Reconciliações I
Reconciliações – parte 1.
Mais uma vez a Estação de King’s Cross estava abarrotada de pessoas. Os alunos que foram passar as férias em casa, agora voltavam cheios de novidades a respeito dos passeios e das viagens em família. Alguns tinham mais coisas para contar que outros. Alguns não tinham nada para contar, mas para não ficarem por baixo, simplesmente inventavam algo que tornasse suas vidas mais interessantes.
Parados, longe de todo tumulto de pais e filhos que se formava no meio da plataforma, estava os Potter e os Weasley. Todos conversavam animados sobre diversas coisas, enquanto seus filhos estavam espalhados pela estação, a procura dos amigos.
Acabando de atravessar a Plataforma nove e meia, vinha a família Dursley, só que dessa vez mais duas pessoas resolveram acompanhar Duda, a esposa e a filha, até o local. Válter e Petúnia resolveram dar o ar da graça e acompanharem a neta até a estação. Queriam ter mais tempo para se despedir da pequena loira.
Ficaram um tanto surpresos por não encontrarem todos os bruxos do local vestindo roupas estranhas e chapéus pontudos. Apesar de, naquela altura do campeonato, já terem aceitado o fato de que não viveriam distantes do mundo mágico, o casal ainda tinham certo preconceito com tudo que vinha dos bruxos.
- Certo, onde está a família do Potter? – perguntou Petúnia, franzindo o nariz com certo desgosto ao tocar no nome do sobrinho.
- Estão ali na frente, vejam. – Melanie apontou para um grupo de pessoas (grande parte dele formado por ruivos) afastados da multidão.
Antes mesmo que pudessem dar alguns passos, Luiza já estava correndo em direção ao grupo, em busca de seu melhor amigo Louis.
Os Potter e os Weasley nem teriam reparado a presença dos Dursley no local, se não fosse o fato de Luiza gritar alto o nome de Louis, assim que se aproximou do grupo.
- LOOOOOOOOUIS! – chamou ela.
- LUIZAAAA! – Louis correu em direção à amiga e a abraçou. – Como foram suas férias?
- Foram tão divertidas! Vem comigo, eu te conto enquanto procuramos nossos amigos! – e então, de mãos dadas, os dois loirinhos saíram pela plataforma, rindo e contando as experiências divertidas daquela temporada que passaram afastados.
Duda, embora tivesse prometido se controlar, não conseguiu esconder o desgosto estampado em sua face, assim que viu a filha passar por ele de mãos dadas com um garotinho. Detestava a ideia de Luiza ter um amigo que não tivesse longos cabelos, usasse saias e brincasse de bonecas.
- Aff, será que eles têm que andar de mãos dadas? – perguntou Duda, sem conseguir esconder o ciúme que sentia da filha.
- Por Merlin, Duda! Eles são apenas amigos e crianças. Não pense bobagens. – disse Melanie, revirando os olhos.
- Não estou pensando em bobagens, mas Luiza passou grande parte das férias falando apenas nesse garoto. Era Louis pra cá, Louis pra lá... Será que ela não tem uma amiga que compense a falta desse moleque?
Melanie riu, e beijou o rosto do marido.
- Você é um exagerado, sabia? – disse ela, carinhosamente – Agora esqueça isso e vamos cumprimentar os outros antes que pensem que somos mal educados.
Como sempre, os Potter e Weasley foram simpáticos com a família Dursley. Apesar de Petúnia e Válter ainda demonstrarem certo desconforto ao lado deles e sempre arregalarem os olhos quando via algum bruxo passar por perto segurando suas varinhas, os demais fingiam não notar as caras de espanto de Válter e o nariz franzido de Petúnia.
Não demorou muito para que os Malfoy chegassem à plataforma e se juntassem ao grupo de amigos. Astoria e Draco foram super simpáticos com Petúnia e Válter, mesmo depois deles apresentarem certa resistência em apertar suas mãos, em forma de cumprimento.
Scorpius, apenas acenou ao longe para os demais, e foi andar pela plataforma, à procura de alguém que ele sabia não estar perto da família.
Os olhos do loiro percorriam toda estação em busca da ruiva, mas não obtinha tanto sucesso. Rose não estava em nenhum lugar que seus olhos conseguiam alcançar.
“Será que ela não vai vir...? Aff, deixe de ser estúpido! Ela não desistiria do último semestre em Hogwarts por causa da nossa situação! Ou será que...? Deixe de ser idiota, Malfoy! Pare já de pensar abobrinhas!”, pensava Scorpius, enquanto caminhava, ainda à procura da menina.
- Como eu odeio isso! – esbravejou, passando as mãos no cabelo.
- Tá legal que minha companhia não é das melhores, mas será que pode ao menos fingir que gosta da minha presença? Sabe, tanto descaso com as pessoas pode magoar. – disse Vincent, fingindo aborrecimento.
Scorpius se virou e encarou o amigo com um meio sorriso. Não via Vincent desde o casamento de Victoire, e precisava admitir que sentira falta de seu melhor amigo.
- Vincent! – Scorpius abraçou o amigo – E aí, cara! Como você tá?
A pergunta de Scorpius era difícil de ser respondida. Ao menos Vincent imaginava que uma resposta que traduzisse exatamente seu estado de espírito, soaria um tanto dramática e suicida. Pensou em diversas coisas para responder como “Eu estou morrendo!” ou “Merlin me dê forças para superar tal sofrimento.”, mas optou por algo que não fizesse seu amigo pensar que ele precisava ir direto para uma clínica psiquiátrica no St. Mungus.
- Eu estou vivo, e acho que essa é uma boa resposta no momento. – disse por fim – E você?
- Tô na mesma situação que você. – ele deu de ombros – E como foram suas férias?
- Caraca, será que você pode fazer uma pergunta mais fácil? Quero dizer, acho que tá escrito na minha testa que tudo foi uma grande bosta de dragão, você ainda quer que eu relate passo a passo do meu sofrimento? Por Merlin, Scorpius, você precisa realmente aprender a ser um pouco mais atento! – disse Vincent, um tanto irritado. Não sabia por que, mas de repente sentira grande raiva do melhor amigo.
Scorpius apenas arregalou os olhos diante da explosão inesperada do moreno, e ficou um tempo sem ação. O que ele podia responder ao amigo? Dizer que ele estava errado por agir de forma tão grosseira, quando ele próprio faria o mesmo? Não, Scorpius não seria tão hipócrita a ponto de julgar a reação de Vincent.
- Foi mal, cara! – disse com sinceridade – Mas olha, se você quiser conversar e desabafar, eu tô aqui ok?! Quero dizer, é realmente difícil e...
- Se você sabe o quanto é difícil, para que fica tocando no assunto? Acho que deixei claro que não quero falar disso, e agradeceria se calasse a boca ou então mudasse o assunto.
- Olha Vincent, eu entendo sua raiva, mas você tá passando dos limites. Acho que o mundo não tem culpa da sua separação da Sophie! – disse Scorpius, entre os dentes. Definitivamente Vincent estava com um humor insuportável.
- Assim como não teve com a sua separação da Rose, mas mesmo assim você não se importou e continuou descontando o ódio em cima de todos! Por favor, deixe de ser hipócrita e querer bancar o pacifista, quando você mesmo agiu dessa forma!
Uma briga começava se formar no meio da plataforma. Alguns alunos que estavam perto pararam de conversar e voltaram sua atenção para os dois amigos que agora soltavam farpas em plena estação.
- Hipócrita? Eu? Você só pode estar brincando. Eu tô aqui tentando te ajudar e você age como um completo imbecil.
- Eu não preciso de ajuda, Malfoy! Não preciso da pena de ninguém.
- Tem certeza? Pois da forma que está agindo, você parece um bebê mimado que precisa chamar atenção dos demais para que sintam pena dele e o peguem no colo. – a voz de Scorpius era controlada, embora não perdesse o tom ameaçador – Você é um completo idiota, sabia?!
- Eu sei, e sou homem o suficiente para assumir isso. E você? Consegue admitir que é um completo imbecil por não conseguir decidir se deve dar uma nova chance para mulher que te ama ou ignorar tudo isso?
As mãos de Scorpius se fecharam em punhos, quando ele deu um passo ameaçador em direção a Vincent. O moreno não se intimidou com a atitude do amigo e sustentou o olhar irritado.
- Eu pelo menos tenho que decidir se fico com Rose ou não. Você parece ter perdido o controle da situação, não é? Pois, a meu ver, Sophie parece bem decidida em não voltar para você.
O que antes era um pequeno grupo de alunos curiosos observando a briga se tornava uma pequena multidão. Todos pareciam muito interessados em ouvir o motivo daquela confusão, embora as vozes dos rapazes fossem baixas e ameaçadoras.
Rose e Sophie que caminhavam de braços dados pela plataforma, ao verem aquela pequena confusão, resolveram se aproximar para saber do que se tratava. As duas arregalaram os olhos ao verem que os causadores daquele agrupamento de pessoas eram Scorpius e Vincent.
- Merlin, eles estão brigando. Precisamos fazer alguma coisa, caso contrário a situação vai ficar feia! – disse Sophie, enquanto arrastava Rose para o meio daquela confusão.
- Céus, o que será que aconteceu? – disse Rose, assustada.
- Não sei, mas depois que separarmos os dois a gente pergunta.
- Vamos fazer o que?
- Entrar no meio dos dois e empurrá-los um para longe do outro. – a loira explicou e depois encarou a amiga com um olhar tímido – Rose, eu... Importa-se se for...
- Eu levo o Vincent pra longe, não se preocupe! – Rose garantiu e sorriu para amiga.
- Certo, vamos logo, antes que partam pra agressão física! – anunciou Sophie.
Scorpius e Vincent estavam prontos para partir pra uma briga, quando Rose e Sophie entraram no meio dos dois e começaram empurrá-los para longe. Sophie afastava Scorpius, enquanto Rose cuidava de Vincent.
Os dois até quiseram protestar, mas sabiam que se fizessem algum movimento brusco acabariam machucando as meninas que estavam à sua frente, então apenas deixaram ser levados.
- Por Merlin, Vincent! O que deu em vocês? – Rose perguntou, assim que teve certeza de estar bem longe de Scorpius.
Vincent bem que queria dar uma resposta bem mal educada para a amiga, mas ela não merecia escutar as palavras deselegantes que passaram por sua mente, então apenas suspirou e encarou a ruiva, com certa contrariedade.
- Estávamos discutindo, e vocês interromperam! Sabia que isso não se faz?
- Se Sophie e eu não tivéssemos entrado no meio da confusão, vocês dois estariam muito encrencados. – disse ela em tom de censura – Quer, por favor, me dizer o que originou a briga?
Vincent pensou em discursar sobre todos os motivos que levaram os dois a começarem aquela discussão, mas isso seria um tanto quanto difícil, já que teria que mencionar a história dela e de Scorpius, e isso poderia machucá-la.
- Digamos que nós dois estamos com os ânimos um tanto afetados e isso não contribui para ficarmos um perto do outro. – ele deu de ombros.
- Deviam conversar e se desculpar. São melhores amigos, e não deviam ficar brigados por bobagens! – disse Rose.
- Não foi por bobagem, acredite!
- Foi pelo que, então? Céus, Vincent eu nunca os vi daquele jeito, então a coisa deve ter sido realmente séria.
- Na verdade nem tanto. Scorpius quis saber como foram minhas férias e então a confusão começou...
Naquele instante, Rose não conseguiu se controlar e caiu na gargalhada. Não conseguia acreditar que os dois estavam brigando por algo tão... Ridículo! Que mal havia querer saber das férias? Eles eram realmente duas crianças que precisavam de uma boa bronca para pararem com aquela frescura.
Enquanto a ruiva tinha seu ataque de risos, Vincent apenas a encarava como se fosse uma louca que precisava urgentemente de internação. Ele não conseguia enxergar nenhuma graça naquela situação.
- Posso saber o motivo de tanta alegria? – perguntou Vincent, tentando se manter indiferente.
Rose respirou fundo algumas vezes, para tentar se controlar. Somente quando julgou estar recuperada, ela encarou o amigo.
- Ai... É que não acredito que tudo aquilo foi por uma simples pergunta! Vincent, que mal há em querer saber como foram suas férias? Não vejo nenhum problema nisso.
Vincent estreitou os olhos e encarou a amiga, sério.
- Ah, tem razão! Qual é o problema não é? Qual é o problema de querer saber isso, quando tá estampado no meio da minha testa que tudo foi uma droga? Que não tive um pingo de diversão e que precisei lutar todos os dias para não enlouquecer com o fato de que a garota que eu amo não está mais comigo? – ironizou Vincent – Qual é o problema, não é Rose? Férias assim são ótimas para se relatar! Ah propósito, como foram as suas? Conseguiu se divertir ou sua cabecinha ruiva ficou questionando 24hs se finalmente Scorpius estava disposto a voltar atrás e ficar com você, ou se aquela linda cena do casamento da Victoire não aconteceu apenas pelo calor da emoção? – Vincent deu uma risada sarcástica – Então amiga, vai querer me falar ou prefere ignorar e mudar de assunto?
Rose ficou parada com os olhos arregalados, encarando Vincent. Nunca o moreno havia sido tão grosso com ela, nem mesmo quando não eram amigos.
Pensou em mil coisas para responder a ele, mas o que poderia dizer? Vincent estava certo. Ela passara cada segundo das suas férias pensando naquilo e perdendo noites de sono, portanto nem havia o que contestar ali.
- Olha Vincent, sei que tá difícil pra você. Sei disso porque passei pela mesma coisa, ou ainda estou passando, não sei, mas acredite quando digo que se ainda estou aqui de pé e ouvindo suas grosserias, é porque tive alguém que me apoiasse e ouvisse minhas lamentações. – disse Rose, encarando o amigo de forma compreensiva e ao mesmo tempo magoada – Se eu não tivesse o Al... Bom, acho que teria desistido de tudo antes mesmo de tentar... Sei que não está com humor para nada, mas não estrague sua amizade com Scorpius por ter se separado da Sophie. Ele não tem culpa, aliás, ninguém tem culpa disso. Controle seu gênio antes que acabe perdendo o melhor amigo também.
Ao final do discurso, Rose apenas deu um pequeno sorriso para o rapaz e se virou para sair. Apesar de estar chateada pelas palavras do amigo, entendia perfeitamente o ódio que sentia do mundo e sabia que logo aquela mágoa por ele passaria.
- Ei, Rosecreide! – Vincent a chamou – Me desculpa, vai?! Você tá certa! Ninguém tem culpa do meu humor altamente afetado pela raiva e eu acabo sendo um idiota. – ele suspirou e então baixou seu tom de voz – Tá sendo tão difícil... Muitas vezes eu falo e acabo não medindo as consequências dos meus atos, e quando vejo, já explodi... Eu realmente não queria ter falado com você daquele jeito.
Rose suspirou e num gesto gentil, passou os braços em volta do amigo e o abraçou. Aquilo havia funcionado com ela quando achava que podia explodir o mundo por causa de sua tristeza.
- Eu te perdoo, mas você vai ter que fazer as pazes com o Scorpius!
- Ah, fala sério! Eu ainda quero bater naquele idiota!
- Credo Vincent, pare com isso! Você não pode descontar sua raiva nele! – ela o repreendeu.
- Rosecreide, dessa vez não tem nada a ver comigo! Sabe, são quase dezoito anos convivendo com o Scorpius e acho que posso dizer que ele tá sofrendo mais do que aparenta. Putz, se eu tô assim porque faz quase um mês que tô sem a Sophie, imagina como ele se sente em relação a você?! O cara deve tá explodindo por dentro! Talvez uma boa briga o ajude a superar. É claro que depois eu vou ter que procurar um hospital, pois se a raiva dele for tão grande quanto a minha é capaz que eu acabe sem dente, com o braço quebrado e uma perna na orelha... Mas pelo menos ele vai se sentir melhor!
- Vincent, não! – Rose quase gritou – Peça apenas desculpa. Por favor, violência não resolve nada! Tire já essas idéias da cabeça!
Vincent riu e passou o braço por cima dos ombros da ruiva.
- Tem razão! Acho que um: “Meu querido, amado, quase idolatrado amigo, perdoe-me por causar nossa crise conjugal. Podemos voltar a ser uma boa dupla?”, deve resolver, não?!
- Acho que sim! – concordou Rose, aliviada – Sabe, você já foi melhor com piadas...
- Ah, diz isso porque não tem ideia do esforço que fiz para bolar essas...
Rose desejou não ter aberto a boca para fazer aquele comentário. Se sentiu uma estúpida e tratou logo de mudar o assunto.
- Acho que você deve falar com o Scorpius agora.
- Ah, claro! Eu vou, mas é melhor me acompanhar. Vai que eu mudo de ideia e decida partir para agressão?! Não podemos correr riscos! – disse Vincent. É claro que ele não pensava em brigar com o amigo, só queria um pretexto para deixar Rose e Scorpius perto. Sabia que se desse bobeira, eles só se falariam em Hogwarts, sob circunstâncias esquisitas. – Se não quiser me ver em um hospital completamente mal, e isso até rimou, acho bom me acompanhar.
Rose revirou os olhos e puxou o amigo pela mão.
- Vamos logo falar com aquele loiro!
Do outro lado da estação, Sophie ainda dava broncas em Scorpius, por ter sido pego naquela situação. Ela, apesar dele insistir em dizer que não havia sido sua culpa, não conseguia aceitar o fato de que dois grandes amigos se comportassem feito crianças em público.
- Vocês dois deveriam fazer as pazes! Por Merlin, toda essa briga é muito ridícula. – disse Sophie, revirando os olhos.
- Eu não vou me desculpar!
- Deixe de ser cabeça dura! Você vai se desculpar sim.
- Ah claro! Ele começa com os ataques e eu que vou bancar o imbecil pedindo desculpas? Sinto muito, minha adorada amiga, você sabe que te amo muito, mas esse seu pedido não vou atender! Se ele quiser, que venha. Eu não vou atrás.
- Você parece uma criança mimada, que não gosta de voltar atrás em suas decisões.
- Não sei quanto ao fato de ser mimado, mas eu realmente não vou mudar minha decisão!
Sophie revirou os olhos, e rapidamente mudou sua expressão de “altamente brava” para uma que dizia claramente “se ferrou, agora vai ter que falar, querendo ou não”, quando avistou Rose e Vincent se aproximarem.
- Eu conheço esse olhar... – disse Scorpius, erguendo uma das sobrancelhas e então se virou bem a tempo de ver o amigo se aproximar da... namorada? Isso ele não sabia, mas agora não estavam discutindo seu relacionamento com Rose e sim com Vincent. – Se ele pensa que vou pedir desc...
- Scorpius Hyperion Malfoy, é bom saber que não estou brincando quando digo que você vai falar com Vincent de forma civilizada se não quiser me ver completamente furiosa. Você pode ser grande, mas ainda sim não tem força suficiente para impedir um ataque de fúria meu! Então trate de sorrir e bancar o melhor amigo, antes que eu saque minha varinha e transforme esse belo rostinho pelo qual Rose se apaixonou, num completo desastre!
- Ai tá, pedindo assim com carinho, nem posso negar.
Naquele exato momento, Rose e Vincent chegaram onde os loiros estavam, e pararam em sua frente. Rose em frente a Sophie e Vincent em frente a Scorpius.
- Então...? – Rose encarou Vincent, esperando que ele tomasse a iniciativa.
- Scorpius, você não tinha algo pra falar? – Sophie, seguindo o exemplo da amiga, pressionou Scorpius para que quebrasse o gelo.
- Na verdade eu estava comentando que preciso achar minha mãe. – disse Scorpius, encarando o Expresso de Hogwarts, para evitar os olhares mortais da amiga.
- E eu preciso achar meu pai! – comentou Vincent, agindo exatamente como o amigo.
- VOCÊS DOIS PRECISAM É PARAR DE FRESCURA! – gritou Rose, fazendo com que Vincent e Scorpius a encarassem assustados – POR MERLIN, QUANTA BOBAGEM! DEEM AS MÃOS, DIGAM QUE SE AMAM, SEI LÁ! MAS PAREM DE AGIR COMO CRIANÇAS MIMADAS, QUE RESOLVEM TODOS SEUS PROBLEMAS BRIGANDO! VOCÊS TÊM NOÇÃO DO QUANTO É RIDÍCULO BRIGAR?
- A gente não tinha até você começar a gritar e brigar! – disse Vincent, com um tom zombeteiro – Tá bem, Scorpius Malfoy, eu ia fazer um discurso daqueles que provavelmente o fariam chorar emocionado e se jogar aos meus pés, implorando para que eu volte pra casa e cuide das crianças...
- Ok, deixa que eu faço isso! Você é muito ruim com desculpas. – Scorpius revirou os olhos e abraçou o amigo – Eu te perdoo.
- Mas eu nem pedi perdão! – Vincent ergueu uma das sobrancelhas, e rapidamente se encolheu ao ver o olhar zangado de Rose – Quero dizer... Foi mal, cara!
- Own, que bonitinho! – exclamaram Rose e Sophie.
Os quatro de repente se encararam e começaram a rir descontroladamente. Nem pareciam estar quase se matando há alguns segundos. Juntos, diante daquela situação, pareciam ter voltado a ser o mesmo grupo de amigos que saíam para almoçar e se divertiam pelas ruas.
Pouco a pouco as risadas foram se perdendo, até que por fim, o silêncio se instaurou e de forma nada agradável. Scorpius passou a encarar Rose, e Vincent fez o mesmo com Sophie, que obviamente não desviou o olhar.
Estava claro que todos tinham várias coisas para falar, mas nenhum tinha coragem suficiente para puxar o assunto pendente.
- Eu... Er... – Rose tentou falar, mas foi interrompida pelo irmão que, sem saber, chegou bem a tempo de salvá-la.
- ROSE! Finalmente achei você. Venha, mamãe pediu para que te levasse de volta. Ela quer se despedir de nós devidamente, antes que comece toda aquela correria.
- Certo, vamos! – disse ela, mas antes de se afastar do grupo, os encarou com um sorriso tímido – Vejo vocês depois!
- Rose! – dessa vez foi Scorpius que a chamou – Er... Eu preciso falar com você depois, certo?!
- Certo! – ela assentiu e depois se afastou com o irmão.
Scorpius, Vincent e Sophie se encararam em silêncio por alguns instantes, até que o primeiro apito do trem os fez saltar.
- Preciso ir! – os três disseram ao mesmo tempo e pararam para se olhar.
Riram mais uma vez.
- Vejo vocês depois! – disseram juntos novamente e se afastaram em direção as suas famílias, ainda sorrindo.
Ao primeiro apito do Expresso de Hogwarts, os alunos espalhados pela plataforma, começaram a correr em diversas direções, em busca de seus pais, que estavam esperando para se despedirem.
Para quem não estava acostumado com toda aquela movimentação, julgaria estar presenciando um verdadeiro caos. Eram empurrões para um lado, pisões pro outro, enfim, só quem vivia aquilo todos os anos, não se espantava com toda aquela desordem.
- Não acredito que vão ficar parados, enquanto seus filhos estão perdidos nessa multidão! – esbravejou Válter, encarando os demais, inclusive o próprio filho, completamente furioso – Luiza pode ser arrastada por essa bagunça!
- Agora eu sei de onde o porquinho dramático herdou o gênio desesperado... – comentou Draco, que acabou levando um cutucão da esposa – Desculpe, só falei a verdade.
- Dudoca, vai ficar aqui parado, sem ver onde sua filha está? – Válter encarou o filho, buscando apoio.
Duda, apenas deu de ombros. Ainda se lembrava bem dos empurrões que levou da última vez que tentou ir atrás da filha.
- Pai, é sério. Luiza não vai se perder, ela já está a caminho. – disse Duda, que estava com um braço sobre os ombros da esposa, e com a outra mão enfiada no bolso.
Válter bufou, fazendo seu bigode balançar e Harry pôde ver a típica veia em seu pescoço, pulsar violentamente diante da resposta calma do filho. Sem dizer mais nada, ele se virou e saiu batendo os pés, em direção à multidão.
Harry, mesmo contrariado, ainda tentou avisar ao tio que aquilo não era uma grande ideia, mas este apenas fez um barulho estranho com a garganta e seguiu em frente, sem se importar com a opinião do sobrinho.
Como todos já esperavam, a cena que se seguiu após a saída de Válter em direção ao tumulto não poderia ser mais engraçada. O homem não conseguiu andar para muito longe do grupo, já que algumas crianças que corriam em direção aos pais passaram por ele, seguraram firmes em seu grande casaco e o giraram, fazendo com que Válter ficasse tonto e caísse no chão com um baque surdo. Ele ainda tentou se levantar, mas outra criança desembestada veio correndo por trás dele, e o empurrou, fazendo com que o homem caísse de quatro.
Para o seu azar, Luiza vinha bem atrás, no momento em que Válter tinha intenção de se levantar, e achando que o avô estava brincando com ela, se jogou nas costas do homem, como costumava fazer quando era um pouco mais nova.
- Vovô, o senhor vai me carregar! – disse animada.
- Ai minha coluna! – foi a única coisa que Válter disse, antes de se arrastar com a neta em direção ao grupo.
Harry, Rony, Hermione, Gina e todos os outros que estavam lá, não conseguiam conter as gargalhadas. Válter parecia um completo idiota, sob o olhar do público.
- Obrigada vovô! Mas sinceramente, não precisava. Eu já sou um pouco grandinha para brincar de cavalinho. - Luiza comentou, indo em direção aos pais, que tentavam não rir da situação de Válter.
Petúnia, apesar daquele episódio hilariante, continuava com a mesma expressão de quem havia cheirado bosta de dragão. Não queria dar razão às pessoas que riam de seu pobre marido. Ele estava apenas tentando ser um bom avô.
- Oh, Válter, tente ficar em uma posição reta! – disse Petúnia.
- Eu preciso de um médico, ai. – disse o homem, colocando as mãos nas costas – Me quebrei inteiro.
Novamente todos riram, diante da situação do homem.
- O que houve com o vovô, tio Harry? – Luiza encarou o moreno, curiosa. – Ah propósito, eu posso te chamar de tio né? Eu acho que você e a Gina têm cara de tios, e como eu não tenho nenhum...
Harry sorriu e se abaixou até ficar da altura da prima. Num gesto carinhoso, a puxou para um abraço e em seguida a encarou.
- Claro que pode me chamar de tio! Aliás, creio que todos aqui adorariam se você os chamasse assim. – ele sorriu mais uma vez – E quanto ao seu avô... Bom, só pra garantir, acho melhor você não pular mais nas costas dele por um tempo.
- Ele que começou com a história do cavalinho. – ela se defendeu.
- Eu sei... Mas digamos que ele agora esteja mais para um jegue velho do que um Cavalo de raça!
Luiza não conseguiu se conter e começou a rir do comentário de Harry. Logo depois se afastou para se despedir dos demais.
Scorpius que até então andava perdido pela plataforma, suspirou ao ver que os pais ainda estavam com o grupo dos Weasley, Potter e Dursley, e isso significava que querendo ele ou não, teria que encarar Rose novamente.
- Finalmente achei vocês dois! – Scorpius comentou, enquanto se aproximava dos pais – Achei que embarcaria naquele trem sem dar um mísero “tchau” para minha família.
- Até parece que eu ia deixar! - Astoria riu, puxando o filho pra um abraço apertado. Depois se afastou dele e fez um biquinho.
- Eita, o que foi mãe? – perguntou Scorpius, encarando a mãe, levemente preocupado.
- Você passa tanto tempo longe de mim. - ela continuou a fazer bico e Scorpius pensou no quanto devia ser difícil falar assim.
- Ahhh mãe, não fica assim! – o loiro se aproximou da mãe e a abraçou novamente – Na páscoa eu tô aqui de novo, e depois da formatura a senhora vai ter que me aturar por um longo tempo, já que é meu último ano na escola. Sinceramente, acho que vai até enjoar da minha presença em casa e vai começar pedir pra fazer algum curso do outro lado do país! – ele brincou, tentando animar a mulher.
- Mas demora! - Astoria sorriu e se afastou pra encarar o filho. – Quando acabar esse ano pode se preparar pra uma festança! Já tenho até o nome em mente “Meu filho agora é meu, Hogwarts!". – Ela ficou com o olhar distante, como se estivesse imaginando cada detalhe da festa.
- Por Merlin, mamãe, não é pra tanto! – Scorpius fez uma careta, sabendo perfeitamente que aquela festa seria inevitável. Já conseguia até imaginar a faixa estendida no salão de sua mansão, e os convidados espalhados pela casa, o encarando com uma expressão de alguém que se esforçava para não cair na gargalhada.
- Ah, é claro que é! – Draco finalmente falou, e seu apoio a esposa fez com que seu filho arregalasse ainda mais os olhos – Imagina só, que festa maravilhosa será, hein?! Eu mandarei estampar camisetas com seu rosto, só para que todos entrem no clima. E é claro que junto com a foto terá a seguinte frase: “AGORA EU SOU DA MAMÃE!”
- Não esqueça dos brindes, amor. - Astoria falou tentando prender o riso - Faremos cuecas com a mesma frase estampada no bumbum, vai ficar lindo!
- Claro - Draco apoiou a esposa - Quero que lembrem dessa festa pra sempre!
- Por Merlin, eu acho que sou adotado, não é possível. Essa é a única justificativa plausível para que queiram me fazer passar por isso! – Scorpius ainda encarava os pais de boca aberta.
- De quem você acha que puxou esses cabelos loiros então? – Astoria encarou Scorpius chocada.
- Eu não sei! Oxigenada, talvez? – ele chutou.
- Draco, ele está negando nosso gene loiro? - Ela olhou pro marido intrigada.
- Sim, mas nem adianta. Um dia ele vai acordar e se dar conta que toda dificuldade pra raciocinar só pode ser culpa do nosso gene, mulher. Se controle. Loirisse é uma coisa que mais cedo ou mais tarde, bate a nossa porta.
Os três se encararam e depois caíram na risada.
- Ai, ai, eu amo vocês! – disse Scorpius, puxando os pais para um abraço.
- Sei... Há dois segundos tava negando a loirisse da família, e agora vem dizer que ama!
- Papai, é impossível negar algo tão óbvio. Afinal de contas, o que mais explicaria o fato deu precisar contar nos dedos de 1 a 3 para não me perder?
Naquele momento, o trem apitou pela segunda vez, e a correria na estação aumentou. Vários alunos começaram a embarcar no Expresso, enquanto seus pais os ajudavam com as malas.
- Bom, é melhor eu ir.
- Vá filho! – ela puxou Scorpius para mais um abraço, contrariando o que tinha acabado de dizer – Não coma muitos doces; Faça todas as lições; Não se perca na floresta com os amiguinhos... – Astoria começou a falar uma lista interminável de recomendações, deixando Scorpius e Draco com cara de tédio, pois já sabiam a lista de cor. – E, ah, essa é nova – ela sorriu e depois encarou Scorpius séria – Juízo, mocinho!
Scorpius sorriu para mãe e em seguida se despediu do pai. Graças a Merlin, Draco era um pouco mais sensato e não achava necessário fazer tantas recomendações ao filho, tendo em vista que o considerava bem grandinho para tomar decisões estúpidas como ir à floresta proibida ou aprontar alguma que o fizesse ser expulso.
Assim como os demais, Scorpius caminhou em direção ao trem, para entrar e procurar por uma cabine. O loiro parou apenas quando chegou à porta, e deu de cara com Maris e seu pai, se despedindo.
- Ooooh, veja se não é o filho do Draco! – disse o pai da Maris, dando palmadinhas no ombro de Scorpius – Como está meu jovem?
- Bem, obrigado! – Scorpius sorriu. Queria logo sair dali, antes que Rose o visse próximo a Maris e uma grande confusão começasse – Agora, se o senhor não se importa, vou guardar minha mala em uma cabine e...
- Ahhh, papai! Lembra-se da novidade que te falei? Então, acho que é um bom momento para dizer que Scorpius e eu estamos juntos! – Maris anunciou em voz alta.
- O QUE? – Scorpius e o Sr. Craig perguntaram ao mesmo tempo.
- Por que o espanto, Malfoy? Deveria estar feliz, por finalmente ter tomado uma decisão. – para desespero de Scorpius, a pessoa que sussurrou essas palavras em seu ouvido, era Rose Weasley.
Scorpius se virou rapidamente para encarar a menina e tentar explicar, mas ela já havia passado por ele, e caminhava em passos rápidos em direção a cabine dos monitores.
- Mas que novidade é essa, ahn? Você e minha filhinha juntos?! Por Merlin, eu nunca imaginaria isso!
- Desculpe Sr. Craig, mas deve haver algum engano. Eu nunca estive junto com sua filha, ela que vive me perseguindo e bom... Se quiser algo detalhado, perca seu tempo fazendo perguntas à ela, pois eu realmente preciso ir até minha cabine e também preciso corrigir um erro bem maior que esse!
Sem dizer mais nada, Scorpius saiu, deixando os dois para trás, com expressões confusas nos rostos.
Rose nem se preocupava em pedir licença enquanto caminhava em direção à sua cabine. Queria apenas entrar lá e se esconder até que chegasse a escola. Sentia-se tão burra, tão idiota por ter pensado que depois do que ocorreu no casamento, os dois ainda tivessem alguma chance.
Estava enganada. Esteve enganada durante esse tempo todo. Scorpius podia amá-la, como dizia, mas não era como antes. Pelo visto, agora ele estava muito bem com outra, e era por isso que disse que precisava conversar com ela. Queria lhe informar que mudou sua decisão e que agora ficaria com Maris.
- Idiota! – disse ela, enquanto caminhava de cabeça baixa.
- Rose?
- O QUE FOI?! – ela gritou, se virando para encarar a pessoa que a chamou. Não se surpreendeu ao ver Adam, parado na porta de uma cabine, a encarando com uma expressão confusa.
- Uau, quanta grosseria! – ele zombou – Assim até parece eu.
- O que você quer? – perguntou ela, tentando manter a calma.
Adam analisou cuidadosamente a expressão da ruiva, tentando decifrar o motivo de toda aquela raiva. Não conhecia Rose tão bem a ponto de chutar algum palpite, que justificasse toda aquela grosseria.
- Na verdade queria saber como você está.
- Ótima! Se era só isso, vou pra minha cabine agora. Tenho mais o que fazer.
- Não, espere. Na verdade, eu ouvi boatos de que talvez fôssemos passear em Hogsmeade no próximo sábado e eu gostaria de saber se...
- Olha, nem perca seu tempo completando a frase, pois a resposta é não! Eu não tô com humor pra perder meu tempo com passeios da escola, e também tenho que me dedicar mais aos NIEMs. Agora se me der licença, eu realmente PRECISO ir para minha cabine! Passar bem, e boa viagem!
Antes que Adam pudesse abrir a boca para contestar, Rose já havia tomado seu caminho, deixando o rapaz de boca aberta.
Adam só despertou de seu transe, quando percebeu um trio de alunos do primeiro ano, o encarando de forma divertida. Ele fechou a cara para as crianças, as fazendo encolher intimidadas.
- O que estão fazendo aqui? Saiam! Corram pelo trem espalhando a notícia de que Rose sairá comigo no próximo sábado.
- Mas ela acabou de te dar um fora! – um dos alunos retrucou.
- E eu posso te dar um belo pé na bunda, acompanhado de uma azaração que vai fazer você ir parar no St. Mungus, caso não faça o que estou mandando. VÃO!
Não foi preciso uma segunda ordem, para que as crianças saírem correndo e espalhando a falsa notícia pelo trem.
Aquilo, é claro, chegou rapidamente aos ouvidos de Scorpius, que estava atrás de Rose. Ele não gostou nada disso.
Mal Rose tinha entrado em sua cabine e fechado à porta e ela abriu-se novamente, revelando a presença de Scorpius.
- Ah não! Deve ser praga! – disse Rose, apoiando a cabeça nas mãos – Será que eu vou ter que colocar uma placa com letras fluorescentes na porta dizendo: NÃO ME INCOMODEM?
- Eu preciso conversar com você! – disse Scorpius.
- Eu não quero e nem posso conversar com você. Daqui a pouco terei reunião com os monitores, e não terei tempo para lhe dar atenção. Isso se você merecer alguma!
- Rose, você precisa me escutar. Aquilo que a Maris disse é mentira!
- Tem certeza? Não, porque pra mim pareceu bem real! Faz o seguinte, Malfoy, corre de novo pra sua namoradinha e tente dar satisfações a ela.
- Rose, você tá entendendo tudo errado! – disse Scorpius, se aproximando da ruiva que oferecia toda resistência possível.
- Eu? Entendendo tudo errado? – ela soltou uma risada seca e se pôs de pé para encarar Scorpius de frente – Até um idiota conseguiria entender aquilo!
- Dá pra me deixar explicar?
- Não, não dá! Eu não quero falsas explicações! Agora saia daqui, antes que eu tenha que chamar alguém pra te tirar.
- E quem você vai chamar? O Krum? Ah, pois então, aproveitando o fato de que toquei no nome dele, você poderia me explicar o motivo de ter aceitado sair com ele?
- Ahn?! – Rose ficou confusa por alguns instantes, e logo entendeu do que se tratava. Alguém provavelmente havia escutado a conversa dos dois e espalhado a falsa notícia – Sei que não te devo explicações, mas eu não aceitei sair com ele. Mas, sinceramente, não vejo porque não aceitar.
Isso irritou Scorpius.
- Não vê? – foi a vez dele rir – Você não vê motivos para negar o pedido dele? Só pode estar brincando.
- Não, não estou. Você tem sua namorada, porque eu não posso começar a dar rumo pra minha vida? Você já fez sua escolhe, me deixe fazer as minhas.
- NÃO!
- E POR QUE NÃO?
- Primeiro: você não gosta dele. – disse Scorpius, avançando perigosamente em direção a Rose, que não tinha para onde correr, a não ser recuar e se encostar próxima a janela – Segundo: seria um erro absurdo da sua parte sair com alguém tão imbecil. – Scorpius terminou com aquela distância, puxando a ruiva contra seu corpo e a segurando firme – E terceiro: Você é minha! – e sem dizer mais nada, ele a beijou, ignorando todos os protestos dela de se afastar de seus braços.
Aquele beijo só não foi aprofundado, porque pouco tempo depois, a porta da cabine se abriu, e Hugo e Lily apareceram, acabando com aquela cena.
- Por Merlin, parem de se agarrar! – disse Hugo, tentando parecer descontraído, embora ainda não gostasse da visão da irmã beijando alguém.
Rose, completamente constrangida, conseguiu empurrar Scorpius pra longe e expulsou o loiro da cabine, a base de tapas.
- Eu ODEIO você! – disse ela, assim que conseguiu retirá-lo do local.
- O ódio e o amor são sentimentos que andam de mãos dadas, minha querida ruiva! – ele sorriu e logo depois correu, quando Rose fez menção de atirar um livro em sua cabeça.
Lily e Hugo encaravam tudo completamente perdidos.
- Bom, eu devo perguntar o que está havendo ou se eu fizer isso serei azarado? – perguntou Hugo, se sentando ao lado de Lily.
- Se qualquer um dois abrir a boca, eu juro que vai se arrepender de me ter na família!
Apesar da confusão entre alguns alunos, o retorno à Hogwarts fora tranqüilo.
Agora, os alunos se encontravam no Salão Principal, esperando o momento em que o banquete seria servido e todos poderiam desfrutar das delícias que somente a escola oferecia.
As vozes que ecoavam pelo Salão logo cessaram, quando Minerva se colocou de pé para fazer um anúncio. Os alunos, é claro, estranharam. No geral, a diretora sempre esperava até o final do jantar para das os avisos importantes.
- Boa noite, alunos e alunas de Hogwarts. É com prazer que recebemos vocês para a continuação do que tem sido um ótimo ano. – ela deu um breve sorriso para os alunos e prosseguiu – Bom, antes do jantar, gostaria de informá-los que nossa escola acolherá uma nova aluna neste semestre. Sei que não costumamos fazer isso, mas devido à situação, abrimos as portas de nossa casa para ela, e a jovem que veio transferida de um ótimo colégio Irlandês ingressará aqui em seu sexto ano letivo. – diante do burburinho que se formou, Minerva lançou um olhar para todos os alunos, que trataram de ficar em silêncio novamente – Como é de costume, ela também passará pela seleção das casas feita pelo nosso Chapéu Seletor e ele decidirá para onde ela irá. Sem mais, Srta. Williams, por favor, entre.
Todos os olhares se voltaram para a porta de entrada do Salão Principal, mas só para se decepcionar. Ao contrário do que pensaram a novata entrou pela porta que ficava atrás da grande mesa dos professores, e quando todos se viraram novamente, lá estava ela, sorrindo e muito animada para alguém que havia acabado de chegar. Vincent arregalou os olhos ao ver quem era a tal menina – apesar de que diante o anúncio da Diretora, ele já imaginasse.
- Srta. Williams, por favor, sente-se aqui! – Minerva retirou a varinha de dentro das vestes e conjurou um banquinho para que a menina se sentasse. – Agora fique parada que o Chapéu lhe dirá a qual casa você pertence.
- Uau, essa é nova pra mim. Não que eu desconfie da sabedoria de objetos feitos de pano e enfeitiçados, mas não é todo dia que me deparo com um deles. Com todo respeito ao chapéu, é claro! – disse a jovem animadamente, e ao ver a expressão repreensiva de Minerva, tratou logo de fechar a boca e se sentar.
Em silêncio, Minerva se aproximou da menina com o chapéu, e esta inclinou a cabeça para trás, no instante que a diretora ia colocá-lo em sua cabeça.
- Srta. Williams quer, por favor, sentar-se corretamente? – Minerva disse de forma severa. O sorriso que esboçava foi embora, dando lugar a uma fina linha.
- Foi mal, foi mal! Só queria ver o que ele tem dentro. – ela deu de ombros e se endireitou.
- Não há nada dentro dele, Srta. Williams! Apenas sabedoria. – Minerva ralhou e finalmente conseguiu colocar o chapéu sobre a cabeça da menina.
No exato instante em que tocou os cabelos castanhos da jovem, uma fenda se abriu no chapéu e ele começou a filosofar.
- Ah sim... Claro! Muito esperta e astuta, devo concordar. Espontânea e hábil também... É corajosa, vejo isso. A Grifinória ganharia muito com sua presença...– o chapéu mal havia falado, e a menina já ia se colocando de pé, quando Minerva a segurou pelos ombros, indicando que não deveria se mexer – Sim, a Grifinória ganharia muito com você, mas sua morada não se faz lá, pois SONSERINA é o seu lugar!
A mesa da Sonserina explodiu em palmas no mesmo instante que Minerva retirou o chapéu da menina e indicou que ela poderia ir.
Vincent, que até então estava mais apreensivo que todos, foi o primeiro a se colocar de pé e abrir os braços, para receber a menina que vinha correndo em sua direção com um sorriso gigantesco.
- Vin! – ela se jogou nos braços do moreno, que a abraçou e girou no ar – É tão bom ver você!
- É bom ver você também, Mel! – Vincent a colocou no chão e a beijou no rosto.
Todos da mesa – exceto Scorpius e Sophie – encaravam aquela cena, chocados. Melissa riu.
- Ah, qual é?! Ele é gato, mas não tem tanta sorte! – Melissa disse e se sentou ao lado de Vincent.
- Isso aí, bando de curioso, eu sou... Ei, espera aí! Quer dizer que você chega se achando já?
- Fazer o que? Alguns podem e outros apenas admiram! – Melissa jogou os cabelos pra trás e riu. Sua risada leve contagiou os alunos que estavam próximos – Pra curiosidade alheia, ele é meu primo.
- Exatamente. Um primo ciumento, chato e possessivo, e já deixo bem claro que o engraçadinho que der em cima, se arrependerá amargamente por ter se aproximado. – ele sorriu sombriamente para um grupo de meninos de sua casa, que encaravam Melissa com bastante interesse.
- Ok, você vai ter que me contar tudo! Tudo mesmo. Quero saber como são os professores, se as aulas são legais, se os alunos são ou não insuportáveis, enfim, quero saber tudo mesmo! – Melissa falava tão rápido, que seu primo se via obrigado a se concentrar, para não perder nada.
- Tá, eu conto tudo. Mas será que nós podemos comer? Não leva a mal, baixinha falante, mas comer se tornou minha prioridade no momento.
- Ok, vamos comer. Até porque essa viagem me deu uma fome absurda!
Depois do jantar e dos avisos de Minerva, reforçando a lista de proibições do Sr. Filch, os alunos foram liberados para irem até suas casas comunais.
Como sempre, cada casa festejava a sua maneira, o início de um novo semestre.
Na Sonserina, os alunos estavam espalhados pelo salão, conversando animadamente enquanto bebiam suas cervejas amanteigadas. Todos pareciam disputar para saber quem fez a melhor viagem ou quem aprontou mais na Festa de fim de ano.
Em um canto separado, Vincent e Melissa conversavam a respeito de Hogwarts. O moreno se esforçava para manter o bom humor enquanto contava a menina tudo que julgava ser necessário saber.
- Se você tiver sorte, vai se enturmar rápido. – disse Vincent, bebendo outro gole de sua bebida.
- Ah, por Merlin! Até parece que tenho problemas de socialização. – disse Melissa, num tom convencido – Você sim que parece ter altos problemas. Pelo amor de Deus, o que aconteceu com você?
- Você sabe exatamente o que aconteceu comigo! – ele revirou os olhos.
- Sim, eu sei. Mas não me refiro a sua trágica separação de Sophie. Eu estou falando do seu humor. Merlin tenha paciência, até um moribundo faz mais graça que você, e não estou sendo dramática. Não vai ser virando um maníaco depressivo que vai trazê-la de volta.
- E desde quando você começou a entender de depressão?
- Desde quando comecei a conviver com você. Por favor, é uma vergonha te ver desse jeito. Sabe o que vai acontecer se continuar assim? – disse Melissa, tirando a garrafa de cerveja amanteigada da mão do primo e tomando um gole generoso – Até eu vou tirar com sua cara, meu querido. Então, se quer mesmo ter a Sophie de volta, acho melhor levantar esse corpinho sarado daí, e mostrar do que um Williams é capaz!
- Merlin, eu criei um monstro. – disse Vincent, boquiaberto diante do discurso da prima.
Melissa riu, e balançou a cabeça em um sinal negativo.
- Não. Você criou um clone aperfeiçoado, é diferente. Agora vamos lá, levante, sacuda a poeira e dê a volta por cima, Vin. Reaja homem.
- Você é uma baixinha irritante, alguém já te disse isso?
- Sou uma baixinha irritante e realista, você quis dizer, não?! – ela ergueu uma das sobrancelhas.
- Realista não. Afinal de contas, eu não estou tão ruim quanto você diz.
- Tem certeza? Vincent, até a Cameron se aproveitou de você, e ela tem sete anos.
- Nove anos.
- Que seja!
- Ela é sua irmã, deveria saber a idade dela, não?!
- Minha função é cuidar de sua inteligência e capacidade de chantagear as pessoas, manipulando-as para que consiga o que quer. Saber a idade é função dos meus pais. – ela deu de ombros – A questão é que ou você começa a recuperar o humor e a auto-estima, ou todas as crianças da família entre 01 e 10 anos, vão começar a achar que é um alvo fácil para realização de seus caprichos.
- Por favor, fique de boca fechada. Está começando a me assustar com todo esse discurso de “Vincent, você se tornou um Sonserino com síndromes de Grifinório”. Daqui a pouco vai me dizer que tenho o dom de fazer as pessoas felizes e que nasci para ser o propagador da paz e harmonia entre os povos.
- Vin, eu disse que você estava depressivo e não com tendências a se tornar hippie.
- Ok, eu me empolguei.
- Percebi. – disse Melissa – Ok, vamos mudar de assunto antes que você comece a reconsiderar essa história de depressão e ameace se jogar da torre de astronomia.
Vincent riu e tomou a garrafa de bebida da mão da prima.
- Ah não, tô cansado demais para estabelecer outra conversa onde provavelmente eu me torne o assunto e você comece a discursar sobre minha vida dramática e digna de um livro de romance. Vou para meu quarto enquanto você pode ficar aqui, analisando a felicidade alheia e bancando a psicóloga. Só não se esqueça de cobrar depois por cada consulta e depositar tudo em minha conta. – disse Vincent, se colocando de pé. Ele riu ao ver a expressão incrédula da prima e completou – Por que o espanto? Eu posso estar triste, deprimido, quase me atirando, como queira classificar, mas ainda sou Vincent Brandon Williams, e as melhores piadas, priminhas, sempre serão as minhas.
Dizendo isso, Vincent apenas deu um beijo na testa da prima e saiu, deixando a garota pra trás, com uma expressão que mesclava choque e diversão.
- É... É exatamente esse Vincent que precisa voltar. – disse Melissa em voz baixa, enquanto via o primo se afastar.
O dia amanheceu parcialmente cinzento. O frio ainda predominava e tinha grandes chances de nevar ainda aquela manhã.
Os alunos desfilavam pelos corredores com suas capas, cachecóis, luvas e alguns até toucas. Tudo, na tentativa de se proteger do vento gélido e cortante que soprava.
Melissa Williams, que havia levantado um pouco depois do primo, caminhava pelos corredores, absolutamente perdida. Sentia uma vontade incrível de azarar Vincent por não tê-la esperado, e pior, por não ter explicado como chegar ao Salão Principal.
Ela caminhava pelos corredores em passos rápidos, parando vez ou outra, para ver qual direção tomar. Tinha ligeira impressão que estava andando em círculos e sua vontade de arrancar a cabeça do primo com as próprias mãos aumentava a cada passada.
- IDIOTA! – disse ela em voz alta.
Fred Weasley, que vinha andando por um corredor paralelo ao que a menina estava, riu e foi de encontro à voz que gritou completamente mal humorada.
- Opa, mal levanto e já sou ofendido? – ele brincou e riu, ao ver que a menina saltou de susto – Desculpa, tá tudo bem?
- Você me assustou, é claro que não está! – disse Melissa, entre os dentes. Depois de alguns segundos se convencendo de que Fred não era uma alucinação causada por sua mente quase congelada, ela suspirou e o encarou – O que está fazendo aqui?
- Sabe, eu ia fazer a mesma pergunta a você, mas já que foi mais rápida, digo que estou indo tomar café da manhã. E você?
- Acho que me perdi. – Melissa admitiu – O insensível do meu primo se levantou e não teve a coragem de me esperar. Ele esperava o que? Que encontrasse o caminho sozinha, nesse castelo gigante e cheio de corredores? Eu juro que quando encontrá-lo, vou azará-lo!
Fred riu e se aproximou mais da menina.
- Falando assim, você até parece minha prima. Às vezes ela é estressada igual a você.
Melissa estreitou os olhos violentamente e encarou Fred como se fosse socá-lo.
- Escute aqui, mocinho! Ninguém está estressado aqui, NINGUÉM! – Melissa empinou o nariz, demonstrando superioridade, mas logo precisou rir. Seu tom de voz não era de alguém calmo e disposto a conversar sobre o tempo – Certo, eu acho que estou um pouquinho alterada.
- Nota-se.
- Não concorde comigo!
- Ok, não concordo.
- Não fale assim também. Desse jeito parece que você não está concordando somente porque eu mandei o que torna a situação estranha, já que parece que não quer me contrariar, e geralmente as pessoas não gostam de contrariar os loucos, e eu não sou louca para você não ter coragem de enfrentar.
Fred tinha uma das sobrancelhas erguidas, e os braços cruzados em frente ao corpo. Definitivamente aquela era a garota mais estranha que ele havia conhecido.
- Eu realmente fiquei perdido. Pode repetir esse discurso quando eu estiver com um caderno de anotações em mãos? Gostaria de usá-lo com alguém.
- É claro. Desde que no final de tudo você diga: Criado por Melissa Williams, pode usar quando quiser. – ela sorriu – Ah propósito, eu não sei seu nome.
- Fred Weasley. – disse o moreno – Prazer, Williams!
- Prazer, Weasley!
Os dois se encararam por alguns instantes. Fred tentando entender quem exatamente era aquela garota baixinha e simpática, parada a sua frente; e Melissa, o encarava tentando entender como ela havia se perdido, porque ela estava conversando com um estranho e o motivo de não ter colocado um salto alto, já que perto de Fred – que era absurdamente alto – parecia uma criança.
- Ok, já que você está perdida, quer ajuda para chegar ao Salão Principal? – Fred quebrou o silêncio.
- Não vai perguntar quem sou eu? – perguntou curiosa.
- Não. Todos já sabem quem é você. É a prima mais nova do Vincent, a novata que vai entrar no sexto ano, e ainda por cima, membro da Sonserina.
- Eu sou tudo isso? Uau, nem tinha reparado. – ela debochou – E você é de qual Casa?
- Grifinória.
- Ah sim. Meu primo comentou que no geral, Sonserinos e Grifinórios não se simpatizam muito.
- Não mesmo. – Fred riu.
- Não deveria estar falando comigo então, tecnicamente sou sua rival.
- Ah, por favor, o que uma garotinha desse tamanho pode fazer?
Esse comentário irritou Melissa.
- Pro seu governo, uma garota do meu tamanho pode fazer coisas que até Merlin é capaz de duvidar. Tamanho não é sinônimo de habilidade e você deveria saber disso, seu poste com pernas! – disse ela, absolutamente nervosa – Agora me dê licença, eu vou tomar meu café!
E sem esperar resposta, Melissa se virou e saiu caminhando pelo corredor, pisando firme e dando longas passadas. Definitivamente aquele garoto não lhe agradara.
Fred riu e balançou a cabeça. Definitivamente Melissa era muito orgulhosa. Num ato de cavalheirismo, ele caminhou na direção que a menina seguia, e a segurou pela capa, antes que entrasse em outro corredor.
- Pode me soltar, por favor?
- Até te solto, mas achei que quisesse tomar café. – Fred soltou a capa da menina e deu de ombros.
- Eu estou indo tomar café. – Melissa se virou para encará-lo – E qual é, vai ficar me seguindo agora? Tá faltando espaço no castelo é?
Novamente Fred riu.
- Não que esteja faltando espaço, mas acho que como... “veterano” eu deveria lhe informar que está indo em direção ao banheiro dos monitores, e a não ser que pretenda comer sabonetes no café da manhã, é melhor que me siga.
Melissa refletiu por alguns instantes, até que por fim, se rendeu.
- Certo... Mas isso não nos torna amigos! – disse ela, empinando novamente o nariz e cruzando os braços em frente ao próprio corpo.
- É claro que não! Longe de mim, querer me misturar com Sonserinos... Eu apenas os mostro o caminho.
Dizendo isso, Fred guiou – em silêncio – Melissa até o Salão Principal, ele não queria que ela começasse uma briga, embora precisasse admitir que havia adorado discutir com aquela baixinha.
As aulas para os alunos do 7º ano começaram um tanto diferentes. Pra começo de história, após o café da manhã, Minerva pediu que todos eles acompanhassem o Prof. Flitwick até o salão onde costumava serem ministradas as aulas do Clube dos Duelos. É claro que eles estranharam afinal de contas, muitos deles não teriam a mesma aula naquele horário, mas não contestaram o pedido da Diretora e fizeram o que lhes fora mandado.
O grande salão estava com uma decoração diferente, mas não algo que indicava algum duelo surpresa. Havia várias mesas dispostas no local, com objetos antigos e um tanto raros. As peças consideradas mais frágeis estavam protegidas por uma redoma de cristal, o que indicava claramente que nenhum aluno deveria ser engraçadinho e tentar tocar.
Mas, não foram os objetos espalhados pelas mesas e protegidos por redomas que chamaram a atenção. No centro do salão, havia um objeto realmente grande, coberto por uma grande capa dourada. Todos perguntaram a Flitwick do que se tratava, mas ele apenas deu risadinhas e disse que cabia a Minerva revelar a surpresa.
Isso os deixou ainda mais intrigados, mas como não adiantava discutir, eles apenas resolveram caminhar e admirar as peças já expostas.
- Eu não acredito! – exclamou Rose, parada em frente a uma das redomas de cristal, boquiaberta.
- Rose? Por Merlin, não acredita no que? – Alvo que estava próximo a prima, se aproximou mais para ver o que havia chamado tanta atenção.
Rose não conseguia falar nada, então apenas apontou para o objeto a sua frente, completamente encantada.
Alvo, cuja paciência começava a se tornar infinita, entendeu de imediato que aquele livro e binóculo deveriam se tratar de algo realmente interessante, e se recusava a pensar que a prima tinha realmente pirado, a ponto de se encantar por objetos tão comuns.
- Eu não acredito! – disse Rose mais uma vez.
- Se você não acredita talvez eu não acredite também, e nós dois ficamos aqui bancando os incrédulos, o que acha? – brincou Alvo, passando o braço por cima dos ombros de Rose.
- Por Merlin, Al! Você sabe o que é isso? – ela encarou o primo, com uma das sobrancelhas erguidas.
- É alguma coisa pertencente a um tal de Flamel, e... ESPERA! – dessa vez foi Alvo quem arregalou os olhos – Flamel seria...?
- Exatamente, meu priminho lerdo, Nicolau Flamel, o famoso alquimista! – os olhos de Rose brilhavam de excitação.
- Srta. Weasley saberia nos dizer exatamente quem foi Nicolau Flamel? – perguntou Minerva, que havia chegado bem na hora que a ruiva comentou sobre o dono os objetos.
Rose sorriu e balançou a cabeça em um sinal positivo.
- Nicolau Flamel foi um grande inventor, poeta, pintor, além de um famoso astrólogo e cientista. Ele passou grande parte da vida se dedicando a estudos e trabalhos alquímicos, mas não foi nenhum desses títulos e pesquisas que o tornou realmente conhecido.
- E a senhorita saberia nos dizer o que o tornou tão famoso? – Minerva caminhou para próximo dos objetos de Nicolau Flamel, esboçando um pequeno sorriso.
- Ah sim! Nicolau se tornou mundialmente conhecido por ser o único possuidor da pedra filosofal. Há várias versões a respeito dessa pedra. Para os trouxas, ela pertenceu a Nicolau Flamel e seu único poder era de transformar os objetos em ouro. Muitos homens passaram a vida em busca de tal pedra, na esperança de enriquecer e dominarem o mundo. – Rose explicava tudo com facilidade, fazendo com que todos os outros a observassem admirados. Scorpius nem piscava, tamanho era seu fascínio pela menina – Reza a lenda trouxa, que quando Nicolau faleceu, alguns saqueadores invadiram sua casa e como não encontraram nada, resolveram abrir seu caixão. Entretanto, tiveram uma grande surpresa ao se depararem com o caixão vazio. Sem pedra e sem Flamel.
- E por que eles não encontraram o Flamel, Srta. Weasley? – Minerva continuava insistindo nas perguntas, satisfeita por uma aluna de sua casa saber tanto.
- Simples. Flamel nunca esteve morto de verdade e a Pedra Filosofal nunca foi um objeto que apenas transformava tudo que tocava em ouro. Na verdade, tal pedra, era o ingrediente principal para produção do Elixir da Vida, que basicamente pode-se traduzir como: imortalidade e ouro a quem o bebe e ministra. Graças a tal elixir, Flamel viveu cerca de 670 anos, morrendo apenas quando a pedra foi destruída.
- O que aconteceu no primeiro ano dos seus pais na escola. – Minerva apontou para Rose e Alvo, que lhe sorriram – Explicação magnífica, Srta. Weasley. 30 pontos para Grifinória.
Os alunos do 7º ano da Grifinória bateram palmas, completamente empolgados pelos pontos arrecadados. Por muito pouco, Vincent, Sophie e Scorpius não aplaudiram a menina também, mas ao receberem olhares mortíferos dos seus companheiros de casa, se contiveram e apenas lhe lançaram um sorriso.
Com a chegada da Diretora, o murmurinho a respeito do grande objeto posto no meio do salão recomeçou. Os alunos estavam curiosos para saber do que se tratava aquela peça gigantesca coberta pela capa dourada.
Entendendo que já não adiantava mais esconder, Minerva foi para o centro do salão e chamou a atenção dos demais para si.
- Bom, creio que estão bastante curiosos para saber que objeto é este, não?! – Minerva sorriu ao ver os alunos balançarem freneticamente a cabeça, em um sinal positivo. – Vamos acabar com a curiosidade, então. – com um aceno de sua varinha, a Diretora fez a grande capa dourada levitar e em seguida desaparecer, revelando aos alunos um espelho magnífico, da altura do teto, com moldura talhada em ouro e pés em forma de garra.
Um sonoro “OHHHHH” feito pelos alunos ecoou por todo salão, e fez com que Minerva e Flitwick trocassem olhares cúmplices e sorrissem.
- Alguém aqui saberia dizer o que é isso? – McGonagall perguntou, e imediatamente as mãos de Rose, Alvo, Scorpius e Adam, se ergueram. – Muito bem, já que os quatro levantaram as mãos, serei justa e darei a oportunidade de responderem as minhas perguntas. Primeiro o Sr. Krum. Diga-me, que objeto é esse?
- O espelho de Ojesed. – o moreno respondeu prontamente, lançando um rápido olhar para Scorpius, que ignorou completamente a presença do rapaz.
- Muito bem, 10 pontos para Corvinal. Agora, Sr. Malfoy, poderia nos dizer do que se trata esse espelho?
- O Espelho de Ojesed foi projetado para que mostrasse a pessoa que o olhasse seu desejo mais profundo e desesperado. – Scorpius respondeu tranquilamente, como se estivesse falando do tempo.
- Ótima resposta, Sr. Malfoy. 10 pontos para Sonserina! Agora, Sr. Potter, pode nos dizer o problema que esse espelho carrega?
- Sim. O problema do Espelho de Ojesed está justamente naquilo que ele mostra. As coisas que a pessoa vê quando se encara no espelho são apenas o que gostaria que acontecesse e não que vão realmente se tornar reais.
- Exatamente, Sr. Potter, exatamente! 05 pontos para Grifinória. – disse Minerva e ao notar o olhar intrigado dos alunos da Grifinória, ela explicou – A próxima pergunta é para Srta. Weasley, e considerando que ela vai acertar, seria injusto pontuar com 10 pontos o Sr. Potter e ela. Bom, Srta. Weasley, diante das explicações poderia dizer por que muitos definharam diante o espalho?
- Conforme meu primo explicou, o espelho nos mostra desejos, que muitas vezes não podem ser alcançados. No caso do Tio Harry, ele nos contou que via os próprios pais quando encarava o espelho. Mas sabia que os pais tinham morrido quando era apenas um bebê, então aquela imagem não podia ser verdadeira, não iria acontecer. Entretanto, homens mais fracos enlouqueceram com a dúvida se iriam ou não conseguir aquilo que viam. – explicou Rose, e quando todos pensavam que ela havia acabado, prosseguiu – Mas esse erro seria facilmente evitado, se eles tivessem se dado o trabalho de entender o escrito entalhado no alto que diz: Oãça rocu esme ojesed osamo tso rueso ortso moãn, que significa Não mostro o seu rosto, mas o desejo em seu coração.
- Perfeito, Srta. Weasley, absolutamente perfeito! 05 pontos para Grifinória. – disse Minerva, completamente orgulhosa – Osejed, para quem ainda não percebeu, é a palavra Desejo, escrita de trás para frente. E como já foi explanado, esse espelho é capaz apenas de mostrar os desejos mais íntimos de cada ser humano. Meu grande amigo e antigo Diretor de Hogwarts, Alvo Dumbledore, costumava dizer que “O homem mais feliz do mundo poderia usar o Espelho de Ojesed como um espelho normal, ou seja, ele olharia e se veria exatamente como é.”
- Podemos olhar para o espelho, professora? – perguntou Chad, enquanto encarava o espelho, fascinado.
- Sr. LeCompt eu não deveria permitir que vocês se aproximassem do espelho, diante de tudo que ele representa... Mas, como creio que vocês entenderam perfeitamente que as visões do espelho são apenas desejos e não realidade, não vejo problema em deixar que se aproximem.
Rapidamente uma fila começou a se formar em frente ao espelho. Todos os alunos estavam ansiosos para ver a mágica que havia nele. Alguns mais ansiosos que outros.
Conforme os alunos passavam a vez para o que estava atrás na fila, a falação aumentava. Todos queriam compartilhar o que viram.
Depois de Rose e Sophie passarem em frente ao espelho e saírem caladas, chegou a vez de Vincent e Scorpius.
O moreno foi primeiro e encarou o espelho por alguns instantes. Diante do que viu, Vincent não se conteve e pedindo licença aos professores, saiu da sala.
Scorpius pensou em seguir o amigo de imediato, mas antes quis se olhar no espelho. A visão que tivera também mexeu com ele, e seguindo o exemplo do amigo, saiu do local com a desculpa de que precisava saber o que estava acontecendo com Vincent.
Sentado, em frente ao Lago Negro, estava Vincent. O jovem estava inexpressivo enquanto encarava o horizonte, talvez perdido em pensamentos. O que o espelho lhe mostrara era algo que ele tinha conhecimento, mas ver aquilo como se fosse real... Havia machucado mais do que imaginou ser possível.
Scorpius, ao avistar o amigo, não pensou duas vezes em ir até ele e lhe dar apoio. Tinha certa noção do que havia deixado o amigo daquele jeito, e mesmo que Vincent tentasse expulsá-lo a base de ofensas, não o deixaria sozinho.
- Vincent? – Scorpius o chamou, assim que se aproximou. Sem esperar convite, se sentou ao lado de Vincent.
- Não querendo ser chato, mas já sendo, acho que...
- Nem pense em me expulsar daqui, porque você não foi o único a sofrer com o que viu no espelho, ok?! – Scorpius encarava o horizonte, exatamente como Vincent fazia.
- O que você viu? – perguntou Vincent, ainda sem desviar o olhar do horizonte.
- Vai me contar o que você viu?
- Se você me contar, eu te conto.
Scorpius então desviou o olhar e encarou o amigo, que já o observava com uma expressão curiosa. Ele suspirou e revirou os olhos.
- O que mais eu veria a não ser Rose?
- Sei lá. Vai que seu desejo profundo é se tornar modelo de cueca trouxa? Podia se ver pousando pra um daqueles cartazes que ficam espalhados por algumas lojas trouxas, e com a assinatura de um tal Calvin Klein.
Scorpius riu.
- Ah claro, e você seria o que? Meu amigo de campanha?
- Não, eu seria seu empresário, e gastaria todo seu dinheiro enquanto você se matava trabalhando.
- Os anos se passam e a pergunta permanece: Você tem certeza que é meu amigo?
- Quando eu digo que você só faz pergunta difícil... – Vincent suspirou e em seguida riu – Bom, falando sério, você não ficou com essa cara de cão abandonado na Travessa do Tranco, porque viu a Rosecreide, não é?
Scorpius suspirou novamente.
- Na verdade... Bom, vai ter que prometer não rir!
- Eu prometo! – Vincent disse, erguendo uma mão, e cruzando os dedos com a outra mão nas costas. – Agora desembucha.
- Rose não estava sozinha. Quero dizer, eu estava com ela e... Havia duas crianças também. Uma menina e um menino. – disse Scorpius, olhando fixamente para o chão – A menina era mais nova... Devia ter 1 ano, no máximo, e estava em meu colo. Era loira, com os cabelos compridos e bem lisos, e olhos tão azuis quanto os de Rose... Já o menino era mais velho. Devia ter 2 ou 3 anos, e estava no colo de Rose. Os cabelos eram ruivos, mas não tão vermelhos quanto os de Rose são, e ele tinha meus olhos... Resumindo tudo, eu me vi casado com Rose e com nossos dois filhos.
Se antes Vincent tinha intenção de fazer alguma piada, esta havia se perdido. Como ele poderia zombar de algo que era tão importante para o melhor amigo? E pior, como ele poderia fazer alguma piada, sendo que havia visto algo semelhante, mas em relação à Sophie.
- Nossa, pode parecer estranho o que vou dizer, mas seu silêncio me assusta.
Vincent riu.
- Foi mal, mas é que... No final das contas, nossos desejos nem são tão diferentes. – disse Vincent, e ao ver Scorpius encará-lo de forma intrigada, tratou de explicar – Calma, controle o ciúme homem! Eu não desejo ter a Rose. – os dois riram – É só que vi algo bem semelhante com relação à Sophie. Nós tínhamos dois filhos também. Só que no meu caso, a menina era mais velha e estava montada nos meus ombros. Tinha cabelos castanhos como os meus e os olhos verdes da Sophie. Provavelmente tinha uns 2 ou 3 anos também... Já o garoto era loirinho como a Sophie, mas tinha os meus olhos. Estava no colo dela e tinha um sorriso enorme... Bom, eu me vi casado com a Sophie e com nossas duas crias.
Houve um momento de silêncio, em que os dois voltaram a encarar o horizonte, perdido em seus próprios pensamentos.
Por fim, eles suspiraram e voltaram a se olhar.
- Sabe, nós dois somos verdadeiros idiotas! – disse Scorpius – Estamos aqui lamentando, feito mulheres com crise de meia idade, quando devíamos lutar.
- Eu sou uma mulher de meia idade?
- Quero dizer, o que estamos fazendo parados aqui? Precisamos reverter essa situação!
- Se eu sou uma mulher de meia idade, devo ter cabelos brancos.
- Eu não quero que aquela visão do espelho seja apenas um desejo. Eu quero que se torne real.
- Se eu tenho cabelos brancos, preciso de tintas!
- Vincent, quer parar e me escutar?
- Desculpa, mas você me deixou confuso! – disse ele, fingindo seriedade e depois riu – Eu não tenho ideia de como trazer a Sophie de volta. Sabe o que a Mel disse? Que do jeito que eu tô, daqui a pouco até ELA começa tirar com minha cara. Imagina minha prima, a quem eu ensinei a arte do deboche, sarcasmo e ironia, zombando de mim? Seria a criatura zombando do criador!
- Seria realmente o fim, você ser zombado pela Melissa. Tá legal que ela tem o mesmo gênio que você, mas considerando que ela é aparentemente fofa e frágil, isso seria constrangedor.
- Tire os olhos da minha prima, seu sem vergonha!
- O que foi eu que disse demais?
- Disse que ela é fofa!
- Por Merlin, Vincent, pare de frescura!
- Ah tá, parei. Você é muito gentil.
- Obrigado.
- Disponha.
Os dois se encararam novamente e caíram na gargalhada. Definitivamente, até diante de situações tristes, eles não conseguiam se conter.
- Ok, chega! Vamos voltar ao assunto de antes.
- Sobre eu ser uma velha de meia idade, com cabelos brancos e rugas?
- Não. Sobre você ser uma velha de meia idade, que não cala a boca enquanto eu tento explicar o meu plano.
- Nossa, além de tudo sou uma velha fofoqueira.
- Cala a boca, Vincent! Escute, conversei com meu pai, e...
- Opa, os conselhos do tio Draco são sempre os melhores. Prossiga, minha velha e companheira de tricô.
Scorpius riu e continuou.
- Nós dois estamos sendo rejeitados pelas mulheres que amamos, certo? Elas se recusam a nos ouvir, fogem ou ameaçam nos azarar... Isso no seu caso, porque no meu, Rose tenta me acertar sempre com um livro três vezes maior que ela. Enfim, acho que tá na hora de sermos homens, arriscarmos nossos pescoços e fazermos elas nos escutarem. Porque caso contrário, meu amigo, nossos filhos nunca vão existir, e meu filho gato e ruivo não poderá dar em cima da sua filha morena e, eu tenho fé, parecia com a Sophie.
- Bom, eu acho que... EI, ESPERA UM POUCO! Que fique bem claro, que seu filho cabeça de cenoura não vai chegar perto da minha princesinha. Que história é essa, tá pensando que isso é feira? Chega e vai passando a mão no produto alheio? Você pode ser meu melhor amigo, mas seu filho será meu inimigo mortal se colocar aqueles olhos azuis sobre o rostinho da minha adorada filhinha.
- Deus, isso é porque eles nem nasceram, imagina quando for real? – disse Scorpius, divertindo-se com a situação – Bom, é o seguinte, eu estou disposto a invadir o quarto de Rose hoje à noite e fazê-la me escutar, nem que eu precise gritar com ela pra que entenda o quanto a amo.
- Se fosse você já alertava a Madame “tô velha, mas tô na moda e quem quiser testar venha aqui” Pomfrey, para o caso de Rose conseguir te acertar com o livro.
- Bem lembrado meu amigo, e agora me diga, o que você pretende fazer com relação à Sophie? Porque eu espero que você tenha um bom plano, já que a loira lá, quando tá irritada, é pior do que você e eu juntos.
- Antes qualquer coisa, vou mandar meu pai preparar meu funeral... E depois vou invadir o quarto dela também, me esgoelar para que me escute e no final, torcer para ter uma morte rápida, já que provavelmente ela vai ficar furiosa comigo.
- Fechado então. Essa noite é possível que seja a última de nossas vidas...
- ...Mas vamos obrigá-las a nos ouvirem, e...
- ...as duas entenderão que nós as amamos e não podemos viver longe delas.
- E depois nos matarão por gritar, mas isso vai valer à pena.
- Com certeza. Tudo para que nossos desejos sejam atendidos e que meu filho tenha a chance de levar sua filha para sair.
- Repete isso e eu mesmo te mato aqui... Se bem que... Eu tenho um filho também! Quero dizer, não tenho, mas vou ter. Ahhhh, você entendeu. Então, caso seu filho se aproxime da minha filha, darei um jeito do meu caçula achar a sua pequena loirinha, a criança com as fraldas mais atraentes do mundo mágico.
- Bom, antes seu filho do que outro qualquer. – Scorpius deu de ombros.
- Boa tentativa, mas ainda não me convenceu. Darei um cinto de castidade para minha pequena, como presente de um ano.
Mais uma vez os dois riram. Apesar das brincadeiras, estavam decididos que não passaria daquela noite a conversa que teriam com suas amadas.
Apesar de folhear as páginas de seu livro de Runas Antigas, Rose já não lia mais nada. Sua cabeça estava tão cheia, que não conseguia manter sua atenção presa as explicações contidas naquelas linhas.
Tudo que ela poderia fazer para se distrair, já estava pronto. A única coisa que lhe restava era ler, mas julgava não ter paciência nem para isso.
Com um suspiro impaciente e com mais força do que necessitava, Rose atirou seu livro no chão e se pôs de pé, pronta para subir até seu quarto. Já estava prestes a subir o primeiro degrau da escada, quando ouviu algumas batidas em sua porta.
Irritada, ela se virou e foi ver quem era o imbecil que estava ali, tarde da noite, incomodando a Monitora Chefe. Rose estava tentada a colocar a pessoa em detenção.
- Será que você não viu a hor... SCORPIUS?! – Rose arregalou os olhos ao ver o loiro parado em sua porta. – Ora, volte, pra seu quarto, antes que eu resolva lhe dar uma detenção! Vá, ande! – Rose fez menção de fechar a porta na cara do loiro, tamanha era sua raiva, mas ele segurou bem a tempo e entrou no quarto sem ser convidado. – O que você pensa que está fazendo?
- Tentando falar com você! – respondeu ele, como se fosse o óbvio – E já adianto que não vou sair daqui até que me escute.
- Eu não tenho nada para escutar, Malfoy! – disse Rose entre os dentes – Saia do meu quarto, AGORA!
- Não, não saio! Eu já disse que só vou sair daqui quando falar tudo que está engasgando em minha garganta, então, querendo você ou não, vai ter que me escutar.
- Eu não quero ouvir nada que você tenha pra me dizer, então não perca seu tempo tentando. Deixe-me em paz, que droga! O que mais você quer de mim agora?
No instante em que Rose se virou para se afastar novamente em direção as escadas, Scorpius segurou seu braço e a puxou de volta, para perto de si, prendendo-a junto ao seu corpo.
- Você. Eu quero você, Rose! – disse ele, olhando profundamente nos olhos dela.
Rose precisou respirar fundo algumas vezes, para manter-se concentrada. Toda aquela história com Scorpius já estava fazendo com que ela enlouquecesse. Não aguentaria passar por mais um de seus joguinhos, escutar novas declarações, para que no final de tudo, ele não se decidisse e fosse embora.
- Me larga, Malfoy! – disse ela, desviando o olhar – Eu realmente não quero conversar com você, e esses seus joguinhos realmente me cansaram. Solte-me e volte para seu quarto, vai ser melhor pra todo mundo.
- Joguinhos? Você realmente acha que estou aqui por brincadeira? – perguntou Scorpius, um pouco irritado.
- Não sei e também não estou disposta a descobrir! – disse ela, friamente – Agora, por favor, me solte.
- Não! Não enquanto você se recusar a me ouvir!
- EU NÃO QUERO TE OUVIR! – Rose gritou e reunindo todas as forças que lhe restavam, conseguiu se desvencilhar dos braços de Scorpius. – SAI DAQUI, VAI EMBORA!
- NÃO, EU JÁ DISSE QUE NÃO VOU! – Scorpius também gritou, na tentativa de atrair a atenção da ruiva.
- Ótimo! Quer ficar aqui? FIQUE!
Rose se virou e subiu correndo as escadas, a fim de se trancar em seu quarto. Não adiantou, é claro.
Scorpius subiu atrás dela e quando a ruiva tentou fechar a porta, ele facilmente segurou e entrou no aposento, trancando os dois ali.
Já estava mais que na hora deles conversarem e mesmo que aquilo significasse ter que gritar com Rose, até que ela o escutasse, ele faria.
Aproveitando o fato de que Rose estava de costas, sacou a varinha e lançou sobre o aposento um “Abaffiato”, para prevenir, caso os gritos recomeçassem. Aquela briga decidiria suas vidas dali pra frente e Scorpius não estava disposto a perdê-la.
- Rose, eu preciso que me escute...
- Te escutar? Pra que, Malfoy? O que veio dizer agora, hein? Veio aqui dizer que me ama, mas não acredita em mim? Veio aqui se desculpar por algum ato grosseiro que possivelmente vai cometer de novo? – Rose se virou para encará-lo – Se foi por algum desses motivos, sinto lhe informar que chegou tarde. Eu prometi a mim mesma que não insistiria em “nós” depois das férias, e vou cumprir! Não precisa se importar em me dizer coisas agradáveis só para não se sentir culpado, porque aí vai uma novidade: Eu não me importo mais! Faça o que quiser da sua vida, contanto que me deixe em paz!
Scorpius não estava preparado para escutar aquelas palavras de Rose, mas não se deixou abater. Apesar daquele discurso tê-lo machucado, sabia que era causador de toda aquela mágoa e merecia ouvir não só aquelas palavras, como muitas ainda piores.
- Eu vim aqui pra dizer que te amo sim, mas não porque me sinto culpado... – Scorpius dizia em voz baixa, enquanto caminhava em direção à Rose, que estava novamente de costas. – E sim porque é a mais pura verdade e também porque quero que me perdoe... – Scorpius parou bem atrás de Rose, e lentamente, passou o braço em volta de sua cintura, encostando seu corpo ao dela.
Rose estremeceu diante do toque do rapaz, mas não iria se deixar levar por aquela situação. Já estava cansada de lutar por algo que parecia não haver mais solução...
- Eu fui um idiota, Rose. Um cafajeste, um imbecil, um grosso, chame do que quiser, e eu não irei reclamar. Não quis te ouvir quando você foi sincera e não acreditei em suas palavras quando tentava me dizer o que aconteceu e tudo o que estava sentindo... – Scorpius sussurrava aquelas palavras, próximo ao ouvido da ruiva, fazendo com que ela se arrepiasse – Eu te fiz sofrer, eu te machuquei, eu quebrei grande parte de seu coração, e...
- Errado Malfoy, você quebrou ele por inteiro. – disse Rose, com a voz fraca.
- Então me deixe arrumá-lo, Rose. Deixe-me juntar seus pedaços, deixe-me cuidar de você, por favor... – ele implorou, encostando a cabeça no ombro da ruiva – Sei que demorei para entender meu erro, mas finalmente enxerguei a burrada que estava fazendo e Rose, eu não posso viver sem você. Não dá mais pra aguentar isso, essa distância, essa situação... Eu simplesmente não consigo mais!
- Como você quer ficar perto de alguém que não confia? – Rose perguntou entristecida.
Scorpius retirou o braço da cintura de Rose, somente para poder virar a ruiva e encará-la de frente.
- Eu acredito em você, Rose! Eu confio cegamente em você, e preciso muito que enxergue a sinceridade estampada em meus olhos. – ele segurou o rosto da ruiva entre as mãos – Eu errei demais pensando coisas que não devia... Mas entenda que era difícil pra mim, depois de vê-la beijando o Krum, e encontrá-la na cama com ele, pensar em algo diferente, e...
- Espera um momento! – disse Rose, de repente – O que você quis dizer com o ‘encontrá-la na cama com ele’? Scorpius, você bebeu antes de falar comigo, foi?
Rose encarava Scorpius com uma expressão confusa. Não estava entendendo essa parte da história e era bom para ele que tivesse uma explicação lógica para aquela acusação, caso contrário as coisas iriam ficar feias.
Scorpius, por sua vez, encarava Rose sentindo-se um completo idiota. Foi como um estalo que a explicação para tudo surgiu em sua mente. Amaldiçoou-se por ter acreditado na cena que viu há tempos no quarto da ruiva. Aquela com o Krum nunca foi Rose, e como um verdadeiro imbecil, ele enxergou isso tarde.
- Rose, só por curiosidade, por que acha que fiquei tanto tempo assim? – perguntou Scorpius – Não quero justificar nenhuma atitude minha, é claro, mas estou curioso pra saber.
- Primeiro, porque você é um idiota! – disse ela, sem se sentir culpada – E segundo, porque você viu o Krum me beijar... Mas isso aconteceu lá embaixo, e não aqui no meu quarto.
Scorpius ficou dividido entre a vontade de rir e de se atirar pela janela do quarto, por ter sido tão cego. É claro que a menina não sabia o motivo daquilo tudo. Krum, com a ajuda de mais alguém – e aqui ele julgava saber bem de que pessoa se tratava – armaram para ele e Rose.
Com um suspiro profundo, ele começou a explicar a Rose tudo que havia acontecido e o motivo dele ter agido tão friamente por tanto tempo.
Rose ouvia tudo calada. Julgava que se abrisse a boca, não conseguiria conter a raiva e começaria a gritar antes que Scorpius terminasse sua explicação. Precisava ouvir cada detalhe, antes de dar seu parecer.
- Então, foi isso. – disse ele por fim – Eu realmente sinto muito. Rose,...
- Eu não consigo acreditar que realmente passou pela sua cabeça que eu pudesse dormir com outro cara! – disse Rose, entre os dentes, olhando fixamente para Scorpius.
- Rose, me escute! Eu errei, tá? Mas tô aqui tentando corrigir isso.
- Corrigir? VOCÊ ESTÁ TENTANDO CORRIGIR O QUE? – ela gritou e caminhou em direção a cama para pegar uma almofada e atirar contra Scorpius – COMO VOCÊ, LOGO VOCÊ, SCORPIUS HYPERION MALFOY, ACREDITOU NISSO?
Enquanto gritava, Rose atirava várias almofadas em Scorpius, na tentativa de se livrar de sua raiva. Queria azará-lo, mas como sabia que se arrependeria depois, começou a atirar nele tudo que via em sua frente.
- Rose, quer parar de atirar as coisas em mim? Até o seu urso veio parar na minha cabeça! – disse Scorpius, enquanto se desviava de um rolo de pergaminho que ela jogara.
- Ai, o Ed! – Rose correu em direção ao urso que estava caído em um canto. Nesse momento, Scorpius riu.
- Ah claro, um urso sai voando, e ela corre ao encontro dele. Eu venho aqui, e recebo agressões físicas. Esse mundo é realmente justo!
- Ah, por favor, eu deveria arrancar sua cabeça. Só não faço isso, porque vou pra Azkaban! – ela disse, enquanto colocava seu urso sobre a escrivaninha.
Scorpius aproveitou o fato de que Rose não tinha nada nas mãos e se aproximou da ruiva, cautelosamente. Apesar daquele momento de descontração, precisava saber se ela acreditava no arrependimento dele ou se ele teria que gritar novamente para fazê-la entender a verdade.
- Rose... – Scorpius parou em frente a ruiva, e a encarou novamente. Ali, com ela bem perto, ele podia enxergar todo sofrimento da menina. Seus olhos eram tão cautelosos e magoados, que fazia com que sua garganta desse um nó – Eu amo você! Será que pode acreditar nisso?
- Sim... Mas...
- Mas...?
- Eu sinto medo. Scorpius, eu não aguentaria se amanhã você olhasse pra mim de forma indiferente de novo. Eu não aguentaria me jogar em seus braços agora e ser desprezada depois, porque você tem dúvidas... Eu não aguento mais passar por tudo isso. – disse Rose, demonstrando toda a dor em sua voz.
Scorpius não aguentou ouvir aquilo, e a puxou para um abraço apertado. Queria arrancar todo aquele sofrimento dos olhos de sua ruiva o mais rápido possível. Ela não deveria sofrer daquele jeito, ela não deveria mais chorar. Sentia-se um verdadeiro monstro por ver que toda aquela mágoa era por culpa dele.
Rose afundou o rosto no peito de Scorpius e permitiu-se chorar. Dessa vez não era um choro de sofrimento, pois parte dela sabia que tudo finalmente tinha chegado ao fim. Ela chorava porque queria desabafar. Tanto tempo tentando ser forte, tantas noites encarando o nada e querendo gritar, que aquilo parecia surreal para ela.
- Eu... Eu... – ela tentou falar, entre os soluços, mas não conseguiu.
- Shhhhh... Vem cá, vem! – Scorpius caminhou com ela em direção a cama.
Gentilmente, ele ergueu o edredom para que Rose entrasse embaixo das cobertas e em seguida, fez o mesmo. Ainda querendo protegê-la de todo mal que ele mesmo havia causado, Scorpius puxou a ruiva para que deitasse em seu peito, e acariciou os cabelos dela carinhosamente.
- Você segurava a mão do Alvo, enquanto carregava com a outra o livro “Hogwarts, uma história!”. Nós tínhamos onze anos e estávamos indo em direção aos barcos. Ventava um pouco, mas não estava frio. Era uma brisa noturna e bastante refrescante, principalmente para nós que estávamos suando de pavor pela seleção de casas. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo, e balançava suavemente conforme o vento batia. Seus olhos transmitiam todo pânico que não conseguia colocar pra fora em palavras. Aquela foi a primeira vez que eu vi você.
Rose apenas escutou as palavras de Scorpius. Queria dizer alguma coisa, mas não tinha forças pra responder naquele momento.
- Era aula de feitiços. Todos nós estávamos com uma pena em nossa frente, e tínhamos a função de fazê-la levitar. Eu não estava te olhando. Estava concentrado em fazer a minha pena se mexer, quando ouvi o professor Flitwick bater palmas e dar 10 pontos para Grifinória. Confesso que senti muita raiva de você. Quem era aquela garotinha insuportável que havia sido a primeira? Ah sim, a incomparável Rose Weasley! Tão esperta e inteligente, você, sem dúvida, havia se tornado a pessoa que eu menos simpatizava na turma. E aquela foi a primeira vez que notei você. – Scorpius fez uma pausa para depositar um beijo no alto da cabeça de Rose, e então prosseguiu:
“Notar você não foi uma coisa muito inteligente da minha parte, porque eu sempre deliberava com a vontade que tinha de ignorar sua presença e a vontade que tinha de que você olhasse pra mim e me desse sua atenção. Não fazia ideia do que estava acontecendo, é claro. Ainda era muito novo pra entender tudo aquilo, e sem contar que você era uma espécie de intocável pra mim. Eu não podia gostar de você, mas queria que falasse comigo, então a minha única saída era implicar com você em todas as aulas e lhe obrigar a me dar respostas mal educadas, pelos meus comentários.”
Rose deu graças a Merlin por estar com o rosto escondido no peito de Scorpius, caso contrário o loiro riria de sua expressão, completamente surpresa, e de seus olhos arregalados. Não ousou interromper Scorpius, apesar de sentir vontade de dizer diversas coisas a ele.
- Foi então que no terceiro ano, depois daquele nosso esbarrão espetacular, que nos fez cair pra trás e derrubar nossos livros, que finalmente enxerguei você. Eu estava pronto pra começar uma briga ali mesmo. Eu queria te alfinetar, te fazer ficar com muita raiva e contestar o fato deu lhe jogar toda a culpa pelo ocorrido. Mas não consegui. Quando olhei em seus olhos, te encarei diretamente, meu estômago pareceu ter sido tomado por um zoológico completo. Leões, borboletas, hipogrifos, todos os animais que consiga imaginar, estavam saltando dentro de mim de forma violenta. É claro que ainda era muito lerdo e loiro pra entender o que tudo aquilo significava. Preferia acreditar que era algum sintoma retardado da queda, do que enxergar o óbvio.
“Eu estava apaixonado por você. Dei-me conta disso nas férias, antes de voltarmos para nosso 4º ano em Hogwarts. Sonhava contigo quase todas as noites, e era sempre a mesma cena. Você, eu, corredor, livros e queda. Ridículo, mas ainda sim verdadeiro. Tentei de todas as formas ignorar tal sentimento. Você era a CDF, a perfeita Weasley, a sabe tudo, a garota idolatrada pelos professores. Nunca iria olhar para mim, que era exatamente o oposto do seu ideal. Um sonserino, jogador de quadribol, bom aluno, mas que não andava por aí abraçado aos livros. Era impossível imaginar algo entre você e eu... Também estava deitado no meu dormitório, encarando o teto do quarto, quando finalmente percebi que tudo isso era inevitável. Eu já te amava e toda minha implicância com você era apenas por necessidade. Necessidade de ouvir sua voz, de olhar em seu rosto, de ter sua atenção. Eu simplesmente precisava disso pra ter um motivo pra continuar.”
Scorpius acariciou o rosto de Rose, com a ponta dos dedos. Como era bom saber que ela estava ali com ele, e que nunca mais iria sair. Ele a amava, e se havia um motivo para continuar vivo, esse motivo era ela.
- Naquele dia, na biblioteca, quando achei ter te perdido para o Peter, estava disposto a te contar. Mesmo que você me azarasse, contasse a algum de seus primos, enfim, eu iria te dizer o que sentia, porque já não agüentava mais guardar tal sentimento. Já estava enlouquecendo. Já estava muito mal por ter que guardar tudo aquilo. Então eu iria brigar com você e depois te contar como me sentia. Iria sair dali humilhado por ter sido rejeitado, mas mais leve por ter desabafado. – Scorpius respirou fundo – Daí você interrompeu o que estava sendo uma briga perfeita, e disse que não tinha nada com o Peter. Virou-se de costas, creio que para que eu não a visse chorar.
“Naquele momento fui tomado por um instinto absolutamente protetor. Inconscientemente me peguei prometendo que nunca, jamais, em momento algum, permitiria que você se machucasse ou sofresse. Sem nem mesmo planejar, eu já havia prometido para mim que iria te proteger sempre, não importava o que acontecesse. Então, de repente, eu estava pronto pra te contar tudo. Mas, como sempre, você e sua vontade de ser a primeira em tudo, pediu a palavra e pra minha completa surpresa e felicidade, disse que me amava. Rose, se pudesse sentir o que eu senti naquele momento... Você me amava, e saber disso me transformou no cara mais forte e corajoso da Terra.”
Depois da declaração de Scorpius, os dois ficaram em silêncio por um longo tempo. Um apenas desfrutando da presença do outro. Sem brigas, sem reclamações, sem desconfianças... Tudo, finalmente, estava em seu devido lugar. Eles não precisavam mais lutar.
- Vai mesmo estar aqui amanhã? – perguntou Rose, lutando contra o sono que chegava.
- Amor, eu não vou a lugar nenhum, a não ser que você queira.
- Eu quero que fique aqui. – disse ela, agora completamente sonolenta.
- Que bom, pois eu realmente não pretendo deixar esse lugar... – ele sorriu e deu mais um beijo no alto da cabeça de Rose – Agora durma amor. Você está cansada.
- Você também está! – ela acusou e pela primeira vez, desde que deitaram, levantou o rosto para encará-lo – Seus olhos estão pesados. Você também tem que dormir.
Scorpius sorriu.
- Eu vou... Assim que você dormir.
Foi a vez de Rose sorrir.
- Boa noite! – disse ela, aconchegando-se novamente nos braços do loiro.
- Boa noite, amor! Tenha bons sonhos!
O salão comunal da Sonserina estava silencioso. Com o adiantar da hora, todos os alunos se recolheram em seus dormitórios para aproveitarem sua noite de descanso.
Sophie que havia ido para seu quarto quando ainda havia alunos no salão, agora estava tomando seu banho quente, com a intenção de dormir. Sua cabeça estava um pouco pesada, e julgava que tal mal estar era devido a um resfriado que estava querendo atacá-la.
Como não havia testemunhas por perto, Vincent aproveitou para invadir o quarto da antiga monitora, e silenciosamente trancou a porta, tudo para não chamar a atenção da loira. Como ouviu o barulho de água, vindo do banheiro, sabia que ela iria demorar no banho, e aproveitou para deitar na cama de Sophie e relaxar. Uma hora ela teria que sair dali de dentro, e quando fizesse isso, os dois conversariam, e ele provavelmente amanheceria embaixo de sete palmos de terra.
Vincent não soube quanto tempo ficou ali deitado, encarando o teto. Talvez alguns minutos ou quem sabe várias horas? Isso não importava pra ele. A única coisa que ele queria, era convencer a menina que havia acabado de sair do banheiro, vestindo um moletom azul claro e pantufas de ursinho, que ele a amava.
Sophie não reparou de imediato que não estava mais sozinha. Estava ocupada escovando os próprios cabelos, para notar algo de diferente. Foi só quando parou em frente ao espelho de sua penteadeira para fazer um rabo de cavalo, que notou mais uma presença ali.
- Ai, que susto! Por Merlin, o que você está fazendo aqui?
- Esperando você, e o que você está fazendo?
- Vincent Williams, esse é meu quarto! – disse Sophie entre os dentes, caminhando em direção a Vincent, com a escova de cabelo na mão. – Quer fazer o favor de sair daqui? E TIRE ESSES PÉS CALÇADOS DA MINHA CAMA!
Vincent riu, mas não discutiu com a jovem e fez exatamente o que ela lhe pediu. Sentou-se na cama, e continuou encarando, a espera de um possível ataque de fúria. Seus olhos sempre pousavam na escova de cabelo que a loira segurava e ele agradecia a Merlin por aquilo não ser a varinha.
- Williams, não sei se você entendeu bem meu pedido, mas vou repetir pausadamente, para que sua mente capte o que quero dizer, ok?! – Sophie respirou fundo e deu dois passos na direção do moreno, erguendo a escova de cabelo – Saia do meu quarto agora. Entendeu? Agora, A-G-O-R-A, agora.
- Já pensou em participar de algum concurso de soletração? Você é boa nisso! Eu torceria por você, é claro. Estenderia placas e cartazes, estamparia camisetas em seu apoio! VAI SOPHIE, VOCÊ CONSEGUE! Enfim, não estamos discutindo sua carreira artística no momento, e já que você me deu seu recado, escute com atenção o meu. – ele se colocou de pé, e encerrou a curta distância que havia entre os dois, encarando Sophie com uma expressão divertida – Também vou falar pausadamente, para uma rápida compreensão, ok?! Eu não vou sair daqui. Entendeu? Posso repetir soletrando, vamos lá: E-U N-Ã-O V-O-U... Ai cansei! Mas é esse o espírito da coisa. Não saio daqui tão cedo, nem que Merlin desça na terra e se declare pro Filch.
- O que você quer, Williams? – perguntou ela, pronta para atacar o moreno.
- Duas coisas simples, você já vai entender. E opa, nem pense em partir pra agressão física. Deixe para fazer isso quando tiver motivos.
- Quando tiver motivos? Eu acho que já tenho motivos suficientes! – disse entre os dentes.
- Ah não tem. Eu só falei com você, e isso não é razão para querer me esfolar. – ele sorriu – Entretanto, isso aqui sim, vai te dar os motivos necessários pra arrancar minha cabeça e pendurá-la em um poste. – e com uma rapidez incrível, Vincent enlaçou Sophie pela cintura e capturou seus lábios em um beijo desesperado.
Sophie tentou resistir, empurrou e bateu em Vincent, mas logo se viu cedendo e permitindo que ele aprofundasse o beijo e explorasse cada centímetro de sua boca. A escova que segurava, foi parar no chão e a mão que estava ocupada com o objeto, se perdeu na nuca do rapaz, acariciando e o impedindo que saísse dali.
Vincent lutava para se manter consciente. Não queria ultrapassar nenhum limite, pois ainda precisava ter uma conversa séria com Sophie e isso não podia ser adiado. Mas como conversar quando cada parte de seu corpo gritava em protesto com a simples ideia de afastar da menina de seus braços? Suas mãos, ao invés de empurrarem a menina para longe, a traziam para mais perto, não permitindo um milímetro de distância entre eles. E seus lábios, que deveriam ser os primeiros a obedecer ao comando de parar, continuavam naquele ritmo quente e desesperado, querendo cada vez mais sentir o sabor daquela garota que ele tanto amava.
Foi Sophie quem conseguiu fazer o ritmo do beijo diminuir. Mas não porque queria que ele parasse, e sim porque alguém disse que os seres humanos precisavam de oxigênio para sobreviver, e ela odiava muito a pessoa que descobriu esse fato, já que agora estava se afastando aos poucos de Vincent para recuperar o fôlego. Suas mãos se recusavam sair da nuca do rapaz e ela também lutava contra o alerta que lhe dizia para se separar de Vincent, enquanto podia.
Vincent retirou uma das mãos que estavam na cintura de Sophie e colocou em seu rosto, obrigando que ela o encarasse.
- Sai daqui... por favor! – a voz de Sophie era apenas um sussurro suplicante, enquanto ela lutava contra a vontade de chorar que a invadia.
- Você não quer que eu vá embora. Não de verdade, não pode querer isso, e mesmo que quisesse, eu disse que vim aqui pra fazer duas coisas. – a voz de Vincent também era baixa e ele a encarava sério – Eu não quero ter que gritar com você, mas vou fazer isso se não me ouvir.
- Eu não quero te escutar... Eu... – ela baixou os olhos, tentando fugir do olhar penetrante que Vincent lhe lançava, e sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto.
- Você não quer me escutar, mas vai! – agora era Vincent quem suplicava – Você precisa me escutar! Precisa colocar nessa sua cabecinha que eu te amo, e que não vivo sem você. Então aconselho a desistir de me expulsar daqui, pois não saio até convencê-la desses dois fatos.
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N/V: Não, vocês não estão enxergando demais e nem foi erro de digitação. Sou bruxo, mas não analfabeto e sei ler as letras do teclado. O N/V é porque eu, Vincent Brandon Williams, resolvi dar o ar da graça e escrever aqui.
Pra ser sincero, a autora tá com medo de levar um Crucio, e me mandou aqui porque sabe que sou amado, idolatrado e salve salve nave do BBB, enfim, lá vou eu dar as considerações do capítulo.
Bom, eu quase dei na cara do Scorpius. Isso todo mundo viu. Se a Smart Girl e a Barbie Girl (SOPHIE, AMOR, VOCÊ TEM UMA MÚSICA COM SEU APELIDO!) não tivessem chegado a tempo, agora nós dois estaríamos em algum hospital, recuperando a boa forma, e tomando sopinha sem gosto. Destino triste, mas mereceríamos.
Outra cena legal foi a chegada da minha prima. Garotinha linda a Melusca e super simpática também. Costumam dizer que ela é minha versão feminina, mas fala sério, eu sou incomparável. (AI, que coisa! Não precisa tacar um livro em mim, Melissa!)
Ok, eu não vou comentar a cena do Scorpius com a Rose, porque, bom, vocês já devem estar saltitando ou pulando em suas cadeiras, então não há motivos para que eu diga que os dois se amam, merecem essa reconciliação, e blá blá blá... Vou falar de mim que ganho mais.
Eu estava lindo, como sempre, mas saibam que tentei a todo custo, terminar a cena. Enchi a cabeça da autora, ameacei, apontei a varinha, disse que me jogava da janela do quarto dela, mas nada, NADA, fez com que ela reconsiderasse meu pedido e acrescentasse a cena completa entre Sophie e eu.
Mas eu sou sonserino & vingativo, então já adianto que sim, ela e eu vamos voltar. E Mily, nem adianta me olhar assim, você ignorou meu pedido, me senti no direito de revidar contando o que vai acontecer.
Ah, preciso informar algo triste – ou não, eu aprendi com a autora que é sempre bom deixar espaço para dúvidas – enfim, a parte triste é que a fic está chegando ao fim. Sim, peguem os lenços, no caso da Marina lençóis, e chorem. Eu deixarei vocês daqui alguns capítulos...
Mas para tudo de ruim, existe algo ainda pior. Mentira, isso foi só pra dar um susto em vocês. Mas voltando ao assunto, segundo a ilustríssima e medrosa autora Mily Cullen, haverá a continuação dessa fic. Sou só eu ou alguém também percebeu que ela tá tentando transformar a nossa história em uma saga? Enfim, parece que na terceira fic eu... Eu... EU CASO! VOCÊS CONSEGUEM ME IMAGINAR CASANDO? POR FAVOR, EU TÔ EM PÂNICO SÓ DE IMAGINAR TAL SITUAÇÃO. PADRE, TERNO, SOPHIE DE NOIVA, CONVIDADOS, HORA DO SIM, E...
N/A: *PROTEGO*
Não me matem, mas precisei assumir a nota, já que o Vincent desmaiou – de novo – ao falar do casamento.
Enfim, eu não vou demorar, porque tô vendo todo mundo com a varinha apontada pra mim, prontos para que em qualquer deslize meu consigam me azarar.
Espero mesmo que tenham gostado do capítulo, embora eu tenha feito vcs me odiarem no final. E também espero que estejam ansiosos pelo próximo.
Comentem, e eu prometo não demorar tanto ok?!
Amooooo vcs!
XoXo,
Mily.
N/V: - Ai, eu tô bem, eu tô legal! Eu posso falar mais alguma coisa?
- Não, não pode. Eu terminei a nota por você.
- Mas eu estava tendo meus 15min de fama! Você não podia me interromper, Mily.
- Você desmaiou.
- E daí? Ainda sim eu estava brilhando.
- Vincent fique quieto! Eu preciso escrever.
- Eu quero falar!
- Eu vou apelar...
- Você não ousaria!
- Ah sim! Vincent, meu querido personagem, você vai CASAR. C-A-S-A-R. CASAR!
- Ai não... – ao som das palavras da autora, Vincent desmaiou pela quinta vez, só naquele dia.
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