Capitulo 5



Capitulo 5


Almoçando com a polícia, Michelangelo, Beethoven, Dali e Caetano. Mapas sem pauzinho.


 


“Acabamos de encontrar esse policial na delegacia...”, pensava James. “Será que ele nos seguiu até o hospital? Ou será apenas coincidência?” 


 


Os amigos estavam dentro de uma viatura, sentados no banco de trás. James sorriu. Aquele era um carro comum, um Gol velho, com velas falhando e com a segunda marcha arranhando. Só não poderia dizer qual a cor do carro...


 


“Gozado, a polícia não fala carro, fala viatura. Não fala sim ou não, fala positivo e negativo” . Do lugar do motorista, vinha a voz de Weasley:


 


- Vocês dois se movimentaram bastante para uma manhã só, não? O que queriam nesse hospital?


 


- Viemos... Viemos visitar o professor Dumbledore...


 


- Isso eu sei. Mas, porque vieram visitá-lo? O que tem a ver o acidente do diretor da escola com o desfalque que seu pai confessou menina?


 


- Nada, é que...


 


Weasley interrompeu.


 


- Negativo garoto! Não precisa inventar desculpas. E nem ter medo da gente. Só queremos conversar. O que vocês acham de um almoço? Ainda não comeram nada não é?


 


 


 


 


● ● ●


 


 


 


 


- Desculpem se o restaurante não é de luxo, meninos. Mas vocês sabem como é salário de policial, não é?


 


Estavam sentados em uma mesa de um bar modesto que servia refeições comerciais. Weasley queixou-se do calor, embora para os dois convidados o tempo estivesse mais do que agradável. Até um pouco friozinho. Mas, ainda assim, o policial suava. Afrouxou a gravata e tirou-a. Amassou a gravata na mão, sem nenhum cuidado, e colocou-a no bolso do paletó.


 


O cheiro de gordura era forte, mas o de tempero era melhor, e James pôs-se a devorar com apetite o bife a cavalo com arroz e feijão, acompanhado de salada de alface e tomate.


 


Lílian mal tocou na comida. Partiu o bife e ficou dando pedacinhos para Almofadinhas. Xavier quase não falava. Parecia ter mania por chicletes e abriu um novo tabletinho no final do almoço. Weasley raspava o prato com um pedaço de pão e procurava fazer suas perguntas com jeito:


 


- É natural que você esteja preocupada com seu pai, garota, muita natural... Mas eu só não entendi porque vocês tentaram visitar o professor Dumbledore logo depois de saírem da delegacia.


 


- Bom... - James tentava desviar a curiosidade do policial. – É que nós andamos preocupados com o diretor, depois daquele acidente...


 


Weasley não aceitou a desculpa.


 


- Acho estranha toda essa preocupação com o professor apareça agora. A prisão do Sr. Evans deveria ser a única coisa com que vocês estariam se preocupando, não é? Ou pelo menos você, Lílian...


 


- Meu pai é inocente, Weasley, temos de provar isso! Como é que a gente pode ajudar? O que você quer saber?


 


O policial respondeu com uma pergunta:


 


- Qual é a ligação entre o acidente do diretor e a prisão do Sr. Evans?


 


James pensou um pouco. Não estariam se arriscando demais? Afinal de contas, por que estava se metendo a fazer o papel da polícia?


 


- Esses dois me parecem muito espertinhos Weasley! – comentou Xavier, mascando o chiclete de boca aberta. (N/A: ECA!)


 


James segurou a mão de Lílian, que estava fria. Não havia razão para esconder suas suspeitas da polícia. O único receio talvez fosse receber uma bronca enorme por estarem se metendo onde não foram chamados.


 


- Sr. Evans é um homem bom, Weasley, ele é honesto. Nem eu, nem Lily, nem qualquer outra pessoa da escola pode acreditar que ele cometeu aquele desfalque. Ou qualquer outro crime. E muito menos confessaria.


 


- Bom, se ele confessou,é porque ele é culpado não acha garoto?


 


- Ele é inocente! – Lílian disse nervosamente, apertando a mão de James. – Ele confessou pra encobrir alguém!


 


- Não diga! – gozou Weasley – Sr. Evans confessou para proteger o verdadeiro culpado? E quem é que ele está protegendo?


 


- Não sabemos - respondeu James – Mas você ouviu nossa conversa com ele. Lembra-se que o SR. Evans disse que havia erros grosseiros de contabilidade nas alterações que o tal criminoso fez?


 


- Lembro sim.


 


- Desculpe eu estar me metendo, Weasley, mas por que um contador experiente como ele cometeria erros grosseiros, justo para dar um desfalque? E por que ele mesmo convocaria uma reunião para que eles descobrissem as alterações...


 


- Será que ele queria ser descoberto? – interrompeu Xavier.


 


- Podemos ver isso por outro ângulo Xavier, cometendo erros que um contador experiente não cometeria, ele estava afastando qualquer suspeita em relação a ele!


 


James não gostou desse “outro ângulo”.


 


- Se o Sr. Evans for mesmo o culpado, talvez essa teoria esteja certa. Mas que tal pensarmos do modo mais direto? Quem deu o desfalque é alguém que não entende de contabilidade!


 


Houve uma pausa. Os policiais avaliavam as palavras daquele rapaz, meio espantados com sua determinação. Foi Weasley eu quebrou o silêncio.


 


- Muito bem, garoto, muito bem. Acho que posso ser franco com vocês. O caso do Evans não é meu. Mas, depois que ouvi sua conversa com ele, fui dar uma olhada no processo. O crime é de “Apropriação indébita”. Ninguém fica preso por um crime como esse antes do julgamento.


 


- Não fica?! – espantou-se a garota. – Mas, então, por quê...


 


- Esta foi uma prisão arbitrária Lílian. Coisa do delegado Mendes, que sempre quer ser mais realista que o rei. Mas ele vai soltar seu pai no mesmo instante que entrarem com um habeas corpus.


 


- O doutor Jonathan disse que os advogados iam entrar com esse pedido logo. – informou James – Será ótimo quando ele sair da cadeia, mas isso não basta para nós! Ele não merece essa acusação Weasley! O que é um habeas corpus mesmo?


 


- É uma ordem judicial para assegurar o direito de ir e vir de alguém que esteja sendo injustamente tirado esse direito. É o caso do Sr. Evans. Um acusado de apropriação indébita não representa nenhum perigo para a sociedade, prendê-lo é um absurdo. Nenhum juiz concordaria com isso.


 


- Eu fui com o Mendes prender o Evans, não perguntei nada nem quis que ele notasse que eu estava surpreso por ele fazer aquela prisão pessoalmente. – disse Xavier, ainda mastigando o mesmo chiclete.


 


- Tudo isso me deixou com uma pulga atrás da orelha. Decidi me meter no caso e acabei lendo todo o processo, até o relatório dos auditores. É por isso que quero saber qual a ligação entre esse desfalque e o acidente.


 


James sentia a esperança renovar. Aqueles dois policiais estavam do lado deles.


 


- Obrigado pelo apoio Weasley. Nós estávamos sozinhos demais com esse problema. Só o que a gente podia fazer era pensar. Lembra-se que o Sr. Evans tentou fugir da conversa quando eu perguntei se o Velho sabia do desfalque?


 


- Continue.


 


- Naquele momento eu fiquei achando que o desfalque foi praticado antes do acidente do professor Dumbledore. E, pelo jeito do Sr. Evans, tenho certeza de que o Velho sabia o que estava acontecendo! Por isso, pensamos que ele poderia nos dar alguma pista...


 


Weasley riu cada vez mais surpreso.


 


- Muito bem, de novo, James! Se o Professor sabia ou não, nós não sabemos, mas a verdade é que os desfalques estavam sendo cometidos há tempos, desde o começo do não letivo, de acordo com o relatório dos auditores. Você adivinhou isso mesmo sem ver os relatórios, muito bom garoto!


 


- Mas o Velho não pode dar nenhuma pista, meninos – informou Xavier, bafejando aquele odor doce de chiclete. – Tentamos falar com ele, mas ele está mesmo muito mal, com todas as visitas proibidas.


 


- Mas é a nossa única pista! – Lílian tentou objetivar. – Temos de...


 


- Negativo! Vocês já foram longe demais, meninos – cortou Weasley – Não há nada mais que vocês possam fazer. Fiquem tranqüilos e vão pra casa. Deixem esse trabalho com os profissionais.


 


Desta fez, Lílian apertou forte a mão de James, tomando uma decisão.


 


- Me diga uma coisa, Weasley. Você acredita que meu pai é inocente?


 


- O que adianta eu acreditar ou não? Ele confessou, Lílian.


 


- Mesmo assim, Weasley! Você acredita na inocência dele?


 


O corpulento policial demorou um pouco para responder.


 


- Positivo. Mas não posso provar nada.


 


- Então acho que a gente pode ajudar – continuou a ruiva. – Todo crime precisa de um motivo não é?


 


- É claro, só o motivo é mais do que razoável: seu pai precisava do dinheiro, de muito dinheiro, para os remédios de sua mãe. Um bom motivo, devo admitir, mas...


 


- Mas esse motivo não existe! – declarou a menina, firme.


 


- Como?!


 


- Descobrimos que o doutor Jonathan pressionou o convênio médico que atende os funcionários do colégio e os diretores cederam. Mamãe recebeu os remédios pelo convênio médico! Meu pai não tinha nenhum motivo para praticar o desfalque!


 


 


 


 


• • •


 


 


 


 


A conversa com os policiais tinha se prolongado. Weasley, com toda calma, foi arrancando uma descrição completa da situação da Hogwarts High School. Ouviu sobre a morte da professora Emilly, sobre a introdução dos dois novos diretores, Augusto e Jonathan, e sobre os conflitos entre Augusto e o Velho a respeito das inovações no colégio.


 


- Se não foi o Sr. Evans quem deu esse desfalque, quem foi Weasley? – perguntou James, enquanto saíam do restaurante. – A única forma de provar que o Sr. Evans é inocente e está encobrindo alguém é encontrar esse alguém!


 


- Esse é o meu trabalho, garoto...


 


Os dois amigos foram levados de volta ao colégio, a bordo do velho Gol, ouvindo a tosse das velas e o arranhar da segunda marcha.


 


- E lembram-se garotos, tratem de cuidar da suas vidas! – advertiu Weasley ao despedir-se. – Deixem o problema conosco!


 


- Ok, Weasley.


 


O policial entrou novamente no carro e bateu a porta. Lílian ficou olhando o velho gol se distanciar. De repente, notou alguma coisa na calçada.


 


- Olhe, James, a gravata caiu do bolso do Weasley. – A garota arrependeu-se de ter dito olhe e pegou a gravata do chão.


 


- Bom, se a gente se encontrar de novo , eu devolvo.. Puxa, mas que gravata ensebada!


 


Dobrou-a e guardou-a no bolso detrás do jeans. A mãe de Lílian já estava informada de que a filha "passaria a tarde" com uma colega e dona Sarah só chegaria do hospital depois das nove da noite. Tinham tempo. Estavam exaustos, mas James nem sonhava em seguir o conselho dos policiais.


 


- Precisamos esperar até as seis horas. Vamos à biblioteca, Lily...


 


Os dois sentaram-se em uma das mesas. Lílian, a pedido de James, tinha escolhido alguns livros de arte.


 


- Porque esses livros, Jay?


 


- Vamos dar um tempo, Lily – explicou o rapaz sem responder diretamente a pergunta. – Os funcionários da administração saem às seis. Quero encontrar com o Tadeu na saída. Quem sabe, com jeitinho, a gente não consegue saber quem teria acesso ao computador da administração? Se tivermos essa lista completa, basta descobrir quais pessoas dessa lista não conhecem contabilidade. Nosso homem ou mulher, é um desses, pode acreditar! Não basta saber que seu pai é inocente, temos que descobrir quem é o culpado!


 


- Está bem, mas temos ainda mais de duas horas até as seis. Então me diga: porque você pediu esses livros de arte?


 


James suspirou.


 


- Eu adoro arte, ruiva. Não tenho nenhum problema com música e dança. Acompanho até mesmo teatro, cinema e TV. Acho que os dramaturgos escrevem peças para pessoas como eu, porque dá para entender tudinho! Eu só não consigo nada é com pintura.


 


Lílian sorriu. Deveria ter se aproximado daquele garoto há mais tempo.


 


- Eu adoro música, James. Clássica ou popular. Estudo piano há 6 anos.


 


- É mesmo? – é claro que ele sabia disso, como sabia tudo que dissesse sobre ela, mas fingiu que aquilo era uma novidade. – Ótimo, pois música é o meu forte. Não sei o que faria sem ela ou sem o meu teclado...


 


- Você toca teclado?


 


- Desde pequeno. Acho que vou ser músico profissional.


 


- Ou detetive!


 


- Prefiro a música.


 


- Está bem... quer dizer que você não tem idéia de como é uma cor?


 


- Claro que tenho! Sei perfeitamente que uma manga é amarela, por exemplo.


 


- Como pode saber disso?


 


- Manga tem gosto de amarelo.


 


- Só você mesmo, James. É que com quadros a coisa fica mais difícil né? Mas eu tenho um modo de fazer você sentir a pintura.


 


Lílian começou a folhear os livros de arte. Descrevia cada quadro comparando o impacto que sentia com o efeito de alguma música.


 


- Veja, James: Esse é Claude Monet. Esta paisagem é como o movimento "Outono" de "As quatro estações" de Vivaldi. Não dá pra ouvir perfeitamente este quadro? Você conhece Vivaldi?


 


- Claro.


 


- Este aqui é Gainsborough. Não gosto muito, é arrogante, parece "Pompa e circunstância", do Elgar.


 


- Aposto que vão tocar "Pompa e circunstância" aqui no colégio, na hora da formatura.


 


- Aqui está: o detalhe da "Criação de Adão", do Michelangelo. Acho que o coitado teve de esperar séculos até que Beethoven compusesse sua 6° sinfonia, a "Pastoral". É exatamente essa pintura.


 


- É forte ein?


 


- Aqui está Picasso! Isso é rock puro! Ele torce a imagem de todos os lados, como o rock.


 


E assim, James foi "vendo" os quadros. Sentiu as paisagens do Mississipi lembrando-se dos spirituals, "viu" Goya ao som de castanholas, entendeu a tristeza de Van Gogh na melodia de Chopin, curtiu Portinari comparando seus retirantes com "Disparada", de Geraldo Vandré.


 


- Não concordo. Acho "Disparada" é mais "Grande Sertão: Veredas", do Guimarães Rosa.


 


- Você leu aquilo, James?


 


- Tudo isso está em braile na biblioteca. – sentiu-se envergonhado pelo fato de não ter conseguido ler o livro todo. Lílian abriu outro livro.


 


- Salvador Dali. É Caetano Veloso puro!


 


- Ah, que é isso Lily? O que tem a ver Caetano com aquele maluco?


 


- Sei lá, James. É isso que eu sinto. Na certa outra pessoa compararia cada quadro desses diferente de nós. É só o meu modo de ver tudo isso.


 


"Ah, eu queria ver o mundo através desses olhos pra sempre." Pensou James sorrindo.


 


- E o Chico Buarque? – perguntou James, se afastando dos próprios pensamentos.


 


- Oras, o Chico é exatamente a arte popular.


 


Recordando as músicas que gostavam, os dois navegaram pelo mundo da pintura, de mãos dadas. Juntos, estavam chegando à conclusão de que as mesmas emoções humanas podem ser transmitidas por cores, palavras, sons e pensamentos. Só que James não conseguia encontrar palavras, nem sons, nem cores, nem movimentos para transmitir a emoção que sentia naquele momento, com aquela garota tão perto dele. Então foram interrompidos.


 


- James! O doutor Jonathan quer que você vá até a diretoria!


 


O rapaz despertou de sua viagem artística e largou a mão da amiga.


 


- Está certo. Vamos Lily.


 


- Não James, ele quer falar apenas com você.


 


- Ok. Que horas são ruivinha?


 


- 5 e 15.


 


- Me espere aqui, já volto.


 


- Ok.


 


Maternalmente, a mulher levou-o pelo braço para a diretoria. Não querendo ofendê-la, James deixou-se levar. Dona Annette era assim mesmo. Procurava mostrar carinho, como se fosse a mãezona de todo mundo.


 


"Imagine se eu preciso de alguém pra me guiar pelo colégio. ¬¬"


 


 


 


 


• • •


 


 


 


 


 


A mulher deixou-o dentro da diretoria e saiu, fechando a porta. James notou que a sala estava vazia, apurou o ouvido, talvez o diretor estivesse no WC, à direita. Não havia nenhum ruído lá, porém. ”Vou ter que esperar. O que será que o doutor Jonathan quer comigo? Tomara que ele não demore. Quero falar com o Tadeu. E tem que ser hoje.”


 


O garoto andou até a grande mesa que já fora ocupada por 5 membros da família Dumbledore. O doutor Jonathan era o 6°. Avançando para a mesa, suas mãos tocaram vários rolos compridos de papel. Deveriam ser mapas.


 


“Gozado, mapas sem pauzinho... Como é que os professores de geografia vão pendurá-los na lousa?”, pensou, lembrando que para ele aqueles professores dispunham de um globo terrestre com os continentes em relevo. Mas, ao tatear os rolos, as costas da sua mão esquerda empurraram a pilha e os mapas rolaram da mesa para o chão.


 


“Merda!”


 


Abaixou-se e pôs-se a tatear o tapete, recolhendo o estrago que produzira sem querer. Os mapas tinham rolado para a esquerda até uma estante. Foi encontrando e colocando cada um debaixo do braço. Ao tateara beirada da estante, juntos ao tapete, sentiu um ventinho nas costas de sua mão. A porta de entrada ficava atrás dele e a janela à sua frente, a porta do banheiro estava do seu lado direito.


 


“De onde vem esse ventinho?”


 


Levantou-se e voltou para a mesa, tentando recolocar os mapas do jeito que estavam. De repente, a porta se abriu:


 


- Olá, James.


 


- Oi, doutor Jonathan. O senhor mandou me chamar?


 


- Eu pedi para falar com você James, é diferente. A Hogwarts High agora é um colégio democrático, não notou?


 


- Doutor Jonathan, me desculpe, eu estava esperando pelo senhor e sem querer deixei cair esses mapas. Nem sei se consegui recolher todos...


 


- Conseguiu sim, James. Estão todos na mesa, obrigado. Mas então, sente-se!


 


Ia empurrar a cadeira de visitas para o garoto, mas James já tinha estendido a mão para ela, aceitando o convite.


 


- Ah, eu devia jogar tudo isso fora. – comentou Jonathan para si mesmo.


 


James ouviu o diretor pegar a pilha de rolos de papel e guardá-la em um armário.


 


- O eu o senhor queria diretor?


 


- O investigador Xavier me ligou agorinha mesmo. Me contou que você está procurando alguma forma de ajudar o Sr. Evans.


 


- É que eu...


 


- Isso é louvável, James. Não estou criticando você por querer ajudar sua namorada, Lílian é sua namorada não é?


 


- Não, ela é só minha amiga...


 


- Pois você faz muito bem em apoiar sua amiga, garoto. Mas fique sossegado, a escola está pagando os melhores advogados para defender o Allan, ele não está só.


 


- Já entraram com o tal habeas corpus?


 


- Infelizmente ainda não, houve complicações e ainda não puderam dar entrada no documento, mas no mais tardar, até sábado, ele estará junto da família.


 


- Até sábado? Tudo isso?


 


O jovem diretor pôs a mão no ombro do rapaz.


 


- Mas porque você queria ver meu pai?


 


James segurou um pouco a respiração. “Você pode fazer tudo!”, dizia sua mãe. Mas ele se sentia cansado. E doutor Jonathan era o melhor amigo dos aluno do colégio. Não havia nenhum razão para esconder-lhe as suspeitas.


 


- Se o senhor falou com o investigador Xavier, sabe que estivemos com o Sr. Evans, não sabe? E ele, muito perturbado, falou umas coisas que...


 


- O que é que ele disse?


 


- Ele deu a entender que o Vel... eu o professor Dumbledore sabia do desfalque, antes do acidente...


 


- É mesmo? E o que mais ele disse?


 


- Uma coisa que... que eu não consigo entender, é que ele confessou mais uma vez que tinha cometido o desfalque porque precisava de dinheiro para os remédios de sua esposa. Mas nós descobrimos que o senhor insistiu tanto com o convênio que os diretores sem nenhum gasto para a família, liberaram os remédios. Então porque o Sr. Evans continuou com o desfalque, já que não precisava mais do dinheiro?


 


- O Allan não sabia disso, James. O convênio só liberou os remédios ontem, depois da prisão dele.


 


- Mas os investigadores disseram que os desfalques começaram aos poucos, desde o começo do ano.  Se o Sr. Evans não gastou nada com os remédios, onde está todo esse dinheiro?


 


O doutor Jonathan fez uma pausa. “Que garoto inteligente! O que ele não poderia fazer da vida, se fosse igual aos outros?”


 


- Você tem razão, James. Essa história está muito mal contada. Temos que esclarecê-la.


 


- E tem mais uma coisa.


 


- O que?


 


- Sr. Evans, ao despedir-se, consolou a filha, dizendo que a mãe ficaria boa e que ela, Lílian, não perderia a bolsa de estudos.

- Como?

- Isso mesmo. O que tem a ver a bolsa de estudos com o desfalque?

- Oras, James! Lílian é uma das melhores alunas da escola. Sua bolsa de estudos está garantida até a formatura. E ela até paga, de algum modo, para estudar. No centenário da escola, por exemplo, Lílian vai dar um recital de piano durante as comemorações. Você sabia que ela é uma ótima pianista?

- Sim.

- Sr. Evans deve ter misturado as idéias ao dizer isto! Mas eu concordo com você que...

Nesse momento, a porta se abriu e alguém entrou na sala.

- Jonathan, nós precisamos conversar sobre o... Ah, esse garoto está aqui é? É o bisbilhoteiro, que eu peguei outro dia!

Era Augusto, com seu pouco tato para lidar com os alunos.

-Oi, Augusto. Eu estava conversando com James aqui, ele é amigo da filha do Allan, Lílian, lembra? Os dois estão querendo esclarecer esse negócio do desfalque...

- Bisbilhoteiro, como sempre!

- Calma Augusto! Todos estão preocupados com a prisão do Allan!

- Estou preocupado é com o montão de dinheiro que desviaram do colégio. A situação financeira de Hogwarts já não era das melhores e...

- Espere um pouco, Augusto. Acho que nós não devemos falar sobre isso na frente de um aluno. Mas veja como ele é esperto! Ele e a filha do Allan, tentaram fazer uma visita ao papai, na UTI do Metropolitano...

- Ah, é? – Augusto aproximou-se de James, quase o dedo em seu nariz. - Pois olhe aqui garoto: a situação de papai é tão grave, que nem EU posso visitá-lo. Fui examinado e disseram que eu tenho uma virose incubada e não sei o que mais. Por isso, poderia contaminar os pacientes. E os médicos acharam melhor proibir as visitas, para não agravar o estado dele. Nem Jonathan tem ido a UTI. Meta-se com a sua vida! A saúde de papai é problema nosso!

Jonathan tomou a palavra:

- Não fale assim com o rapaz, Augusto! Ele só estava querendo ajudar! Ouça, James: Não vai ser possível perguntar nada ao papai. Ele está muito mal. Dizem que às vezes balbucia coisas, mas ainda não recuperou a lucidez. Bom, isso de acordo com o ultimo boletim médico, porque nem eu estou indo lá, para garantir que não aja risco nenhum. Você compreende não é?

- E agora trate de cair fora garoto! – encerrou Augusto. – Os diretores têm mais o que fazer!

- Já estou indo. Que horas são, doutor Jonathan?

- Cinco pras seis.

- Obrigado.

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