It only hurts when I breath
I'm not surprised just how well I survived
(eu não estou surpresa com o quão bem sobrevivi)
I'm over the worst, and I feel so alive
(eu superei o pior e me sinto tão viva)
I can't complain - I'm free again
(eu não posso reclamar - eu estou livre novamente)
And it only hurts when I'm breathing
(e isso apenas dói quando eu respiro)
My heart only breaks when it's beating
(meu coração apenas quebra quando está batendo)
My dreams only die when I'm dreaming
(meus sonhos apenas morrem quando estou somnhando)
So I hold my breath - to forget
(então eu prendo a respiração - para esquecer)
Ela serviu uma última xícara de café a um velho cliente, antes de finalmente ter seu merecido descanso de meia hora. Agora eram somente mais três horas, e então poderia ir novamente para seu pequeno apartamento - se é que podíamos chamar aquilo de apartamento - localizado sobre uma das tantas lojas bruxas residentes na região. O Beco Diagonal não era um lugar muito tranqüilo de se morar, mesmo a noite o barulho não cessava, no entanto, com o dinheiro que possuía, aquela era a melhor opção disponível.
Sentou-se numa das cadeiras encontradas no fundo daquela pequena confeitaria, a bandeja posta sobre a mesa. Suspirou, estava cansada, trabalhava desde as sete horas da manhã, agora eram que horas mesmo? Claro, cinco, afinal, estava na sua folga. Ah, onde ela andava com a cabeça nestes últimos dias?
Tentou relaxar nesta meia hora de folga, queria parar de pensar um pouco. A dor de cabeça que havia surgido no começo da manhã parecia aumentar mais e mais a cada hora, e os remédio não estavam adiantando. Talvez se deixasse sua mente livre por alguns instantes, talvez então, a maldita dor sumisse.
Mas, para ela, parar de pensar era impossível, ainda mais naquela época do ano. Amanhã era Natal, e ela nem mesmo havia comprado os presentes! Não que eles fossem ser muitos, ou grandes. Seriam poucas coisas, coisinhas simples, que ela poderia pagar com as economias que fizera durante o ano. Gostaria de poder comprar mais, no entanto... Mas seria um bom Natal, aquele. Ela estaria junto a coisa mais importante de sua vida, ao motivo pelo qual ela acordava todos os dias e ia trabalhar ali naquele lugar.
Seus olhos chocolate foram inconscientemente para sua mão esquerda, e ficaram olhando para um dedo em particular. Sua vida poderia ter sido diferente, não? Tão diferente! Mas não, nunca poderia ter feito aquilo. Aqueles eram, afinal, seus dois melhores amigos, os que ela sabia que lhe dariam apoio, apesar de tudo. Para eles, e somente para eles, ela contou a verdade. Não poderia deixar Harry acreditar naquela mentira, por mais que aquilo a beneficiaria, muito menos permitir que Hermione ficasse naquela situação. A única irresponsável de toda a história fora ela, e agora teria que agüentar as conseqüências daqueles atos impensados. Mas então, como poderia imaginar que tudo aquilo fosse acontecer justo com ela?
Ainda conseguia lembrar das palavras daquele primeiro de junho. Como havia superado aquilo naquele estado, nem mesmo ela sabia. Aquele sonserino que a jovem bruxa conheceu durante seu primeiro ano parecia ter voltado naquele dia. O mesmo bruxo frio, sarcástico, cruel. No entanto, o olhar nunca chegou a combinar com as ações. Por mais que ele falasse, por mais que ele a humilhasse, a dor não saíra por um momento daqueles olhos acinzentados. Como conseguiria, algum dia, esquecer aquele olhar? Seria impossível, e ela sabia muito bem. E teria que viver com isso.
Não posso pensar nisso. Não agora.
Desviou os olhos para o vidro da grande janela que havia na entrada da confeitaria. Desejou saber porque o dono não usava um feitiço impermeabilizante neles, sempre que chovia forte, como naquela segunda, alguém acabava perdendo cinco minutos a mais para cada vidro voltar a ficar impecavelmente transparente. Com a sorte que estava, se a chuva acabasse antes das sete, a escolhida para o serviço provavelmente seria ela.
- Nia, Nia! - uma voz alegre a tirou de seus pensamentos. A garotinha, Sarah, elétrica nos braços de Hermione, tinha os mesmos olhos verdes e o mesmo cabelo desarrumado do pai.
- Mione. - Virginia cumprimentou a amiga, e a criancinha de quase um ano ficou ainda mais inquieta nos braços da mãe, claramente tentando chamar a atenção da madrinha. - Oi pra você também, Sarah. - a ruiva disse com um sorriso, passando a mão pelos cabelos bagunçados da menina. - Não devia estar em casa agora, Mi?
- Eu sempre posso me dar ao luxo de sair para visitar minha amiga, não? - a bruxa mais velha respondeu, sentando-se na cadeira em frente a Virginia. Tentava fazer sua filha parar de se mexer, pelo menos um pouco, a distraindo com seu dragãozinho de pelúcia, enquanto falava. - Harry e eu estamos convidando vocês para a ceia desta noite. - a garçonete logo começaria a resposta de sempre, quando Hermione voltou a falar. - E Sarah também, claro! Ela adora brincar com Henri, você sabe disso. E meu afilhado também parece gostar muito!
- Hermione-
- Vamos Gin, Natal é para passar com a família! - a amiga continuou insistindo. - Sua mãe está com tanta saudade! Ela pediu tanto para eu trazer você lá para casa hoje a noite, afinal, não te vê há quase um ano! E seus irmãos, e seu pai... Ronald também! - a senhora Potter estava realmente se esforçando. - Por favor. - ela segurou a mão da amiga com sua mão livre. - Por favor, diz que sim! Só desta vez Gin...
- Virginia, cinco e meia! - gritou uma das garçonetes, que saía detrás do balcão equilibrando uma bandeja em cada mão.
Salva pelo gongo. Virginia quase suspirou aliviada ao ouvir o chamado da colega de trabalho, a última coisa que gostaria naquele momento era ficar discutindo com Hermione em plena véspera de Natal! Além do mais, duvidava que Ronald fizesse questão de sua presença. Depois de tudo que acontecera, depois daquela maldita discussão durante o último Natal, quando Virginia apareceu na Toca, solteira, com uma linda criança recém-nascida nos braços. Um bebê já loirinho, com olhos perfeitamente claros.
- Vai pensar, pelo menos? - perguntou Hermione, antes que a jovem voltasse para o trabalho sem lhe dar resposta alguma. - Sua mão está com saudades do neto. Ela disse que daria tudo para você ir morar com ele na Toca. Não seja tão rancorosa, Gina. - a mulher saiu da cadeira, a menininha em seus braços agora tentando pegar uma das tantas fitas penduradas pela confeitaria. Rancorosa, ela? A bruxa dizia isso pois não estava lá no dia da briga.
- Eu não garanto a minha presença. - Virginia levantou-se também, voltando a pegar a bandeja nos braços. - Mas eu vou pensar, tudo bem?
E assim, a professora de Transfiguração saiu da pequena loja de doces com sua filha, enquanto a garçonete voltou rápido ao trabalho. O movimento estava intenso naquele dia, também, não era para menos: véspera de Natal, e chuva! O Beco Diagonal era lotado naquela época do ano, e quando resolvia chover em vez de nevar... era como se as pessoas por ali resolvessem todas ir tomar um café, comer algum doce, para fugir do frio das gotas.
Rumou para frente do balcão. Não tardou para ter pelo menos cinco pedidos sobre a bandeja, um para cada canto da confeitaria. Pelo menos assim sua mente não ficava vagando pelos assuntos do passado. Com todo o trabalho, ela conseguia sempre parar de pensar um pouco sobre tudo aquilo.
Nem mesmo notou a enorme manchete numa revista de fofocas de uma de suas clientes. Talvez, mas somente talvez, aquela pequena notícia teria trazido um pouco de alegria, e até mesmo esperança, talvez, para seu vigésimo terceiro Natal. Afinal, um certo loiro parecia ter descoberto as mentiras da noiva, e mais um casamento bruxo havia sido desmarcado.
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