O baile

O mês que separava o anúncio de Dumbledore do baile passou a correr e naquela manhã, Hogwarts acordou com uma agitação fora do comum. Mesmo sendo sábado, os alunos levantaram-se cedo, sendo algo que não costumava acontecer ao fim-de-semana, para se prepararem para o baile de máscaras que aconteceria nessa noite.
- Meu deus... Não sei como é que vou prender o cabelo... - Reclamava Angie olhando os cabelos loiros ao espelho. - Kim! Dá-me alguma ideia!
- E que tal se o amarrares mas deixares algumas madeixas de fora? O Will gosta de te ver com esse género de penteados... - Comentou Kim que estava deitada na cama a ler um livro.
- Não te vais arranjar? - Perguntou Patty olhando a amiga com um olhar deconfiado.
- Não! É sábado e vocês acordaram-me excessivamente cedo! Vocês sabem que eu não vou ao baile... - Respondeu a ruiva com um suspiro cansado. - Vocês julgaram mesmo que eu tinha dito não ao Sam porque ele era meu inimigo na altura? Pra vossa informação ele voltou a convidar-me e eu recusei!
- És muito toina, ruiva... - Reclamou Ginny. - Ías com ele e divertias-te um pouco...
- Oh! Deixem-me em paz... - Disse Kim voltando à leitura.
Já no quarto dos rapazes...
- Sam! Sempre vais ao baile? - Perguntou Will penteando os cabelos.
- Não! - Respondeu Sam que estava sentado na janela ao lado da sua cama a ler um livro.
- Perque no? Sam, tu perdés a divérson todá! - Resmungou Francis.
- Tu divertes-te por mim, Fran! - Respondeu Sam poisando o livro.
- Já pensaste na possibilidade de a loira ir? - Perguntou Will.
- É por já ter pensado nisso que eu não vou... Não quero voltar a encontrá-la!
- Sam... Tu passaste um ano, praticamente, a suspirar por aquela loira e, de repente, do dia pra noite, decides que já não a queres ver? Só podes tar a gozar!
- E se eu tiver encontrado alguém, Will? E se... por acaso... me tiver apaixonado por outra pessoa?
- Digo-te que mereçes levar porrada! Eu andei a aturar-te com os suspiros pela loira e tu, no fim, dizes-me que te apaixonaste por outra?
- Obrigado pelo apoio... - Disse Sam sarcasticamente.
- Sam... A sério! Pelo menos ías tentavas encontrá-la e esclarecias as coisas! Se te meteres numa relação com o pensamento na loira não vais ser feliz... Vais tar sempre a comparar a miúda com quem tiveres com a loira!
- Sabes que mais, Will? Tens razão... Mas acontece que eu nunca vou tar com miúda nenhuma...
- O quê? Porquê?
- Não estou disposto a magoá-la...
- Então eu conheço-a... Alguém que te é assim tão querido... Sam, tu...
- Não! Cala-te... Eu confio em ti e no Francis mas as paredes têm ouvidos... - Declarou Sam indicando a porta entreaberta. - Acaba de te arranjar...
Cansada de tar no quarto a ouvir a irmã e as amigas a falarem sobre o baile, Kim desceu as escadas para ir para a sala comum sentar-se num dos confortáveis sofás, já estava na sala quando viu um novo recado no quadro. O recado era escrito numa letra cuidada e delicada:
“Minha adorável princesa,
sei que nunca nos encontramos e por esse mesmo motivo deixo aqui este recado...
Espero encontrar-te logo à noite como te encontrei o ano passado!
Com muito amor,
Endymion!
P.S.: Irei igual ao ano passado! Espero que também vás! Esperarei por ti no Grande Hall... ”
Um sorriso floresceu no rosto da ruiva, que tirou o papel afixado no quadro e o guardou no meio das páginas do livro que carregava nas mãos, então esquecendo-se do propósito que a tinha levado a descer as escadas dirigiu-se de novo ao quarto quando encontrou Sam, que descia as escadas.
- Bom dia, Kim! - Cumprimentou Sam com um sorriso.
- Bom dia! - Disse Kim beijando rapidamente o rosto do moreno que não esperava.
Kim seguiu o seu caminho não se demorando mais na escadaria com Sam, que ainda com um sorriso desceu as escadas em direção à sala comum. Sam mal chegou à sala passou pelo quadro e então reparou, faltava um recado... o seu recado! Isso significava que a loira tinha visto e que estava para lhe responder, um sorriso ilumunou o rosto de Sam e fez exactamente o mesmo caminho que Kim tinha feito para voltar para o quarto.
- Onde estão as minhas coisas?! - Perguntou Kim entrando no quarto e assustando todas as ocupantes.
- Uou! Que alteração é essa? - Perguntou Ginny vendo a irmã remexer o seu malão. - Mudaste de ideias?
- Não... Ando à procura das minhas coisas de poções!
- Kim, não foste tu que disseste que era sábado de manhã? - Perguntou Angie com a curiosidade patente na voz.
- Sim... Mas como vocês me acordaram, eu tenho que me intreter com alguma coisa!
- Deixem-na em paz... Hein, mas Kim não te vais meter a fazer poções aqui no quarto, pois não? - Perguntou Patty, de súbito, preocupada.
- Não! Vou fazer as coisas na casa-de-banho! Agora não me venham incomodar! - Ordenou Kim entrando na casa-de-banho com as suas coisas e fechando a porta com força.
- Sai da frente! Sai da frente! - Ordenava Sam entrando apressado no quarto.
- Epa! O tigre acordou! - Brincou Will. - Qual é a pressa?
- Élé tá bien? - Perguntou Francis saindo da casa-de-banho.
- Melhor que eu? Impossível! - Respondeu Sam empurrando Francis para longe da porta do w.c. - Não era sem tempo!
- Mudaste de ideias e vais connosco ao baile? - Perguntou Will esperançoso.
- Vou ao baile... Mas não é convosco! Não vou segurar vela! - Gritou Sam em resposta a partir do interior do banheiro.
- Que maravilha! Ela tirou o recado? - Perguntou Will com indiferença.
- Como é que tu sabes? - Perguntou Sam.
- Eu vi-te a afixar o recado! - Respondeu Will rindo-se. - Pra quem não a queria encontrar, aquilo é acto de quem quer!
- Vai-te... - Gritou Sam rindo-se também.
Enquanto na torre de Gryffindor o movimento era optimamente representado pelos rapazes e raparigas, nas masmorras de Slytherin, Bella e Ammie escolhiam as roupas que usariam nessa noite no baile.
- Que me dizes deste vestido? - Perguntou Bella pegando num bonito vestido branco com efeitos de rendas. - Era da minha mãe...
- É muito bonito... Podes ir à dama antiga! - Sugeriu Ammie rindo-se de uma piada inexistente.
- Hein... A minha mãe não é assim tão velha! - Refilou Bella batendo com a almofada na cabeça da amiga.
- Não te ofendas... Mas esse vestido é mesmo muito velho...
- Pertencia à tia da minha mãe! A pobre mulher não teve filhas e via a minha mãe como sua filha...
- Hum... E deixa-me adivinhar, tu vais passá-lo para a tua filha e dar ordem para que ela o passe para a tua neta e que essa o passe pra tua bisneta e por aí fora!
- Muito engraçada... Mas porque não? Desde que não se estragásse... - Comentou Bella guardando o vestido cuidadosamente. - Ammie? Como é que costumam ser os bailes aqui em Hogwarts?
- O Dean não te contou? - Perguntou Ammie olhando para Bella que lhe dirigiu um olhar zangado. - Às vezes, escolhem o Rei e a Rainha do Baile... Mas não creio que o façam este ano. A menos que o divertimento de envergonhar os alunos sejam mais forte que qualquer coisa.
- Rei e Rainha... Em Beauxbaton não havia nada... Eramos só raparigas...
- Isso é deprimente... Aqui em Hogwarts temos uma coleção infindável de rapazes lindíssimos... Embora eu tenha a ligeira impressão de que um dos bonzões desapareceu...
- Tás a falar de quem?
- Mick St.John... Parte que faz pena é ser um Gryffindor... Mas parece-me que desapareceu de Hogwarts...
- Não o vi...
- Praticamente ninguém lhe punha os olhos em cima... Quer dizer... Todos lhe punham os olhos em cima... Mas ele só tinha olhos para a Weasley...
- A Kim? - Perguntou Bella de modo inocente.
- Vejo que já a conheces... Eu conhecia-a muito bem... Depois deixei de me dar com ela... Bem mas isto são histórias enfadonhas... - Disse Ammie olhando para o relógio. - Oh! Vê só as horas... Queres que te penteie?
- Claro! Vou só tomar um banho rápido para vestir o vestido. - Disse Bella correndo para o w.c.
Enquanto as Slytherin se arranjavam, nos quartos dos professores perto da torre de Gryffindor, Sirius e Remus conversavam no quarto do primeiro.
- Hoje é lua cheia... - Comentou Sirius olhando pela janela para o céu onde dava para ver a lua delineada contra a luz do sol.
- Eu sei... O que significa que vais ficar sozinho a tomar conta dos ânimos lá em baixo! - Respondeu Remus com um longo suspiro mas abrindo longo um sorriso ao ver o ar escandalizado do amigo.
- É que nem penses! Eu vou contigo...
- E quem é que vai tomar conta do Dean? Não foste tu que disseste que não o querias por perto da Bellatriz sem vigilância?
- Essa situação não precisa de ser controlada por mim... A Bellatriz faz o que necessita para o manter afastado...
- Não tens pena dele? Coitado do rapaz... Já não é aquele rapaz risonho de antigamente...
- Pena? E pena de mim, alguém tinha? Remus, a Bellatriz é igual à mãe...
- Promenor! A Bellatrix ficava desolada quando não te tinha por perto! A Bellatriz não é bem assim...
- Faz ela senão bem! O Dean sabia o que não podia fazer... Pisou o risco, ficou sem ela! É a mesma regra pra todos os homens que se envolvem com uma Black...
- Eu nem acredito que te estou a ouvir dizer isso, Sirius Black!
- A sério, Remus... Acontece que os Black têm regras demasiado rigidas...
- Eu sei... E o pior é que essas regras não se foram embora com a morte da tua mãe...
- Que queres dizer?
- O Dumbledore não te disse? Julguei que ele te tinha contado as noticias da parte da Bellatrix?
- Que noticias? Do que tás a falar? Deixa-te de rodeios, Lupin!
- A Bellatrix pediu ao Dumbledore para meter a Bellatriz sob a segurança da Ordem da Fénix e que não a deixe voltar para junto de si!
- O quê? Porquê?
- A palavra casamento diz-te alguma coisa?
- A tradição... Casar puros-sangue! Com quem é que a queriam casar?
- A Bellatrix não disse... Mas Dumbledore julga que é com o Draco Malfoy!
- O Malfoy? Nem pensar! A Bellatrix nunca iria permitir isso...
- É o filho da irmã dela... Porque não haveria de permitir?
- Porque não... Há algo de errado... Muito errado! - Disse Sirius andando de um lado para o outro. - A Bellatrix não disse quem era?
- Não... Deixou-nos às escuras... Sirius em que estás a pensar?
- Acerca desse assunto qual foi a última palavra dela?
- Qual é a ideia?
- Quando eramos miúdos e queriamos dizer alguma coisa um ao outro sem que os outros se apercebessem diziamos uma espécie de enigmas... Era assim que marcavamos encontros quando andavamos aqui em Hogwarts.
- O Lord virou o santo... - Disse Remus relembrando-se das palavras de Bellatrix. - As últimas palavras dela... Mas de que santo estava ela a falar, Sirius?
- O Voldemort quer companhia! - Declarou Sirius virando-se para a porta e seguindo para a rua.
- O quê? Que queres dizer? Sirius! Espera... - Gritou Remus correndo atrás de Sirius. - Sirius!
Os dois andaram tão depressa que mais parecia que corriam só pararam quando chegaram à gargula que dava passagem para o escritório de Dumbledore, Sirius “cuspiu” a palavra-passe para a gargula, que lhes deu passagem imediata, e subiu as escadas numa correria que só mesmo o seu bom fisico aguentava. Mal chegou ao cimo das escadas, bateu à porta de Dumbledore com um Remus ofegante do seu lado e então ouviu a voz monocordica do professor dizer:
- Entre! Ah! Sirius! Remus! - Dumbledore fingiu-se surpreso ao ver os dois. - Suponho que lhe tenhas contado!
- O senhor devia ter-me contado! Cada minuto é precioso, não é o que costuma dizer quando temos pouco tempo? - Disse Sirius num tom àcido.
- Controla-te, Sirius! - Ordenou Remus tentando recuperar o fôlego.
- O que é que a Bellatrix queria dizer com “O Lord virou o santo”, Sirius? - Perguntou Dumbledore indo direito ao assunto. - Do que falava ela?
- O santo é um santo de um país chamado Portugal... Santo António... Ficámos a saber da sua existência com um tio nosso que costumava fazer muitas viagens... Nesse país diz-se que quando se quer casar deve-se virar o santo ao contrário até ele trazer um amor a quem o virou... - Explicou Sirius quase que adivinhando a pergunta de Remus que se sentou. - O Voldemort quer casar-se! E não é alguém próximo da sua idade! Ele quer a Bellatriz!
- Hum... - Murmurou Dumbledore assimilando a informação. - Para que, Sirius?
- A Bellatrix, quando queriam que ela se casasse com o Rudolph, contou-me que tinha ouvido a minha mãe comentar que o Voldemort queria um herdeiro! - Concluiu Sirius arregalando os olhos de puro horror. - Ele quer um filho da Bellatriz... Por isso a Bellatrix queria protegê-la connosco!
- Pra que queria o Voldemort um filho? - Perguntou Remus olhando confuso para o director.
- Boa pergunta... - Respondeu Dumbledore. - Melhor pergunta é porque da Bellatriz?
- Seja qual for o motivo, o Voldemort não irá tocar num único cabelo da Bellatriz! - Sibilou Sirius olhando para os pés com os punhos cerrados. - Nem que seja a última coisa que eu faça!
- De qualquer maneira, vamos aumentar a guarda a Hogwarts... Enquanto ela aqui estiver, estará segura... Depois nós havemos de arranjar um modo de lhe contar as coisas. Mas por enquanto nós vamos manter a segurança dela nestas paredes! - Declarou Dumbledore mostrando-se sério. - E que esta conversa não saia daqui... Temos que fingir que não sabemos quais os planos de Voldemort! Mantenham-se atentos mas não sejam indiscretos!
Depois de terem recebido instruções precisas de Dumbledore, Sirius e Remus sairam do escritório dele e dirigiram-se de novo ao quarto de Sirius, que enquanto caminhava se mantinha num silêncio absoluto absorto pelos seus pensamentos. Quando lá chegaram, Remus sentou-se na cama e Sirius dirigiu-se à parede junto da janela e, muito repentinamente, deu um muro na parede com toda a sua força.
- Que raiva!!! - Gritou Sirius fazendo Remus olhá-lo assustado. - Porquê? Porquê a minha familia?!
- Sirius...
- Consegues explicar-me, Remus? Porque raio tinha que acontecer isto tudo à minha familia?! Porque raio foi o Voldemort escolher a Bellatriz? Porque carga cai tudo sobre nós?! - Continuou Sirius deixando a sua voz desfalecer na última palavra.
Sirius sentou-se no chão encostando a sua cabeça à parede procurando e olhando para o tecto respirando devagar, enquanto Remus se levantou e se foi sentar ao lado do amigo, procurando dar-lhe apoio naquele momento em que sabia que ele tanto precisava, ficaram os dois a olhar para o tecto e então Remus disse:
- Sabes que isso podia acontecer a qualquer um... Não é por serem vocês... Mas sabes que talvez seja para isso que Deus vos designou...
- Deus? Designio? Desde quando acreditas nessas coisas, Moony?
- Às vezes, temos que arranjar alguém em quem acreditar!
- Mesmo depois de tudo o que passaste... De tudo para o que ele te... designou...
- Não está nas nossas mãos traçar o destino... Podemos traçar o futuro, mas não o destino! - Disse Remus olhando para o amigo com um olhar calmo e compreensivo.
O dia passou-se com a mesma agitação com que tinha começado, da parte dos professores, a preocupação pelas decorações, e da parte dos alunos e alunas, a preocupação pelos disfarces que iriam usar no baile. No meio da confusão, ninguém deu pelo tempo passar e então a tarde em que o baile começaria.
- Sam! Despacha-te! - Gritou Will da sala comum.
- Will, de que é que tás mascarado? - Perguntou Angie surgindo nas escadas com um vestido à antiga, os cabelos loiros apanhados num coque pouco elaborado com algumas pérolas emaranhadas em alguns fios de cabelo, o seu rosto tinha sido pintado em tons leves que condiziam com o vestido mas que eram tão leves que nem dava para saber se tinha sido mesmo maqueada ou se eram os seus tons naturais.
- Eu... Ah... - Disse Will gaguejando perante a beleza da rapariga. - Já ouviste falar de Will Turner? E tu?
- Piratas das Caraibas... Vejo que seguiste o meu conselho... - Brincou Angie. - Elisabeth Swan! Como tinhamos combinado...
- Mamma mia! - Disse Francis olhando para a saida das escadas onde agora aparecera Patty.
Patty trajava um longo vestido sem alças vermelho cheio de brilhantes com uma racha ao longo da perna esquerda, os cabelos outrora curtos, levemente ondulados e castanhos eram agora longos, totalmente lisos e ruivos, no seu rosto uma pintura leve mas sensual tornava as suas feições provocantes. A rapariga ao ver a reação de Francis sorriu e seguiu até ele com passos calmos e provocantes sobre os sapatos de salto.
- Gostas do que vês, italiano? - Perguntou Patty mexendo no laço do elegante fato de Francis.
- Si... Patricia, tu éstás márávilhosa! - Respondeu Francis procurando as palavras certas.
- Não me chames patricia! - Disse Patty afastando-se rapidamente chateada.
- Onde está a Kim? - Perguntou Will olhando para Angie curioso.
- Está mesmo decidida a não vir. - Declarou Angel com uma pontada de irritação na voz. - E o Sam?
- Estou aqui! - Disse Sam surgindo nas escadas.
- Hum... Tanta elegância! - Comentou Patty olhando para Sam de cima a baixo.
Sam voltara a trajar o fato que usara no ano anterior, embora tivesse crescido alguns centimetros o fato continuava a servir-lhe na perfeição, sorriu e deu uma volta para que Angie e Patty podessem ver o fato por inteiro e então disse:
- Vamos? Tenho um encontro marcado! - O moreno colocou a máscara na frente dos olhos e seguiu na frente com a capa a ondular atrás de si.
Os amigos riram-se e seguiram atrás dele, percorreram Hogwarts até chegarem ao Hall que estava apinhado de alunos mascarados, Sam percorreu o lugar com o olhar em busca da rapariga loira mas não a viu, já os seus amigos tinham seguido para o meio da multidão de braço dado. Sam voltou a olhar com atenção e ía começar a descer as escadas quando uma voz suave e doce disse:
- Julgavas que não vinha?
Sam virou-se e lá estava ela, a rapariga com os longos e brilhantes cabelos loiros, os olhos azuis esverdeados brilhantes e profundos sobre longas pestanas que ainda lhe aprofundavam mais o olhar hipnotizante, o rosto de pele branca com traços delicados, delicados lábios rosados...
- Sempre vieste... - Disse Sam sentindo o seu coração acelarar ao pegar-lhe nas mão. - Por momentos pensei que...
- Não viria para me despedir de ti? - Perguntou a rapariga corando ao olhar-lhe nos olhos verdes azulados.
Sam engoliu em seco e acenou sentindo-se estranhamente aliviado por tê-la do seu lado mas ao mesmo tempo assustado com as palavras pronunciadas por ela que fizeram o seu coração pesar-lhe no peito, estendeu-lhe o braço e desceram a escadaria juntos, novamente eram o centro dos olhares quando entraram no Salão Principal e se dirigiram à pista de dança, onde começaram a dançar graciosamente ao som da música. Sam olhava sem pestanejar para a rapariga como se ela fosse um sonho e pudesse desaparecer no momento em que ele fechasse os olhos, já ela olhava-o com ternura mas nos seus olhos um brilho diferente toldava-lhe o ar carinhoso.
- Como te chamas? - Perguntou Sam ainda olhando-a nos olhos.
- Serenity! - Respondeu a loira sabendo onde ele queria chegar.
- Não... Como te chamas a sério. Qual é o teu verdadeiro nome?
A rapariga não respondeu, desviou o olhar do do moreno e quando a música acabou, puxou-o para fora da pista, atravessaram o Hall de Entrada agora vazio e foram para os jardins, onde se dava para ver o pôr-do-sol que estava a começar embora fosse ameaçado por núvens negras de tempestade que começavam a cobrir o céu. Sam parou à berma do lago e então disse muito calmamente:
- Foi aqui que tudo começou... É aqui que vai tudo acabar?
- Só te trouxe aqui para que te lembrasses das coisas boas que aconteceram o ano passado... - Disse a rapariga num tom triste.
- Vais me dizer quem és?
- Se tu me disseres quem és... - Pediu a loira olhando agora para ele.
- Eu mostro-me. - Declarou Sam tirando a máscara dos olhos.
Os olhos da rapariga arregalaram-se não com horror mas com surpresa, então abriu um sorriso divertido, que assustou Sam não percebendo qual era exactamente a reação da rapariga.
- Que é? Diz-me! - Pediu Sam mostrando-se nervoso.
- Estava a rir-me de mim... - Explicou a loira.
- Porquê?
- Estava a pensar como irás reagir quando souberes quem eu sou... Talvez até deixes de me falar...
- Talvez deixe de te falar? Isso quer dizer que te conheço! Que tu e eu falamos!
- Já descobriste quem sou? Se te disser irritar-te-ás!
- Ainda não descobri... Mas diz-me, por favor, prometo não irritar-me! Prometo! - Prometeu Sam mostrando-se praticamente desesperado.
- Cumpre a tua promessa! - Ordenou a rapariga fechando os olhos.
Sam ficou a observar a expressão tranquila da rapariga sob a luz do crepúsculo, admirava cada traço do seu rosto e então notou em algo que se estava a passar, os seus cabelos loiros começavam a tornar-se ruivos como a luz do pôr-do-sol. De repente, os cabelos da rapariga ficaram todos ruivos e Sam reconheceu-a, era Kim, fora tão estúpido. Como é que não tinha percebido? As palavras dela, o facto de a ver de pé tão cedo...
- Kim... És tu?! - Perguntou Sam incrédulo mas com um sorriso a aflorar-lhe nos lábios.
- Sam, tu prometeste que... - Começou a ruiva ao vê-lo levar as mãos à cara.
- Eu não estou irritado! Não... Até estou aliviado...
- Aliviado? - Perguntou a ruiva olhando para ele confusa. - Não percebo!
- Kim, não entendes? Eu só vim para me despedir da Serenity! - Disse Sam avançando para a rapariga com um enorme sorriso. - Eu queria despedir-me dela para poder entregar-me a outra!
Kim desviou o rosto das mãos de Sam, rapidamente, mas o rapaz não desistiu e obrigou-a a olhar para si para depois lhe dizer:
- Eu queria dizer que não queria ficar a pensar na loira quando tinha uma ruiva comigo...
- Tu queres dizer que...
- Eu acho... Não, eu não acho... Eu tenho a certeza de que estou apaixonado por ti, Kim! - Disse Sam unindo os seus lábios aos da rapariga num beijo terno.
Kim fechou os olhos e deixou Sam aprofundar o beijo, mas dos olhos da ruiva uma lágrima escorreu pelo canto do olho. Quando se afastaram, Sam notou na lágrima e limpou-lha, de repente, a sua expressão antes risonha tornou-se séria e afastou-se parecendo furioso.
- Sam? O que foi? Diz-me! - Perguntou Kim ficando preocupada.
- Raios! Eu tinha prometido a mim mesmo...
- O quê? Sam, diz-me... Estás a deixar-me preocupada!
- Quando decidi assumir o que sentia por ti, prometi-me a mim mesmo que nunca te iria fazer chorar! Acabei de te fazer chorar!
- E tu ainda me ligas? - Perguntou Kim rindo-se e beijando-o.
- Sabes? Acho que isto pode vir a resultar... - Comentou Sam abraçando-a carinhosamente. - Queres namorar comigo?
- Julguei que já tivessemos passado a parte dos pedidos... Mas não sei se será boa ideia...
- Porquê? Não vejo nada...
- Há pequenos factores bastante importantes... - Disse Kim mostrando-se subitamente triste.
- E eles importam? Que género de factores?
- A minha familia... Eles são um dos factores...
- Eles influenciam o que sentes por mim?
- Não... Mas o que eu sinto por ti pode influenciar a minha atitude para com eles! - Disse Kim olhando para o horizonte com um ar distraido.
- Que queres dizer? Que tu por mim deixá-los-ias? - Perguntou Sam confuso.
- Talvez... Se não te aceitassem... - Respondeu Kim olhando para os pés.
- Abdicarias da tua familia... por mim? - Perguntou Sam ainda incrédulo pela possíbilidade de tê-la daquela maneira. - Kim, eu não quero que o faças... Se para te manteres com a tua familia não podes ficar comigo, então o melhor é sermos só amigos...
- A minha familia saberá compreender... Mas de qualquer maneira, teremos que andar escondidos. - Declarou Kim beijando-o.
- Hum... Se namorar-te já me parece uma boa ideia, namorar-te às escondidas ainda me parece melhor! - Comentou Sam rindo-se e depois abraçando-a.
Enquanto os dois se encontravam nos jardins, a festa decorria no Salão Principal com os vários pares a dançarem ao som das valsas. Dean observava os pares a dançarem quando viu entrar a criatura mais graciosa que alguma vez vira, reconheceu Bella vestida com um antigo vestido branco de rendas, os cabelos negros estavam presos num fantástico penteado e o seu delicado rosto estava pintado com tons brancos que lhe davam um ar angelical e faziam a sua beleza sobressair.
Bella entrou no Salão, olhando em volta como se procurasse alguém, mas parou a sua busca ao ouvir a voz de Ammie ao seu lado dizer:
- Bells, nós vamos nos sentar... - Apontou para o seu par e para umas mesas disponiveis do outro lado do salão.
Bella acenou compreendendo a ideia da amiga e seguiu-a até às mesas, quando foi interrompida por um rapaz moreno vestido com uma camisa branca e larga que lhe deixava transparecer o peito musculado de pele clara e umas calças de pano castanho que lhe ficavam justas às pernas, o rapaz fazia uma vénia gentil perante a delicada jovem convidando-a para valsar. Bella olhou para a amiga que a incentivou a ir, então aceitou seguir com o rapaz para o meio da pista de dança.
Começaram a valsar lentamente, sendo alvo dos olhares de todos à sua volta. O rapaz colocou o seu braço à volta da cintura da rapariga para a aproximar mais de si, prendendo-a gentilmente contra o seu corpo musculado, a rapariga pareceu entender isso e concentiu o acto do rapaz desconhecido, encostando a cabeça ao seu peito. Ao notar na acção da jovem, o rapaz baixou o seu rosto até a sua boca ficar à altura do ouvido da morena e sussurou:
- Quero ficar contigo!
Bella olhou para os olhos verdes do rapaz e então reconheceu o seu par...
- Dean... - Sussurou Bella fazendo-o abrir um leve sorriso.
- Por favor, não fujas... - Pediu Dean ainda sussurando. - Eu quero pedir-te desculpas... E explicar-me!
Bella não respondeu enquanto olhava para os lados discretamente procurando uma hipótese de se livrar da conversa que tentava a todo o custo evitar, isto por um lado, por outro, sentia-se segura nos braços de Dean e a saudade do seu perfume embrenhado no seu nariz. Dean esperava a resposta de Bella, mas sabia que ela ponderava as hipóteses de fuga.
- Por favor, Bella... Não sejas teimosa... Só te peço que me ouças... Não quero ter que te forçar a nada... És livre de me odiares depois... Não me vou impôr a qualquer hostilidade que levantes contra mim... Peço-te apenas que me ouças... Não é pedir muito, é? - Pediu Dean mostrando-se apreensivo.
- Eu vou ouvir-te... Mas não aqui...
- É melhor que seja aqui, Bella...
- Porquê?
- O Sirius... Ele não me deixa aproximar-me de ti... Assim ele não sabe que eu estou a falar contigo. - Respondeu Dean olhando por cima da cabeça da morena procurando sinais do moreno. - Bella, tenta acreditar em mim... Eu não estava a fazer nada quando tu me encontraste com aquela louca nos braços...
- Estavas com ela nos braços e ela estava a beijar-te... Não basta?
- Ouve-me... Ainda não acabei! Ela invadiu o meu quarto! E passou lá a noite... Posso alegar violação de propriedade privada! Mas isso não me vai adiantar de muito, eu sinto que tu não acreditas em mim! Mas eu não a estava a beijar e ela não estava sóbria.
Bella olhou Dean nos olhos, a sinceridade estava espelhada naquelas iris verdes, sentia que aquilo tudo era verdade mas não tinha como saber se o que sentia era o certo.
- Mas eu estou! - Exclamou Bella esticando-se para alcançar os lábios de Dean.
Dean surpreendeu-se ao ter contacto com os vermelhos e delicados lábios de Bella, mas deixou os seus lábios responderem ao beijo de Bella com vontade e desejo. Pararam de dançar, ficando ali no meio da pista a partilharem o mesmo sentimento de amor e desejo num beijo que poderia durar para sempre.

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