Capitulo Unico



Não queria acreditar no dia em que ele foi embora, seu cérebro entorpecido negava-se a compreender o que acabara de acontecer, nada entrava em sua mente entorpecida por palavras tão duras e frias. A janela embaçada delatava o frio do rigoroso inverno do lado de fora. A morena apenas olhava a neve caindo mansamente no jardim da casa, era como se o céu estivesse comovido com tamanha crueldade e frieza.

“A hundred days have made me older,
since the last timethat I
saw your pretty face”


- Como você pode fazer isso? – perguntou a morena a si mesmo.

Eles tinham tantas coisas planejadas, tantos sonhos em meio à guerra, tinham uma vida inteira pela frente se não fosse as escolhas deles, sim, escolhas que ele fez. O que ela tinha agora? Nada, ela não tinha nada... nada exceto as lembranças daquela época que esteve ao lado dele. Ela e ele e mais ninguém, nada alem da mobília da pequena casa que haviam comprado.

A guerra, a grande destruidora de tudo, do mesmo modo que havia os juntado, os haviam separado. Talvez não fosse ela e sim o destino. Mas desde quando acreditava nisso!? Desde quando acreditava que não tinha plenos poderes sobre a própria vida?! Desde... desde o momento em que ele havia ido embora sem uma explicação, sem um porque, sem simplesmente ter dito o motivo para aquela atitude tão repentina. Tudo ali parecia tão vazio, tão sem vida... era a casa deles, as coisas que ambos conquistaram juntos, mas agora... o que havia ali? Apenas lembranças, memória de uma coisa que já não havia mais... podia jurar que ele desceria aquelas escadas que traziam do segundo andar da casa e lhe sorriria, mas não, aquilo não iria mais acontecer. Talvez fosse melhor daquele modo, talvez aquela fosse a prova que ela precisava para ver que não haviam nascido um para o outro como pensara por tanto tempo, como ele também pensara.

- Talvez tenha sido melhor daquele jeito... – murmurou ela para si mesma.

A thousand lies have made me colder
and I don't think I can look at this the same


Já fazia tanto tempo que ele havia ido embora, e aquela casa permanecia do mesmo jeito. Exceto pela nova carinha que fazia com que ela acordasse todos os dias e visse que o sol nascia trazendo um novo dia e uma nova esperança. Era a memória viva dele, uma memória andante, pensante e sorridente como o pai, uma memória loirinha de enormes olhos cinzas azulado e com um sorriso encantador e acolhedor. Hermione podia sorrir ao olhar para a filha, sim, sua filha e de mais ninguém. Sua pequena com o único homem que amou em sua vida...

- Cadê o papai mamãe!?
- Ele está demorando minha pequena...

Dele!? Nada, não havia nada. Nada além da solidão e saudade imensa que ele deixará. Nada além da pequena menininha que ela abandonará sem saber. Nada além do amor que ela ainda sentia incondicionalmente por ele. Lembranças!? Sim, novas e tristes lembranças. Memórias de um encontro entre dois lados opostos, no final do mundo, no final da guerra... no final de um dos lados. O capuz cobrindo-lhe o rosto, os olhos, o sorriso encantador do qual não se podia ver atrás daquele enorme capuz que lhe cobria o rosto. Naquele dia fatídico onde perderá mais do que amigos, perderá ele. O perderá para o outro lado desde aquele dia que ele a deixará... mas por que não acreditou que ele havia ido para la!? Talvez a esperança de uma eterna grifinória ainda falasse mais alto.

- Que foi mamãe!?
- Nada querida...

Nada, nunca era nada. Nada além de lembranças que carregava dentro do que batia ao lado esquerdo do seu peito. Não era capaz de entrar na casa deles, eternamente deles sem lembrar daquele dia. O dia em que ele a salvará e sumira, sumirá entre os tantos outros como ele. Lhe doía a alma pensar que ele havia se tornado o que prometerá um dia, se tornado o exterminador que fora treinado para ser.

But all the miles that separate
They disappear now when
I'm dreaming of your face


As sensações não mudaram, nada mudará desde aquele dia, no qual havia visto o olhar dele pela ultima vez, aquele olhar cinza e gélido... mas com tantos sentimentos. Como era possível!? Nem ela ao menos entendia, não conseguia compreender como ele havia a salvo... como haviam se encontrado no fim do mundo. Se ele soubesse que a milhares de quilômetros estava um serzinho que dependia dele, mas ao mesmo tempo tão independente dele.

- O papai vai voltar!?

Perguntas tão freqüentes, tão simples e tão doida de ser respondida. Como iria contar aquele pequeno serzinho que o seu pai talvez nunca mais voltasse!? Se ao menos ela o tivesse conhecido, o tivesse visto alem das muitas fotos espalhadas pela casa... se ao menos um dia tivesse abraçado o pai como a abraçava todos os dias. Se ao menos... eram tantas possibilidades de uma vida feliz, mas que nunca havia acontecido para aquela pequena menina que a olhava com esperança nos olhos ao esperar pela resposta da mãe.

- Como chama o meu papai?
- Draco querida.

Essa foi uma pergunta que havia respondido apenas uma vez para a pequena menina, pode ver a delicia de uma preciosa descoberta no olhar cinza da loirinha. A tanto tempo não falava aquele nome, a tanto tempo não sabia o que era a sensação de pronunciar aquele nome que a havia feito tão feliz, mas por tão pouco tempo. Sentia-se egoísta em pensar daquela maneira, afinal ele a havia dado o presente mais precioso que uma mulher poderia ganhar... mas o que era tudo aquilo sem ele!? Nada, não era nada.

- Eu vou conhecer o meu papai?
- Um dia...

I'm here without you baby but your still on my lonely mind
I think about you baby and
I dream about you all the time


Uma resposta constante para uma pergunta freqüente, talvez se não fosse por seus amigos a pequena jamais conheceria uma figura masculina, ou um amor que parecesse com o paterno. Hermione tinha consciência disso, a pequena precisava saber sobre o pai, mas como!? Como dizer a uma criança que seu pai talvez nunca mais voltasse? Como dizer para a pequena loirinha que seu pai talvez estivesse morto!? Isso a matava, pensar que talvez ele não estivesse mais pisando na mesma terra que ela... pensar que jamais poderia voltar a ver aqueles olhos cinzas a mirando com ternura... pensar que nunca mais iria sentir o cheiro, que nunca mais iria poder toca-lo e ser tocada por ele. Eram indagações que surgiam constantemente em sua mente... indagações que surgiam quando seus olhos recaiam-se sobre a pequena menininha dos olhos cinzas.

Sempre que deitava-se na cama, podia sentir ele o abraçando pela cintura e sussurrando o quanto a amava e dizendo que jamais a deixaria. Nem que para isso fosse preciso sumir... sim, sumir como ele havia feito. Podia lembrar de todas as palavras dele, de todos seus gestos, de todos os seus sorrisos e suas expressões de sarcasmo. Podia sonhar com aqueles detalhes todas as noites sem nem ao menos enjoar, sem nem ao menos cansar-se. Podia considerar que o amava ainda mais, mesmo depois de tudo, mesmo depois de tudo o que havia sido dito.

- Ta chorando mamãe?
- Não querida, eu não estou chorando. – sorriu a morena.
- Ta sim. – disse a pequena passando a mão no rosto da mãe.

“I'm here without you baby but your still with me in my dreams
And tonight, there's only you and me”


Era um choro silencioso, o mesmo que derramava todos os finais de tarde ao lembrar-se do modo como ele havia saído de sua vida, da vida delas. Ainda lembrava-se com nitidez do momento em que havia descoberto que ele não deixará apenas ela, mas sim elas. Lembrava-se com felicidade de todas as mudanças que haviam ocorrido durante aqueles nove meses que carregara a pequena loirinha dentro de si, fora por ela que lutara para viver no dia em que deu a luz. Fora por ela que algumas das pessoas que mais amara em sua vida haviam a deixado para sempre. E fora por ela que Hermione decidira lutar... lutar pela sua vida e pelo seu amor, lutar na esperança de que um dia pudesse oferecer a pequena algo que ela já não sabia a muito tempo o que era.

O primeiro banho, o primeiro tombo, o primeiro passo, a primeira palavra... ele havia perdido tudo, mas ela estava ali... esteve ali o esperando o tempo todo. Ambas estiveram esperando o tempo todo, na certeza de que um dia ele iria voltar.

- Ele vai demorar muito ainda mamãe!?


The miles just keep rolling as the people leave their way to say hello
I've heard this life is overrated but
I hope that this gets better as we go


Talvez o mais certo a fazer fosse contar a pequena tudo o que havia acontecido. Talvez a pequena Stefanie fosse mais inteligente e perspicaz do que ela para lidar com isso... talvez ela fosse melhor do que ambos. Tantas incertezas, tantas palavras largadas e sem sentindo... tantas omissões para que a pequena não fosse indiferente ao pai. Sim, sua vida girava em torno dele, mesmo tentando fugir a todo o momento. Talvez fosse a maior tola que existisse na Terra, a mais idiota. Arrepender-se!? Isso não era algo que estivesse em seu vocabulário, faria exatamente tudo igual, tudo da mesma forma para que ela não tivesse magoas das quais pudesse evitar.

- Sabe uma coisa mamãe?!
- Não querida, o que?
- O papai volta hoje.

”Everything I know, and anywhere
I go it gets hard but
it won't take away my love”


Talvez fosse verdade, talvez fosse apenas imaginação da mente de uma criança que sonhava com a volta do pai. Mas era naquele dia... o dia em que ele havia a deixado sem nem ao menos dar explicações, o dia em que a neve caiu por quase 12 horas seguidas. Solstício de Inverno, sim, era esse o dia. O meio do Inverno, o dia em que a alguns anos atrás se vira sozinha.

- Quem sabe querida!?

Será que seria tão errado acreditar nas palavras de uma criança que parecia mais sábia do que ela!? Será que seria tanta tolice assim!? Não, não era... era a esperança que brotava novamente em seu coração.

- Vamos olhar pela janela mamãe!?

”And when the last one falls,
when it's all said and done it gets hard but
it won't take away my love”


- Pela janela?
- É mamãe, pela janela. –sorriu a menina apontando.

A janela. A mesma que havia visto ele ir embora a tanto tempo atrás, a mesma pela qual deixou as suas lagrimas escorrerem por horas a fio. A mesma pela qual olhara todos os dias na esperança de vê-lo voltado para elas, para a casa deles, para a família deles. Podia olhar nos olhos da pequenininha e ver a ansiedade de olhar pela janela embaçada pelo frio, olhar a neve caindo mansa e calma do lado de fora. Seria uma tolice ficar olhando para o lado de fora, mas seria mais tolice ainda se não olhasse com sua filha a neve caindo aos poucos no jardim.

“I'm here without you baby but
your still on my lonely mind”


- Olha lá mamãe!

Talvez a vida tivesse lhe dando uma nova chance, uma nova oportunidade de ser feliz com as pessoas que mais importantes de sua vida. Seu coração podia sair pela boca a qualquer momento, enquanto a menininha a chamava para ir até a porta. O frio. Mas quem iria se importar com o frio naquele momento.

- Draco... – chamou a morena.

“I think about you baby and
I dream about you all the time
I'm here without you baby but
your still with me in my dreams
And tonight girl, there's only you and me”


Talvez aquele momento tivesse durado uma eternidade. Talvez aqueles poucos segundos tivessem durado dias... os cabelos loiros vivaram-se e os olhos cinzas voltaram a encontrar o dela.

- Você demorou...

O loiro sorriu.

- Papai, eu tava te esperando... eu e a mamãe...

N/A: Obrigado por todos os comentários feitos em Back to your heart, adorei saber que vocês gostaram e aqui foi a segunda parte da fic.
Espero que gostem dessa aqui também, foi a continuação que vocês pediram. Espero que tenham compreendido que a fic foi feita pela visão da Hermione...
Sei que muitas coisas permanecem em aberto, mas tenho planos de uma continuação para explicar o que falta. ^^ e posso adiantar que dependendo do que vocês falem a fic que segue era provavelmente composta de mais de 1 capitulo.
Bem, dependendo do que vocês falem eu faço a continuação.

Beijos

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Comentários (7)

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