelmente irritada e estava deixando bem claro.


 


- Está bem,- - Engoliu seco e sentou-se no banco. - ontem de manhã, eu peguei meu caminho para o Salão Comunal, como sempre faço...


 


 


Luna andava num mero sorriso nos lábios, antes, sua postura de boba e sonhadora, passava a imagem de uma garota vazia por fora e cheia por dentro, agora, inverteu-se os papéis. Seus brincos combinando com a tiara de brilhantes na cabeça, com cabelos extremamente bem arrumados e uma maquiagem leve, porém chamativa.


 


Sabia que tinha meia hora para tomar café da manhã, pois sua primeira aula era do outro lado do castelo. Sem Gina, sem nenhuma outra amiga chata, seguia seu caminho sozinha. Até que, por uma ironia, tromba em Deena, que estava com uma cara horrível, parecia que tinha chorado a noite inteira, pensou enquanto analisava. Ela ainda nem tinha trocado de roupa, estava com a mesma roupa do show, totalmente suja e amarrotada.


 


- Olha por onde anda, Peterson. - Tinha o mesmo tom de voz de Gina.


 


- Des-desculpe... - Suspirou cansada e pegou seu caminho.


 


- Espera um minuto! - Gritou indo atrás dela. - O que houve com você? - Até um asno conseguiria identificar o sarcasmo em sua voz.


 


- Você deve saber. - Deena também não era de ficar atrás, respondia no mesmo tom. - Será que você não vê que o Ron tem uma namorada?


 


- Lógico que vejo, e vejo ela todo dia que acordo e me olho no espelho. - Deena encheu os olhos de lágrimas. - Ron não é homem pra você, eu e ele temos uma história juntos, está predestinado!


 


- Cala sua boca, sua idiota! - Quis partir para cima dela, mas algo a segurou.


 


- Você acha que o Ron está com você por que? Fui eu que dei um pé nele, eu posso voltar a hora que eu quiser, ele sempre voltará se arrastando aos meus pés... Você foi só um passatempo, caia na real!


 


- Pára! - Colocou as duas mãos nos ouvidos.


 


- Queridinha, suma da vida do Ron, ele não é homem pra você, aliás, acho que não existe um homem pra você...


 


Deena empurrou Luna de seu caminho e saiu correndo sem rumo.


 


 


- O que deu em você? - Perguntei suspirando, depois de terminar. - Deena não estava bem, você tinha que ajudar ela se afundar?!


 


- Eu estou arrependida! - Lágrimas caia de seus olhos.


 


- Nossa, quanto arrependimento! - Ironizei. - Pense antes de agir, Lovegood!


 


- Mas não é isso que você faz?! - Levantou-se e me encarou se aproximando. - NÃO É ISSO QUE HERMIONE GRANGER FAZ?!


 


Não estou ouvindo isso.


 


- Você está tentando--


 


- Você tem tudo! Você tem todos os garotos que quer! Você tem todas as amigas que quer! Você tem o mundo em suas mãos! VOCÊ DESTRUIU O MEU NAMORO COM O RON! VOCÊ CONSEGUIU FAZER ISSO PARA FICAR COM O IDIOTA DO CÓRNER!


 


Meu estômago afundou no mesmo momento.


 


- POR QUE VOCÊ PODE FAZER AS COISAS E SE DAR BEM E EU NÃO POSSO?! QUAL É O PROBLEMA?! - Deixava a raiva tomar o lugar da emoção.


 


- Uma coisa não tem nada a ver com a outra.


 


- LÓGICO QUE TEM, HERMIONE! ESTOU TENTANDO TOMAR ALGO MEU DE VOLTA!


 


- O Ron não é de ninguém!


 


Deu uma risada estranha e enxugou as lágrimas.


 


- Fracamente, eu pensei que seus argumentos seriam melhores...!


 


- Você quer ser igual a mim, não é mesmo? Você quer ter todos os garotos aos seus pés, amigas que pode contar, ser a mais popular da escola... Não faça isso com a sua vida, Luna.


 


- Você está arrependida de ter mudado?! - Cruzou os braços.


 


- Me responda você, como você está se sentindo?


 


Ela ficou muda, encarou os próprios pés e depois a paisagem contendo as lágrimas.


 


- Uma garota está quase morrendo por minha causa...


 


- Um garoto morreu por minha causa. Olha, - - Me aproximei. - certo, você quer o Ron, corra atrás, mas não passa por cima de ninguém, Ok? Você sabe a dor que é ser trocada, eu fiz você sentir assim e não me orgulho de um só segundo! - Segurei em um dos seus ombros.


 


- Então, você não está brava comigo?


 


- Eu tô puta da vida, mas, fazer o que? - Dei uma risada. - Esquece isso, tá? Só quero pedir uma coisa.


 


Limpou as lágrimas mais uma vez e suspirou.


 


-Pode pedir.


 


-Quando a Deena melhorar, quero que seja a primeira a visitá-la.


 


É, isso é pedir de mais, mas é o certo a fazer.


 


-Vai ser difícil...


 


-Eu não falei que ia ser fácil. - Abriu um leve sorriso e virou-se pegando seu caminho.


 


-Ah, boa sorte hoje. - Sorriu pela última vez para mim.


 


- Obrigada.


 


Não irei conseguir voltar ao mundo dos oráculos.

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