Dor vs. Amor



N/A: Antes de mais nada: LARISSA DESÇA DESSE BANQUINHO CRIANÇA! ISSO É PERIGOSO! E NÃO TENTE O EVEREST [?] AQUILO É ALTO DEMAIS!

Capítulo dedicado a Maris, que fez aniversário nessa última semana! Te adoroooo amiga *-*

Agora sem mais, vamos ao capítulo.





Cap. 13

Dor vs. Amor






Os terrenos do colégio já estavam cobertos por uma grossa camada de neve. O inverno, que há tempos anunciava sua chegada, agora era a estação presente. Os alunos evitavam ao máximo andarem pelo pátio, mas haviam os mais corajosos, que preferiam enfrentar o frio ao ter que ficar no meio daquela aglomeração.

Dentre os alunos corajosos que ainda utilizavam o pátio como refúgio, se encontravam o grupo de amigos do 7º ano da Sonserina. Scorpius, Vincent, Michael e Chad, estavam sentados perto de uma árvore e pareciam nem se importar com o clima. Aproveitavam o tempo vago que tinham, conversando sobre quadribol e outras coisas, como a próxima festa que Chad e alguns alunos da “Elite” pretendiam realizar.

- Faz tempo que não vemos agitação por aqui! – Chad começou a explicar – Precisamos de diversão no colégio, e sinceramente, uma festa iria acalmar um pouco os ânimos da galera.

- Talvez você esteja certo! – Scorpius concordou, apesar de não gostar da idéia – Uma festa talvez consiga calar a boca desse povo!

- Scorpius só tá concordando com isso porque tem a esperança do pessoal largar do pé dele! – Vincent ironizou – Sinto muito te desanimar, amigo, mas você é a estrela pop do momento! Aguente o peso da fama e seja feliz... Ou não!

Os quatro riram.

- Já falou com a Rose sobre isso? – Michael perguntou a Chad, mas logo se arrependeu, ao ver a expressão azeda de Scorpius – Foi mal cara! – se desculpou.

- Não esquenta! Querendo eu ou não vou ter que ouvir esse nome até terminar a escola, então é bom que me acostume! – o loiro revirou os olhos.

Naquele mesmo instante, como se tivesse ouvido a conversa dos meninos ou adivinhado que seu nome seria falado, Rose passou de cabeça baixa, lendo uma edição do Profeta Diário. Pela direção que tomava, tinha a intenção de ir até a cabana de Hagrid.

Chad encarou Scorpius, como se pedisse permissão para chamar a menina e perguntar. O loiro, mesmo sem querer, assentiu com a cabeça.

- Rose! – Chad chamou e ao ver a menina erguer a cabeça, prosseguiu – Pode vir aqui um instante?

A ruiva encarou o garoto, curiosa e apreensiva. Curiosa porque não fazia idéia do motivo que o sonserino a chamara; e apreensiva, porque Scorpius estava sentado com ele, o que provavelmente resultaria numa discussão, se ela chegasse mais perto.

- Er... Chad, será que você não pode falar dep...

- Ah, qual é Rosecreide! Sua inteligência não vai diminuir se der alguns passos até nós. – Vincent brincou – E além do mais, ninguém aqui morde! – nesse instante, o moreno deu um pequeno cutucão em Scorpius, o repreendendo antes mesmo que pensasse na possibilidade de atacar a menina a dentadas.

Rose sorriu e vencida pelo argumento do amigo, caminhou até onde o grupo se encontrava. Quando parou, certificou-se que estava em uma distância considerável de Scorpius e concentrou-se bastante para não encará-lo.

- Fale! – ela disse tentando parecer à vontade.

- Serei rápido. – Chad prometeu – O pessoal tá a fim de dar uma festa no próximo final de semana, e gostaria de saber se tem algum problema pra você?

Rose ergueu uma das sobrancelhas e encarou o rapaz, incrédula.

- Chad, vocês nunca precisaram de uma autorização minha para dar festas. Não vai ser agora que vão precisar! – ela revirou os olhos.

- Eu sei, mas é sempre bom manter a Monitora Chefe por dentro do que acontece! – ele deu uma piscadela.

- Certo! – ela balançou a cabeça.

Naquele instante, Vincent arregalou os olhos. Estava ouvindo bem ou Rose Weasley, a pessoa mais certinha e cheia de regras que ele conhecia, não estava passando sermão por causa da idéia?

- Espera Rosecreide, você não vai gritar, se descabelar ou tentar convencê-lo de que festas são um erro e que Hogwarts é um lugar para estudos e não diversões desse tipo? – Vincent perguntou.

- Não! – Rose respondeu de forma simples.

- Quem é você e o que fez com a Rosecreide? Olha, seja lá quem for, eu acho bom devolver minha amiga! Ela pode ser chata, mandona e irritante, mas mesmo assim é minha amiga e eu a aturava daquela forma.

- Vincent, vamos ser sinceros. Quando foi que um dos meus sermões, pararam Chad com suas idéias de festa? Brigar ou me descabelar não vai adiantar nada. Então se eles querem fazer, que façam! Cansei de reclamar por algo que não tem solução. – ela suspirou.

- Algumas coisas são impossíveis de solucionar, Weasley! – Scorpius alfinetou.

Rose, pela primeira vez desde que havia se aproximado, se virou para encará-lo. Scorpius a observava de forma intensa, e ela se sentiu intimidada pela expressão raivosa de seu olhar. Suspirou pesadamente. Não iria revidar a provocação, não iria aguentar uma briga ali.

- Bom, eu vou indo agora! Quanto a festa, Chad, você já sabe o que fazer. – Rose disse levemente desconfortável.

- Tudo isso é medo de me encarar? – Scorpius riu – Não precisa, sabe? É como o Vincent falou, ninguém aqui morde!

- É, eu sei que não! – Rose o encarou, e dessa vez a raiva também era vista em seus olhos – Mas você consegue fazer muito pior que isso! Será que já não chega tudo que aconteceu? Qual o prazer que sente em ficar me provocando o tempo inteiro? – os olhos da ruiva brilhavam, mas ela se negava a deixar que as lágrimas caíssem – Será que não pode simplesmente ignorar minha presença?

- Não! – Scorpius disse – É como eu disse uma vez, Weasley... Eu gosto de te fazer chorar!

- Mas se a fizer chorar agora, vai ter um olho roxo e provavelmente um nariz quebrado! – Vincent se levantou e encarou Scorpius com uma expressão séria – Você pode ser meu amigo, mas não pense que vou ficar ouvindo calado suas maluquices, cara!

- Vincent, é sério, deixa! – Rose se colocou no meio dos dois rapazes, e encarou o amigo com uma expressão agradecida – Obrigada, mas realmente não vale a pena isso, e...

- ROSE! ROSE! – os gritos desesperados de Dominique e Fred ecoaram pelo pátio, e chamaram atenção de todos.

Michael ao ver Dominique se aproximar, abriu um sorriso, pensando na provocação que iria fazer. Mas, ao notar que a menina chorava, todos os pensamentos debochados foram varridos de sua cabeça, e uma sensação estranha de preocupação o tomou.

- Nick, Fred, por que estão gritando? – Rose se virou para os primos – Merlin, por que você tá chorando Nick?

- O... O Louis e a... – ela tentava dizer entre o choro e os soluços.

- Céus, diga alguma coisa Fred! – Rose encarou o primo impaciente.

- O Louis e a Luiza...

- O que há com eles?

- Bom, é que eles...

- FRED, DIGA LOGO O QUE ACONTECEU COM OS DOIS! – Rose gritou sua ordem e rapidamente todos enxergaram nela, a antiga Rose, que costumava ser impaciente e autoritária.

- Eles sumiram! – Dominique conseguiu dizer, depois de respirar fundo – Eu já procurei nos dormitórios, nos banheiros, nas salas, e nada! Eu quero meu irmão de volta! – a pequena loirinha começou a chorar novamente. Fred a abraçou.

Rose respirou fundo, e tentando se controlar, buscou em sua mente algumas opções.

- Já foram até o corujal? – perguntou.

- Sim! – Fred respondeu.

- Estufa?

- Aham!

- Banheiros? Incluindo o da Murta?

- Rose, já procuramos em todos os lugares! – Fred respondeu exasperado.

Rose parou para pensar durante um instante. Sua expressão era aflita e perturbada.

- Certo, me ouçam! – ela encarou os primos, séria – Quero que chamem os outros, dividam-se em duplas e saiam em uma nova busca pelo castelo. Dominique, você que tá mais nervosa vai com o Alvo! Ele vai saber cuidar de você e procurar ao mesmo tempo.

- A culpa foi minha! – a loirinha começou a chorar e correu pra abraçar Rose – Eu disse a ele que toda família já tinha feito algo realmente grande na escola, e que se não fizesse, seria uma espécie de vergonha pros Weasley! – ela soluçou – Eu não tava falando sério!

- Eu sei que não! – a ruiva afagou o cabelo da prima – Me escute, todos nós já recebemos esse tipo de “ameaça da honra Weasley”, e nos metemos em encrenca pra salvar nossa pele! – Rose sorriu, tentando parecer convincente – Nós vamos achá-los e explicá-los que o vovô não vai deserdá-los se forem comportados!

- A Luiza nem é da família, não sei como caiu nessa! – Fred disse, parecendo refletir sobre o assunto.

- Ela só tem 11 anos Fred! Você esperava uma decisão madura? – Rose perdeu o controle. – Ande, vá com a Dominique buscar o Alvo e os outros!

- E você vai procurar em que lugar? – Fred perguntou.

- Vou atrás do Hagrid, pedir para que procure pela floresta! – Rose disse e não conseguiu esconder a preocupação e o medo de sua voz. – E Dominique, pare de arregalar esses olhos azuis antes que saltem pra fora! – ordenou – A parte da floresta é apenas uma suposição!

Os três primos se encararam por um momento, até que Vincent quebrou o silêncio.

- Certo, eu vou procurar pelo campo e pelas estufas! – anunciou – Eles são tão pequenos que vai ver, caíram em um vasinho!

- Nós vamos ajudar também! – Michael e Chad disseram juntos.

- Eu vou procurar nas torres! – Scorpius falou e todos se viraram para encará-lo – Algum problema? A Weasley e eu não estamos juntos, mas isso não impede que eu me preocupe com sua família!

Rose piscou atordoada, até que enfim, encontrou a voz que havia perdido.

- Certo! Então vamos logo. – disse – Dominique e Fred, por favor, tenham cuidado.

- Nós teremos! – Fred falou e rapidamente correu, arrastando a prima pela mão.

Os outros rapazes logo seguiram o mesmo exemplo e correram para procurar.

Assim que todos partiram para procurar, Rose seguiu para cabana de Hagrid. Torcia para que o amigo estivesse lá, pelo menos isso facilitaria seus planos. Não estava muito longe, e correu para alcançá-la mais rápido.

A ruiva parou em frente à porta e começou a bater de forma desesperada. Não conseguia ouvir nada vindo de dentro da casa. Nenhum barulho, nem os latidos típicos do Canino. Hagrid não estava e isso complicava as coisas.

Rose começou a andar desesperada em volta da cabana. Correu até a plantação de abóboras gigantes que Hagrid agora cultivava atrás da casa, e nada. Nem sinal do meio gigante. Ela sabia que o amigo não estava no castelo, pois a pouco voltara de lá e não o vira. Então só havia um lugar para procurar por ele, e estava parada bem em frente.

- Ok, entrar aí foge completamente as regras da escola e provavelmente vai levar uma detenção por isso, mas você precisa Rose! Tem que achar Hagrid! – ela dizia para si, numa voz baixa e nem um pouco confiante – Não há nada demais na floresta... Pelo menos não na parte que você costuma ir com o professor.... Ela não é escura, assombrada e nem causa pânico, então entre! – a voz da jovem era um sussurro quando terminou de falar.

De olhos semicerrados Rose caminhou para orla da floresta, pedindo intimamente que Hagrid aparecesse ali e ela não precisasse ir muito longe.

- Hagrid? – chamou pelo amigo. Agora estava a poucos passos da floresta – Você tá aí? Por favor, diga que sim! – sua voz era agitada.

O silêncio serviu como resposta negativa para pergunta de Rose. Então, a ruiva não via alternativa, a não ser encarar a escuridão a sua frente, procurar pelo amigo e pedir que ele procurasse seus primos.

Rose fechou os olhos com força, tentando controlar o medo, e deu mais um passo a frente. Estava muito perto da floresta agora. Já podia sentir o vento frio vindo do local soprar em seu rosto, causando-lhe arrepios assustadores. Era agora ou nunca. Deu mais um passo em direção a floresta, e gritou ao sentir uma mão puxá-la pra trás.

- Você enlouqueceu? – Scorpius perguntou irritado – Estava tentando se matar ou o que?

- Eu não estava tentando me matar, mas o susto que você me deu quase fez esse trabalho! – ela respondeu no mesmo tom – O que faz aqui?

- Eu é que pergunto isso a você! – esbravejou – Ia mesmo entrar na Floresta sozinha?

- Não é da sua conta! – Rose gritou – Será que pode me deixar sozinha? Se não quer ajudar, também não atrapalha.

- Eu não vou te deixar sozinha aqui, pra que cometa suicídio! Rose, você tem noção do quanto essa floresta é perigosa?

- Sim, eu tenho! Ao contrário de você e dos outros, já li diversas vezes Hogwarts, uma história e sei exatamente o tipo de perigo que a floresta oferece!

Houve um momento de silêncio, em que os dois apenas se encararam. Ambos estavam com raiva, e pareciam concordar que toda aquela gritaria era ridícula.

- Achei que estivesse à procura do Hagrid! – Scorpius disse mais controlado.

- E estava! Era por isso que ia entrar. – ela explicou – Ele não deve estar muito longe daqui.

- Não pode entrar aí Rose!

- Eu posso fazer o que eu quiser! Você não manda em mim. E desde quando voltei a ser só Rose pra você? – ela perguntou, as maçãs de seu rosto estavam vermelhas de raiva.

Scorpius ficou sem fala por um momento. Nem ele havia percebido que estava chamando a ruiva pelo primeiro nome. A raiva e preocupação eram tantas, que ele se esqueceu de manter as formalidades.

- Weasley, sejamos razoáveis! Você não pode entrar na floresta sozinha. E se ficar perdida também? Não se esqueça que aí é escuro, e um local que não tenha pelo menos umas 3 lâmpadas acesas não é convidativo pra você!

Rose o encarou agora de forma superior. Quem Scorpius Hyperion Malfoy achava que era pra subestimar sua capacidade de entrar em locais escuros?

- Para sua informação eu conseguiria me virar muitíssimo bem sozinha! – ela disse, ainda de maneira superior.

- Eu sei que sim! Se vira tão bem, que ia se meter em encrenca se eu não chegasse a tempo! – ele retrucou.

- Malfoy eu realmente não te entendo! Não sei qual é a sua. Uma hora você me detesta, quer me ver pelas costas, grita e diz coisas absurdas. Outra hora você aparece, banca o salvador da pátria e quer me impedir de fazer algo! – Rose o encarou, observando atentamente sua expressão – Eu não significo mais nada pra você, então me deixa em paz e volte pro castelo. Sei me cuidar!

- Não vou deixar você aqui sozinha, Weasley! É capaz de quando eu virar as costas, você se jogar aí dentro!

- E se eu fizer isso, qual o problema? – ela perguntou séria – Não importo mais lembra? “A partir de agora, Weasley, vai ser como se você não existisse pra mim!”, viu? Ainda lembro de suas palavras, Malfoy! Então faça o favor de cumprir a promessa e me deixar em paz!

Scorpius respirou fundo quando ouviu Rose citar uma de suas frases. Aquilo o machucou de uma forma que não imaginava ser possível.

- Não posso cumprir essa promessa, Weasley! – Scorpius sussurrou. Agora seus olhos mostravam toda dor que sentia. E como sempre, Rose enxergava através deles.

- E por que não? – quis saber, sem desviar o olhar.

- Posso ignorar você, tentar não te ver quando você passa, mas... Não posso fingir que você não existe! Não consigo fingir que nunca esteve em minha vida, entende isso? Entende a diferença do tentar fazer e do conseguir? – Scorpius amaldiçoou-se por falar demais, mas agora que havia começado, não via porque parar – Mesmo não querendo, me preocupo com você! Mesmo não querendo eu...

- Chega! – a voz de Rose era cortada pelo choro. – Já é muito difícil aguentar sem ouvir tudo isso, então, por favor, não fala mais! Me deixa aqui sozinha, me deixa em paz! Posso aceitar o fato de não acreditar em mim, mas pára de falar tudo isso!

Movido por um reflexo, Scorpius segurou o rosto da menina entre as mãos e a fez encará-lo.

- Sai de perto de mim, por favor! – a voz dela era rouca e muito baixa. – Vá ajudar os outros a procurarem meus primos... – ela lutou para fazer as lágrimas pararem de cair, mas não conseguiu.

- Se eu te deixar aqui sozinha, vai cometer uma besteira e entrar na floresta! – Scorpius disse, na mesma voz baixa que a menina. Fazia tempo que não ficava tão perto de Rose dessa forma e isso despertara nele, todos os sentimentos que ele lutava pra esquecer.

- Eu... Eu não vou entrar! – Rose prometeu e desviou o olhar daquele mar azul acinzentado que a encarava profundamente.

- E como eu posso saber que vai ficar aqui e esperar Hagrid?

- Eu prometo!

Scorpius analisou a expressão da menina, mas algo lhe dizia que uma promessa vazia não a faria desistir da idéia.

- Malfoy você tem que procurar pelas torres. Os outros acham que está fazendo isso e não vão lá pra conferir seu trabalho! – ela o lembrou – Não vou entrar enquanto Hagrid não aparecer.

- Promete por tudo que você um dia sentiu por mim? – Scorpius sabia que isso era golpe baixo, mas tinha que arriscar, se quisesse ajudar nas buscas.

- Eu...

- Por favor, prometa!

- Prometo! – ela disse e uma fina lágrima escorreu pelo seu rosto.

Scorpius finalmente retirou as mãos do rosto da menina, e se afastou. Com seu coração batendo daquela forma, e as coisas que haviam sido ditas ali, tinha medo de não se controlar e fazer algo de que se arrependeria depois.

- Espere uns 15 minutos. Se Hagrid não aparecer, junte-se aos outros e depois volte aqui para procurá-lo! Me entendeu?

Rose apenas balançou a cabeça, afirmando. Achava que se falasse, sua voz entregaria sua tristeza e mágoa. Já havia se exposto bastante aquele dia.

Scorpius lançou mais um olhar profundo a ruiva, esperando encontrar algum vestígio de mentira sobre a promessa, mas a única coisa que enxergou foi tristeza. Sentiu-se mal com isso, mas se essa era a forma de mantê-la longe do perigo, não se importava tanto.

- Vá procurar pelas torres! Eles são pequenos, podem estar em apuros. – Rose disse, de costas pra ele.

- Certo! Não se esqueça, só entre se Hagrid aparecer.

- Não vou!

- Ótimo! – Scorpius falou e em seguida correu de volta ao castelo. Começaria pela torre de astronomia, que para crianças pequenas e sozinhas podia ser um local bastante perigoso.

Rose, no momento que viu que estava sozinha, caiu de joelhos na neve e cobriu o rosto com as mãos. Como doía ficar tão perto de Scorpius e não poder tocá-lo ou dizer o quanto amava e precisava dele.

Os 15 minutos de espera por Hagrid, na verdade foram de dor e lágrimas. Por alguns instantes ela pensava que não seria capaz de se recuperar da crise que tivera. Precisava se controlar, pois seus primos precisavam dela! Seus primos... Os rostos de Louis e Luiza aparecerem em sua mente, e isso foi o bastante para que ela se colocasse de pé.

O tempo determinado por Scorpius já havia passado, e nem um sinal do amigo gigante. Pensou em voltar, mas isso não lhe pareceu certo, afinal seus primos estavam perdidos e ela tinha que encontrá-los.

“Você prometeu não entrar na floresta!”, sua consciência a alertou, e ela parou no local que estava. De fato, ela havia prometido, mas analisando o contexto da conversa friamente, suas palavras de nada valeram.

- Eu prometi que não entraria em respeito a tudo que eu senti por ele! – Rose disse para si – Coisa que não adiantou, já que em nenhum momento deixei de sentir! – ela suspirou – Desculpe-me Scorpius, mas essa promessa eu não vou cumprir!

Determinada, Rose segurou firme sua varinha e caminhou para negritude da floresta. Não fazia idéia de que tal decisão poderia mudar muito o rumo de sua vida.



***




Alvo e Dominique voltavam pelo terreno da escola, completamente preocupados. O moreno tentava acalmar a prima, que escolhera aquele momento para iniciar uma crise de choro.

- Nick, eles estão bem! Vamos encontrá-los, não se preocupe! – ele abraçou a menina pelos ombros, e podia sentir seu braço “pular” com o excesso de soluços da loira.

- Eu... Eu quero meu... Eu quero meu irmãozinho! – Dominique chorou ainda mais – E se ele não voltar? E se...?

- Shhhhhh – Alvo parou em frente a prima, segurou seus ombros e a encarou profundamente – Me responde uma coisa: você confia em mim?

- Aham! – Dominique balançou a cabeça afirmando.

- Então acredite no que eu falo! Vamos encontrar eles, nem que seja a última coisa que façamos na vida! – ele disse, sem desviar o olhar da prima – Fica calma tá?!

- Sim! – ela respondeu mais confiante, embora as lágrimas ainda escorressem pelo seu rosto.

Alvo sorriu e a abraçou.

- Agora chega de choro e vamos atrás dos pestinhas! – ele secou as lágrimas da prima, a segurou pela mão, e juntos saíram correndo.

Os dois já estavam seguindo caminho para as estufas, quando avistaram duas crianças correndo pela neve.

- São eles, olha lá! – Dominique gritou, e junto com Alvo saiu correndo em direção aos pequenos.

Louis e Luiza, ao verem os dois se aproximando, pararam com um grande sorriso no rosto, para recebê-los e contar sobre sua aventura.

- Meu Merlin, Louis, por onde você andou? – Dominique nem esperou o irmão responder e já o puxou para um abraço apertado.

Alvo seguiu o exemplo da prima e abraçou Luiza tão forte que a tirou do chão.

- Nunca, ouviram bem, NUNCA mais façam isso conosco! – Alvo disse, ainda abraçado a prima.

Luiza que estava no colo de Alvo, apenas olhou para baixo e encarou Louis confusa. Afinal de contas, o que tinham feito de tão grave?

- Eu estava tão preocupada! – Dominique disse, apertando mais o abraço.

- Eu... não... consigo... respirar! – Louis falou e quando a irmã afrouxou o abraço, ele se afastou e a encarou – O que aconteceu?

- O que aconteceu? – Alvo perguntou sério, e se virou pra encarar o primo – Vocês desapareceram! – ele encarou a prima, que estava em seu colo – Posso saber o que a senhorita estava pensando?

- Eu não tava pensando, eu tava seguindo ele, é diferente! – Luiza deu de ombros – Mas a gente não desapareceu! – ela piscou algumas vezes pra tentar entender a situação.

- Tem certeza? – Alvo ergueu uma das sobrancelhas.

- Bom, eu... Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh.... – a compreensão passou pelo rosto da menina – Acho que esquecemos de avisar!

Alvo colocou a prima no chão e a encarou de cima, obrigando assim a menina erguer a cabeça pro alto para olhá-lo.

- Sim, vocês esqueceram de nos avisar! – ele estava sério novamente e sua voz era de uma autoridade que assustava até Dominique, que não tinha nada a ver com a história – Vocês têm noção de como ficamos preocupados? Quase enlouquecemos, pensando que estavam em apuros! – Alvo ralhou – Agora um dos dois, me diga onde estavam! – ordenou.

Louis e Luiza se entreolharam e tornaram a olhar para cima, para encarar Alvo. O moreno continuava com a mesma expressão severa de antes.

- Você pode se abaixar, por favor? Eu tô ficando tonta! – Luiza pediu gentilmente.

Alvo conteve a vontade de rir e se ajoelhou na frente dos dois.

- Comecem! – ele disse.

- Eu estava andando sem rumo pelo castelo. Tava irritado com o Fred e a Dominique por terem dito que eu nunca ia ser um verdadeiro Weasley, já que não tinha feito nada de grande na escola. – Louis começou a explicar – Então decidi que faria algo majestoso, nem que isso me rendesse uma detenção. Caminhei para fora do castelo e comecei a andar em direção a cabana do Hagrid. Se ele não estivesse lá, eu iria entrar na Floresta Proibida, e...

- Espera! – Alvo interrompeu furioso – Você ia entrar lá sozinho?

- Sim!

- Louis Weasley, você tem noção de que se fizesse isso estaria morto agora?

- Eu...

- E que se alguma coisa acontecesse com você, nós iríamos nos culpar pra sempre?

- Bom...

- A Floresta Proibida não recebe esse nome por acaso! Ela é realmente proibida! E juro que se eu ver quaisquer de vocês perto dali, vão se meter em uma encrenca daquelas! – Alvo os ameaçou e ao ver que eles estavam se olhos arregalados, amenizou um pouco sua expressão furiosa – Continue.

- Bom, como eu ia dizendo, fui em direção à cabana do Hagrid, pensando estar sozinho. Mas quando olhei pra trás, vi que a Luiza tava me seguindo. Até tentei convencer ela a voltar, mas como ela não aceitou, contei o que tinha acontecido, e ela disse que entraria nessa comigo.

- Desculpa, eu não sabia que era perigoso! – Luiza disse rapidamente, ao ver que Alvo a observava.

- Certo! – ele disse e encarou Louis.

- Então, como ela disse que viria comigo, caminhos juntos até lá. Estávamos próximos à Floresta, quando ouvimos Hagrid nos chamar. Fomos até ele e explicamos o que tinha acontecido. Ele riu, e disse que não devíamos nos preocupar, porque o vovô nunca iria se sentir mal por não nos metermos em encrenca. Disse que ele se sentiria até honrado por saber que um dos netos havia escapado da escola sem detenção.

- E o que aconteceu depois?

- Ah, essa eu conto! – Luiza disse animada – O Hagrid nos levou para a Floresta. Mas não fomos muito longe.

- E por que foram lá?

- Fomos ver filhotinhos de unicórnio! – a menina disse e seus olhos brilharam – Eles são lindos e reluzentes de tão brancos! Hagrid deixou a gente batizar um dos filhotes.

Diante da empolgação da prima, Alvo não conseguiu se manter sério e sorriu.

- E que nome vocês colocaram? – ele perguntou descontraído.

- A Luiza que colocou! – Louis revirou os olhos – Ela chamou o filhote de Algodão!

- Algodão? – Alvo a encarou curioso.

- É que ele é muito branquinho! – ela explicou e todos riram.

Dominique se abaixou e beijou o rosto do irmão.

- Você, definitivamente, é um Weasley! – ela sorriu – Me desculpe por ter te feito duvidar disso.

- Tudo bem! – Louis sorriu – Nos desculpe por desaparecer e preocupar vocês!

- Nós desculpamos! – Alvo disse e se colocou de pé – Agora procurar os outros e avisar que vocês estão bem, antes que eles tenham um ataque.



***




Começava escurecer e a preocupação aumentava. Luiza e Louis já não eram um problema, pois graças a Merlin, tinham sido encontrados em segurança com Hagrid. Agora, o único problema que os membros da família Weasley e os amigos tinham era encontrar Rose.

Vincent e Scorpius ainda não sabiam do desaparecimento da ruiva e que as crianças haviam aparecido, e por isso, continuavam procurando os pequenos pelo castelo.

- É isso, vamos ter que informar a Diretora! – Alvo concluiu, quando a maioria do grupo estava reunida perto da porta de entrada do castelo.

- Nós devíamos ter feito isso desde quando soubemos do desaparecimento de Louis e Luiza! – Hugo disse, mal contendo a raiva – Se alguma coisa acontecer com a Rose, eu...

- Fica calmo, cara! Nada vai acontecer com ela. Rose é mais esperta do que todos nós juntos, você sabe! – Fred tentou acalmá-lo, coisa que não deu muito certo.

- Papai e tio Rony devem estar a caminho... Hoje temos o Clube dos Duelos! Nem quero imaginar quando ele souber do desaparecimento da Rose, e... – Lily foi interrompida, por um Adam, completamente transtornado.

- Como assim a Rose desapareceu? – quis saber, se intrometendo no grupo, sem pedir licença – Respondam! – gritou.

Alvo, que estava com pouca paciência, se aproximou do rapaz e o encarou com tamanha fúria, que quem presenciasse a cena, poderia jurar que iria bater em Adam.

- Isso não é da sua conta! – disse entre os dentes e respirou fundo.

- Claro que é da minha conta! Não só da minha, mas como dos professores também! – Adam disse no mesmo tom raivoso.

- Ela saiu sozinha para procurar por Louis e Luiza, que haviam desaparecido também, e desde então não a vimos mais! – Dominique explicou e se colocou entre os dois rapazes, na tentativa de separá-los. Isso preocupou Michael.

Adam apenas encarou a menina com certa raiva, se virou e saiu, sem dizer mais nenhuma palavra. Se Rose estava sumida, não cabia a ele discutir com seus primos seu paradeiro. Faria melhor que isso. Ele a procuraria.

Enquanto caminhava decidido pelos terrenos da escola, passou por Scorpius e Vincent. Quis ignorá-los, mas precisava fazer aquela pergunta, para saber onde devia começar a procurar. Fez uma nota mental para lembrar-se de que essa era a primeira e última vez que tentaria ser educado com Scorpius.

- Malfoy! Williams! – Adam os chamou, e eles pararam a meio caminho do castelo – Preciso lhes perguntar uma coisa. – o moreno correu em direção aos dois, que o encaravam com uma expressão suspeita.

- O que quer Krum? – Scorpius perguntou com uma voz arrastada – Até onde eu saiba, seu passatempo é correr atrás das namoradas dos outros, e não dos namorados... Mudou de preferência, foi?!

- Eu até discutiria esse fato com você, mas estou preocupado com algo mais importante! – Adam respirou fundo, tentando se controlar – Digam-me, quando foi a última vez que viram Rose?

- Por que não me surpreende ver você procurar por ela? – Scorpius debochou.

- É uma pergunta simples, e só preciso de uma resposta! Ela desapareceu e quanto mais pessoas estiverem procurando, melhor! – Adam praticamente gritou.

- Como assim ela sumiu? – Scorpius perguntou, sentido-se completamente desorientado – Ela não... Por Merlin, ela foi procurar as crianças com o Hagrid! Não pode ter sumido assim.

Adam ficou confuso por uns instantes e encarou os dois com uma expressão estranha.

- Ela não foi com Hagrid! – disse – Aliás, ele nem a viu!

- Está me dizendo que... Você tá querendo dizer que ela não estava com o Hagrid? - Scorpius sentia seu coração pulsar mais rápido de preocupação e angústia.

- Sim, foi exatamente isso que eu disse! Agora me respondam, quando foi a última vez que a viram? – Adam pressionou.

- Isso não te interessa! Você não tem nada a ver com essa história. – Scorpius gritou.

- É claro que tenho! E é melhor deixar esse orgulho ridículo de lado, se quiser encontrá-la mais rápido!

- Ele tem razão Scorpius! – Vincent se intrometeu, antes que a coisa fugisse do controle – Com a Rose desaparecida não podemos nos dar ao luxo de esconder informações. – ele se virou para Adam – A última vez que vi Rose foi quando ela pediu para nos dividirmos em grupos e sairmos pra procurar Louis e Luiza. Depois ela disse que ia procurar por Hagrid.

- Certo. Obrigado Williams! – Adam respondeu seco e encarou Scorpius, esperando que ele dissesse algo mais sobre a versão do amigo. Mas ao ver que ele não ia responder, resolveu ir embora.

- Eu a deixei próxima a orla da Floresta Proibida mais cedo! – Scorpius disse finalmente – Mas com certeza não fez isso. Não entrou na floresta! Rose tem pânico de escuro, e...

- Floresta Proibida? – Adam perguntou, mal contendo a raiva – Você realmente acredita que um simples medo de escuro ia impedir Rose de entrar naquela maldita floresta e procurar por duas pessoas que ela ama? Eu achei que você a conhecesse!

- Eu a conheço muito bem, não venha dizer coisas de que não sabe! – Scorpius se aproximou perigosamente do moreno.

- Ah claro! Conhece suficientemente bem para saber que tem medo de escuro, mas não para saber que ela ia ignorar esse fato e se arriscar. Por favor, não seja patético! E quer saber? Não vou ficar aqui perdendo tempo com você, preciso agir!

- E o que vai fazer? Gritar por ela e dizer que o grande Adam Krum foi lá para salvá-la? – Scorpius debochou.

- Não! Vou fazer algo que você e esse seu orgulho cego não fizeram. Eu vou entrar na floresta! – Adam cuspiu as últimas palavras e correu. Não podia perder mais um segundo se quer.

Scorpius e Vincent observaram o rapaz se distanciar e em seguida se encararam. Vincent balançou a cabeça e começou a andar em direção ao castelo.

- O que foi agora? – Scorpius perguntou, seguindo o amigo.

- Ele está certo! – o moreno respondeu, sem parar de andar.

- Como assim?

- Scorpius, seu orgulho e sua implicância com Rose passaram dos limites ok?! – Vincent parou e finalmente encarou o amigo – Tudo bem que tenha acontecido algo entre vocês que os fizeram terminar, mas daí a deixar que essa birra ridícula coloque em risco a vida da menina, é demais!

- Acha mesmo que eu quis colocar a vida dela em risco? – Scorpius perguntou revoltado – Eu posso estar magoado, mas nunca, NUNCA, permitiria que algo acontecesse a Rose!

- Não mesmo? Então porque não contou que a viu próxima a floresta? – Vincent retrucou no mesmo tom – Por favor, Scorpius! É óbvio que o medo de escuro não a impediria de entrar.

- Fui atrás dela ok?! – Scorpius gritou – Brigamos e tentei trazê-la de volta, mas ela não quis! Não podia forçá-la. Então depois de um tempo discutindo, a fiz prometer não entrar na floresta... – a voz de Scorpius agora demonstrava toda sua angústia e ficou claro pra Vincent que ele ocultou parte da história.

- E você acreditou que ela cumpriria. – Vincent concluiu, dessa vez mais calmo.

- Sim! – ele admitiu e sentiu seu peito ser rasgado pela dor e agonia. – Eu vou voltar e entrar lá! – Scorpius se virou decidido, mas Vincent o impediu.

- Não cara! Não queremos mais um perdido, não seria sensato e isso atrasaria nas buscas para encontrar Rose! Vamos voltar e contar aos professores. Eles saberão o que fazer! – Vincent praticamente arrastou o amigo de volta ao castelo. E para surpresa de quem o via passar, sua expressão era de alguém sério e irritado.



***




A Floresta Proibida já fora palco de espetáculos sombrios e curiosos. Como se não bastasse as lendas obscuras e assustadoras sobre ela, e todas as criaturas mágicas que lá viviam, a floresta também servira de esconderijo para Voldemort, na batalha de Hogwarts, há anos.

Além de ter uma aparência assombrosa, a floresta também era um local proibido para os alunos. Só haviam permissão de se aproximar dali com a presença de Hagrid, o professor de Trato das Criaturas Mágicas, e mesmo assim eles nunca iam muito longe, por precaução. Até na lista do Sr. Filch, que agora já passava das 1.000 coisas proibidas de fazer e ter na escola, constava a proibição dos passeios pela floresta, e ele sempre alertava que quem fizesse isso teria uma morte cruel e muito dolorosa.

Adam Krum era o único que parecia não ligar para os avisos e as histórias macabras. Pouco lhe importava se ali já fora o esconderijo do maior bruxo das trevas de todos os tempos, ou se criaturas perigosas pudessem saltar na sua frente e tentar arrancar sua cabeça. Se fosse para salvar Rose, estava disposto a morrer.

A escuridão se intensificava a cada passo de Adam. Com a varinha ele tentava iluminar o local, em busca de algum rastro de Rose ou uma trilha que ela pudesse ter seguido, mas a pouca luz que irradiava da ponta de sua varinha não ajudava em quase nada. Ele mal conseguia ver um palmo em sua frente.

Um vento mais frio que o normal soprava pelo local e o moreno se arrependia de não trazer consigo um agasalho. Provavelmente Rose iria precisar.

Caminhou durante mais algum tempo em silêncio, a procura de qualquer pista, mas nada. Já não sabia se tinha escurecido lá fora ou não. Mas isso não fazia diferença, pois tinha certeza que a escuridão não iria piorar.

- Rose? – ele gritou uma vez e sua voz ecoou de uma maneira assustadora – Pode me ouvir? Por favor, se estiver me ouvindo, grite que vou ao seu encontro.

Silêncio. O mais profundo e assombroso silêncio se seguiu depois das palavras do moreno. Ele andou mais um pouco. A preocupação agora gritava dentro de si e seu coração batia num ritmo desconcertante. Precisava encontrá-la de qualquer forma.

- Rose, por favor, se está me escutando, faça um sinal qualquer com a varinha! – ele implorou e observou a escuridão atento.

De repente, um pequeno jato de luz apareceu a metros de distância e Adam não perdeu tempo. Correu em direção ao local, se esquivando de raízes traiçoeiras e galhos espalhados pelo chão.

- Rose? – ele chamou novamente e ouviu um gemido de dor, a poucos passos de distância. Abaixou a varinha para iluminar o chão e o choque atravessou seu rosto de uma forma terrível.

Rose estava caída ali, completamente machucada. Parecia ter levado uma surra de alguém. Tinha certeza que não fora uma criatura que a atacara, pois caso contrário ela estaria morta. Provavelmente fora uma das árvores enfeitiçadas que a atiraram de um lado pro outro, antes de deixá-la cair para morrer.

Adam prendeu a respiração, sentindo-se péssimo. Tinha medo de pegar a menina e feri-la ainda mais. Mas não podia simplesmente ficar ali com ela e esperar que alguém os achasse. Poderia ser tarde demais para ela.

- Rose, você pode me ouvir? – Adam agachou ao lado da menina e tocou seu rosto delicadamente. Ela estava muito fria.

- Dói... – ela disse numa voz tão fraca, que ele precisou se aproximar mais para escutar.

- O que dói?

- Tu... Tudo. – Rose se esforçou para dizer.

- Escuta, eu vou te tirar daqui está bem? Você só precisa aguentar mais um pouco e logo estaremos na escola.

Lentamente Adam pegou a menina no colo e a aninhou em seus braços, de forma protetora. Não se importava com o peso dela. A única coisa que queria era salvá-la.

Rose gemeu de dor com o movimento, e repousou a cabeça no peito do rapaz. Naquela hora não sabia ao certo quem era seu salvador, mas agradeceria a ele de qualquer forma.

- Obrig... – ela não conseguiu terminar, pois logo em seguida desmaiou.

- Rose? – Adam a chamou desesperado – Por favor, aguente! – ele implorou e andou o mais rápido que conseguia para fora dali. Por sorte, desde pequeno seu pai lhe levara em acampamentos e trilhas tão escuras quanto as da floresta, mas obviamente, sem tantos perigos. Isso facilitou para que ele acertasse o caminho de volta.



***




Rony Weasley nunca se sentira tão impotente e fraco. Estava cego com a idéia de que sua filha, sua anãzinha tinha sumido e provavelmente corria perigo na Floresta Proibida. Quis ir ao encontro de Hagrid e dos outros que faziam uma busca pela floresta, mas Harry o impedira. Do jeito em que se encontrava, provavelmente seria mais um perdido e isso não ajudaria.

Obviamente ele não ficou parado. Rony, embora soubesse que todos já tinham feito isso, fez uma busca por toda escola, incluindo a sala precisa, embora soubesse que não adiantaria procurar lá, já que precisaria saber o que a filha desejou que o local se transformasse. Junto com Harry, foi até a passagem secreta que havia próximo ao salgueiro lutador, e que dava acesso a casa dos gritos, mas nada. Nem sinal da ruiva por ali.

Desesperado, Rony voltou ao salão principal, acompanhado do cunhado. Já não conseguia suportar a dor que sentia. Precisava ter sua filha ali, segura e em seus braços. Como contaria a Hermione o que aconteceu? Não teria coragem de olhar na cara da esposa e dizer que a filha havia desaparecido.

O ruivo estava sentado com os braços sobre a mesa e a cabeça apoiada nas mãos. Aquela demora o matava aos poucos e ele acreditava que ficar encarando todos aqueles rostos desesperados, o deixaria mais louco. Rony só ergueu a cabeça para olhar em volta, quando um grito de pânico ecoou pelo Salão.

- ROSE! – Lily apontou para a porta, com as mãos trêmulas.

Adam carregava uma Rose completamente debilitada nos braços e estava cheio de sangue. Agora, na claridade, ele podia perceber a situação horrível que a menina estava. Havia um grave ferimento em sua cabeça, que antes não havia notado.

Scorpius, que estava sentado à mesa da sonserina, tão desesperado quanto os demais, praticamente sufocou ao ver Rose daquele jeito, praticamente morta. Levantou-se e correu em direção à porta, mas não conseguiu se aproximar da menina, já que uma multidão a cercava.

- Saiam da frente! SAIAM! – Rony gritou e rapidamente eles abriram passagem para ele – Céus, o que aconteceu? – perguntou, enquanto retirava a filha dos braços de Adam.

- Eu não sei! – Adam respondeu cansado – Quando a encontrei ela estava caída e desse jeito. Só tive tempo de pegá-la antes que desmaiasse.

- Não importa! Vou levá-la a enfermaria. – Rony disse e partiu carregando Rose em seus braços.

- Você, venha comigo! – Harry encarou Adam – Está machucado também, e depois que Madame Pomfrey atender minha sobrinha, ela precisa dar uma olhada em você.

- Eu estou bem! – Adam disse, sem ter muita certeza – Preocupe-se com ela!

- Não discuta comigo! Ainda sou seu professor e exijo que me siga até a enfermaria. – Harry encerrou o assunto e seguiu com o menino para a porta do Salão. Quando viu seus filhos e sobrinhos fazerem menção de os seguirem, se virou e disse num tom calmo – Agora não. Quando ela terminar os exames e estiver limpa, eu venho chamar vocês.



***




A espera dentro da enfermaria era terrível. Pior ainda, era pra quem estava ao lado de fora, em busca de notícias.

Minerva já havia informado Hermione do ocorrido, e não demorou para que a Castanha aparecesse na escola. Gina acompanhou a cunhada, que parecia estar à beira de um ataque de pânico.

Mas, por incrível que pareça, as reações não eram exageradas. Rose tinha o braço e algumas costelas quebradas. Alguns dos arranhões de seu corpo sumiram no instante que Madame Pomfrey passou uma poção curativa. O ferimento que a ruiva tinha em sua cabeça, entretanto, não se curava.

Médicos do St. Mungus foram levados até a escola para fazer exames na menina. Não se surpreenderam ao ouvirem a explicação de Madame Pomfrey a respeito de alguns ferimentos. A não cicatrização com as poções se devia ao veneno que algumas árvores tinham, e que levariam dias até que as feridas se fechassem. Instruíram a enfermeira a dar alguns remédios e trocar os curativos 3 vezes ao dia.

Como se todas as feridas não fossem suficientes e o estado da ruiva não fosse grave o bastante, os médicos informaram que Rose estava em uma espécie de coma. Não definitivo, o que tranqüilizou um pouco os pais da menina, mas poderia levar algum tempo para que ela acordasse.

As horas de angústia perduraram durante mais algum tempo, até que pouco a pouco a enfermaria foi se esvaziando. Minerva ordenou que todos os monitores levassem os alunos para suas respectivas casas, e alertou que se visse alguém vagando pelos corredores, receberia uma punição gravíssima.

Ninguém ousou contradizer as ordens da diretora, e rapidamente os corredores ficaram vazios. Adam, depois de ser atendido pela enfermeira, foi acompanhado até sua Casa pela própria Minerva.

E assim, o horror foi dando lugar ao alívio. É claro que não alívio completo, já que Rose se encontrava desacordada em um dos leitos da enfermaria, mas ainda assim, saber que agora ela estava segura confortava todos.



***




Scorpius estava certo que se fosse pego àquela hora caminhando pelo castelo seria punido e sua Casa perderia muitos pontos. “Você só vai chegar à porta da enfermaria, dar uma olhada rápida e sair. Afinal, ela está lá por sua culpa! Você não deveria ter deixado ela sozinha.” ele se ordenou mentalmente, e com um suspiro profundo continuou seu caminho. Passava das 2 da manhã e ele tinha absoluta certeza de que Madame Pomfrey, sempre dava umas escapulidas de madrugada para fazer um lanchinho.

Sua teoria do lanche e da enfermaria vazia se confirmou quando ele chegou ao local. Como havia previsto a velha enfermeira não estava. Um pouco mais feliz e seguro, o loiro caminhou até o fundo da grande sala, onde havia uma cama, escondida por trás de uma cortina. Lentamente, levantou a cortina e passou, sentando-se em uma cadeira que havia sido posta ao lado da cama.

- Me perdoe, Rose! – disse ele num sussurro – Eu não deveria estar aqui, mas não conseguiria dormir sem saber como estava. – ele parou, pensando ter ouvido alguém se aproximar e respirou aliviado quando percebeu que era apenas o ruído de sua própria cadeira – Você também não deveria estar aqui. Mas fui muito idiota deixando você entrar na floresta sozinha... Se acontecesse alguma coisa, eu... – ele parou novamente, mal conseguindo pensar na possibilidade de Rose ainda mais ferida ou então algo pior.

Com cuidado, Scorpius ergueu a mão e tocou a de Rose, que ainda tinha alguns arranhões. Ainda com cuidado, ele passou a mão pelo braço frágil da garota, tocou seu pescoço e finalmente, seu rosto. A ruiva tinha um grande curativo na testa, graças a uma batida que sofreu na cabeça.

Scorpius se levantou para encará-la melhor. Em toda sua vida, nunca tinha visto a menina mais frágil que naquele momento. Tão pálida, tão machucada, tão... sem vida. Sentiu seu coração apertar no instante que a encarou. Rose deitada ali parecia mais uma estátua de cera do que uma pessoa.

- Você era pra ser minha... – sussurrou novamente – Se você pudesse sentir... – Scorpius respirou fundo, sentindo sua garganta dar um nó com aquelas palavras – Você se tornou uma espécie de assombração na minha mente, sabia? Quando fecho meus olhos vejo os seus! Eu tento fugir, mas quanto mais me esforço, mais você insiste aparecer... Seu sorriso... Seu maldito e encantador sorriso não sai da minha cabeça, o som da sua voz me perturba toda noite! E eu me pergunto quando eu vou esquecer isso? Quando você não vai mais aparecer e me deixar viver? Mas aí as lembranças tornam a vir, respondendo que nunca, nunca vou conseguir esquecer! – os olhos de Scorpius ardiam. Em um mês, nunca disse nada do que sentia, nada do que aconteceu entre Rose e ele... Se manteve calado e guardou a dor para si de tal maneira, que às vezes pensava que não era capaz de sentir mais nada.

Estava enganado.

- Lembra da nossa primeira viagem em família? – embora soubesse que Rose não iria responder, continuou falando – Foi uma das melhores que fiz em minha vida! Eu te disse isso não foi? Deixamos nossos pais loucos e nos divertimos bastante. – deu uma risada baixa.





Flashback



- Rose! – Hermione gritou a filha, parada no final da escada – Filha, está me ouvindo?

- Sim mamãe! – a menina respondeu – Já vou descer!

- Certo, mas não demore! Quero te mostrar algo. – Hermione falou e seguiu para sala de estar.

No andar de cima, Rose apressou-se para colocar seus livros no lugar. Como sempre, para passar seu tempo, estava lendo. Todas as tarefas passadas para serem feitas durante as férias já estavam prontas.

A ruiva parou em frente ao espelho, para conferir seu cabelo. Suspirou ao ver que estava um pouco bagunçado, e rapidamente fez um rabo de cavalo. Se Hermione a visse com os cabelos despenteados, sem dúvida levaria uma bronca.

Assim que terminou, a pequena ruiva desceu as escadas de dois em dois degraus, foi à cozinha procurar a mãe. Torcia intimamente para que Hermione não tivesse tentado nenhuma experiência nova com culinária. Não que a castanha fosse péssima cozinheira, mas pratos requintados não eram seu ponto forte.

- Mamãe? – ela chamou, ao ver que a castanha não se encontrava no local.

- Estou na sala querida! – Hermione respondeu, com a voz suave.

Aliviada, Rose correu para o aposento, e parou feito uma estátua ao ver que a mãe não estava sozinha. Sentado, na poltrona próxima a TV, estava Scorpius. Sem pensar duas vezes, ela correu de encontrou ao loiro e o abraçou forte.

- Achei que estivesse visitando sua tia! – ela disse, assim que se soltou do abraço.

- E estava! Cheguei ontem à noite. – explicou. – Mas hoje mesmo vou viajar de novo! – Scorpius disse e em seguida suspirou.

A alegria de Rose logo se esvaiu ao ouvir as palavras do namorado. Esperava, ao menos, passar alguns dias com ele nas férias, mas pelo visto, sua família gostava tanto de viajar que era praticamente uma ofensa passar uma semana no país.

Ao ver a expressão da ruiva, Scorpius não conseguiu segurar uma risada. Deu um passo em frente e acariciou a face da menina. Enquanto estava na casa do sogro, ele tentava ao máximo, manter pouco contato físico com a menina. Os olhares significativos de Rony eram um aviso claro, de que se ousasse ultrapassar qualquer limite que não fosse mãos dadas e rápidos abraços, Scorpius seria atirado pela porta da frente a base de pontapés.

- Por que você tem que viajar hoje? – Rose perguntou levemente emburrada.

- Porque se eu não viajar hoje, é provável que algum engraçadinho dê em cima de você durante os passeios na praia! – ele explicou sorrindo.

- Ahn? Agora você me confundiu! – Rose o encarou.

- Ahhhh, não te disseram?

- Disseram o que?

- O motivo deu ter que viajar hoje?

- Não!

- Bom, é bem simples! Vou viajar, porque você também vai! – ele sorriu – Aparentemente, essa é nossa primeira viagem em família!

Novamente um sorriso apareceu no rosto da ruiva, que não conseguiu se conter e pulou alegremente com a notícia.

- Por que ninguém me contou nada?

- Porque era pra ser uma surpresa! – Hermione, que havia saído da sala para dar privacidade ao casal, agora voltara carregando uma bandeja com suco e biscoitos – Seu pai, Harry e Draco combinaram tudo, e hoje nós viajaremos juntos. E espero, pelo amor de Merlin, que se comportem!

- Mamãe, nós sempre nos comportamos nas viagens! – Rose protestou.

- Ah meu bem, eu sei! Me referi a seu pai, Harry e Draco juntos!

Os três riram.

- Papai vai se comportar, tenho certeza! Minha mãe já fez um daqueles discursos magníficos do que essa viagem em família significa, e creio que pela quantidade de vezes que ele revirou os olhos e disse “aham”, não está disposto a ouvir toda ladainha novamente! – Scorpius brincou.

- Mamãe com certeza será mais... Han... Enérgica!

- O que a senhora vai fazer? Brigar com ele?

- Não! – Hermione respondeu sorrindo – Eu vou gritar e ameaçá-lo com uma azaração, caso ele pense em aprontar.

Novamente eles riram. Scorpius e Rose se sentaram e foram comer o lanche que Hermione trouxera. A castanha, por sua vez, voltou para cozinha na intenção de preparar algo para jantar.

Enquanto comiam, Scorpius contava como havia sido as duas últimas semanas na casa de sua tia. Assim que terminaram, ele ajudou a ruiva a levar a bandeja e os copos para cozinha, e Rose avisou a mãe que iria andar pelo bairro, mas que voltaria antes do jantar.

Os dois já estavam no jardim, quando uma voz, um pouco infantil, chamou por Rose, do outro lado da rua. Era Emily, sua vizinha, e estava acompanhada pelo irmão John.

- Hey Rose! – a garota chamou, acenando – Não te vi hoje, tudo bem?

- Oi Emy! Eu estava estudando. Tudo bem sim e você? – Rose sorriu para menina – Hey John! – ela acenou para o garoto – Esse é Scorpius, meu...

- Namorado! – Scorpius se adiantou e cumprimentou os dois, encarando brevemente o irmão da garota – Prazer em conhecer vocês!

- O prazer é nosso! – John respondeu.

- E o Alvo, onde está? – Emily perguntou subitamente, e Rose precisou se controlar pra não cair na risada.

- Está na casa dele!

- Por quê?

- Talvez porque ele more lá! – Rose riu – Mas é provável que ele venha jantar aqui hoje!

- Ah, que bom! – Emily sorriu – Estou com saudades dele!

- Eu sei que está! – novamente a ruiva precisou se controlar para não rir. Definitivamente, Alvo estava ganhando fãs muito rápido, e ela precisava alertar ao primo para não ficar iludindo suas vizinhas.

- Espera, eu perdi alguma coisa? – John se intrometeu – Desde quando se preocupa tanto com Alvo?

- Isso não é da sua conta! – Emily se virou para encarar o irmão.

- É da minha conta sim!

Rose e Scorpius se entreolharam. Era óbvio que uma discussão familiar começaria e eles não queriam presenciar. Murmuraram rapidamente um “tchau, a gente se vê!” e praticamente correram para longe dos irmãos que ainda discutiam o súbito interesse da menina por Alvo.

Andaram pelo bairro, até chegarem a um parquinho, onde compraram sorvete e se sentaram em nos balanços que haviam.

- O que está pensando? – Scorpius perguntou ao ver a menina com um olhar vago, encarando o nada.

- Em como vamos viajar! Se via flu ou por aparatação! – respondeu.

- Ahhh... Nem um, nem outro! Nós vamos voar!

- O QUE? – Rose arregalou os olhos e encarou o namorado, chocada – Eu não vou em uma vassoura, nem que me paguem pra isso! Fico aqui, obrigada! Divirtam-se na viagem!

Scorpius gargalhou, diante da reação da ruiva, e se levantou, ficando em pé na sua frente. Segurou as correntes do balanço e a encarou.

- Amor da minha vida, em que momento eu disse que nós iríamos em uma vassoura?

- Bom... Nenhum, mas...

- Quando foi que eu permiti que fizessem algo que te deixasse em pânico?

- Nunca, é que...

- Então, não há porque ter medo da viagem, há?

- Não, é só...

- Nós vamos de avião, e se algo acontecer, temos bruxos maiores de idade suficientes para nos salvar e de quebra, salvar todo o restante dos passageiros! – ele disse numa voz calma, e esperou pacientemente Rose absorver a informação – Tá vendo, se você tivesse me deixado falar antes, não teria um ataque de pânico! – brincou, ao ver que ela estava mais relaxada.

Rose concordou, balançando a cabeça, e logo o encarou, dessa vez curiosa.

- O que foi dessa vez?

- Como seu pai foi convencido a viajar de avião? – Rose perguntou incrédula.

Scorpius ergueu uma das sobrancelhas e refletiu, antes de responder.

- Sabe, meu pai não é esse ser inflexível que aparenta ser! – ele comentou sério.

- Desculpa, eu não quis dizer isso, é que...

- Ele é pior que isso! – Scorpius riu – Falando sério, nem foi difícil! Ouvi seu tio Harry comentando com ele esses dias, e quando foi pedir opinião a minha mãe, ela simplesmente adorou! Então, meu pai concordou, sem fazer drama.

Dessa vez quem riu foi Rose. Se seu sogro não faria drama, era melhor alertá-lo sobre o que seu pai faria em pleno aeroporto.

- Sabe, espero que esteja preparado pra rir quando chegarmos ao aeroporto...

- Por quê?



***




- Eu não vou passar por aí! – Rony disse sério. Estava parado em frente à entrada do aeroporto e recusava-se a passar por ela.

- Rony, pelo amor de Merlin, é só uma porta!

- Uma porta? Só uma porta? Por Céus, Mione! Essa porta abre sozinha, e sem mágica! Isso não é uma porta, é um produto possuído! – Rony gesticulou em direção a porta. Várias pessoas que passavam pelo local, o encaravam curiosos, mas ele nem ligava.

Rose, Scorpius, Tiago, Alvo, Hugo e Lily, estavam parados um pouco atrás dos adultos, que tentavam, sem sucesso, convencer Rony de que a porta não era possuída.

- Ele sempre dá esses chiliques! – Hugo revirou os olhos.

- Foi a mesma coisa no shopping, quando ele se espantou com a escada rolante. – Rose concordou.

- Adoro o tio Rony! – Tiago disse de repente – Ele sempre nos faz pagar esses micos quando viajamos!

- Um dia o papai acostuma! – Rose disse rindo.

- Enquanto isso, nós fazemos o que? – Scorpius quis saber. Tentava a todo custo, não rir de seu sogro.

- Vocês eu não sei, mas eu vou passar por aquela porta! – Alvo disse – Quem quiser, me siga!

Alvo rumou em direção à porta, parando apenas para encarar o tio, que parecia estar prestes a ter um filho, quando o viu perto daquele objeto possuído.

- Rose e Hugo, fiquem longe desse objeto! – Rony falou.

- Papai, é só uma porta!

- Uma porta do demônio!

- Demônio você vai ver, se não parar de frescura, cabeça de fósforo! – Draco disse irritado – Vamos todos, e deixem o projeto de cenoura aí! Quando voltarmos da viagem o pegamos.

Draco e todos os outros passaram pela porta, e encararam Rony, já dentro do aeroporto. Irritado, o ruivo se aproximou um pouco mais da porta, e quando ela se abriu, deu um pulo pra dentro, assustado.

- Esses trouxas, definitivamente precisam parar de inventar essas coisas! Eu realmente não os entendo, não os entendo mesmo! – Rony resmungou, enquanto acompanhava a família e os amigos em direção a escada rolante – Ah não, mais maluquices!

- Qual é papai! Você já enfrentou uma dessas, quando fomos ao shopping! – Rose disse.

- Sim, eu já enfrentei!

- Então prove que ainda é meu herói e suba na escada, sem fazer objeções! – Rose encarou o pai, e sorriu.

Rony encarou a filha por alguns instantes, até que por fim, decidiu prová-la que não era um medroso por completo. Afinal, que mal uma escada que subia sozinha e perdia os degraus quando chegava ao topo podia fazer? Nenhum! E se porventura tentasse, ele tinha uma varinha, não tinha? Só isso bastava para defender sua família!

Os outros apenas riram e seguiram o ruivo. Já estavam em cima da hora pra embarcar, e tudo isso graças aos ataques de Rony.



***




“Ok, nada de pânico, nada de desespero, esse avião é completamente seguro e seu medo de altura não deve falar mais alto!”, Rose pensava, completamente desesperada. Estava sentada ao lado da janela, e nem ousava a olhar por trás da cortina.

Scorpius, que depois de muito custo conseguiu a permissão de Rony para viajar ao lado de sua filha, encarava a ruiva com certa curiosidade. Eles nem haviam decolado e ela já estava de olhos fechados e com uma expressão horrorizada. Discretamente, ele chamou Alvo, que estava sentado a sua frente.

- Fala! – Alvo se virou para trás e encarou o loiro.

- O que ela tem? – Scorpius sussurrou e apontou para menina.

- O que você acha? É medo de altura! – Alvo respondeu divertido – Espera, eu dou um jeito nisso!

Como o avião ainda não havia decolado, Alvo se ajoelhou na poltrona e esticou o braço para segurar a mão da ruiva, que estava cerrada em punhos. Lentamente, Rose abriu os olhos e encarou o primo, que tinha os grandes olhos cor de esmeralda, a observando atentamente.

- Hei, não vai acontecer nada! – Alvo sorriu pra menina – É sério, nossos pais estão sentados logo ali atrás e duvido muito que algo aconteça com eles por perto!

- Acho que vou ter uma crise de pânico! – Rose disse assustada.

- Sem essa vai! Da última vez você se trancou no banheiro e se recusou a sair de lá enquanto o avião não estivesse no chão!

- E daí? Foi uma decisão sensata!

- E daí que a gente ainda nem tinha decolado, e tecnicamente estávamos no chão!

Scorpius, que até então observava a cena calado, não conseguiu se conter e caiu na gargalhada. Rose, sem dúvidas, era a Grifinória mais medrosa que ele conhecia.

- Amor, é sério, tudo isso é medo de altura? – Scorpius a encarou.

- Não! Tudo isso é pânico de altura! Vocês já repararam como é assustador estar no alto de algum lugar e olhar pra baixo? – Rose encarou o namorado e depois o primo, com uma expressão chocada.

- Não! – eles responderam juntos.

- Mas é horrível! A gente olha pra baixo e não vê nada além de pontinhos. Isso é incrivelmente... assustador! – ela disse histérica.

- Isso é completamente divertido! – Alvo disse, se lembrando da sensação de voar em sua vassoura – Rose, não precisa ficar assim!

- E quer que eu fique como? – ela perguntou.

- Calma! – ele respondeu como se fosse o óbvio – Respira vai!

- Não me mande respirar! – ela brigou com o primo.

- Ok, então faz o seguinte. Puxa o ar pra dentro dos pulmões e solta! – Alvo brincou – Ar puro entra, ar sujo sai! – ele viu a prima o encarar com uma expressão assassina e riu – Que foi? Tecnicamente eu não te mandei respirar!

Scorpius riu e encarou a menina, cuidadosamente. Sem saber o motivo exato, quando Rose encontrou com seu olhar intenso, sentiu uma calma inexplicável.

- Hei, vai ficar tudo bem! – Scorpius disse tranquilamente, ainda a encarando – Você só tem que se acalmar!

- Mas...

- Confia em mim! – ele estendeu a mão para que ela segurasse e sorriu para menina.

Rose sorriu de volta e pela primeira vez o medo de altura foi expulso e substituído pela mais completa segurança.



***




- Você não vai sair assim! – Rony esbravejou, ao ver a filha vestindo um short e com a parte de cima de um biquíni – Isso é completamente indecente!

- Rony, por Merlin! Pare de bobagem agora! – Hermione disse num tom autoritário – Eu quem comprei o biquíni pra Rose, e não vejo nada de indecente nele.

- Não vê? – Rony deu dois passos longos e parou ao lado da filha, que observava tudo com uma expressão tediosa – Olhe, ela está com a barriga de fora! – ele segurou os ombros da Rose e a fez girar, para que Hermione a visse melhor – E esse short é curto demais!

- Papai, o short está quase no meu joelho! – Rose disse pausadamente.

- Coloque calças, e uma blusa! – ele ordenou.

Rose, irritada, bateu os pés e caminhou para o guarda roupa.

- Rose, fique onde está e com a roupa que está! – Hermione ordenou e a menina parou de imediato.

- Não! Troque de roupa! – Rony disse.

Rose deu um passo à frente.

- Fique com a roupa!

Rose voltou.

- Troque!

Rose foi.

- Fique!

Rose voltou

- Troque!

- AHHHHHHHHHH JÁ CHEGA! – a menina gritou – Vocês dois estão cansando minha beleza ruiva! E querem saber? Fiquem aí brigando enquanto o Hugo e eu vamos encontrar com os outros pra irmos à praia! – Rose anunciou, pegou a bolsa e saiu do quarto com o irmão.

Hermione e Rony ficaram parados, apenas olhando o ponto em que a filha estava.

- O que foi que deu nela? – Hermione perguntou por fim.

- Não sei! – Rony respondeu chocado.



***




Rose e Scorpius caminhavam pela praia de mãos dadas, obviamente com a permissão de seus pais. O loiro ainda ouvia em sua mente a voz clara e ameaçadora de Rony, informando que qualquer comportamento suspeito seria fatal para o relacionamento deles. No início o rapaz pensou que seu sogro estivesse brincando, mas ao ver os grandes olhos azuis do homem faiscarem, compreendeu que aquilo era realmente uma ameaça.

- Então, por que você demorou tanto pra aparecer? – Scorpius perguntou descontraído.

- O papai teve certos problemas com minha roupa. Resumidamente ele disse que minha roupa era inadequada para uma menina de 14 anos e que estou indecente!

- Bom... Preciso concordar com meu sogro! – Scorpius disse sério e pelo canto do olho observou a expressão da menina se tornar irritada.

- O que você quer dizer com “concordar com seu sogro”? – ela parou de imediato, colocou as mãos na cintura e encarou o menino esperando uma resposta.

Scorpius riu.

- É que... Olhe pra você! – ele apontou para ela – Está irresistivelmente linda! E é impossível impedir que outros caras te admirem, vestindo apenas isso.

- Ah, por favor! Queria que eu usasse o que? Calça e casaco? – Rose revirou os olhos.

- Seria uma boa idéia! Na verdade, eu vou à loja do hotel ver se tem roupas assim do seu tamanho.

- Ouse a dar um passo para longe daqui, Scorpius Malfoy, e vai saber do que eu sou capaz! – ela disse séria.

- Ok, agora eu fiquei com medo! – ele disse se encolhendo e depois riu.

- Você está muito ocupado para fazer compras! – Rose deu um passo para frente, se aproximando mais do loiro.

- Estou é? – ele sorriu maroto – Posso saber o que tô fazendo?

- Claro! Você está me beijando.

- Bom, eu nã...

Rose interrompeu a frase do rapaz, quando se jogou em seus braços e o beijou na frente de quem quisesse ver.

Scorpius, esquecendo-se completamente dos avisos de Rony, envolveu os braços pela cintura da menina, a ergueu do chão e a girou no ar, sem deixar de beijá-la.

O sol já estava se pondo, e aquela cena dos dois era digna de um filme romântico. Algumas pessoas até pararam pra admirar o amor dos dois, que apesar de jovens, já demonstravam o quanto estavam apaixonados.

- Eu te amo! – Rose disse sorrindo, e acariciando o rosto do loiro.

- Não como eu te amo! – ele disse e novamente a beijou.


Fim do flashback





Scorpius deu mais uma risada baixa e a encarou.

- Eu não queria que terminasse assim... Na verdade, não queria que terminasse nunca! – desabafou – Mas você escapou de mim tão fácil... Tão... – ele balançou a cabeça – Se não tivesse feito aquilo Rose... Se você não tivesse me traído daquela forma...





Flashback



Scorpius voltava de sua detenção, completamente exausto. Agradecia a Merlin por aquele ser seu último dia de castigo, e prometera para si que não importa o que acontecesse, nunca mais travaria uma discussão na aula de Transfiguração. Graças a seu comportamento explosivo, fora obrigado a passar a semana organizando os arquivos dos alunos que já passaram por detenções. Não se surpreendeu ao encontrar uma ficha do seu próprio pai.

Agora ele caminhava pelo corredor, com seu relatório na mão. A Diretora o informara que no último dia de detenção deveria entregar a Monitora Chefe o relatório de todos os arquivos que organizou.

Scorpius parou em frente à porta do quarto de Rose, e bateu algumas vezes, esperando resposta. Era tarde, e não se surpreenderia que ela tivesse caído no sono em cima de algum livro. Riu ao imaginar a cena. Somente Rose era capaz de cometer essas insanidades.

Sem obter resposta, Scorpius girou a maçaneta da porta, que para sua surpresa estava aberta.

Entrou no aposento e observou em volta. Apesar dos livros e pergaminhos espalhados sobre a mesa, Rose não estava lá. Provavelmente estava deitada em seu quarto e havia deixado pra arrumar aquilo depois.

- Weasley? – Scorpius chamou uma vez, com um dos pés na escada. – Wesley, tá por aqui? – perguntou novamente.

Como a ruiva não respondeu, tomou liberdade de subir as escadas e procurar por ela em seu quarto.

Já no segundo andar, ele parou em frente à porta do quarto da menina. Estava entreaberta. Bateu uma vez, e como ela não respondeu, decidiu entrar para ver se estava tudo bem. Sabia que Rose tinha um sono pesado, mas a ponto de não ouvir seu chamado era demais.

- Rose, você tá... – Scorpius parou, completamente chocado. Estava vendo bem, ou aquela deitada na cama, completamente a vontade, junto com Adam Krum era mesmo Rose Weasley?

Adam, que parecia sonolento, fingiu surpresa ao ver Scorpius parado em frente a cama da ruiva. Para provocar, ele ainda beijou a testa da menina, que estava adormecida, e acariciou seus longos cabelos.

- Você quer alguma coisa? – ele sussurrou, tentando não acordá-la.

- Mas o que é isso? – a voz de Scorpius saiu mais alta do que ele pretendia.

- Shhhhh... Fale baixo, assim vai acordá-la! E cá entre nós, seria muito constrangedora essa cena... – Adam ironizou.

O maxilar de Scorpius estava travado numa raiva contida. Ordenou-se mentalmente a não fazer nenhuma burrice, gritava para si que precisava ficar calmo. Respirando fundo, Scorpius jogou o relatório sobre a escrivaninha de Rose e saiu do local o mais rápido que pôde.

Exagero ou não, Scorpius podia jurar que enxergava tudo vermelho, de tanto ódio que sentia. Correu para seu quarto e bateu a porta com uma violência desnecessária. Rapidamente, sacou sua varinha e lançou um feitiço sobre o local. Precisaria de privacidade se quisesse extrapolar sua raiva. Feito isso, ele caminhou até a mesa, e com um movimento rápido, jogou tudo que estava ali no chão. Copos, garrafa, pratos... Tudo agora jazia no piso de seu quarto.

Rose havia o machucado da pior forma que poderia. Não havia nem uma semana que os dois tinham terminado, e já estava com outro na... Ele se recusou a pensar em tal coisa. Imaginar qualquer outro que não fosse ele, tocando e acariciando a menina era uma dor maior do que seria capaz de suportar.

Lágrimas involuntárias e cheias de ódio escorriam pelo seu rosto. Como se odiava por amar alguém que jogou fora tão rápido algo tão especial...

Rose, a única mulher de sua vida, a única que ele amou no instante em que seus olhos a encontraram, agora já não era mais sua...

Um grito de dor, mágoa e frustração ecoou pelas paredes daquele quarto. Não havia mais nada que ele pudesse fazer pra se livrar daquela sensação de perda. Seu coração já parecia não bater, sua vida que já estava perdida, agora parecia nunca ter existido.

Scorpius caminhou até o espelho e encarou seu reflexo. Não se assustou ao enxergar ali a forma exata do ódio. Sorriu. Mas esse não era um sorriso comum, que expressava algo bom. Era um sorriso perverso e mau.

- Essa foi a última vez que você amou, Malfoy! – ele disse, ainda encarando seu reflexo – Chegou a hora de você mostrar seu outro lado...


Fim do flashback





- E depois disso tudo, eu ainda não consigo te esquecer! – ele disse e finalmente saiu da enfermaria.



***




Duas semanas depois...

A claridade que invadia o quarto era tanta que Rose se viu incomodada. Abriu os olhos, e levou alguns segundos para se recuperar do choque, ao perceber que não estava em seu quarto. Olhou em volta, e com certa dificuldade percebeu que estava na enfermaria da escola.

- Mas o que eu estou...? – ela murmurou, mas logo se calou em pânico ao ver que tinha uma agulha enfiava em seu braço, provavelmente lhe enviando soro ou algum tipo de poção para sua provável “doença”. Quis gritar, mas não encontrava sua voz em meio ao choque. – Madame... Madame Pomfrey? – ela chamou numa voz fraca, e se surpreendeu ao ver que quem se aproximou dela não foi a velha enfermeira.

- Rose? – Adam indagou e correu para o leito da menina – Graças a Merlin você acordou! – ele sorriu radiante e se sentou ao lado da cama dela – Como você está? Como se sente? Quer que eu chame alguém? Vou trazer a Madame Pomf...

- Adam, por favor, se acalma! – Rose o interrompeu, completamente confusa – Não precisa chamar ninguém, eu tô bem... Quero dizer, eu acho! – ela olhou novamente para seu braço – O que aconteceu? Por que estou aqui?

Adam avaliou a expressão da menina com um misto de choque e confusão. Será que era possível, depois de tudo que aconteceu, ela realmente não se lembrar do motivo que estava ali? Não. Devia ser uma confusão passageira, mas ele explicaria bem devagar, por via das dúvidas.

- Adam? Por Merlin, me responda! – Rose interrompeu seus devaneios, impaciente.

- Desculpe... – o moreno sacudiu a cabeça – Você realmente não sabe o que aconteceu?

- Bom... – ela fez um esforço para se lembrar do que exatamente acontecera. Lembrou-se do desespero de Dominique, da briga com Scorpius, da procura por Hagrid e... – A floresta! – ela disse, como se estivesse sufocando – Céus, o que aconteceu lá? Onde estão Louis e Luiza?

- Eles estão bem, se acalme! Quanto à floresta, ninguém sabe direito. Quando encontraram você estava meio inconsciente, caída no chão, completamente machucada e com um ferimento horrível na cabeça! – Adam contou, omitindo o fato de que fora ele que a encontrara.

Instantaneamente Rose ergueu a mão e tocou sua cabeça. Não se surpreendeu ao sentir uma faixa enorme na testa.

- Ontem deve ter sido um dia agitado por aqui... – ela começou a dizer.

- Ontem? – Adam perguntou confuso.

- Sim! Não foi ontem que eu tive a magnífica idéia de me meter na floresta? – Rose o encarou – Não foi, Adam?

- Bom...

- Adam, por quanto tempo eu estive inconsciente? – quis saber.

- Por alguns dias, mas...

- Quanto tempo Adam? Não minta! – pressionou.

- Duas semanas e alguns dias! – Adam disse, e observou a expressão da menina.

- Ah não... – Rose disse triste – Mamãe vai querer me matar!

Adam riu.

- Eu não acredito! Você passa dias inconsciente, e quando acorda fica preocupada que alguém vá querer sua cabeça por isso! – ele balançou a cabeça – Só você mesmo Rose, só você mesmo!

Rose riu também, mas logo ficou séria.

- O que você foi fazer lá? – ela perguntou.

- Lá aonde?

- Adam, não me encontraram. Você quem me encontrou e me salvou! – ela o acusou – Quero saber o motivo!

Adam refletiu alguns instantes antes de responder. É claro que sabia o porquê de tê-la salvo, mas não queria assustá-la dizendo que havia feito isso porque estava completamente apaixonado. Não. Ele precisava ser cuidadoso, afinal de contas, Rose não estava em condições de discutir, e uma resposta assim com certeza despertaria esse desejo na menina.

- Me preocupo com você... Tá, eu sei que fiz coisas erradas e você ainda está com raiva de mim, mas mesmo assim não podia ficar parado esperando que você retornasse, e...

- Obrigada! – Rose agradeceu de forma sincera – Se não fosse você, eu estaria morta!

- Ah, não vamos exagerar! Você ia sair de lá, com ou sem minha ajuda.

- Provavelmente, mas sem sua ajuda as chances de sair viva seriam mínimas. – Rose sorriu – Acho que lhe devo minha vida!

- Bom, eu não sou o tipo de cara que gosta de cobrar coisas, então você não me deve nada! – ele também sorriu, esperando parecer simpático.

- Ah, devo sim! Vamos, diga-me o que quer em troca?

- Hum... Já que insiste, acho que a única coisa que eu quero em troca é seu perdão. – Adam a encarou, agora estava sério – Olha Rose, sei que compliquei as coisas pra você e passei dos limites, mas gostaria que soubesse que estou arrependido e...

- Adam, esquece isso ok?! Com ou sem você, ele teria arrumado uma forma de me deixar... Você só... Só adiantou um pouco as coisas. – Rose suspirou. Desde que terminara com Scorpius tentava, ao máximo, não pensar na última vez que conversaram.

Adam, por sua vez, lutou para se manter sério. É claro que estava preocupado com o estado de Rose, mas isso não o impedia de sentir uma alegria tremenda ao saber que tirara Scorpius de seu caminho, e que agora poderia começar seu jogo da melhor forma. Queria Rose, e não iria desistir disso.

- Bom... Isso quer dizer que estou perdoado? – Adam perguntou incerto.

- É claro! – ela tornou a sorrir, embora seus olhos fossem tristes – Você salvou minha vida, tecnicamente, eu é que deveria lhe pedir perdão por ter feito você arriscar a sua.

Os dois riram.

- Uau, isso tudo é pra mim? – Rose perguntou, apontando para o monte de flores, caixas e cartões, espalhados na cama ao lado.

- Parece que sim! Sabe, você é mais popular do que imagina. Todos ficaram muito preocupados, e resolveram compensar isso lhe enviando coisas. Teria mais doce aqui, se seu irmão e seu pai não tivessem passado um tempo com você... Ouvi sua mãe brigar com ele por comer sozinho duas caixas de bombons!

Novamente eles riram e Rose estendeu a mão para pegar o pacote mais próximo. Era de uma menina chamada Cameron, e a ruiva não fazia idéia de quem se tratava. Sorrindo, ela abriu o presente e partiu para o próximo.

Durante algum tempo, Rose só se focou na abertura de seus presentes e cartões. Um de seus favoritos foi enviado por Vincent, que dizia o seguinte:

“Cara Rosecreide,
É o seguinte, eu tô com problemas nos trabalhos de Transfiguração e Poções, e preciso que acorde rapidinho só pra me ajudar. Depois, se quiser, pode voltar a seu sono profundo, que juro não incomodar.
Sei que tô parecendo um insensível, pedindo que acorde só pra fazer meu trabalho, mas se não fosse realmente urgente não ousaria te chamar. Hugo me disse que você acorda de péssimo humor e não arriscaria minha cabeça se não fosse uma emergência.
Sophie manda lembranças e disse que anula tudo que eu escrevi acima. Ela disse também, que numa tradução educada das minhas palavras, eu quis dizer que estou com saudades da nossa ruiva mandona. Mas não leve a sério ok?! Minhas palavras querem dizer exatamente o que escrevi.
Acorde logo ok?!
Beijos,
Vincent W.”


Rose ainda estava rindo, quando Adam lhe passou outro embrulho e em seguida saiu, dizendo que ia buscar algo para ela comer e avisar madame Pomfrey de sua melhora.

A ruiva apenas assentiu, enquanto desembrulhava cuidadosamente o presente. Para sua surpresa, havia um cartão preso a caixa, e ela o leu.

“Melhore!”

Era a única coisa que havia escrito no cartão e a frase não era apenas um desejo qualquer, era uma ordem. Mesmo sem assinatura, era impossível que Rose não reconhecesse a letra. Confusa, ela olhou para seu presente e rapidamente percebeu que eram chocolates... Chocolates suíços. Esse detalhe fez sua mente vagar para o passado e mergulhar em lembranças de uma época que julgava fazer parte de outra vida.




Flashback

A julgar pela escuridão do quarto, Rose sabia perfeitamente que ainda iria demorar para o sol nascer. Talvez passasse um pouco das três da manhã. Ela não podia dizer. A única coisa que tinha certeza era que o sono lhe fugira, dando lugar a uma fome tremenda, mas ela não se incomodava com isso. Não naquela semana de férias na fazenda. Lentamente abriu os olhos e, sem surpresa alguma, percebeu que Scorpius já havia se levantado. Ele também estava se acostumando a acordar de madrugada com fome.

Sem nenhuma pressa, se levantou da cama e foi para o banheiro verificar sua aparência. Seu cabelo provavelmente estava parecendo um ninho malfeito. Assustou-se ao ver que seu cabelo estava um pouco pior do que imaginara, e decidiu tomar um banho. Scorpius chegaria rapidamente com algo para os dois comerem, e ela não queria estar com aquela aparência monstruosa.

Alguns minutos se passaram e conforme ela imaginara, Scorpius já tinha arrumado a pequena mesa com bolo, torrada, suco e chocolates. Assim como ela, usava um roupão preto. “Ele com o roupão não parece estar vestindo um saco de batatas. Esse negócio é muito grande em mim, definitivamente.”, ela pensou, e com um sorriso nos lábios, se aproximou do loiro.

- Uau, como você explicou esse desfalque todo de comida na cozinha? – ela perguntou, se sentando na cadeira.

- Ah, foi simples! Você sabe que os elfos não fazem perguntas, então só tive de explicar a Willy que um jogador de quadribol ativo, como eu, precisa comer de madrugada e por duas pessoas! – Scorpius explicou e se aproximou da ruiva, para beijá-la rapidamente. – Espero não ter acordado você quando levantei! – ele acariciou o rosto da menina.

- Não acordou! Na verdade, quem me acordou foi meu estômago. – ela riu.

- Imaginei... O meu também gritou o mesmo alerta, e foi impossível ignorar.

Os dois riram e começaram a se servir do pequeno lanchinho que fora preparado.

Durante algum tempo, o único som que se ouvia, era dos copos de suco ou dos talheres se movendo sobre a mesa. Estavam tão famintos que nem se preocuparam em manter uma conversa.

- Sabe... Nós precisamos dar um jeito nisso. – Scorpius disse por fim – Estamos comendo muito tarde para um jantar e muito cedo para o café da manhã! Daqui a pouco estaremos obesos.

- Verdade... Mas espero que você me aceite, mesmo sendo uma bolinha! – Rose brincou.

- Ah, claro ruiva! Eu vou te amar, mesmo que eu tenha que rolar você pela rua, para ajudar em sua locomoção.

Os dois riram novamente e se serviram de mais suco.

Passado mais algum tempo, Rose quebrou o silêncio e se levantou.

- Bom, acho que comi o bastante para o lanchinho de madrugada! – ela comentou – E posso sentir meu sono voltando... – ela bocejou, enquanto caminhava pra cama.

Sorrindo, Scorpius pegou a bela caixa de chocolates que estava sobre a mesa, e também voltou pra cama. Sentou-se ao lado da ruiva e se serviu de um bombom.

- Depois de torradas, bolo e suco, você ainda tem apetite pra comer chocolate? – Rose perguntou chocada – Conviver com minha família te transformou num esfomeado!

Scorpius riu e beijou a testa da ruiva.

- Tem razão! Já tô tão conectado a família que essa coisa de comer virou vício! – brincou – Mas sabe, você não deve ignorar o sabor desses chocolates aqui!

Rose, que estava deitada sobre o travesseiro, ergueu a cabeça para olhar os bombons na caixa. Não lhe pareceram muito diferente dos outros.

- Parecem iguais aos outros! – Rose disse, e logo se sentou.

- Na aparência sim! Mas experimente um e me diga o que acha! – Scorpius incentivou. Pegou um bombom na caixa e levou até a boca da ruiva, que comeu sem protestar.

Rose ficou em silêncio apenas saboreando o chocolate. Sua expressão era ótima e rapidamente um sorriso apareceu em seus lábios.

- É ótimo! – ela disse finalmente – Mas não é chocolate puro!

Scorpius riu.

- Não, realmente não é! – ele disse – E esse é o segredo desses chocolates! Apesar dos bombons dessa caixa ser do mesmo tipo, o sabor que você sentiu, provavelmente não foi o mesmo que eu senti!

- Mas na caixa diz que eles são de licor! – Rose o encarou, confusa.

- E são! Mas do mesmo jeito, o sabor não é o mesmo para as pessoas!

- Que sabor você sente? – ela perguntou curiosa.

- Hum... É difícil de explicar! – ele ficou pensativo, procurando a melhor forma de traduzir o gosto – É doce, mas não extremamente doce, como minha mãe tem a mania de dizer! É um doce moderado, e ao mesmo tempo...

- Amargo? – Rose chutou – Não amargo de um jeito ruim, mas aquele que dá um equilíbrio ao sabor.

- Exatamente! E o sabor do licor é bem notável. Nem tão forte, nem tão fraco...

- Mas no ponto! – Rose completou a frase – Acho que sentimos o mesmo sabor então!

- Parece que sim! – Scorpius concordou sorrindo. Delicadamente, segurou o rosto da ruiva entre as mãos e a encarou, como se ela fosse a coisa mais valiosa e frágil – Acho que isso significa que estamos bem conectados.

Rose retribuiu o olhar e apenas balançou a cabeça, confirmando.

Scorpius sorriu e lentamente aproximou-se dos lábios da menina, para tomá-la num beijo suave e acolhedor.

- Para sempre! – ele sussurrou nos lábios dela.

- Para sempre!


Fim do flashback





Rose só foi despertada de seu “transe”, quando a voz da Madame Pomfrey ecoou por todo local. Rapidamente, a ruiva secou os olhos com a mão livre e encarou a velha enfermeira.

- Então, quando eu vou poder sair daqui? – Rose quis saber, depois de ser examinada.

- Ora, não seja apressada mocinha! Você acordou hoje, ainda passará uns dias aqui comigo. – Madame Pomfrey disse, enquanto retirava a faixa da cabeça da jovem – Hummm, o ferimento está melhor. Muito melhor, devo dizer! Sente dores na cabeça?

- Não! – ela respondeu sincera – Pelo menos por enquanto.

- Ótimo! Vai tomar uma poção agora, e daqui duas horas venho ver como está. – a enfermeira colocou um pouco de poção em uma colher e obrigou Rose a engolir.

- Isso tem um gosto horrível! – a ruiva reclamou.

- É claro! Queria que tivesse gosto do que? Suco de abóbora ou varinhas de alcaçuz? – a velha perguntou irônica – Minerva informou seus pais que finalmente acordou. Em breve eles estarão aqui... De novo.

- Eles têm vindo muito aqui né?

- Todos os dias! – Madame Pomfrey sorriu. – Agora vamos, descanse! Dentro de alguns dias poderá sair daqui e tudo vai voltar a ser como era antes.

Conforme a enfermeira tinha dito, Hermione e Rony apareceram na escola um pouco antes do horário do almoço. Rose agradeceu a Merlin por isso. Não agüentava mais ficar presa ali dentro, e estava pensando seriamente em arquitetar um plano pra fugir da enfermaria enquanto Madame Pomfrey fazia um de seus sagrados lanchinhos.

Com a visita dos pais, do irmão e dos primos (os últimos não se contiveram e invadiram, no sentido literal da palavra, a enfermaria), as horas pareceram voar. E a noite, a ruiva já estava tão cansada de rir e conversar, que “apagou” em sua cama antes mesmo que tomasse a poção do sono.




***





Alguns dias depois

A aula de Poções, por algum milagre, estava revelando algo diferente para os alunos do 7º ano. Fazia certo tempo que o prof. Slughorn não conseguia surpreender ninguém e as constantes revisões da matéria deixavam a maioria dos alunos entediados.

Alguns já nem se importavam de disfarçar o tédio, e bocejavam descaradamente. Na maioria das vezes, as únicas palavras que Slughorn conseguia obter dos alunos era “uhum” ou “certo”. Somente quando ele perguntava algo que exigia uma resposta mais complexa, era que alguém se manifestava, mas respondendo sem nenhum ânimo.

Naquele dia, porém, Slughorn decidiu surpreender os alunos trazendo algo novo para que eles estudassem e comentassem. Assim que entraram na sala, os alunos se sentaram em seus respectivos lugares e ficaram levemente surpresos ao perceberem que em suas mesas havia um pequeno frasco de poção. Era de uma cor estranha, um verde com leves traços arroxeados. Coisa que eles ainda não tinham visto. Slughorn lhes sorria abertamente, enquanto observava a curiosidade crescer no olhar dos jovens.

- Agora que estão todos acomodados, creio que preciso lhes advertir que não mexam no frasco! – ele disse, ainda num tom simpático. Viu que os alunos lançaram um olhar curioso para ele, mas ignorou. – Antes de comentarmos sobre essa poção, gostaria de lhes perguntar algo.

Slughorn, como sempre, fez uma pausa dramática, para aguçar a curiosidade dos meninos. Isso funcionou, pois eles pareciam inquietos sentados em suas cadeiras.

- Ho-ho, será que algum de vocês pode me dizer o que é Amortentia?

- É a poção do amor mais poderosa do mundo! – Adam respondeu e revirou os olhos.

- Está certo Sr. Krum, 10 pontos pra Corvinal! – Slughorn sorriu – Agora, será que um de vocês pode me dizer o que acontece quando ela é preparada de maneira errada? Srta. Calahan, você que está conversando com sua companheira, poderia me dar a resposta? – Slughorn parou em frente a mesa de duas meninas da Lufa-Lufa e as encarou, ainda sorrindo.

- Vira uma poção obsessiva? – ela chutou, e Slughorn apenas sorriu.

- Menos 5 pontos da Lufa-Lufa pela resposta errada! – ele disse – E menos 5 por conversar em minha aula! – Slughorn caminhou mais um pouco e encarou novamente os alunos – Então, alguém aí sabe a resposta?

Houve um momento de silêncio, até que uma voz ecoou por toda sala respondendo.

- Vira veneno! – ao som daquela voz, todos se viraram para trás – Um dos mais letais e cruéis venenos que se pode fabricar! A lenda de que deixa a pessoa obsessiva não passa disso, uma lenda. Acham que espalhando a história de que uma poção do amor mal feita deixa alguém louco pode reduzir o uso. Mas a verdade é que uma poção do amor feita de forma errada é capaz de matar!

Slughorn ficou boquiaberto com a explicação. Julgou que nem ele mesmo seria capaz de dizer algo tão bem resumido e explicado como Rose Weasley havia feito.

- 50 pontos para Grifinória! – ele anunciou com um grande sorriso – Fico feliz em saber que o tempo que esteve presa na enfermaria não afetou sua sabedoria, Srta. Weasley!

- Eu também professor! – Rose disse e caminhou para seu lugar – Acho que tanto tempo sem poder sair de lá acabou contribuindo. Passei as tardes e, algumas vezes, até as noites estudando!

- Isso Rosecreide, humilhe nossa capacidade esfregando na nossa cara, que até deitada na enfermaria, você estuda! – Vincent brincou – Por falar em enfermaria, como fugiu da Madame “sou velha mas tô na moda” Pomfrey?

Rose riu. Só agora percebeu o quanto sentia falta de estar ali com os amigos.

- Bom, foi uma tarefa difícil sabe? Eu esperei que ela se distraísse, coloquei um pouco de poção do sono no sanduíche dela, e quando ela apagou, saí correndo! – Rose deu de ombros, e riu ao ver a expressão chocada do amigo – Ok, eu tava brincando! Ela me liberou e disse que eu tenho apenas que tomar essa poção – ela tirou um frasquinho de dentro da mochila – de 4 em 4 horas!

- Ufa! Com essa alma de trapaceira, eu realmente estava pensando em chamar um daqueles padres trouxas pra fazer um exorcismo em você! Poderíamos mudar o nome daquele filme de terror lá “O Exorcismo de Emily Rose”, para “O Exorcismo de Rosecreide”!

- Você assistiu esse filme? – Rose perguntou surpresa.

- Sim e em um cinema ainda! – Vincent sorriu – Uma velha não agüentou e desmaiou bem na hora que a garota tava sendo possuída... Sabe, isso me deu uma idéia! Deveríamos passar esse filme pros fantasmas da escola, e mostrarmos a eles que no mundo trouxa, suas aparições seriam algo considerado do mal!

Sophie revirou os olhos e com uma das mãos, fechou a boca do namorado. Se virou para amiga e a encarou com uma expressão divertida.

- Ele não tomou o remédio hoje, sabe? É por isso que tá surtado. – Sophie brincou e Rose gargalhou. Definitivamente, eles eram o casal mais divertido que ela conhecia.

Rose virou para o lado, a fim de encarar o primo, seus olhos encontraram os de Scorpius. Ele a observava atento, com uma expressão aliviada. Não se incomodou em saber que ela podia ver sua preocupação. Naquele instante, desejou vê-la assim pra sempre. Feliz e saudável.

Rose estava paralisada. A última coisa que esperava ver em Scorpius era algum vestígio de preocupação e cuidado. Tudo bem que ele havia se demonstrado protetor no dia em que estavam em frente à Floresta Proibida, mas não esperava que isso continuasse. Ela deixou sua cabeça cair de lado, demonstrando sua confusão, esperando que a qualquer instante ele fechasse a cara pra ela e virasse pra frente, mas não. Ele continuava ali, a encarando como se quisesse dizer algo, mas não conseguisse encontrar as falas.

Então, um lampejo de compreensão passou pelos olhos da ruiva. Ele não iria desviar o olhar porque estava realmente preocupado. Podia não querer ela por perto, mas ainda se preocupava em saber como ela estava. Rose abriu a boca, em uma exclamação muda, e viu Scorpius sorrir sinceramente e acenar com a cabeça, confirmando sua teoria. Por um instante, o mais breve segundo de sua vida, ela sorriu e se sentiu mais viva do que se sentira no último mês.

Adam, que estava sentado um pouco mais a frente, ao perceber a troca de olhares entre Scorpius e Rose, se levantou e caminhou até a menina. Não deixaria que um momento como aquele os reaproximasse.

- Como você tá? – ele se abaixou, a fim de ficar da mesma altura que a menina e acariciou seu rosto. Pelo canto do olho, pôde ver Scorpius virar para frente.

- Bem! Na verdade eu tô pensando em voltar pra enfermaria, só pra ganhar mais presentes! – ela brincou, e Adam riu.

- Ok, vamos fazer o seguinte! Eu te dou presentes, com a condição que você passe uma boa temporada longe de lá!

- Ah, mas assim não tem graça! Não vou receber cartões de gente que nunca falei na vida!

- Se os cartões são o problema, eu obrigo uns novatos a escreverem, se isso te faz feliz!

Rose riu.

- Ho-ho, pelo que vejo a volta da Srta. Weasley causou certo frisson na sala! Mas, não vamos perder o foco da matéria. Vamos voltar a estudar! – Slughorn disse, na sua falsa simpatia – Sr. Krum, volte pra sua mesa!

Adam cumpriu as ordens do professor e caminhou de volta pra seu lugar. Mas não antes de beijar a testa de Rose e dizer que falava com ela depois.

Alvo, que até então não tivera oportunidade de conversar com a prima direito, a encarou completamente perdido. Desde quando ela havia perdoado o Krum?

- Eu perdi alguma coisa? – ele sussurrou para a prima – Por que sinceramente, tô mais por fora que bunda de índio!

Rose se segurou para não cair na gargalhada com a comparação do primo. O encarou e rapidamente escreveu no papel a história resumida do que havia acontecido na enfermaria e na floresta.

Ele leu e tornou a encará-la, mas sem a confusão de antes.

- Não gosto dele, Rose! – Alvo disse sério – Sou grato por ter salvo sua vida, mas ainda sim não gosto dele.

- Por quê?

- Não sei... Algo me diz que ele não é de confiança, acho que é uma espécie de intuição, ou talvez instinto protetor. O fato é que alguém que causa uma confusão enorme na sua vida, nunca vai ser visto com bons olhos por mim. – ele explicou e beijou o rosto da prima – Tome cuidado.

- Bom, pelo menos ele pediu desculpas! – Rose disse.

- O que não apaga por completo, todos seus outros “feitos”! – Alvo falou e fez sinal para que a prima ficasse em silêncio, pois o professor Slughorn os encarava com uma expressão azeda.



***




As aulas daquele dia tiveram um significado especial para Rose. Parecia que tudo estava mais vivo que antes. Talvez isso fosse reflexo de sua experiência de quase morte, ou simplesmente fosse pelo fato de ter visto Scorpius sorrir para ela.

Antes do jantar, Rose fora até o gabinete da Diretora Minerva. As duas conversaram bastante sobre o ocorrido, e Rose relatou que não se lembrava de como ganhara aqueles ferimentos. Só lembrava da dor de ser arremessada à distância, e mais nada.

Minerva acreditou nas palavras da menina, resolveu não puni-la por ter desrespeitado as normas da escola, porque já havia recebido castigo suficiente. Antes da menina sair, porém, a Diretora pediu que entregasse um aviso aos capitães de quadribol.

Rose concordou sem pensar duas vezes, embora a palavra quadribol, a levasse instantaneamente até Scorpius. Mas se a Diretora não havia punido sua transgressão, o mínimo que poderia fazer era cumprir esse favor.

Conforme o pedido da Diretora, Rose saiu à procura dos capitães de quadribol para entregar-lhes o aviso de reunião. Não foi uma tarefa difícil, já que para sua sorte, eles estavam em seus quartos.

Agora faltava apenas um envelope em sua mão, e ela sentia-se completamente covarde de entregá-lo para seu dono. “Talvez se eu passar o envelope por debaixo da porta, ele encontre...”, pensou ela, mas logo sacudiu a cabeça, afastando essa idéia ridícula. Afinal de contas, ele não iria atacá-la só por entregar um aviso da direção. Scorpius estava zangado, mas não havia perdido o juízo... Não que ela soubesse, é claro.

- Aff, de todas as coisas que poderiam assustar você, a única que realmente te assusta é a reação do Scorpius! – ela disse para si, com raiva da sua covardia – É só bater na porta, entregar o envelope, se virar e correr... Quero dizer, andar!

Rose caminhou até a porta do quarto da Sonserina, e hesitante, bateu levemente, torcendo para que ninguém respondesse. Mas, para seu completo azar, uma voz bastante conhecida respondeu as batidas, perguntando quem era.

- Sou eu, Malfoy! – Rose respondeu numa voz fraca. – Tenho um recado da direção.

- Entre! – foi a única coisa que ele respondeu.

Rose estendeu a mão para tocar a maçaneta e parou. O medo de encará-lo de perto e sozinha tomou conta de si, e ela agora achava a idéia de jogar o envelope em cima dele e correr uma ótima idéia. “Não seja idiota! Você é da Grifinória, deveria ser corajosa!”, ela pensou e rapidamente, girou a maçaneta e entrou no aposento encarando o chão.

- O que quer? – a voz de Scorpius ecoou pelo quarto.

Rose assustou-se ao ouvi-la tão clara e tão calma, que ergueu a cabeça para conferir se estava tendo alucinações. Logo percebeu que não foi uma boa idéia. Scorpius estava de costas, em frente a seu armário, com apenas uma toalha enrolada na cintura. A julgar pelos cabelos molhados, a ruiva deduziu que havia acabado de sair do banho, quando ela chegou.

- Weasley, ainda está aí? – Scorpius perguntou levemente divertido com a situação. Virou-se para encará-la e viu que a ruiva estava praticamente da cor de seus cabelos – Ah, vamos lá! Até parece que nunca me viu desse jeito... Ou até com menos que isso. – ele sorriu e apontou para toalha. Rose ficou ainda mais vermelha.

- Vá... Coloque uma roupa Malfoy! – ela tentou parecer firme, mas não teve sucesso.

Rindo, Scorpius pegou as roupas que estavam em cima da cama e caminhou até o banheiro lentamente.

Rose apenas observou a cena, completamente constrangida. Queria correr dali, mas seus pés não obedeciam suas ordens. Parecia uma estátua, parada no meio do quarto, segurando um envelope, que estava balançando em sua mão a medida que os tremores aumentavam. “Que ridículo! Pareço dentro de um liquidificador, de tanto que chacoalho!”, pensou novamente, irritada consigo. Naquele instante, Scorpius voltou, vestindo apenas as calças, e com a toalha em volta do pescoço

Rose quase respirou aliviada, se não fosse o fato de que quando olhou para frente, se deparou com o tórax do loiro a mostra, completamente definido, como sempre fora. Definitivamente, ela precisava avisar logo sobre a reunião e sair dali correndo, e dessa vez, seria no sentido literal da palavra “correr”.

- Bom, a Diretora pediu para avisar, que...

- Como está sua cabeça? – Scorpius interrompeu a ruiva, que parecia bem desconcertada perto dele.

- É... O que? – ela o encarou, confusa.

- Sua cabeça, essa coisa ruiva que você tem em cima do pescoço e fez o favor de colocar em risco quando entrou na floresta proibida sozinha! – ele revirou os olhos.

- Ahhhh... – a ruiva exclamou e isso o fez sorrir – Tá bem! Sem nenhum dano visível... Pelo menos eu acho! – ela explicou – Bom, como eu ia dizendo...

- Me desculpe por ter deixado você ir lá sozinha... A culpa foi minha! – Scorpius a encarou. – Mas você deveria ter cumprido sua promessa!

Se antes a menina tinha vontade de correr, agora sua vontade era completamente contrária. Queria entender o motivo das preocupações de alguém que a tratava mal e de uns tempos pra cá preferia vê-la pelas costas.

- Por Merlin, pare! A culpa não foi sua. – Rose o encarou por um instante, mas logo desviou o olhar. – E eu não podia cumpri-la. Meus primos estavam em perigo, precisava fazer alguma coisa! – ela disse rapidamente, omitindo o verdadeiro motivo que a fizera descumprir a promessa.

Scorpius respirou fundo e a encarou.

- Então a culpa foi de quem? Das árvores enfeitiçadas que insistem em bancar as lutadoras de boxe e das raízes traiçoeiras que brotam do chão a fim de pegar o primeiro invasor? – ele perguntou sarcástico.

- Sim, exatamente delas! – a ruiva respondeu no mesmo tom – E também foi minha por não olhar por onde ando, por me meter em lugares que não devo e também por achar que posso fazer tudo!

- Alguém devia lhe dizer que você não é a Supergirl então!

- Você acabou de dizer, obrigada! – ela disse irritada – Agora pode, por favor, me deixar falar o que a Diretora pediu? Eu não demorei nem 3 minutos para passar o recado aos outros capitães, mas como sempre, você tem que complicar minhas ações!

- Sim, como sempre! – Scorpius a encarou profundamente e depois suspirou – Diga!

- Obrigada! Pois bem, a Diretora pediu para avisar que haverá uma reunião com vocês, muito importante, e pediu para que não faltem! – ela disse rapidamente, e se virou para sair.

- Era só isso? – Scorpius perguntou, e novamente parecia se divertir com a situação.

- Sim, era só isso! – Rose respondeu próxima a porta – Por quê?

- Porque eu tinha a leve impressão, que esse envelope que está segurando, era pra mim! – Scorpius caminhou até onde a ruiva estava, com um sorriso zombeteiro nos lábios – Aí deve ter a hora e o local da reunião, e se não quer que eu falte, deve me entregar, não acha?

- Ah... – a ruiva olhou para a mão – Tem razão, é seu! – ela estendeu a mão para entregar o envelope.

Scorpius deu um passo em frente com a mão estendida e quando pegou o envelope, tocou a mão de Rose.

No momento que os dois se tocaram, sentiram como se uma corrente elétrica passasse em seus corpos e os despertasse para algo. Scorpius olhou para Rose e viu que também havia sentido a mesma coisa.

Então, sem pensar e sem planejar qualquer movimento, Scorpius a puxou para si e a beijou.

Não havia ninguém para testemunhar aquela cena tão dolorosa e tão linda. Rose e Scorpius, enquanto se beijavam, esqueceram de qualquer coisa que envolvesse o mundo a sua volta. Esqueceram o motivo que estavam afastados e se lembraram apenas do quanto ainda se amavam.

O fogo que vinha da lareira parecia incendiar o quarto e o vento frio que vinha da janela, parecia apenas uma refrescante brisa de verão. Tudo parecia fora do lugar e ao mesmo tempo perfeitamente encaixado.

Uma das mãos de Scorpius estava perdida no meio dos longos cabelos ruivos de Rose, enquanto a outra apertava sua cintura e a trazia para perto de si, num beijo quente e possessivo.

Rose já não sabia se estava acordada ou sonhando, com tudo aquilo. Correspondia o beijo de Scorpius da mesma forma e quanto mais aquele momento se prolongava, mas uma sensação de alívio mesclado com dor preenchia seu peito. Não queria parar de beijá-lo, não podia sair dali agora. Sua mão brincava na nuca do rapaz, enquanto a outra deslizava por suas costas despidas. Alguma parte consciente de sua mente a informava que sairia mais machucada depois desse beijo, mas ela não conseguia escutá-la. Não agora que estava com ele, depois de um mês de sofrimento.

Ainda a beijando, Scorpius acariciou seu rosto com uma das mãos, e a outra, que antes estava na cintura da ruiva, agora descia por sua coxa, que num movimento rápido, foi parar em volta da cintura dele.

- Eu amo você! – Scorpius murmurou sem fôlego, involuntariamente, sobre os lábios da ruiva. – Eu quero você!

Rose pareceu despertar de um transe, ao ouvir as palavras do loiro. Lutando contra sua própria vontade, ela se afastou dele e o encarou profundamente.

- O que... O que você falou? – ela perguntou num sussurro, mas sem desviar o olhar.

- Eu...

- Você disse que me amava, é verdade? – ela pressionou. Um fio de esperança cresceu dentro de si.

- Eu... – Scorpius lutava intimamente com a situação. Queria dizer que a amava, mas por outro lado, queria omitir esse fato – Desculpe por isso!

- Você não devia brincar com o sentimento das pessoas assim, sabia? – Rose disse nervosa – O fato de me odiar não lhe dá o direito de me machucar desse jeito!

- Eu machuquei você? – Scorpius a encarou – O que eu fiz?

- Disse que me amava!

- Isso machuca você?

- Sim!

- Por quê?

- Porque você sabe que eu te amo, e brincar com meus sentimentos, deve ser muito divertido pra você! – Rose gritou e saiu do quarto correndo, sem olhar pra trás.

Revoltado, Scorpius encostou a cabeça na parede e socou a parede de raiva... Raiva de si, raiva da situação, raiva por amar Rose, raiva por ter dito isso a ela e principalmente, raiva por tê-la machucado, quando na verdade não pretendia isso.

Decidido a mudar essa situação, ele saiu pela porta de seu quarto, mas parou ao ver a menina entrando no quarto do primo aos prantos. Isso o fez sentir ainda pior.



***




- Calma Rose! – Alvo dizia com uma voz suave. Pela forma desesperada como a prima chorava, nem precisava de mais explicações. Era óbvio que sua tristeza estava relacionada com Scorpius. Caso contrário ela não estaria tão vulnerável.

Rose não conseguia encontrar a voz. Sua cabeça girava por tudo que aconteceu. Sentia uma dor estranha, e ela tinha consciência de que não estava relacionada com a pancada que sofrera na cabeça. Era uma dor mais profunda e muito pior. Era a dor da esperança perdida.

Scorpius dissera de forma tão clara e convincente que a amava, que não conseguiu impedir uma pontada de esperança nascer. Não pôde fazer isso. Aquela expectativa de que ele nunca deixou de amá-la surgiu involuntariamente, e foi retirada em questão de segundos, por ele mesmo. Rose achava que não conseguiria suportar mais aquilo. Não havia sentido continuar esperando por algo que já não existia.

Em outras circunstâncias Alvo cobraria explicações da prima e tentaria consolá-la com palavras, mas por experiência própria, sabia que todas as palavras do mundo não seriam suficientes para ajudá-la. Então, a única coisa que lhe restava, era ser seu porto seguro. Um amigo que Rose sabia que a qualquer momento poderia desabafar sem ser julgada por isso.

- Está tudo bem! – Alvo disse, acariciando os cabelos da prima que estava com o rosto afundado em seu peito – Eu tô aqui, e vai ficar tudo bem. Eu prometo!

- Eu... Eu não queria mais sentir, Alvo! – Rose disse entre lágrimas – Queria esquecer, mas parece que quanto mais eu tento, pior é.

Alvo afastou gentilmente a prima e a encarou.

- Rose, não adianta lutar! – ele disse pausadamente – O amor não é um sentimento que se esquece ou se apaga de repente. É algo superior a isso. Eu não entendia, até... Até viver essa mesma experiência e ter as melhores semanas da minha vida. O amor é algo mágico e acho que precisamos concordar com isso, já que meu pai sobreviveu graças a ele. – o moreno brincou e sentiu-se bem ao ver a prima dar um pequeno sorriso – Não tente apagar seus sentimentos. Deixe-os aí. O tempo vai se encarregar deles.

- O que eu faço com a dor? – ela perguntou, cansada.

- Bom, isso você vai ter que aprender a ignorar. Até que um dia ela não será mais um problema. – ele respondeu – Veja, a dor nunca deixa de existir. Ela só se ameniza... Quando você aprender a conviver com a dor, ela deixa de te incomodar.

Houve um momento de silêncio, em que os dois apenas se encararam. Rose pôde perceber nas palavras do primo o quanto ele havia amadurecido nesses últimos meses na escola. Nem parecia o mesmo Alvo de antes.

- Ainda dói em você? – Rose perguntou, e sabia que ele entenderia do que se tratava.

- Todos os dias! – ele respondeu sério.

Rose o abraçou novamente, como se dessa vez, ela quisesse confortá-lo.

Alvo retribuiu o abraço e beijou o topo da cabeça da menina. Rose não era apenas uma prima para ele. Era mais que isso. Era sua irmã e melhor amiga. Alguém que poderia contar pelo resto da vida.

- Então, já que somos dois sofredores, acho que podemos dar uma rasteira na maldita dor, e nos divertir um pouco! – ele disse de repente e sorriu ao ver a expressão confusa da prima.

- O que quer dizer?

- Toma isso é seu! – Alvo andou até a escrivaninha e pegou um envelope dourado – Não preciso explicar como funciona o sistema né?

Rose revirou os olhos e pegou o envelope.

- Está me chamando pra ir a uma festa?

- Exatamente! E dessa vez você tem um motivo muito forte!

- E qual é?

- Segundo Chad, essa festa é pra comemorar a sua volta! – ele respondeu rindo.

- Ah claro! Todos estavam ansiosos para me ver novamente! – Rose debochou.

- Então... O que você acha de irmos? – Alvo propôs – Ficamos lá um tempinho, rimos das besteiras e ainda provamos pra esse povo que não estamos tão ruins quanto pensam.

Rose refletiu durante alguns segundos, encarando o convite dourado em suas mãos. Por um lado, se meter no meio de pessoas fofoqueiras e felizes era extremamente chato e inconveniente, já que metade deles falariam de você. Por outro lado, faltar a festa e se esconder, daria motivo para a metade que sobrou, inventar histórias falsas.

- De volta a Elite de Hogwarts! – ela disse por fim, e ergueu seu convite.

- De volta a Elite!







***







N/A: Hey!

Mais uma vez, me perdoem pela demora, mas como eu digo, as coisas não andam fáceis.

Enfim, pulando todo o drama de uma universitária desesperada, vamos falar sobre o capítulo.

As coisas entre Scorpius e Rose estão complicadas e espero que tenha dado pra entender o motivo. Não se precipitem com os julgamentos. Há coisas mais difíceis do que se pode imaginar.

Espero que tenham gostado dos flashbacks. Eles foram a parte mais difícil do capítulo, fiz o melhor que pude, acreditem!

Bom, como puderam perceber, teremos uma festa no próximo capítulo, e já posso adiantar que muitas surpresas virão! E pra quem quer saber como e quando surgiu a famosa “Elite de Hogwarts” e o lindo jornal escrito pela garota misteriosa, aguardem e confiram!

Acho que é só isso por hoje!

Vejo vocês em breve.

Comenteeeeeeeeem hein!

Xoxo,

Mily.

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