Na chuva ou numa cabaninha de
Capítulo 5 - Na chuva ou numa cabaninha de sapê
O céu estava carregado e o cinza das nuvens encobria totalmente o sol, o dia virava noite na floresta.
Andaram mais um pouco a cavalo e Draco deu a sorte de se deparar com uma cabana. Seria uma boa oportunidade para fugir da chuva, talvez alguém morasse ali e os recebesse bem.
-Gina? - perguntou querendo saber se ela dormia ou tinha acordado.
-Hum? - ela respondeu com a voz embargada, provavelmente ainda pela gripe.
-Olhe ali. Uma cabana. Vamos até lá, vai chover a é melhor que não se molhe. - mudou o rumo do cavalo e logo estavam do lado da cabana.
Observando-a de perto, Draco viu que era construída de barro e palha. Achou que era mesmo muito pobre, mas tinha escolha? Se pudesse levaria Gina para uma mansão, e principalmente, ficaria ele mesmo confortável em uma, mas para se proteger deveria ser suficiente.
-Está abandonada. - disse descendo do cavalo e deixando Gina sentada, sozinha. -Vou arrombar a porta, espere aí.
-Tá. - Gina respondeu inclinando-se para frente, no cavalo. Sentia-se melhor, mas ainda estava com a respiração incômoda.
Draco com um solavanco derrubou a porta e entrou na cabana. Estava muito suja e empoeirada, pelo menos tinha um quarto com uma cama de solteiro, um rústico banheiro e uma cozinha improvisada. Já era bom demais para quem iria passar a chuva no meio da floresta. Encontrou algumas lanças e arcos e flecha, a cabana deveria ser de caçadores que procuravam animais na mata.
Saiu, parou ao lado do cavalo e deu a notícia a Gina.
-Vamos ficar aqui. Você não é boa em faxina? - lembrava-se do que ela dissera quando estavam limpando a sala de aula.
-Muito engraçado, Malfoy. - Gina respondeu rispidamente e resolveu descer do cavalo.
Desajeitadamente ela passou uma perna para o lado do cavalo em que estava a outra perna e tentou pular, mas tombou para frente, só não deu de cara no chão porque Draco estava ali e a segurou.
Gina estava com ambos os braços atrás da nuca dele e os rostos ficaram muito próximos, sem intenção os dois ficaram se olhando, no fundo dos olhos, como se nunca tivessem se visto antes. Ela suspirou e se desligando do encantamento, virou o rosto.
-Não é Malfoy, é Draco. E essa idéia de me chamar pelo primeiro nome foi sua, mas se quiser posso voltar a chamá-la de Weasley. - disse em um tom magoado, não gostou que ela desviasse o olhar daquela maneira, não quando ele estava gostando de vê-la assim.
-Pode me colocar no chão, Draco. - no mesmo instante quase jogou-a no chão, mas ela já estava melhor da gripe e conseguiu se equilibrar, não caindo. -E não precisa me chamar de Weasley. Foi força do hábito, não te chamo mais de Malfoy.
-Certo. - respondeu emburrado e entrou na cabana, seguido por ela.
-Realmente, mesmo que seja para ficar um pouquinho aqui, vamos ter que fazer uma boa faxina. - ela constatou, já sentindo-se cansada só de pensar, aquela gripe estava sugando todas suas forças. -E você vai ter que me ajudar bastante, ainda não estou bem.
-Vou trazer nossas coisas para dentro e amarrar o cavalo-
-O Coração. - ela o cortou.
-Coração? - Draco não entendeu.
-É o nome dele. - Gina respondeu como quem diz o óbvio.
-Ah, e quem deu esse nome ridículo a ele? Você? - tinha detestado. Coração? "Que imbecil."
-Não, é o nome que alguém em Tróia deu a ele. Você não reparou no coração branco que ele tem na testa?
-Tem? Tróia? É mesmo o nome da cidade em que estávamos? Eu não entendi muito bem o que estava se passando lá. - Draco realmente não sabia, ninguém havia explicado a ele.
-Pegue as coisas lá no Coração que te digo.
Gina ficou sozinha, achou lamparinas e óleo em uma gaveta num pequeno armário da cozinha. Que sorte que seu pai admirava os trouxas! Conseguiu acendê-las com fósforos, que também estavam na gaveta, assim não ficariam no escuro. Andou até o quarto e começou a tirar o pó. Minutos depois Draco voltou carregando tudo, os sacos com roupa e o de comida.
-Onde coloco?
-Põe as roupas aqui, no quarto e a comida na cozinha. - ele deixou as sacolas e levou a outra, depois voltou para o quarto. Gina mexeu nas coisas e conseguiu um casaco de frio, parecia masculino, mas não se importava, colocou por cima da veste de sacerdotisa.
-Onde arranjou isso? - disse apontando para as lamparinas.
-Em uma gaveta, ainda bem, porque senão ficaríamos no escuro. - era verdade, Draco às vezes se esquecia que estava sem a varinha e que não poderia fazer um 'Lumos'.
Em duas horas limparam os cômodos e Gina explicou tudo o que sabia sobre Tróia a Draco, estavam mais esclarecidos. O frio aumentou, a chuva já caía torrencialmente do lado de fora, e de dentro, as várias goteiras molhavam muito a cozinha. Mas o quarto só tinha duas goteiras, em locais estratégicos.
-Vou ficar aqui, descansando. Ainda me sinto fraca com a gripe. - Gina disse deitando na cama.
Draco foi até ela e sentou-se do seu lado, na cama. Achou que ela não estava com uma cara muito boa e resolveu ver se estava com febre, colocou a mão sobre a testa dela. Estava quente.
-Você deve estar com febre de novo, está quente. - ela pegou uma das mãos e colocou sobre a dele, em sua testa.
-É você que está gelado. - tirou a mão dele de sua testa e a envolveu com as duas mãos.
-Sou assim, sempre. - ele disse, gostando que ela esquentasse sua mão.
-Sério? E não sente frio? - nunca tinha visto ninguém assim.
-Sinto, sempre. Por mais que me encha de roupas. - disse encarando-a novamente nos olhos.
Gina sentia-se invadida por aquele olhar, era muito penetrante, como se ele pudesse ver no fundo de sua alma e tinha um certo receio disso, ninguém a via assim. Contudo, por mais frio em relação aos sentimentos, por não expressar o que sentia no rosto, os olhos dele diziam tudo o que sentia. Ela podia perceber que ele se preocupava com ela, de alguma maneira, e isso era o mais estranho, não devia odiá-la?
Draco novamente olhava no fundo dos olhos dela, e em resposta via dúvida e um certo carinho, mas por que ela teria carinho por ele? Não devia odiá-lo? Ela sempre parecia quente, cheia de emoções, com seu temperamento forte, e seus olhos castanhos passavam exatamente isso. O que ela realmente era. Desviou rapidamente os olhos do olhar para a boca dela, era rosada e parecia macia, será que deveria beijá-la? A vontade que bateu dentro de si foi grande. Começou a aproximar mais o rosto do dela, mas subitamente ela, pela segunda vez no dia, virou o rosto. O som da chuva batendo no teto voltou a ser ouvido por ele, antes tinha sumido.
-E o que você fez enquanto estava entre os gregos? - ela perguntou de repente, olhando para o lado. Draco que estava abaixado sobre ela, ergueu-se.
O que deveria responder? "Ah, eu estava com a mulher do tal Akiles, desfrutando a boa vida de um comandante de guerra, e ela era muito mais bonita e gostosa que você!", não, definitivamente não deveria contar sobre Briseida. O que tinha feito, além de ficar enganando a linda moça?
-Eu conversei muito com Odisseu e Agamenon e Menelau, os chefes dos gregos. E tentei, em vão, dizer que não era Akiles. - que mentira deslavada essa última.
Era mentira. Gina percebeu pelos olhos dele.
-Que parte disso é mentira? - perguntou pegando-o de surpresa.
-Mentira? Quem disse que estou mentindo? - a melhor alternativa era negar.
-Seus olhos. - ela respondeu sentando-se e o encarando.
-Eu omiti uma coisa. - não dava para negar depois disso. -Mas não te interessa. Você não tem nada a ver com a minha vida, ponha-se no seu lugar. - disse grosseiramente, levantando da cama e indo para a cozinha.
-Muito obrigada pela delicadeza, e eu que estava pensando que poderia ser sua amiga. - agora ela quem falava grosseiramente. -Gina, sua burra, Malfoys sempre serão inimigos, mesmo que você se sacrifique ajudando-os. - virou-se e enfiou a cabeça no travesseiro.
-Amigos? - Draco respondeu da cozinha, sem vê-la. -Quem disse que quero ser seu amigo? - por que ela tinha o dom de irritá-lo?
Gina não respondeu a provocação dele, era melhor ignorá-lo do que arranjar mais briga. Precisava dele para ajudá-la, não deveriam brigar. Ele tinha todo o direito de não contar tudo para ela, mas Gina desconfiava de algo que Kassandra dissera, ele tinha ficado a semana dormindo na barraca de Akiles, e com a mulher dele, Briseida, com certeza algo aconteceu entre eles, porque a amiga disse que a moça era muito bonita. Então, por que ele não queria contar? E por que ela ficava irritada ao imaginá-lo com a talzinha? Sentia ciúme? E ele, estava apaixonado pela outra?
Estava escuro desde que o tempo fechou, mas por sua fome, Draco imaginou que deveriam comer, preparou o jantar, que estava mais para um lanche, feito com muita dificuldade. Um pão estranho, recheado com aquela carne mais estranha ainda. Enquanto se movimentava na cozinha, desviando das goteiras, se perguntava qual o problema em contar para Gina sobre Briseida. Devia ter contado.
Voltou para o quarto, levando os lanches e mais um copo do líquido do frasco de Kassandra, Gina estava com febre e deveria beber o remédio. Colocou as coisas em uma mesinha, e foi até ela, que estava deitada de costas para a porta e não se moveu quando ele entrou.
Aproximou-se da cama e percebeu que ela estava dormindo, mais uma vez, entretanto, era melhor que ela acordasse, comesse, tomasse o remédio e somente depois disso voltasse a dormir. Colocou a mão com cuidado sobre o ombro dela e sussurrou em seu ouvido.
-Gina? - ela acordou na hora e lançou um olhar irritado a ele.
-Que é? - perguntou mau humorada.
-Vamos comer. - respondeu também meio mau humorado.
Gina virou-se e viu que ele tinha preparado algo para que comessem, até ficou menos irritada com ele depois disso. Sem dizer mais nada, levantou-se da cama e pegou um dos lanches, sentando-se novamente. Mordeu o pão. Surpreendemente, estava apetitoso, ou seria sua fome?
-Obrigada, Draco. Está muito bom. - disse meio sem jeito, não olhando para ele.
-Não é que ficou mesmo?! - ele respondeu surpreso. -Achei que iria ficar uma droga. Ah, tome mais um copo do remédio. - levantou-se e pegou para ela.
Sentou-se ao seu lado e entregou o copo.
-É melhor mesmo, acho que estou quente demais, até para o sangue quente dos Weasleys. - pegou o copo e depois de terminar o lanche, tomou.
Ficaram um grande tempo em silêncio, mas Gina o quebrou.
-Esse remédio dá sono, vou dormir. - disse bocejando. -Como vamos fazer? Só tem uma cama.
-Eu fico no chão. Não queria dormir com você ontem à noite, foi sem querer que cochilei ao seu lado.
-Você não pode ficar no chão, as goteiras vão te molhar, não tem espaço. - o quarto era pequeno e não havia lugar para ele deitar sem uma das duas goteiras ficasse no meio.
-É verdade, vou ver se dá para ficar na cozinha. - ele respondeu saindo do quarto.
Na cozinha Draco suspirou, estava tudo muito difícil, não dava para conviver em paz com ela? Sempre arranjavam uma briga à toa. Observou o local, a cozinha era pior do que o quarto. Não dava para dormir ali.
Gina pensava no quarto, ele poderia ficar com ela na cama, não tinha nenhum problema, já tinham dividido a cama na cela. Resolveu chamá-lo.
-Draco! Olha, vamos dormir os dois na cama. Não tem outro lugar para você ficar. - disse levantando e ajeitando a cama.
-Você pode dormir e eu fico sentado, depois trocamos. - disse voltando para o quarto, a cama era de solteiro e ficariam muito apertados juntos.
-Não, vamos dormir os dois porque amanhã temos que partir. Você tem que estar descansado. - não era justo ela dormir e ele ficar acordado. -Podemos fazer assim, você fica com a cabeça nos pés e eu com a cabeça em cima. - disse mostrando com o braço.
-É, vamos fazer assim. Precisamos mesmo continuar a viagem amanhã. Deite que eu diminuo a luz. - Draco ficou ao lado da mesa, esperando.
Gina deitou-se e ajeitou as cobertas que estavam na cabana e a que Kassandra dera sobre si, o frio era forte, além da chuva a temperatura baixava, deveria ser realmente noite. Draco regulou e diminuiu a luz, deixando uma claridade, para não ficarem no breu, aproximou-se da cama e deitou, nos pés. Também se cobriu, dava para ficar deitado sem encostar nela, assim não teriam problemas.
-Boa noite, Draco. - ouviu a voz dela, ao seu lado, mais acima.
-Boa noite, Gina. - ele respondeu, fechando os olhos e preparando-se para dormir.
Assim passaram a primeira noite na cabana.
Draco acordou antes dela na manhã seguinte e foi com grande decepção que abriu a janelinha de palha do quarto. Estava mais claro, mas a chuva continuava a mesma, torrencial, com pingos grossos, constantes e gelados. Coração estava abrigado sobre um pequeno galpão ao lado da cabana, e pela janela Draco pode ver que estava seco. Não dava para seguir viagem assim, teriam que esperar a chuva acalmar.
Fechando a janela, ouviu-a remexer-se na cama. Era horrível dormir ao lado dela, não parava quieta um minuto sequer! Até o atrapalhou, acordando-o várias vezes na madrugada.
-Já amanheceu? - ouviu a voz dela de dentro das cobertas.
-Já, e não vamos poder seguir nossa viagem. - ele disse desanimado.
-Não? - Gina lentamente despertou e ouviu a chuva batendo no telhado. -Ah, é a chuva, né?
-Isso, garota esperta. - não dava para evitar a irritação de ter que ficar mais um tempo preso ali.
-Nossa, você não perdoa uma! - Gina já ficou de mau humor. -Dá licença. - levantou da cama e foi até o banheiro.
"Chata! Irritante!", pensou bufando, sentando na cama. "Não me deixa dormir e ainda quer ser bem tratada de manhã!".
"Humpf, por que você é tão ingrato?", Gina o xingava no banheiro enquanto lavava o rosto em um tigela.
Como um raio Gina saiu do banheiro e foi para a cozinha.
-Você tomou o café da manhã? - perguntou à contragosto.
-Não.
-Vou preparar. - mesmo brigados ele tinha feito o jantar para ela, então também tinha que preparar o café da manhã para ele. -O que vamos fazer, se ficarmos muito tempo por aqui é capaz que algum soldado troiano nos encontre. Certamente eles estão caçando o guerreiro Akiles e a sacerdotisa de Apolo traidora.
-Não sei. Só sei que não poderemos ficar muitos dias. O tempo tem que melhorar logo. - ele parecia muito preocupado.
-Nem imagino o que fariam conosco se nos encontrassem. - Gina fazia outro lanche, só que de pão e queijo.
-Eu imagino. - a voz dele era fria. -Morte, é certa.
Gina deixou a faca cair e quase cortou o dedo do pé. "Mau sinal, mau sinal...", pensou desesperada.
-O que foi? - ele disse vindo até a cozinha depois de muitos minutos de silêncio dela.
Encontrou uma Gina com um olhar aterrorizado, olhando para o chão com a mão na boca. Ao vê-lo ela correu e o abraçou, começando a chorar. Draco achou que ela estava ligeiramente desequilibrada.
-O que foi? - perguntou novamente, a abraçando em resposta. -Por que está chorando?
-Você não entenderia... - respondeu entre soluços.
-Como sabe? Me diga. - insistiu, afagando os cabelos dela, não gostava de brigar, mas gostava dos abraços dela, não eram iguais aos de mais ninguém.
-Mau sinal, a faca caiu virada para baixo, exatamente igual ao dia em que eu... - ela parou de falar e deu um olhar desolado a ele.
-Você o quê? - estava curioso.
-Eu recebi o diário de Tom Ridlle de seu pai.- respondeu o abraçando com mais força. -Bem quando você disse 'Morte é certa', isso é um mau sinal.
-Acalme-se, Gina. - Draco achou tudo uma grande besteira, entretanto pensou que era um trauma dela, não deveria criticar nem caçoar. -Não vai acontecer nada com ninguém. Logo estaremos longe e descobriremos como sair desse livro, nem sei porque falei aquilo.
-Espero que esteja certo. - Gina respirou fundo e se afastou dele. Draco sentiu tudo frio com a distância dela. -Não vou chorar à toa. - limpou o rosto. -O lanche está pronto. Deixe o meu aí que como depois, perdi a fome.
Ela virou-se e foi para o quarto, sentando-se na cama com os joelhos dobrados, abraçando-os. Draco pegou o lanche e foi para o quarto também, sentando-se ao lado dela.
-Você não parou quieta a noite toda, sentia-se mal? - puxou um assunto para tentar dispersar o clima ruim.
-Acho que no fim da madrugada o efeito do remédio passou e tive febre, tive uns pesadelos estranhos. - ela respondeu com um olhar perdido.
-Estranhos? Lembra deles?
-Não lembro direito. Sabe aqueles sonhos repetitivos? Como quando você vai e pega uma coisa e vai e pega a mesma coisa de novo? Fica se repetindo e repetindo? - Draco concordou com um aceno de cabeça, já tivera sonhos assim. -Mas não lembro o que era...
-Quando temos pesadelos assim, não costumamos lembrar. - Draco viu que ela não tinha culpa por ter se revirado.
Passaram o dia todo sem mais nenhuma briga, era verdade que não conversaram muito depois desse diálogo, mas não brigaram mais. Gina ficou meio cabisbaixa o dia inteiro, e Draco também acabou ficando meio emburrado. Cuidou dela o tempo todo, ela não estava mais espirrando e a febre não apareceu.
À noite novamente se posicionaram para dormir, ele nos pés e ela na cabeceira. A chuva não tinha parado nem por um segundo e ainda ficou mais forte na hora que foram dormir.
-Espero que chova tudo o que tiver que chover agora e que amanhã não caía mais nenhuma gotinha. - Gina disse, esperançosa.
-Posso fazer uma pergunta? - Draco disse subitamente.
-Já fez. - ela respondeu brincalhona. -Pode sim.
-Por que você fez aquilo? - ele falou com um tom de voz curioso.
-Aquilo o quê? - como se ela fosse obrigada a entender o que ele pensava.
-Ora, o quê? Se jogar na minha frente, impedindo que Páris me matasse. - esclareceu. -Já pensei em várias possibilidades e não encontro nenhuma que te levasse a fazer o que fez.
Ela pareceu pensar por um tempo, só depois respondeu, num tom de voz simples.
-Por quê? Porque não achava justo você morrer por algo que não fez. Não foi você quem matou Heitor, foi o verdadeiro Akiles, não seria correto Páris vingar o irmão te matando.
-Só por isso? Mas não achei que era motivo suficiente. Você esqueceu do ódio entre nós? - Draco continuava analisando as possibilidades.
-Quem disse que eu realmente te odeio? - disse irreverente. -Eu não gostava de você, e tinha meus motivos. Você sempre zombou de mim, de minha família e dos meus amigos. Mas acho que isso ainda não era suficiente para um ódio concreto. - agora ela parecia pensativa. -E na hora em que tudo aconteceu, não deixaria que ninguém morresse injustamente, mesmo que te odiasse de verdade.
-Se fosse ao contrário, eu não faria o mesmo. - Draco confessou.
-E acho que fiz aquilo também um pouco pensando em mim. Se você morresse ali, eu ficaria sozinha nesse outro mundo, e viver sem nada e ninguém que lembrasse minhas origens seria horrível. De uma maneira, você representa a vida que me aguarda em Hogwarts, mesmo que lá represente um lado um pouco amargo, a vida não é só feita de felicidades.
Essa resposta Draco não esperava, ela era muito mais esperta que ele, e também parecia mais madura. Ele era um bobão mesmo.
-E por que me curou com aquele feitiço? Para sentir um gostinho de vingança você poderia me deixar daquele jeito. Eu tinha te maltratado naquele mesmo dia, não seria bom se vingar? - essa era outra dúvida que passava pela cabeça dele.
-Não, não queria me vingar de você. - ela respondeu como quem dizia o óbvio. -Quero ser uma médi-bruxa, e não poderia ignorar que você estava ferido ao meu lado, tinha um meio de te curar, minha futura profissão já está dentro de mim. Te ver ferido daquela maneira só me fazia sentir-se mal e com vontade de te ajudar. Mas confesso que exagerei e quis me exibir, você estava me provocando, por isso achei que deveria cuidar dos dois ferimentos, um em seguida do outro, para te mostrar que era capaz e que serei uma excelente médi-bruxa. Por outro lado, esse meu orgulho ridículo só fez que eu acabasse desmaiando e te dando problemas. - fez uma pequena pausa e Draco não disse nada, continuou. -Minha vez de te perguntar. Por que me ajudou quando fiquei mal?
-Você me deixou confuso. Ninguém nunca fez tanto por mim quanto você naquele dia. - Draco confessava tudo, abertamente e surpreendia-se com isso. -Era justo retribuir o que você tinha feito por mim, te ajudando.
-E por que não me largou no corredor da masmorra quando caí, na hora em que fugimos? - era a oportunidade de esclarecer todas as dúvidas.
-Não podia te deixar. Se não a Kassandra não me ajudaria também. - ele respondeu em um tom irônico, rindo baixo.
-Engraçadinho! - Gina bateu na perna dele. -Você não sabia dela. Nem que a encontraria.
-E se eu também tiver o dom da vidência? - ele respondeu dramaticamente.
-Rá! Rá! Diz a verdade. Por quê? - não deixaria que ele a enrolasse.
-Não conseguiria te deixar. Não depois de tudo o que você fez por mim. - disse sinceramente e depois ficou quieto.
Draco estava perplexo de ter contado tantas coisas para ela, normalmente não demonstrava seus sentimentos, nunca. Talvez fosse estimulado pela situação em que estavam, ou porque ela era uma pessoa fácil de conversar. Era mais fácil falar assim, deitado, pronto para dormir. Nunca conversava com ninguém assim, no seu dormitório da Sonserina, sempre tinham pessoas inconversáveis como Crabble e Goyle.
Tudo o que Gina pensava era que não esperava que Draco dissesse o que disse. Ele não a abandonaria porque se importava com ela, essa era a verdade por detrás das palavras. Nem mesmo Dino faria isso por ela, ele certamente iria embora, fugindo, a deixando imóvel no chão. Seus sentimentos confundiam-se, tinha amizade, carinho e cuidado por Draco, mas, pensando bem, não era só isso, também tinha uma expectiva de ser irritada por ele e uma admiração pela maneira como os olhos dele conseguiam enxergar tão fundo dentro dela.
O silêncio predominou e logo estavam dormindo. Contudo, uma hora depois Draco despertou sentindo algo estranho no rosto. Passou a mão e constatou o que era: água! A chuva, por mais impossível que parecesse, apertou, e uma goteira surgiu, bem no rosto de Draco.
O que faria? Não dava para empurrar a cama mais para cima e nem para o lado porque paredes atrapalhavam. Se mudasse a cama de lugar acabaria embaixo de outra goteira. Pegou um balde grande de cerâmica e colocou no local em que estivera deitado, impedindo que o colchão molhasse.
-O que está acontecendo? - Gina disse com a voz embargada, acordando com o movimento de Draco no pequeno quarto.
-Uma goteira, bem onde estava dormindo. - ele respondeu em pé, apontando para os pés da cama.
Gina olhou meio dormindo e viu que não dava para mudar a cama de posição.
-O que vai fazer? - perguntou, sem nenhuma idéia em mente.
-Ah, vou ficar acordado. Posso sentar do seu lado? - ele disse simplesmente.
-Não, pode deitar do meu lado. - ela disse pulando para o lado da cama perto da parede, deixando o espaço para ele deitar. -De que adianta você ficar sentado ou deitado ao meu lado? Deita logo.
Draco, receoso, se aproximou e deitou na cama, ficando de costas para ela. O lugar estava quente, ela havia ficado deitada ali o tempo todo. O frio que sentiu quando estava em pé, fora da cama, passou em segundos. Continuava sem encostar nela, o espaço era o mesmo de quando estava nos pés, mas ele queria encostar nela.
Acabou dormindo da maneira que tinha deitado, mas acordou mais tarde e aproveitou para abraçá-la por trás. Gina estava dormindo e não protestou, pelo contrário, encaixou-se melhor nele. Logo dormiu novamente, dessa vez satisfeito.
N.A.: Ai, ai, ai... Agora a fic tá ficando fófis, né?! Bom, gente, não falta muito pra acabar! O que será que vai acontecer? Draco e Gina vão se entregar à paixão? Os soldados troianos os encontrarão? Qual será o mau sinal do presságio de Gina? Para encontrar as respostas: Continuem lendo!!! E eu, como já estou mal acostumada, exijo o de sempre E-MAILS JÁÁÁÁÁ!!!! ([email protected])
Dessa vez consegui responder vários reviews, aproveitei um tempinho livre na facu, mas também vou agradecer aqui. Valeu pelos reviews no cap 4: Princesa Chi, Bebely Black, Isa Potter, Xianya, Ny Malfoy Kayba, PatyAnjinha, Arwen Mione, Ninde Seregon, Nininha e Anaisa!!! Ah, e também quem mandou comentário lá no Edwiges homepage: Tex Turner Black, *MoNNy_GirL* e Mayara. ;) E quem me mandou mails: Nice, Bia _Malfoy_84, Karla e Nessa Malfoy. Mil bijinhos pra vocês!!!!
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