Everybody hurts



When your day is long, and the night
(quando seus dia é longo, e a noite)

And the night is yours alone
(e a noite é somente sua)

When you think you had enought of this life
(quando você pensa que já viveu de chega esta vida)

Hang on
(agüente firme)

Don't let yourself go
(não deixe-se levar)

Cause everybody cries
(porque todo mundo chora)

And everybody hurts
(e todos se machucam)

Sometimes...
(às vezes...)


Era Natal, e o jovem bruxo, naquela manhã fria, não encontrava-se na cama aconchegante, quente, muito menos em sua enorme casa, ou em seus arredores. Desde ontem a tarde não colocara mais os pés na mansão que fora de seu pai: havia saído sem rumo após ter expulsado, definitivamente, sua ex-noiva de lá.

Onde estava agora? Ele não sabia ao certo, mas de acordo com informações recebidas, chegara ao lugar correto. Estava parado, num pequeno corredor, em frente a uma porta simples de madeira. Não haviam decorações natalinas por ali, não haviam luzes coloridas, guirlandas ou fitas vermelhas, na realidade, não parecia nem mesmo haver alguma pintura naquelas paredes sujas. Desejou saber como alguém conseguia viver ali, como alguém conseguia passar todos os dias por aquele barzinho, que não era um dos melhores do Beco, e atravessar este corredor mal cuidado para chegar até o pequeno apartamento. E ela estava fazendo isso, todos os dias. Como ele conseguiu ser tão cego, Merlin, como?

Respirou fundo. Apertou a caixa que estava em sua mão esquerda, como falaria tudo aquilo para ela? Olá Virginia, lembra de mim, seu ex-noivo? Pois é, eu descobri que você nunca foi para a cama com Potter, e agora, depois de te humilhar, de pisar em você entre outras coisas, vim pedir para você voltar comigo! Chutou a parede, e chutou forte. E quando viu uma pequena rachadura se formar no lugar do chute, amaldiçoou-se novamente por Virginia viver naquele lugar.

Bata logo na maldita porta!

Levantou a mão esquerda. Bateu três vezes na porta, e esperou. Dali de cima era possível ouvir o barulho todo que o pequeno bar, visivelmente famoso entre bruxos de baixa categoria, fazia. Uma vez ou outra você escutava o barulho de algo quebrando, ou do dono brigando com algum cliente que se recusava a pagar por algo. Pelo menos ele ainda não havia ouvido alguma real briga.

Quando escutou passos dentro do pequeno flat, seu coração voltou a acelerar. Ele já batera, agora tinha que esperar uma resposta, e tinha que pensar no que falaria, ainda! Não fazia idéia de como seria a reação dela ao vê-lo ali, parado, depois de mais de um ano e meio. Não sabia como seria a sua própria. E se ela não estivesse sozinha? E se tivesse casado, se juntado com alguém? Se escondera tão bem, saíra da casa de sua família, nunca ninguém imaginaria que a ex-noiva de Draco Malfoy fosse morar justo ali...

Passou a mão pelos cabelos, coisa que sempre fazia quando ficava nervoso. Lembrou-se de como Virginia sempre sabia quando ele tinha algo para lhe falar, ele nunca percebera esta sua mania, fora a bruxa quem lhe fizera reparar naquela ação automática. Fizera-o ver aquilo e tantas outras coisas, como ele teve... como ele conseguiu acreditar naquilo? E aquilo lhe parecia tão idiota agora, tão... no entanto, ele era Draco Malfoy. E Draco Malfoy nunca conseguira controlar seus sentimentos explosivos.

Ele só saiu de seus pensamentos quando ouviu o barulho da porta sendo aberta. Draco passou novamente uma mão nos fios loiros, e apertou mais a caixa azul que segurava na mão direita. Porém, em vez de uma ruiva vir atendê-lo, o homem foi recebido por uma senhora de mais idade, que falou baixo, para não acordar o bebê que carregava no colo.

- Sim? O senhor está procurando por alguém?

O bruxo iria responder que sim, que procurava Virginia Weasley, mas somente se seus olhos não tivessem parado para examinar mais atentamente a criança, que não deveria ter mais de um ano. Ela dormia tão tranqüilamente, os pequeninos cachos loiros já quase caindo sobre os olhos fechados. Segurava uma coruja de plástico, não muito atraente, firme, na mão direita, a mãe da criaturazinha provavelmente não possuía condições de comprar nada melhor. Ainda assim, o pequeno sustentava um sorriso nos lábios. Apesar do pouco que possuía, devia ser feliz: nessa idade, o ser humano necessita mais a atenção paterna e materna do que um bom brinquedo. Ele, deduziu o bruxo, observando a face do bebê, certamente tinha atenção suficiente.

- Ele é lindo. - falou, sem antes pensar. Aquela fora a primeira coisa que lhe viera a cabeça, quando notou o olhar estranho, vindo da mulher. - É seu? - ele perguntou, apesar de já ter percebido a total dessemelhança entre os dois. Talvez estivesse com medo da resposta que viria. Talvez não quisesse mais estar ali, apesar de tudo.

- Ian? Nah, é da minha vizinha. Eu sou a babá dessas redondezas, normalmente esta casa está infestada de crianças! Mas agora, época de Natal, os pais estão em casa, quase sempre... a casa fica tão vazia! As crianças chegam a fazer falta, elas e todo o barulho que fazem! - e a mulher continuaria falando e falando se o choro de uma criança não tivesse começado. - Ah, bem...

- Eu devo ter batido no endereço errado, com certeza. Talvez errei o número do prédio. Desculpe. - e ele iria se virar, e esperava que depois do que tivesse falado a babá fechasse a porta e voltasse ao seu trabalho, mas o contrário aconteceu.

- Por que o senhor não entra um pouco, pelo menos até a tempestade que começou passar? A casa é simples, não temos muito o que oferecer mas... com certeza, um a mais não iria incomodar!

Tempestade? Mas o tempo estava totalmente calmo quando pisara naquela construção! Por Merlin, como poderia estar tendo uma tempestade lá fora...?Mas lá fora parecia um inferno mesmo, ele conseguiu ver, graças a uma pequena janela que havia na casa.

Bem...

Acabou entrando, fechando a porta atrás de si.

Virginia não estava com um dos seus melhores humores naquela manhã, apesar de ser manhã de Natal. Andou quase uma hora inteira pelo Beco Diagonal até conseguir achar um mercado aberto. E mesmo assim, fora tempo gasto inutilmente, ali não havia nem a metade do que precisava comprar. Agora estava ela, passando pelo maldito bar, que graças a Merlin estava quase vazio naquele dia, a última coisa que ela precisava para aumentar seu ânimo era um bruxo daqueles lhe dando cantadas grosseiras.

Segurou mais firme a sacola onde estavam as compras, e subiu a escada estreita que dava até o andar de seu pequeno apartamento. Enfim, em casa!

- Nina, cheguei! - ela meio que gritou, abrindo a porta com dificuldade. O que ela havia comprado que pesava tanto naquela maldita sacola?

- Até que enfim, já era a tempo! - a mulher que aparentava quase uns sessenta anos surgiu de onde era a cozinha, com um loirinho hiperativo no colo. - Onde você foi para demorar tanto?? Eu quase morri de preocupação, você lá fora no meio dessa tempestade... e Henri! Ele não parava de chamar você, até a nossa visita entrar no quarto! - Nina falava, as duas caminhando para a cozinha.

- Temos visita? - Virginia estranhou, quem as visitaria no Natal, ainda mais com um clima daqueles? A curiosidade foi aguçando enquanto ela guardava o trigo e o açúcar no armário de madeira, velho. Ian, agora no chão, pulava feito louco para tentar enxergar o que estava sendo colocado sobre a mesa.

- Mais ou menos. - a babá voltou a pegar o bruxinho no colo, a fim de ver se este sossegava um pouco. - O homem bateu no prédio errado, acho, e eu disse que poderia esperar aqui. Já que não temos lareira, e aparatar neste tempo... vai que ele erra e para num lugar ainda pior? - Gina, guardando o último pacote no armário, teve que rir da preocupação de Caroline. Até mesmo com os estranhos seu instinto maternal surgia. - Por que não vai conversar um pouco com ele? Ele parece ser um bom rapaz, um pouco estranho, mas muito educado, e bonito também!

- Ninaaaa... - a ruiva virou os olhos. Às vezes, quase sempre, na verdade, ela sentia-se filha daquela mulher. Parecia sua mãe, sempre tentando juntá-la com alguém.

Sua mãe... Virginia sentia falta de ter alguém para chamar de mãe. Já passara tanto tempo desde a última visita A'Toca... Mas ela talvez não se atrevesse a por os pés novamente na sua antiga casa. Depois daquela discussão, o melhor era esquecer, e como Nina sempre aconselhava, construir uma nova vida, ao lado de um novo homem.

- Não estou dizendo nada, Merlin! - Caroline defendeu-se, saindo da cozinha com Ian. Gina pensou um pouco, e então, resolveu ir ver seu filho. Seria uma conversa, apenas uma conversa, não iria doer nem nada. Então, seguiu até a porta que separava seu pequeno quarto da sala.

- É uma tempestade e tanto, não acha? - era estranho para ele ter aquele bebezinho nos braços.

Estava de pé, ao lado da janela, e o pequeno observava quieto, junto ao bruxo, o caos que estava lá fora. Obrigado Merlin por ainda haver bruxas caridosas neste mundo. Sabe lá onde ele iria parar aparatando naquele tempo, com a cabeça que estava.

- Você tem os meus olhos. - após muito olhar, Draco chegou a aquela conclusão. O menino tinha os mesmos olhos acinzentados, tão iguais ao dele quando era criança. Talvez daqui a mais alguns anos eles criassem uma tonalidade mais azul.

Sentou-se novamente na cadeira de balanço. Por um momento, pensou ter ouvido alguém bater na porta, mas segundos se passaram e só havia o barulho das crianças.

- Será que nosso filho teria nascido com esses olhos? - perguntou para si mesmo. - Eu tenho que confessar que sempre preferi os dela, apesar daquele discurso enorme que Gina sempre fazia quando eu comentava sobre isso, que eles eram sem graça e não tinham charme nenhum... - teve que sorrir ao lembrar-se de certas memórias. - É claro que eles tinham. Eles tinham vida, ao contrário dos meus. Mas até que os seus são como os dela, sabia? - voltou a notar nos olhos grandes daquela criaturinha. - A expressão... o tamanho. Tirando a cor, são como os dela. Um misto do que nós queríamos.

Ele suspirou. Naquele momento, desejou que aquele fosse seu filho, filho deles dois... Ele poderia estar, naquele instante, na sua mansão, com a criança no colo, esperando Virginia voltar sabe Merlin da onde. Não do trabalho, se os dois tivessem se unido, ele jamais a deixaria trabalhar. Tudo do melhor, sempre, para sua pequena.

- Talvez tivéssemos dado certo, apesar de tudo, sabe? - ajuntou mais uma vez o dragãozinho de pelúcia que o bebê insistia em jogar no chão. - Se eu não fosse tão explosivo, já poderíamos ter até formado uma família. - colocou o brinquedo de lado, percebendo a sonolência crescente do pequeno. - E se você fosse nosso, teria se chamado Lois. Porque eu preferia Henri, mas ela acabaria me convencendo a registra-lo como Lois. Ela sempre conseguia, era incrível. Uma Weasley que tinha um Malfoy comendo na mão... - quando olhou novamente para o bebê, este dormia calmamente nos seus braços. - Acho que eu entediei você, não? - resolveu colocar o menino no pequeno berço de madeira existente ao lado da cama. - Eu a amava. - cobriu-o, sentando-se ao seu lado. - Eu ainda amo. Gostaria de dizer isso olhando novamente naqueles olhos. Gostaria de estar com ela, de poder voltar no tempo e concertar todas aquelas burrices que eu fiz... Eu a amo. Mas nem mesmo sei onde ela está agora.

E a porta se abriu, revelando uma jovem que, apesar das lágrimas, sorria. E então, Draco sorriu também.

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