Capítulo 2



Infelizmente o dia seguinte era dia de aula, portanto tive de ir para a escola e só na parte da tarde poderia desvendar mais mistérios sobre minha verdadeira identidade.

Assim que eu me sentei na classe, Hermione já veio me contar sobre as novas aventuras que ela e seu cachorro, Totti, tiveram quando ele tentou comer o passarinho do vizinho. Mas a minha mente estava divagando bem longe dali.

-Gina, eu a conheço há sete anos, eu sei muito bem quando sua cabeça está em outro lugar e você não está me escutando.

-Mione, eu sou adotada.
-Quê? Como assim?
-Fale baixo, a professora vai ouvir. Eu ouvi uma conversa ontem...
-O terrível “mal de ouvir atrás de portas”.
-É, ele mesmo. Então, eu ouvi tudo Mione, é impressionante, toda a minha vida mudou em duas horas de conversa.

-Mas por quê? O que muda sua vida tanto no fato de você ser adotada?
-Mione, meus pais biológicos eram bilionários, os dois morreram e deixaram tudo pra mim.
Hermione virou para a lousa e fingiu prestar atenção. Com certeza ela havia ficado tão surpresa quanto eu, mas senti que algo a preocupava.
-Mione? Mione? Que foi? Fale comigo!
-Quê? Não, tudo bem, é que é muita informação de uma só vez.

-Eu sei, imagine para mim. Hoje eu, meus pais e minhas avós vamos ao escritório do advogado começar a tratar da parte burocrática.
-Até ontem você sabia o significado da palavra burocrático?
-Não, eu tive que olhar no dicionário quando eu subi para o meu quarto.
E nós duas começamos a rir como sempre riamos, como se nada tivesse acontecido ou mudado.

Finalmente eram duas da tarde. Depois de provar todas as roupas de meu armário até achar a mais bem arrumada, eu e meus pais estávamos nos dirigindo ao escritório do senhor Vales.

Quando chegamos, encontramos Molly e Gabrielle na sala de espera. Assim que eu e meus pais as cumprimentamos e os sentamos, a secretária do senhor Vales nos chamou para entrar.

O próprio senhor Vales abriu a porta e todos nos sentamos nos sofás. A sala era escura, as paredes cheias de livros, o chão cheio de tapetes, não combinavam com o senhor Vales. Ele era tão jovem, bonito, moderno, aquela sala parecia mais ser de algum advogado idoso, muito importante, conceituado e conservador.

-Posso servir alguma coisa?-perguntou o senhor Vales.
Todos nós respondemos que não queríamos nada. Dava para sentir a tensão na sala pelo ar.

-Muito bem, vamos começar então. Ginevra, eu vou dar vários documentos para você assinar e um pedido para fazer exame de DNA. Como você foi adotada é preciso que seja provado que você é de fato a criança que eles tiveram, já que no testamento está especificado que a herança é para a filha do casal. Mas não haverá problemas, é um procedimento muito fácil.

-Eu estou pronta para começar.
-Muito bem, aqui estão todos os documentos que você terá que assinar.
-Está bem, vou lê-los e depois trago tudo assinado.
-Não, não é preciso, quanto mais rápido melhor, Ginevra. Eu sou o advogado da família, já li e reli todos esses documentos muitas vezes, o mais importante agora é a velocidade do processo para todos nos livrarmos disso.

-Está tudo bem querida, pode assinar tudo, o senhor Vales é nosso advogado há muitos anos, desde que seu pai faleceu, e esse então foi nosso advogado há mais anos ainda, não há o que temer. - disse Molly.

Foi nesse momento que compreendi a diferença entre o estilo do escritório e o estilo pessoal do senhor Vales: o escritório era de seu pai. Mesmo assim estranhei muito aquela situação, ele parecia tão desconfortável, como se aquele não fosse seu ambiente. Assinei tudo, peguei o pedido para exame de sangue e comecei a fazer o resto das perguntas que estavam me atormentando desde o dia anterior.

-Como eu vou cuidar de todo esse dinheiro? Eu não entendo nada de ações ou empresas, não sei o que fazer.
-Você não precisa se preocupar com a parte financeira, nós temos um tesoureiro da família, muito de confiança e que sempre cuidou de tudo. O dinheiro vai continuar se multiplicando e você só receberá uma mesada suficiente para seus gastos, e nós ainda pretendemos pagar uma escola particular. - disse Molly.

-Quanto à escola particular, eu não tenho certeza, pensei muito e decidi ver a escola primeiro e depois tomar essa decisão.

-É uma boa idéia, posso marcar uma visita com a diretora e então levá-la para um tour. Mas por favor, de todos os nossos desejos esse é o maior Ginevra, sua educação é o mais importante. -disse Gabrielle.

-Eu sei, assim que marcar a reunião com a diretora me avise, por favor.

-Ginevra, senhor e senhora Louis, vocês gostariam de ir até minha casa comer um lanche? Eu adoraria que Ginevra conhecesse a casa, e gostaria de mostrar mais fotos de seus pais para ela. -disse Gabrielle.

-Por que não? Vamos querida?- meu pai perguntou para minha mãe..
-Se Gina quiser eu não vejo problema algum.
-Eu quero.
-Muito bem, senhor Vales, após sair o resultado do exame de sangue nós entraremos em contato novamente. - disse Molly.

Despedimo-nos e fomos para a casa de Gabrielle.
A casa era na verdade uma mansão, absolutamente limpa, brilhante e luxuosa. O tipo de lugar que combinava muito bem com a personalidade da dona. No hall havia uma pintura de Gabrielle e seu marido quando eles eram jovens. Gabrielle não havia mudado muito, os traços continuavam os mesmos, só os olhos ferozes, como os de Linda, que estavam mais vivos. Fomos nos sentar na varanda. A vista era absolutamente maravilhosa, parecia uma casa de campo, porém era no meio da cidade.

Assim que me sentei, comecei a me sentir mais a vontade e a conversar com Gabrielle e Molly. Um mordomo saiu para a varanda e entregou alguns álbuns fotográficos para Gabrielle que os repassou para mim e meus pais. Eram fotografias de Linda e algumas de Linda e Enrico.

- Senhora Louis, você gostaria de vir comigo um momento?- disse Gabrielle, se levantando e entrando na casa.
-Não precisa me chamar de senhora, Paola é melhor. – minha mãe disse e se dirigiu para a casa com Gabrielle.

Eu e meu pai ficamos vendo as fotos com Molly. Eu me sentia mais à vontade com Molly do que com Gabrielle, que era mais agressiva e menos carinhosa.
Molly era mais bondosa, parecia querer me conhecer de verdade e não interessar-se tanto com me colocar na alta sociedade, ou me fazer parecer um membro de família rica e importante. Talvez Molly fosse mais próxima a Enrico do que Gabrielle a Linda, e estivesse tentando encontrar seu filho em mim.
Nesse momento, Gabrielle voltou à varanda com minha mãe e disse:

-Ginevra, eu pedi permissão a Paola para dar as roupas e jóias de Linda a você, e para levá-la ao cabeleireiro e ao shopping amanhã. Assim poderemos ter um dia de mulheres para nos conhecermos melhor. O que você acha?
- Por mim tudo bem. - Era exatamente o que eu queria, um dia a sós com ela para decifrá-la.

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