DEZ



Dez


 


            - Eugene, por favor, tire o garfo do cabelo da April e jogue-o no lixo - falei, no almoço do dia seguinte.


            - Por quê? - perguntou ele.


            - Porque ele vai ficar preso nas fivelinhas dela.


            - As pessoa não param de criticar - sussurrou Harry - Acho que ficou legal.


            - Ahã - tentei sair andando, mas Harry me pegou pelo braço. Ele e eu tivéramos pouco tempo para conversar naquele dia. De caso pensado, tinha chegado mais cedo, separado o equipamento que precisava e saído do escritório antes que ele aparecesse. E estava evitando o Jim também. Nunca fui muito boa para mentir encarando uma pessoa, mesmo quando isso era a coisa mais educada a ser feita. Assim, deixei um bilhete para ele dizendo quanto Joelle tinha gostado dos ursinhos.


            A verdade é que Joelle havia olhado para os ursos como se eu tivesse levado um par de ETs para casa. E, logo em seguida, ela os enfiara na sua prateleira mais alta, onde os antigos livros de cultura africana estavam acumulando poeira. Ela me esperou acordada na noite anterior, de modo que pudesse me entregar o seu relatório telefônico.


            - Você tem três mensagens - ela anunciou assim que pisei no quarto.


            Depois de ter escutado duas garotas desesperadas por Harry, eu resolvi desligar a secretária.


            Mas Joelle ligou-a novamente. Havia uma mensagem de Draco. Ele estava triste pela segunda-feira. E queria saber se eu estaria livre no sábado à noite, se eu gostava de shows de humor. Ele gostava.


  "Que tal um jantar e um show de humor logo em seguida?" E deixou um telefone para contato.


            - É o que você estava esperando, não é?


            - É- eu disse. - Claro. Não é?


            - E então... - Harry falava para mim agora, sua mão em meu braço, me puxando de volta para o presente - Você tem planos para esse fim de semana?


            - Ahã, tenho. Mesa quatro, peguem a esponja. Vocês derramaram açúcar suficiente para atrair um batalhão de moscas.


            - Com o Draco? – perguntou Harry.


            - Ovos Mexidos - eu disse, de tão acostumada que estava a corrigi-lo.


            Ele riu.


            - Deixa pra lá. Eu tenho uma idéia - contou. – E se a gente fizesse um encontro duplo? Você e Draco, eu e Gina.


            Cravei os olhos nele.


            - Era só uma idéia - ele falou.


            - Acho que você não entendeu - retruquei. - O motivo de eu querer encontrar o par perfeito para Gina é justamente mantê-la afastada do cara com quem eu estou saindo.


            - Acho que é você que não entendeu - retrucou Harry. - Draco e Gina nunca conseguirão ficar juntos. Ambos são muito egocêntricos para ficarem mais do que um dia ou dois juntos. Pense sobre isso, Hermione. Se os dois querem ser o centro das atenções, quem é que vai dar o braço a torcer?


            - Você nem conhece o Draco - falei irritada.


            - Conheço o tipo dele.


            - Ele não quer ser o centro das atenções - insisti. - Ele não fica atrás disso. Só se acostumou com essa situação. Se você tivesse o corpo dele, também teria se acostumado.


            Jack permaneceu em silêncio por um instante.


             - Provavelmente- ele disse, comum meio sorriso.- Ta bom... Qual é o telefone da Gina? – E me entregou uma caneta e um pedaço de papel.


            - Eugene - ele chamou -, tire o garfo do cabelo da Janet. Combina perfeitamente com o vestido dela, mas ela não gostou.


            Escrevi o número de telefone no papel e passei para Harry.


            - Divirta-se com o Draco - disse ele, olhando dentro dos meus olhos e me segurando por um momento.


            - Obrigada - retruquei, me desvencilhando dele.


            Quer dizer, um encontro de verdade com Draco Malfoy. Era o que eu estava esperando, não era?


 


 


            -O que você está esperando? - perguntou o comediante com uma voz exagerada e Draco desatou a rir.


            Eu estava esperando um beijo dele. Sabia que um beijo longo e gostoso mudaria tudo. Acreditava nisso do mesmo modo que, na segunda-feira passada, havia acreditado que ficar a sós com ele mudaria tudo.


            Um pouco mais cedo, tínhamos jantado sozinhos em uma aconchegante mesa para dois. Uma pena que aquele restaurante natural tivesse um cheiro tão estranho. Enquanto Draco me contava sobre o treinamento da última semana e o da próxima - todos eles parecendo a mesma coisa para mim -, eu fitava fileiras e mais fileiras de frascos marrons de vitaminas. Resolvi cutucar algumas couves-de-bruxelas que se escondiam embaixo de um tapete de alface orgânica e pareciam estar se reproduzindo ali. Daria qualquer coisa por um sanduíche.


            - Achei que você iria gostar desse lugar - disse Draco. - Você é praticamente uma atleta.


            - Eu sou uma atleta - respondi.


            Acho que ele mal me escutou porque, uma hora depois,estava rindo exageradamente das piadas sobre mulheres esportistas que o comediante contava. Mas não riu tanto durante a apresentação seguinte: uma mulher usando botas e uma saia de oncinha que falava algumas coisas interessantes sobre os homens. Enquanto isso, eu me entupia de amendoins e pedaços de queijo, ávida por alguma coisa muito salgada e com alto teor de gordura. Depois, ele me levou para casa.


            - Eu me diverti muito - disse Draco, enquanto me acompanhava até a porta. Tive vontade de olhar o relógio para ver se conseguiria fazer uma despedida tão longa quanto aquela de Gina e Harry.


            - Gosto muito de conversar com você, Hermione - Draco continuou, seus olhos verdes brilhando.


            Eu sorri e esperei.


            - Sabe... você é tão bonita - ele acrescentou timidamente.


            - Obrigada, Draco - comecei a me derreter.


            Então, ele me puxou para perto.


            - Hermione - sussurrou.


            "Isso mesmo, isso mesmo", pensei, "o beijo!"


            E, então, um pensamento me passou pela cabeça: ele tem um cheiro estranho. Talvez tenha sido uma mistura do restaurante natural com a loção pós-barba, eu não sei, mas algo estava errado. De repente, os lábios dele tocaram os meus. Suas mãos fortes agarraram os meus braços - como se agarrassem os arreios de um cavalo. Eu já estava esperando que ele começasse a saltar a qualquer momento. Mas ele continuou firme e pressionou sua boca contra a minha, num beijo longo, extremamente longo. Foi como beijar uma boneca de plástico: eu e Gina já havíamos feito muito isso quando tínhamos 12 anos.


            - Bem, obrigada - disse, dando um passo para trás.


            - Quer fazer alguma coisa no próximo sábado? – perguntou ele, um pouco sem fôlego. - Podemos ir ao restaurante natural novamente. E por que você não vai me ver no ginásio esta semana?


            Eu assenti com a cabeça, sem muito entusiasmo.


            - Eu te ligo.


 


 


 


            - Agora,você não vai ter muitas chances, Steve- disse no domingo à noite. - É mesmo. Uma pena. Tchau.


            Desliguei o telefone sem fio e recoste ina cadeira da varanda.


            - Abra os olhos, Steve - murmurei. - Olhe para o seu vizinho - mas nem eu tinha imaginado que o par perfeito seria tão perfeito.


            Telefonei para Gina no sábado à tarde, querendo saber se Harry já a havia convidado para sair, crente de que ela ficaria retraída em aceitar o convite dele. Mas ela já estava com ele!


            Eu esperava encontrar uma mensagem dela quando voltei para casa no sábado à noite. Não havia mensagem alguma.


            Provavelmente porque eles ficaram fora até depois da meia-noite - a mãe dela havia me dito isso quando telefonei no domingo, na hora do almoço. Gina teria me contado isso pessoalmente, mas ela já tinha saído de novo com Harry. Sua mãe me disse que pediria para a filha me retomar a ligação assim que ela voltasse para casa.


            Agora, estava sentada com o telefone em meu colo, observando os vaga-lumes voarem sobre a grama escura. Este era um recorde absoluto para Gina. Ela nunca ficara tanto tempo com o mesmo cara, especialmente um que não havia saído comigo antes. O que eles estariam fazendo? Olhei para o céu estrelado, sentindo novamente aquela pequena e estranha dor no coração. Talvez estivessem olhando os vaga-lumes, fazendo pedidos para alguma estrela.


            Eu já nem sabia mais quais eram os meus desejos.


            Exceto que eu queria que Joelle tivesse viajado com meus pais para a conferência deles de uma semana. Os dois haviam me deixado com uma lista de telefones de emergência - médicos, vizinhos, parentes, o hotel deles, o centro de conferências - como se eu fosse a babá dela ou coisa parecida. É verdade que, durante a última conferência de literatura de que haviam participado, minha irmã conseguiu pôr fogo na cortina da cozinha e ficou ligando desesperada para a emergência. Mas Joelle já era quase uma mãe e eu estava cansada de ser responsável por ela.


            Tinha comentado isso na noite anterior e ela não estava falando comigo desde então. Talvez ficássemos a semana inteira sem nos falar. A minha sensação era de alguém que havia brigado com o mundo inteiro.


            Ouvi o barulho de uma cadeira rangendo.


            - Você continua suspirando - comentou Joelle.


            Virei ligeiramente a minha cabeça.


            - Só estou respirando. Se incomoda, vá se sentar em outro lugar.


            - Como é que foi ontem à noite? - ela perguntou, puxando a sua cadeira para perto.


            - Bom.


            - Apenas bom?


            - Bom não é o suficiente? - retruquei asperamente.


            - Sabe, eu assei uma forma de brownies para a feira beneficente da igreja - era comum para Joelle pular de um assunto para outro.


            - Que bom. As pessoas compraram?


            - Você comeu todos eles, Hermione. Ontem à noite, quando chegou em casa.


            - Ai, Meu Deus! Desculpe... eu vou fazer uma doação.


            - Uma orgia de chocolates e suspiros – ela falou.- Eu diria que você não está bem.


            - Você não sabe do que está falando.


            Joelle recostou-se na cadeira, alongando os pés descalços. Ela tentava disfarçar,mas já tinha adotado aquela rotina de "mãos descansando-sobre-a-barriga".


            - Eu comi um pacote gigante de caramelos depois do meu primeiro encontro com Sam – ela me contou.


            - Bem, não tire nenhuma conclusão, Joelle. Não estou apaixonada pelo Draco.


            - Draco? Ah, eu não pensei que você estivesse apaixonada por ele - retrucou. - Com certeza, minha irmã gostaria de algo melhor que aquilo!


            Olhei para o lado. Joelle estava com aquela expressão de "sei de tudo", e eu com medo de que ela realmente soubesse da verdade que eu mal podia admitir para mim mesma.


            Ela sorriu.


            - Eu só não sabia quando é que você iria sacar que estava a fim de outro cara.


            - Obviamente que tarde demais - suspirei.


 


 


Uhhhh



Lindo! Lindo! Lindo!


Eu devo ter lido esse livro quando tinha uns nove anos, peguei emprestado de uma amiga. Me apaixonei de cara! Demorei alguns anos para achar esse livro na livraria e sempre quando eu estou afim de ler algum livro de romance, eu escolho esse. Perfeito demais, não?


Nos próximos capítulos vai ficando melhor! Acreditem! rsrs



Milharesdebeijos ♥

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