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2- The 40's.

Aquele era apenas mais um anoitecer de outono em Londres, em que o sol poente refletia-se nas folhas caídas, tão alaranjadas quanto ele, e que enchiam os pátios das grandes casas senhoriais daquela nobre área residencial próxima da Rua Brompton Road, em Knightsbridge, um dos bairros mais caros da cidade.
Dentro do número 28, que coincidentemente era a maior casa da rua, a família Malfoy estava recebendo convidados, os Conrad.
As duas famílias eram amigas há 13 anos, se conhecendo naquele primeiro de setembro em que o único herdeiro dos Conrad, Harold, entrou na escola junto com Henry. As famílias ficaram tão amigas quanto os garotos, que mesmo pertencendo a casas tão diferentes - Henry entrou na Sonserina e Harold, na Corvinal -, nunca se afastaram. E agora, mesmo depois de todo aquele tempo, eles se encontravam com freqüência... Ainda mais em momentos especiais como aquele.
- Eu ainda não acredito que ele estará casado em menos de três meses! – exclamou Gina, enquanto espiava o grande peru que assava no forno da casa. – Quer dizer, o meu bebê está crescendo tão rápido. – Grace Conrad, mãe de Harold, riu. Henry já deixara de ser um bebê havia tanto tempo. Mas a ruiva continuou, empolgada. – Você sabe quem é a noiva, não? Filha dos McBrigde, donos daquela fábrica de caldeirões...
- Sei – interrompeu Grace – Elle, não?
- Exato, exato. – Gina voltara a supervisionar as cebolas que cortavam-se sozinhas. – De qualquer forma, ela virá hoje. Mas irá se atrasar um pouco por causa do trabalho.
- Trabalho? No que ela trabalha? – perguntou Grace, logo em seguida tomando um grande gole de hidromel, interessada.
- Saint Mungus, acredita? – a ruiva voltou a se sentar junto da amiga e serviu novamente o seu copo. – Apesar de todo o dinheiro dos pais, ela simplesmente diz que gosta de trabalhar e que o seu sonho sempre foi esse: ser curandeira chefe no hospital. – ela olhou para o grande relógio da cozinha, que marcava 6 horas e 49 minutos da noite, e suspirou. – Ela é uma ótima mulher. Orgulho-me de Henry... Não poderia ter feito melhor escolha.
Gina tentava, mas não poderia evitar, era simplesmente mais forte do que ela. Durante todos esses anos, as duas mães, sempre orgulhosas de seus maravilhosos filhos, fizeram uma espécie de competição, envolvendo... Seus filhos. Poderia soar estranho, mas era exatamente do que se tratava: comparavam, provavelmente inconscientemente, as notas dos filhos, o talento no quadribol, os prêmios recebidos, as namoradas... Era uma espécie de “briga”, tentando provar qual dos dois era o melhor.
Sempre fora seu passatempo preferido, e agora, com o casamento de Henry com uma mulher tão bonita, inteligente e rica, não poderia ser diferente.
- Falando no homem... – exclamou Grace quando Henry entrou pela porta da cozinha.
- Falando de mim? – ele sorriu, cortês. – Espero que não esteja se gabando demais, mamãe.
- Oh, filho – riu-se Gina. – Você sabe que eu não faço isso! – o filho olhou-a divertido e depois abriu um armário, correndo os olhos por todo o seu conteúdo, mas franziu a testa, não achando o que queria. – O que procuras, Henry?
- Uísque de Fogo.
- No terceiro armário à direita. – disse, enquanto com um aceno da varinha fez as batatas começarem a cortarem-se sozinhas e juntou as cebolas em um canto, isso tudo sem nem levantar-se da cadeira.
Henry, que achara a garrafa desejada, rumou para a sala.
- E Joshua, hein? – perguntou Grace, espiando o aposento ao lado. – Mais um casamento à vista?
- Eu não faço idéia. – Gina balançou a cabeça solenemente, logo suspirando.
- Mas ele é um jovem tão bonito! – exclamou a amiga. – Deve ter alguém, com certeza.
- Mas obviamente não tão boa quanto Elle. Você lembra da última namorada dele, não? Eu tenho arrepios só de recordar. E ele nem sequer gosta da cunhada! Eu não entendo esse garoto... – naquele exato momento, Joshua caminhava em direção à cozinha, a procura de alguns petiscos para os convidados, e só pegou o final da conversa das mulheres. – ...se Josh pelo menos fosse como o irmão mais velho!
O filho do meio da família Malfoy parou de chofre. Com certa raiva subindo-lhe pelas orelhas, que definitivamente começaram a ficar vermelhas – algo que puxara à família Weasley, além dos cabelos –, ele encontrou forças para se controlar e pigarreou alto ao entrar na cozinha, sinalizando a sua presença.
- Mãe, por que você e Grace não vão lá se juntar ao resto dos convidados? Não há necessidade de ficarem aqui sozinhas. - falou tudo em uma imitação perfeita de Henry, até com um sorrisinho de acompanhante, mas Grace nem percebera nada.
- Ah, que gentileza, querido! – ela sorriu de volta. – Mas eu e sua mãe estamos aqui de fofoca, não é, Gi?
- É claro! – confirmou a ruiva, sorridente, também nem reparando em nada diferente.
- Certo, então. Eu vim buscar alguns petiscos, já estou de saída. – conforme falara, ele o fez, e logo saiu da cozinha impecavelmente limpa, xingando baixinho.
Mas o ambiente em que entrara não melhorava o seu humor de jeito algum. Paul e Harold Conrad conversavam com Draco e Henry, enquanto Andrew ficava apenas ouvindo e confirmando com a cabeça ocasionalmente.
O assunto não poderia ser outro: negócios.
- Então é verdade, Henry? – exclamou Paul, enquanto Joshua pousava as bandejinhas com petiscos na mesa de centro da sala de estar onde se encontravam. – O ministro implorou mesmo para você ser o secretário pessoal dele?
- Não tenha dúvidas, Paul. – afirmou Draco, olhando para o filho mais velho cheio de orgulho.
- Isso é inacreditável. Parabéns, meu jovem! Eu estaria tão orgulhoso quanto o seu pai está, ainda mais, talvez.
- Ah senhor, não é nada demais, mas obrigado. - disse Henry, educado.
- Não é nada demais? Cara, uma coisa é trabalhar com o Ministro da Magia, o que ainda é maravilhoso, claro. – Harold fez um gesto com a cabeça. Ele trabalhava como subsecretário júnior do Ministro. – Mas outra completamente diferente é ele implorar para você assumir o cargo!
Andrew e Joshua, sentados lado a lado em um dos grandes e confortáveis sofás de veludo verde da sala de estar, se olharam com expressão de quem está prestes a vomitar. Nenhum dos dois aturava Harold.
- E você sabe sobre Andrew, Paul? – perguntou Draco virando-se para o caçula, que era sua imagem nítida com 17 anos. O amigo negou com a cabeça e ele continuou. – Se formou em Hogwarts verão passado.
- Maravilha, garoto! – sorriu Paul para Andrew, que fez um sinal agradecendo.
- Mas você não sabe do melhor, Paul. Monitor-chefe e 3° lugar entre os alunos do sétimo ano!
- Ora ora, Harold! – Paul se virou para o único filho. – Andrew pelo jeito lhe superou, hãn? – depois virou-se para o jovem Malfoy, explicando. – Ele tirou apenas o 5° lugar. – e então, depois de uma pausa, virou-se para Joshua, sobressaltando-se como se somente agora notasse que o homem estava parado ali. – Oh, e você, meu filho?
- Hum... Não fiquei nem entre os 10. – ele deu de ombros, com as orelhas vermelhas. – Nem virei monitor-chefe.
- Ah, mas ganhou a Taça de Quadribol para a Grifinória 3 vezes, bem nos meus primeiros anos de escola! – exclamou Andrew, em uma tentativa óbvia de animar o ruivo. – Ele era capitão. – o loiro sorriu para o irmão. – Tive o azar de jogar contra o time dele quando me tornei batedor da Sonserina, no meu terceiro ano e último dele. Perdemos de 250 x 60!
- É... Se pelo menos fosse da Sonserina. – disse Draco com voz de enterro, fazendo todos rirem, com exceção de Joshua, que forçou uma risadinha e Andrew, que encarava preocupado o irmão, sabendo que o pai, sem intenção, tocara em um ponto muito fraco.
Contudo, para a sorte de todos, Gina entrou na sala de estar, anunciando que o jantar estava quase pronto.
- Mãe, temos que esperar Elle! – exclamou Henry, consultando o relógio.
- Eu sei querido, não se preocupe. Mas espero que ela não demore.
- Ela sai do trabalho às 7, deve ter acontecido alguma coisa para ela não ter chegado ainda. – mal as palavras saíram da boca do loiro e a campainha da casa tocou alto, ecoando pelas paredes.
- E aí está ela! – disse Gina radiante, rumando em direção à porta do hall, que poderia ser vista de onde estavam os outros. Ao abri-la, a ruiva mostrou-se certa: uma jovem de cabelos negros amarrados em um alto rabo-de-cavalo e de olhos azuis bastantes vivos estava parada no portal, e sorriu ao ver a sogra, mostrando dentes perfeitos.
- Desculpe o atraso, Sra. Malfoy. – Elle cumprimentou a sogra, que já recolheu seu casaco e sua bolsa e com um aceno da varinha eles rumaram para um porta-casaco no fim do corredor.
- Só desculpo se você parar de me chamar assim! – as duas riram e entraram na sala de estar, onde Henry já esperava pela noiva.
- Querido! – sorriu ela radiante, enquanto ele se aproximava e enlaçava a cintura dela com os braços.
- Como é que você está? – perguntou ele, dando-lhe um leve beijo nos lábios e sorrindo diante de um aceno positivo com a cabeça. – Ótimo. Meu amor, deixe eu lhe apresentar esses antigos amigos da família. – Ele fez um gesto largo apontando para todos, enquanto se afastava da morena.
- Bem, Harold eu já conheço. – ela sorriu e Harold lhe cumprimentou com um aceno da cabeça.
- Certo. E os outros são Grace e Paul Conrad, pais de Harold. – Paul e Grace levantaram-se e se aproximaram dela, que estendeu a mão.
- Encantada, Sr. Conrad, Sra. Conrad. – Paul retribuiu o aperto de mão, e logo Grace o fez.
- Não me chame assim, minha filha. – disse o homem.
- Exato. Os Malfoy são como uma família para nós, e se você vai unir-se a família deles, então está unindo-se a nossa também. – completou a mulher.
- Que gentileza, Grace. – sorriu Gina, que acabara de voltar da sala de jantar. – Agora que todos estão apresentados, o que acham de irmos saborear o jantar? Eu não quero que esfrie!
- Estamos indo mamãe, só deixe Elle cumprimentar todos primeiro. – pediu Henry.
- Claro, filho. Enquanto isso, Grace, Paul, Harold... Venham acomodar-se! - Os convidados seguiram a ruiva, deixando apenas os Malfoy e a futura Malfoy na sala.
- Sr. Malfoy, como está o senhor? – perguntou Elle, enquanto este lhe cumprimentava calorosamente.
- Ótimo, querida, ótimo! E os preparativos do casamento?
- Indo perfeitamente bem.
- Maravilhoso. E diga a seus pais que estamos esperando eles para um jantar aqui em nossa casa, ouviu? – Draco sorriu e foi se juntar aos outros na sala de jantar.
- Andrew, quanto tempo que não lhe vejo! – exclamou a morena, beijando a face do cunhado. – Como foi a formatura em Hogwarts?
- Perfeita! Melhor do que eu poderia imaginar. Mas sinto saudades do castelo. – o loiro soltou um suspiro saudoso mas sorriu, e depois chamou Joshua com a mão. – Vamos, Josh. – Joshua se levantou e estendeu a mão para a cunhada.
- Prazer em vê-la.
- Prazer em vê-lo também, Josh. – disse ela, com uma expressão bastante constrangida e desviando o olhar. Então, assim, Joshua e Andrew foram para a sala de jantar, onde encontraram todos sentados ao redor da mesa, e logo foram seguidos por Henry e Elle.
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- Elle, querida, posso lhe servir um pouco mais de batatas? – perguntou Gina, que nem tocara no próprio prato, ocupada em manter todos servidos.
A comprida mesa da sala de jantar da família Malfoy estava bastante farta: um grande peru recheado ocupava o centro da mesa, acompanhado por uma grande travessa de batatas refogadas e uma extensa variedade de saladas; tudo feito por Gina.
- Gina, coma. – disse Paul, pela centésima vez.
- Isso, Sra. Malfoy. – concordou Elle. – Você ainda nem comeu e estamos todos satisfeitos!
- Não precisa, não precisa. Estou bem assim. Alguém deseja mais alguma coisa?
- Eu desejo que você sente e coma, mamãe. – disse Andrew, que juntava seus talheres, mostrando que estava satisfeito.
- Tudo bem, tudo bem. – murmurou Gina, pegando os próprios talheres e começando, finalmente, a comer.
- Agora, Elle, minha filha, me conte sobre os seus pais. – pediu Paul, que também já estava satisfeito.
- Bem, acredito que você saiba quem são... Leon e Rebecca McBrigde. – disse ela sorrindo, enquanto acariciava a perna de Henry com uma das mãos.
- Claro, claro! – exclamou o senhor radiante. – Impossível não saber quem são! Você tem a quem puxar, minha filha, eles são ótimas pessoas.
- Obrigada, Sr. Conrad. – disse ela, meio encabulada.
- E você pretende levar adiante a empresa deles?
- Não, não. – respondeu a morena, bastante decidida. – Não. Eu trabalho no Hospital Saint Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos. – ela parecia cheia de orgulho. – Já sou curandeira chefe e pretendo continuar por lá. Quem irá cuidar da empresa é meu irmão, Ben.
- Magnífico, magnífico! – Paul exclamou e virou-se para Henry. – Meu jovem, que escolha incrível! Mas também, vindo de você não se espera por menos. – mal as palavras saíram da boca do senhor e Andrew interrompeu.
- Quem quer sobremesa? – perguntou o loiro, levantando-se de um salto. Acabara de perceber que Joshua, sentado ao seu lado, tinha as orelhas muito vermelhas novamente, o que era sinal de perigo.
- Oh, deixa que eu busco, querido. – disse Gina, levantando-se e fazendo sinal para ele se sentar. Logo ela desapareceu dentro da cozinha da casa.
- Então... – começou Draco, tomando um último e grande gole do seu uísque de fogo. – Como vão as coisas no trabalho, Paul?
- Como sempre. Não se pode esperar muito das pessoas, Draco. Cada vez criando animais mais perigosos. Semana passada tive um caso muito desgastante com um dragão, ninguém conseguia se aproximar do animal. Por fim, o dono foi preso por criar ilegalmente um dragão no seu quintal e o bicho acabou fugindo. Um caos!
- Eu imagino. Fiquei sabendo de outro caso envolvendo fadas mordentes...
- Nem me lembre! Centenas delas apareceram em uma Rua de trouxas em Cambrigde. Os moradores ficaram aterrorizados, e ainda tivemos que apagar a mente de todos. – ele soltou um suspiro. – Mas você, Draco? Como anda o Departamento de Execução das Leis da Magia? Soube que você virou chefe recentemente.
- Exato – respondeu o loiro, bastante orgulhoso. – Já não era sem tempo! Aquele louco do Stanley estava ficando muito velho para o cargo. – ele balançou a cabeça meio indiferente, enquanto Grace levantou-se e foi ajudar Gina, logo seguida de Elle, que deixou todos os homens sozinhos. Então ele mudou de assunto. – Andrew, conte para Paul qual o seu novo emprego.
- Pai! – censurou o filho.
- O que houve? Deixe de ser bobo, conte. – Andrew olhou para Joshua pelo canto do olho, e este olhava para o lado oposto, mas não teve outra alternativa se não falar.
- Comecei um cargo no Departamento de Cooperação Internacional da Magia. Nada importante. – completou, com um aceno da cabeça. – Mas o meu irmão aqui, Sr. Conrad – disse ele tocando no ombro de Joshua. – Departamento de Transportes Mágicos. Assistente do chefe, o Sr. Brown.
- Henry, por que está tão quieto? – perguntou Draco, interrompendo o filho mais novo, nem dando ouvidos às palavras dele.
- Deve estar preocupado com o casamento, não? – indagou Paul, com um sorrisinho.
Enquanto os três continuavam a conversa, porém, Joshua se levantou da mesa subitamente e fez um sinal discreto para Andrew o seguir. O caçula murmurou que já voltavam, mas nem foi ouvido pelos outros, e os dois rumaram para o escritório, a primeira porta do extenso corredor.
- O que foi, Josh? – perguntou Andrew enquanto fechava a porta, virando-se com uma expressão preocupada.
- Por que você insiste em fazer isso? – indagou o ruivo, em voz alta. – Você sabe que eu nunca vou ser tão bom quanto você e Henry, não aos olhos deles! E eu estou bem com isso, não precisa ficar tentando fazer com que eles me dêem atenção! – ele deu um soco na bonita escrivaninha de carvalho que estava apinhada de livros, e um deles se abriu com violência.
- Você é tão bom quanto eu e Henry, mas deveria ficar feliz que eles não fiquem te exibindo como se fosse um troféu! – exclamou Andrew, amargurado; estivera só tentando ajudar. – E quando eles não o fazem, você também não fica feliz, Joshua!
- Só pare, está bem? – pediu Joshua, baixando a voz aos poucos, olhando para o chão.
- Decida o que você quer, apenas. – murmurou o loiro, se afastando do irmão e saindo da sala, logo seguido por ele.
Os dois irmãos voltaram à sala de jantar, onde as mulheres serviam inúmeros pratos de sobremesa, um melhor que o outro.
- Pelo que eu já ouvi falar de sua mãe, Gina, digo que você puxou a ela! Uma ótima cozinheira. – exclamou Paul, provando uma colherada do pudim de groselhas.
- Magnífico, como sempre. – completou Draco, sorrindo para a esposa que sentava do seu lado.
- Drew, Josh, venham comer! – exclamou a ruiva, fazendo um sinal para as cadeiras vazias deles.
- Com certeza, mamãe, você sabe que não perdemos nunca as suas sobremesas, não é, Josh? – disse Andrew, enquanto se acomodava na imponente cadeira de veludo vermelho.
- Exato. Não entendo como todos nós não viramos obesos, ainda. – sorriu, ainda meio perturbado, o irmão do meio, o mais parecido com Gina.
Durante um bom tempo, ninguém falou muito, pois estavam com as bocas cheias dos mais gostosos e variados doces que Gina fizera, e o silêncio só era interrompido por sinais de aprovação ao provarem outro tipo de sobremesa.
Porém, depois que as sobremesas já haviam sido recolhidas, todos foram novamente para a sala de estar, onde Gina não parava de oferecer-lhes chá, tentando convencê-los a permanecer por mais tempo.
Depois de muita insistência, então, todos ficaram para um chá, e a ruiva trouxera-os chocolates de sabores variados.
- Assim eu não vou caber no meu vestido de noiva, Sra. Malfoy! – exclamou Elle, mirando os chocolates.
- Eu continuarei a amá-la mesmo assim, meu amor. – respondeu Henry risonho.
- Vocês fazem o par perfeito. – comentou Grace, que tinha os olhos brilhando ligeiramente.
- Com certeza que fazem. – sorriu Draco, concordando com a cabeça.
- Fazemos, não fazemos? – Elle sorria de orelha a orelha. – Henry é o amor da minha vida! – completou ela, trocando olhares com o noivo.
Contudo, naquele instante, Joshua soltou a xícara de chá que tomava em cima do pires com tanta força que ela só não se quebrou por um milagre, e levantou-se subitamente. Murmurou um: “com licença” e sumiu na bonita escadaria de mármore que levava ao segundo andar, de onde pôde-se ouvir um estrondo de uma porta batendo.
Tanto os Malfoy quanto seus convidados, permaneceram um instante em silêncio, mirando o lugar, agora vazio, que o ruivo estivera ocupando. Depois, Andrew se levantou apressado, rumando para a escada, mas foi detido pelo pai.
- Deixe que eu vou, Drew. – murmurou Draco, passando pelo filho e subindo os degraus de mármore branco.
Chegando ao segundo patamar, ele visualizou a porta do quarto de Joshua fechada. Caminhou até ela e bateu uma vez, não obtendo resposta. Bateu novamente e nada. Só na quinta batida de Draco foi que o filho abriu a porta.
- O que você quer? – perguntou com rispidez.
- Eu quero falar com você, Josh. – disse Draco com calma, indiferente ao jeito em que o outro falara com ele.
- Mas eu não quero falar com você. – a porta ia se fechando quando o loiro colocou o pé na frente, trancando-a, e entrou no quarto.
A mobília do cômodo não mudara muito desde a infância de Joshua. O quarto era amplo e composto por uma cama, um grande armário e uma escrivaninha, todos de madeira extremamente lustrosa, e por uma poltrona vermelha, igual aos lençóis da cama. Nas paredes, não havia mais inúmeros pôsteres de Quadribol como antigamente, apenas uma bandeira da Grifinória e uma foto, em que todos os integrantes se mexiam, do seu antigo time de Quadribol, da época em que era capitão da equipe da casa.
- O que houve, filho? – perguntou Draco enquanto fechava a porta, e a sua voz transpareceria preocupação. Porém, o filho não respondeu. Um silêncio se estabilizou, enquanto Joshua mirava o rosto do pai, parecendo avaliar o que poderia falar. Depois de um tempo, então...
- Algum de vocês já se perguntou por que eu, supostamente, não gosto de Elle? – indagou ele, perdendo o controle e elevando a voz, de súbito. – Criticam e criticam o fato, mas nunca pararam para refletir o porquê de tudo isso, não é?
- Por que você não gosta de Elle? – perguntou o pai, passado um instante de atordoamento.
- Porque nós já namoramos! – gritou ele, vendo um súbito de surpresa passar pelos olhos de Draco. Com um suspiro ele se sentou na cama com estrondo, levando as mãos ao rosto e parecendo desmoronar. – Foi quando eu estava no sexto ano e ela no sétimo. – ele ia falando devagar, entre os próprios dedos. – Era tudo maravilhoso, eu a amava, ela parecia me amar, me chamava de amor de sua vida! Eu iria apresentá-la a vocês em breve. – seguiu-se uma pausa bastante demorada, em que Draco se aproximou e sentou-se ao lado de Joshua. – Então, ela terminou Hogwarts e eu fui para o sétimo ano. Continuávamos nos correspondendo por cartas, mas eu, ainda assim, sentia muito a falta dela. Mas com o tempo, as respostas de Elle começaram a ficar frias, e quando eu voltei para casa no Natal, menos de quatro meses depois, o meu mundo caiu. Ela estava namorando o meu próprio irmão, que eu apresentara para ela. – a voz dele foi morrendo, fazendo com que as últimas palavras fossem quase incompreensíveis.
- Joshua, isso... – a voz de Draco saiu rouca, como se ele não a usasse há muito tempo, e ele sentiu um arrombo de tristeza pelo filho. Aquela era uma revelação e tanto.
- Não recebi nenhuma explicação, nada. Henry apenas apresentou-a para mim como a sua namorada, assim como fez para vocês, como se não soubesse de nada. Não admira-se o motivo porque passei o feriado inteiro no meu quarto, mas ninguém nunca fez perguntas. – ele balançou a cabeça e afastou as mãos do rosto, mostrando uma expressão mortificada e ao mesmo tempo exaltada. – Sempre o Henry perfeito, sempre. – o seu tom de voz aumentou ligeiramente.
- Que bobag... – mas o loiro foi interrompido.
- Bobagem? – exclamou Joshua, olhando rebelado para o pai. – Sempre foi assim. Tanto com Henry quanto com Andrew. Os dois sempre com as melhores notas, com os melhores modos, com as melhores namoradas, os melhores jogadores de Quadribol, os sonserinos, os mais parecidos com o pai... Eu sempre vivi à sombra dos meus dois irmãos!
- Joshua, a história toda com Elle é realmente péssima, e você poderia ter nos contado e conversado com Henry, mas você nunca foi pior do que seus irmãos! – ele olhava para o filho, incrédulo.
- Você já reparou em seus jantares com os Conrad? – indagou o ruivo, ignorando o que o outro falara. – Hoje, por exemplo? Então, você e mamãe estão sempre orgulhosos das notas ou dos empregos dos dois, ou de qualquer outra coisa, e passam o jantar todo falando sobre isso, se exibindo. Sem, em momento algum, mencionar algo bom que o Joshua tenha feito, porque oh, claro, - nesse momento ele fez uma expressão falsamente surpresa. – ele nunca faz nada de bom.
- Eu e sua mãe não temos nenhuma espécie de favoritismo e amamos e nos orgulhamos de todos igualmente! – mas Joshua continuava a ignorar as palavras do pai.
- Você por acaso reparou que eu e Andrew saímos da mesa logo antes da sobremesa? Provavelmente não, porque estava conversando com Henry e Paul sobre os preparativos do casamento. E caso você também não tenha reparado, Andrew passou a noite inteira tentando chamar a atenção de vocês para coisas boas em mim, porque ele sabe como eu me sinto nesses jantares. Pelo menos ele tem alguma decência! – ele proferia as palavras rápido, sem nem fazer pausas para respirar.
Draco, contudo, parecia incapaz de dizer alguma coisa que fosse adiantar para melhorar a situação, então ele calou-se. Um silêncio incômodo ficou no ar, quebrado pela respiração ritmada de Joshua, que ia se acalmando lentamente. Por sua expressão, podia-se ver que certa tristeza ia se apossando dele.
Depois do que pareceram uns cinco minutos, foi o jovem que quebrou o silêncio.
- Eu só queria que vocês se orgulhassem de mim. Passei a infância e a adolescência inteiras tentando fazer coisas que os fizessem ficar orgulhosos, mas nunca foi o suficiente comparado com os outros. – o seu tom de voz era de quebrar o coração de qualquer um, enquanto ele dizia o que, provavelmente, guardara em boa parte dos seus vinte anos, e quando Draco passou um braço sobre os ombros dele, trazendo o filho para mais perto, esse não fez nenhum sinal de recusa; em vez disso, deitou a cabeça no ombro do pai.
Nenhum dos dois saberia dizer quanto tempo se passou, mas fora tempo suficiente para a manga da camisa de Draco ficar bastante molhada pelas lágrimas do filho. Nenhum dos dois disse mais nada, porém, não era preciso dizer.
É engraçado como, às vezes, apenas uma pequena confissão, é tudo que precisa-se para espantar os velhos fantasmas e seguir em frente.
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[N/A] Não imaginem Draco, Gina, Henry e Elle tão ruins assim. Essa parte foi, basicamente, baseada na visão de Joshua, envolvendo tudo que ele estava sentindo no momento. Eles são legais, vai.

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Na manhã do dia seguinte, Gina levantou-se bastante cedo se comparado aos seus padrões normais de fins de semana: acordara próximo às 8 horas, horário que levantaria para ir para o trabalho. Outro fato fora do comum, e devo acrescentar que muito fora mesmo, foi que a ruiva não se demorou à cama; mal o despertador tocara, ela o desligara com pressa e se levantara, e também nem reparou no sol ameno que lutava para passar por entre as nuvens – ela sempre parava para observar como estava o tempo lá fora.
Mas tudo aquilo não era sem motivo. Afinal, aquele não era um simples sábado, um simples dia do início do mês de outubro; naquele dia 11, completavam exatamente 25 anos que ela e Draco casaram-se. Eram aproximadamente 9131 dias desde aquele que fora o melhor de sua vida.
Gina passara um bom tempo nas últimas semanas refletindo sobre o que fazer e como comemorar. Por fim, desistindo de presentes fúteis e sem utilidades e de jantares com amigos, que só lhes causariam estresse para planejar tudo, ela resolveu fazer uma pequena surpresa, que tinha certeza que tocaria o coração do marido.
Ela desceu os degraus de mármore da sua casa e foi em direção ao escritório. Chegando lá, Gina abriu um armário e afastou vários objetos inúteis, encontrando, por fim, o que procurava. Era uma imensa cesta de café da manhã, que ela encomendara com uma famosa confeitaria bruxa, que continha tudo que Draco mais gostava e que chegara na noite anterior. Aquilo, no entanto, era apenas para mimá-lo, pois, o verdadeiro presente era outro. Um pequeno pedaço de papel encontrava-se escondido entre as comidas; mas não era apenas um simples pedaço de papel. Era uma carta recebida de uma corretora de imóveis trouxa, de uma pequena cidade também trouxa no sul da Inglaterra, dizendo-lhes que o chalé número 36 do condomínio South Paradise estava disponível para os dois passarem a próxima semana.
Poderia não ser grande coisa para qualquer outra pessoa, mas para os dois aquilo significava muito. Fora naquele chalé, que antigamente pertencia aos gêmeos Thomas e Thiago Delaney, colegas de trabalho de Draco, em que ele pedira a mão da ruiva em casamento.
O jovem loiro pedira emprestado o chalé, que ficava em um bonito e grande condomínio e que era mais distanciado dos demais, para os dois passarem os seus 15 dias de férias há pouco mais de 25 anos atrás. A casa era extremamente aconchegante e lá eles passaram as duas semanas de mais amor, romantismo e descanso de que poderiam se lembrar.
Já que os gêmeos haviam vendido a casa, Gina teve um pouco de trabalho para conseguir alugá-la, mas ela não medira esforços para isso.
Carregando a cesta com cuidado, ela subiu os degraus novamente e entrou no quarto, onde o marido continuava a dormir de sono solto. Ela ficou um tempo a observá-lo.
Não falara com Draco antes de dormir na noite anterior, pois ele fora conversar com Joshua e só voltara depois de todas as visitas terem ido embora, de ela ter limpado toda a cozinha e ter ido dormir. Ela estranhara o comportamento do filho, mas sabia que o marido dera um jeito naquilo e nem se preocupava.
Depois de um tempo ela cutucou o marido, sussurrando nos seus ouvidos:
- Benzinho... Você precisa acordar. Adivinha que dia é hoje?
- Dia de dormir. – resmungou ele balançando a mão como se espantasse uma mosca de perto da orelha. A ruiva riu.
- Não... É dia 11 de outubro.
- Obrigado por me informar. – voltou a resmungar ele, virando-se pra o outro lado. – Mesmo que eu não for lembrar disso mais tarde. – ela riu e ficou sentada ao seu lado, mexendo em seus cabelos delicadamente. Com o tempo, porém, ele foi acordando e logo retomou a consciência, se lembrando do que lhe preocupava desde a noite anterior. – A propósito, precisamos conversar. – ele parecia repentinamente muito sério e acordado enquanto se sentava. – Sobre Joshua. – completou ao ver a expressão confusa de Gina.
- Ah... Não podemos conversar sobre isso depois? – ela sorriu.
- Não, não podemos. – sua voz soou firme e o sorriu dela murchou. – A menos que você tenha algo mais importante para falar agora, o que eu duvido.
- Não, tanto faz. – disse ela, fitando os joelhos, desconcertada e com a voz meio rouca.
Então, Draco começou a narrar tudo que conversara com o filho na noite anterior: sobre o namoro com Elle, sobre o fim do mesmo, sobre a atenção exagerada que, achava, ser destinada apenas aos irmãos...
Quando acabou, encarou Gina, mas ela permaneceu calada; talvez incapaz de falar depois de ouvir tudo aquilo. Com o tempo, contudo, ela começou, lentamente:
- Você... Você não acha que devemos conversar com Henry e Elle? – ela olhou meio hesitante para o marido. – Eu quero dizer, – completou um pouco na defensiva – Só temos a palavra de Joshua. – Draco olhou-a exasperado.
- O que é o suficiente, creio eu. – havia uma certa frieza na sua voz quando ele falou.
- Mas... devíamos apenas... confirmar a história.
- Você está querendo dizer que não acredita em Joshua? – o loiro estava um tanto incrédulo. Recusar, dessa forma, a palavra de um filho, era revoltante.
- Claro que acredito! Mas nós dois sabemos que ele nunca gostou muito da cunhada... Poderia estar apenas inventando...
- Que absurdo! – exclamou Draco. – Pense, agora nós temos a razão pela qual ele nunca gostou de Elle! Porque ela fez isso tudo com ele.
- Mas ela é uma moça tão boa!
- Concordo... ou concordava, não faço mais idéia. – Ele balançou a cabeça, pensativo. – Apenas tenho medo que ela engane Henry da mesma forma.
- Ela não faria isso! – exasperou-se, por sua vez, Gina.
Ela parecia um tanto irritadiça depois daquela revelação. E não era sem motivo; toda a sua certeza de que o filho mais velho encontrara a mulher perfeita e que não poderia ter um casamento melhor ruíra de forma definitiva, mesmo que ela lutasse para provar que aquilo não poderia ser verdade.
- Já fez uma vez, não vejo razões para não fazer outra.
- As pessoas mudam, Draco. – exclamou ela, de forma mais agressiva do que pretendera.
- Algumas nunca mudam, se quer minha opinião. – ele não se importou muito com o tom de voz da esposa, embora tenha apenas erguido as sobrancelhas diante dele.
- Olha quem fala!
- O que você quer dizer com isso? – perguntou ele lentamente, com a voz, subitamente, muito gélida.
- Ora, olhe seu passado, por exemplo, Draco! Pense no que você já fez! Você voltaria a repetir isso tudo?
- Claro que não! – exclamou ele, confuso e indignado.
- E agora, justo você que enfrentou tanto as pessoas para provar que mudara, está fazendo acusações contra Elle! – Gina alteou a voz.
A expressão de indignação ficara muito a mostra no rosto de Draco, e o clima ruim estava começando a ficar palpável dentro do quarto.
- Mas é totalmente diferente. – sentenciou o loiro, sentindo a irritação prestes a explodir dentro dele; desde quando ela falava assim com ele?
- Não há nada de diferente! – os lábios da ruiva se crisparam, antes de continuar – Ela continua sendo uma esposa ótima para Henry, e se ela o faz feliz, é tudo que nós podemos querer!
- Você fala isso porque não esteve junto quando Joshua me contou tudo isso. Porque você não viu a expressão dele, a tristeza, você não viu todas as lágrimas! – Draco levantou a voz, sem perceber. – Naquele momento, eu apenas queria que Elle sumisse da nossa casa, da nossa vida! Ela, nem ninguém, têm o direito de fazer um dos meus filhos se sentir assim!
- Mas por outro lado, ela faz Henry feliz! – falou Gina rapidamente, sem nenhuma pausa para respirar. – E eu não quero que tudo que eles têm desmorone, porque aí, além de Joshua, teremos outro filho infeliz!
- Mas pense em Joshua! Pense em como ele irá olhar para a cunhada. Se Henry e Elle se casarem, nós teremos sempre um clima como o da noite passada! – ele olhava para a esposa de uma forma que ela estava achando bastante desagradável; parecia acusá-la.
- Mas não tivemos clima nenhum na noite passada, tudo estava normal até Joshua fazer aquela cena na frente das visitas! – Gina vociferou as palavras em alto e bom som, jogando todo o seu controle para os ares.
- Porque você estava ocupada demais para notar o clima, e ele não fez uma cena! – rugiu Draco, ainda encarando a esposa sem acreditar porque ela estava agindo daquela forma. – Imagine como ele estava se sentindo? – uma ligeira pausa aconteceu depois daquelas palavras. Depois, tentando ficar calmo, o loiro continuou. – Só o que está me preocupando, é o fato de que não quero que a nossa família se separe, não quero que meus filhos fiquem distanciados dos irmãos, como acontece com a sua família, por exemplo! Por isso acho que Henry precisa se afastar de Elle para que as coisas fiquem bem entre ele e Joshua.
- Você acha que tudo ficará bem? – continuou a gritar Gina; seu marido parecia ser o único que estava, pelo menos, tentando se acalmar. – Josh irá lembrar do que o irmão fez, mesmo que este não esteja mais com Elle. Dê-lhe um tempo, Joshua irá entender e superar, e tudo então ficará bem! E conforme ele, Henry sabia do namoro e mesmo assim está noivo de Elle. Então, se isso não foi capaz de fazer com que ele mudasse de idéia, não somos nós dois que faremos!
- Nós temos como fazer! – afirmou Draco, dando ligeiramente de ombros.
- Claro, como meus pais ou seus pais fizeram, ou pelo menos tentaram? – indagou Gina, ríspida; aquele era um assunto bastante delicado entre os dois. – Se você fizesse isso, estaria separando a nossa família exatamente da forma que você disse que não quer! Você deveria saber que não há nada pior que um pai possa fazer para os filhos do que isso, já que aconteceu com você, assim como aconteceu comigo! Lhe garanto, um bom pai não faria isso! – terminou fria, respirando fundo.
- Você está dizendo que eu não sou um bom pai? – exasperou-se Draco, mais do que com qualquer outra coisa que Gina falara, e seu olhar se estreitou ligeiramente.
- E se estiver? – ela olhou-o um tanto desafiadora.
- Eu não vou aturar uma coisa dessas. – ele tinha a voz calma e baixa, o que era um sinal pior do que se ele estivesse gritando. – Tem mais alguma coisa que gostaria de falar antes de se retirar? – indagou ele, com o rosto mais pálido do que de costume, ainda em um sussurro controlado e gélido.
- Tenho... – respondeu ela, indiferente ao jeito que Draco falava. – Feliz 25 anos de casamento. – rosnou, apontando a cesta com um gesto largo e depois batendo a porta do quarto com estrondo.
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Muitas horas haviam se passado quando Draco finalmente desceu para o térreo, mas o fizera somente porque seu estômago roncava de fome – já era quase meio-dia – e se recusara a comer qualquer coisa da cesta que ganhara.
Na sala de estar, encontrou Joshua e Andrew discutindo sobre a greve dos controladores da Rede de Flú.
- E eles retiraram da rede as lareiras de bruxos muito importantes, e dizem só as colocar de volta quando tiverem 30% de aumento no salário. – comentava o ruivo, indignado. – O Sr. Brown está um tantinho assim - mostrou o polegar e o indicador quase juntos – de ir à loucura. – completou pesaroso.
Andrew abriu a boca com uma expressão incrédula, mas no exato momento ele viu o pai e sorriu.
- Bom dia, papai.
- Dia, Drew. – disse de volta. Draco, em seguida, virou-se para o outro filho. – Dia, Josh. – este abriu um largo sorriso, o qual Draco retribuiu, sentindo uma espécie de conexão, antes inexistente, entre eles. – Onde está sua mãe? – indagou, olhando ao redor.
- No escritório. – respondeu Joshua, com uma expressão estranha. – Não parecia muito feliz, se quer saber. – o estômago de Draco deu uma cambalhota desagradável, e ele se sentiu repentinamente muito envergonhado.
- E Henry? – perguntou depressa, tentando mudar o assunto.
- No Beco Diagonal, comprando coisas para o casamento. – respondeu, por sua vez, Andrew. Draco confirmou com a cabeça, distraído, e então rumou para a cozinha, deixando os filhos continuarem a conversa.
Chegando lá, ele abriu a geladeira e pegou alguns ovos e bacon. Com um aceno da varinha, a comida voou para uma frigideira e começou a se fritar sozinha em uma chama que aparecera em um passe de mágica – literalmente – no fogão. O loiro ficou supervisionando-os e, depois de alguns minutos, serviu-se.
Quando estava praticamente terminando, Gina entrou na cozinha.
- Ah, achei que você ainda não descera... – disse ela, meio vagamente, indo pra a despensa.
- Hum... Eu estava com fome. – disse ele depois de engolir seu último pedaço de bacon.
- Tinha muita comida lá em cima. – havia algo muito formal no jeito que estavam se falando.
- Não quis abrir. – ele descansou os talheres e ficou encarando o fundo do prato.
- Pode abrir – disse a ruiva displicente. Ele balançou a cabeça negativamente.
- Gostaria de comer com você. – ele levantou-se, colocou o prato e os talheres na pia e com, novamente, um aceno da varinha, eles começaram a lavar-se.
- Hum... – murmurou Gina depois de algum tempo, incapaz de falar alguma outra coisa.
Draco voltou a sentar-se e ficou observando o tampo extremamente lustroso da mesa. Vários minutos se passaram, ou talvez horas; nenhum dos dois tinha alguma noção do tempo, apenas ouviam o relógio tiquetaqueando no cômodo ao lado.
Depois de muito tempo em que os únicos sons foram as batidas das panelas e travessas que Gina usava para cozinhar, Joshua entrou na cozinha. Olhou para o pai por uns instantes e em seguida virou-se para mãe, franzindo a testa.
- O que houve? – perguntou ele, hesitando.
- Nada, Joshua. – respondeu Gina, com um tom ligeiramente mais alto do que o normal e extremamente mais ríspido.
- Não fale assim com o meu filho! – retrucou Draco, ainda mais alto.
- Nosso filho. – disse a ruiva, dando ênfase ao “nosso”.
- Eu... sinto muito. – murmurou Joshua, virando-se para sair. Mas, naquele exato momento, ouviu-se a porta da frente abrir-se e em seguida fechar-se.
- Mamãe! Papai! – foi possível ouvir a voz e os passos de Henry vindo do hall, e em seguida ele apareceu na cozinha, segurando um grande embrulho e com Andrew na sua cola. – Ah, não me diga que Joshua já deu os parabéns? – o irmão do meio balançou negativamente a cabeça. – Ótimo! Venham cá, venham cá. – dizia animado.
Draco levantou-se da cadeira e Gina largou uma imensa travessa que tinha nos braços. Juntos, eles se aproximaram.
- Um pequeno presente em comemoração aos seus 25 anos de casados. – respondeu Andrew diante dos olhares intrigados dos pais e Henry largou o embrulho nos braços de Draco, o que estava mais próximo. Gina se esticou ligeiramente para ler o cartão grudado no papel de presente, escrito com a letra que reconheceu ser do filho mais velho
“De Henry, Joshua e Andrew, para os pais mais pacientes do mundo por nos agüentarem durante todos esses anos. Feliz Bodas de Prata.”
Gina e Draco se entreolharam. O primeiro olhar verdadeiro desde que tinham brigado naquela manhã. Eles sorriam e seus olhos pareciam sorrir também; seus filhos haviam amolecido seus corações, como sempre.
- Parabéns, papai. – disse Andrew, indo direto abraçar o pai, enquanto Henry cumprimentava a mãe. Quando o mais velho se afastou, Gina lançou um olhar a Joshua e sorriu. Por um instante, ele encarou-a, mas logo um sorriso se mostrou nos lábios finos, e ele abraçou forte a mãe.
- Te amo, Josh. – murmurou ela, apenas para o ruivo escutar.
Depois que os filhos abraçaram os pais, Andrew apontou para o grande embrulho que Draco pousara no balcão para poder abraçá-los.
- Não vão abrir, não? – ele sorriu.
Draco voltou a pegar o embrulho e, juntos, ele e Gina rasgaram o papel, revelando uma grande caixa. Na frente, tinha os seguintes dizeres: “Você já acha fácil cozinhar com a ajuda de sua varinha? O novo fogão da Sra. Ontack vai facilitar ainda mais sua vida! Em vez de perder tempo brandindo sua varinha para lá e pra cá, apenas coloque os ingredientes e espere apitar. Até crianças sem permissão de usar magia e abortos podem cozinhar com facilidade!”.
- Bem, resolvemos facilitar ainda mais sua vida, mamãe. – disse Joshua, com um sorriso divertido.
- Olhe... Até Draco pode fazer o almoço agora! – exclamou Gina, e Draco fez uma careta, arrancando risadas de todos.

Aquela tarde passou-se tranqüila, entre conversas e vários álbuns de fotos antigas, que arrancaram risadas de todos. Somente à noite, quando Henry, Joshua e Andrew saíram juntos para dar uma volta pelo centro de Londres, foi que Gina e Draco voltaram para o quarto.
- Querida, precisamos conversar. – Draco sentou-se na beirada da cama e esperou a esposa fazer o mesmo. – Me desculpe por arruinar o nosso aniversário de casamento. – ele encarava as mãos.
- Arruinar? Para mim, nosso aniversário não foi arruinado. – ela sorria enquanto segurava o queixo do marido, forçando-o a olhá-la.
- Bem, vamos usar outras palavras, então: desculpe-me por brigar com você. – os olhos acinzentados se encontraram com os castanhos. – Me arrependo agora.
- Me arrependo também, principalmente por dizer que não era um bom pai. Sempre foi e sempre será o melhor pai do mundo para os nossos filhos.
- Obrigado. Você é uma mãe maravilhosa para eles e uma esposa perfeita. – ela tornou a sorrir, mais radiante agora.
- 25 anos... Quem diria?
- Ninguém. – ele sorria também. Eles se beijaram lentamente e só se separaram um tempo depois.
- Meu bem, você chegou a abrir a cesta?
- Não. Por quê? – indagou Draco, que tentava puxar a esposa para mais um beijo.
- Abra. Você vai achar uma coisa que lhe interessará. – Gina disse meio misteriosa enquanto se afastava, e Draco franziu a testa. Sem demora puxou a cesta para perto e começou a mexer entre os doces. Demorou cerca de um minuto para achar o pedaço de pergaminho ali dentro. Seus olhos varreram lentamente as linhas, da esquerda para a direita, e então ele abaixou o papel, olhando boquiaberto para a esposa.
- Você... Como você conseguiu? – Gina riu diante da expressão do loiro.
- Deu um pouco de trabalho, mas valeu à pena. O chalé está igual como estava há 25 anos atrás, e foi ótimo revê-lo.
- Quando podemos ir? – perguntou o marido, ansioso, fazendo menção de se levantar.
- Iremos na segunda e voltamos na sexta. – respondeu a ruiva, segurando ele sentado ao seu lado.
- Mas... E o meu trabalho? E o seu trabalho? – voltou a perguntar ele, com uma expressão desanimada.
- Eu já dei um jeito nisso. – ela sorriu convencida. – O Sr. Lentucky ficou animadíssimo com a idéia de eu tirar umas férias... Diz que eu trabalho demais, e você sabe como ele é: adora uma festa. E você, eu tenho certeza de que poderá deixar seu assistente cuidando do departamento por cinco dias. Qual é, você é o chefe!
- Gina... Que maravilha. Eu... Até fico com vergonha por não ter lhe dado nada!
- Ah, esses dias são um presente para mim também, amor.
- Cinco dias sozinhos, sem as crianças... – começou ele, com um sorriso um tanto malicioso.
- A propósito, – disse ela, não ficando para trás. – hoje estamos sem as crianças, também.
Eles se encararam e então Draco pegou-a nos braços e jogou-a na cama, subindo em cima dela. Novamente sem ficar para trás, Gina fez um movimento rápido, trocando de posição com ele.
- Você parece uma adolescente. – riu ele, enquanto ela desabotoava sua camisa.
- Eu ainda lhe desejo como uma adolescente. – respondeu ela, agora arrancando a própria blusa.
- Bom saber. – disse o loiro, subindo as mãos pelo corpo da esposa.
Realmente, foi uma sorte que as crianças não estivessem em casa.
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Duas semanas haviam se passado desde que Gina e Draco tiraram os seus cinco dias de férias em ocasião dos seus 25 anos de casados.
Ventos gélidos batiam nas vidraças da casa dos Malfoy, e eles já se adentravam rapidamente na segunda metade do mês de outubro.
Era uma tarde de sábado como outra qualquer. Draco, Henry e Joshua estavam sentados lado a lado no grande sofá da sala de estar, concentrados no rádio na mesinha de centro. Ouviam a final do campeonato inglês de Quadribol, os Sparrows from Bolton contra os Fire Beasts.
Andrew encontrava-se numa poltrona ali perto, lendo uma revista com a foto de um enorme dragão amarelado, que se mexia com um ar feroz, na capa. Uma grande manchete dizia: “Ministério estaria revendo a lei que proíbe a criação doméstica de dragões? Página vinte um”.
Gina, por sua vez, preparava uns relatórios para o seu chefe, no escritório.
Quando uma rajada particularmente forte de vento fez as árvores lá fora balançarem e os vidros estalarem, a campainha tocou, ecoando pelas paredes. Draco soltou um sonoro palavrão quando o juiz da partida marcou uma falta a favor do Fire Beasts.
- Draco, atenda à porta! – ouviu-se a voz de Gina vindo do outro lado do corredor. Ele xingou alto outra vez, concentrado no jogo.
- Você ouviu, Henry, atenda à porta. – mandou ele, distraído.
- Joshua, atenda. – repetiu Henry, aproximando-se do rádio.
- Draco! A porta! – tornou a gritar Gina quando a campainha soou novamente.
- Andrew, atenda à porta. – ordenou Joshua, aumentando o volume do rádio.
O caçula levantou-se, jogou a revista longe e saiu resmungando algo muito parecido com “Tanta gente na casa” e “Sempre o mais novo”.
Dois minutos depois, porém, Andrew colocou a cabeça na porta da sala.
- Papai, é para você. – Draco xingou alto de novo e, exatamente como o filho fizera antes, saiu resmungando em direção à porta.
Quando chegou no hall, deu de cara com aquele rosto inconfundível. Eles se encararam por um segundo.
- Parkinson, o que você quer? – perguntou rispidamente, mas ainda assim parecendo confuso com a visita inesperada.
- Draco, Draco. Quando tempo! Vejo que você não mudou nada. Aliás, apenas uma coisa; antes não me chamava pelo sobrenome. – disse Pansy Parkinson com um sorrisinho. Usava uma longa capa meio gasta e seus cabelos mal cuidados ondulavam ao vento. Mudara muito em todos esses anos; não era mais bem arrumada, e profundas olheiras marcavam suas faces, mas a antiga cara de buldogue era exatamente igual ao que sempre fora. – De qualquer forma, quando aquele rapazinho veio atender a porta, por um instante fugaz, achei que estava dando de cara com um Mini-Draco. Suponho que seja seu filho, certo?
- É, Andrew. – Draco deu um aceno displicente com a cabeça. Então repetiu: - O que você quer?
- Lindo nome, lindo nome. Mas vejo que você, apesar dos anos, continua com aquele charme de sempre. Continua com uma legião de mulheres aos seus pés? – perguntou ela, cruzando o portal e se aproximando de Draco. Mantinha o mesmo jeito arrogante e, de forma contraditória, seu ego parecia mais inflamado do que o normal, apesar de parecer que não superara seus sentimentos pelo loiro. Rapidamente, ela envolveu o pescoço dele com um braço, e com a outra mão acariciou seu abdômen, sobre o blusão que usava.
- Longe de mim, Parkinson. – ele disse gélido, e sem esforço de sua parte, a morena se afastou como se tivesse levado um choque elétrico. Ela olhou-o desconcertada por um momento. – Não tem mulher nenhuma atrás de mim, eu amo a minha esposa e você fique bem longe. – ela riu histericamente.
- Ama a sua esposa? Isso é história para boi dormir, Draco. Quando você amou alguém? Você nem sabe o que é isso! Em todos esses anos em que eu te amei... – a sua voz deixou de ser afetada e ficou carregada de amargura. Pansy se recuperou rapidamente. – Enfim, com quem você casou? Aposto que a conta dela no Gringotes era maior que a sua, não?
- Não fale sobre o que não sabe e sobre o que nem precisa saber. – disse Draco frio mas com firmeza. Pansy, não prestando atenção, tentava espiar por cima do ombro dele. E então, como resposta à sua pergunta, Gina colocou a cabeça na porta do hall e perguntou:
- Amor, quem é? – mas com um olhar mais demorado na visitante, ela se aproximou com passos firmes, os olhos apertados. – Ora, ora, ora... Parkinson, certo? Claro. – ela respondeu à própria pergunta. – Não confundiria esse rosto de buldogue de jeito nenhum. – concluiu maldosamente.
- Weasley? – exclamou Pansy, que tinha o queixo lá no chão.
- Malfoy. – corrigiu-a Gina, com superioridade.
- O que essa mulher lhe deu, Draco? – perguntou, esganiçada e sem conseguir se controlar. – Uma poção do amor? Ou ela lhe ameaçou? – Gina riu afetadamente.
- Eu não preciso de nada disso para conquistar um homem, Parkinson. – desprezou Gina, recebendo um olhar de esguelha de Draco, mas ela nem notou, já que observava Pansy dos pés à cabeça.
- Então, de alguma forma, a pobretona se deu bem, não é? – Pansy lançava olhares invejosos às roupas e às jóias de Gina, à casa e ao Draco.
- Parece que sim. – a ruiva deu um sorrisinho meigo. – Diferentemente de você. – acrescentou, com uma expressão de fingida tristeza.
Por um momento Pansy enrubesceu. Então, ela exclamou repentinamente, praticamente cuspindo no casal.
- Você tem um filho! – Por um instante os três se encararam, então Draco soltou uma risada arrastada como só ele sabia fazer.
- Obrigado pela informação. Mas a propósito, eu tenho três.
- Não seja tolo. – disse Pansy com azedume. – Eu quis dizer que você tem outro filho.
Nessa vez, porém, o silêncio foi mais demorado e palpável. Então, Draco disse, com a voz um tanto mais baixa, mas com firmeza.
- Você que está sendo tola. Não é possível eu ter outro filho.
- Pois tem. – retrucou ela, também firme. – Lembra de nossa última noite, antes de eu partir para a Suíça? – ela voltou a dar um sorrisinho afetado. Gina olhou de um para o outro, uma expressão estranha no rosto.
- Impossível. – repetiu o loiro, embora parecesse mais pálido e ligeiramente rouco.
- Você sabe que não é impossível. Eu engravidei e descobri só quando já estava longe.
- Você teria me avisado. Você está mentindo! – Draco olhou para a esposa à procura de apoio, mas ela olhava fixamente para o jardim, evitando o olhar dele.
- Posso trazê-lo aqui. Ele já tem mais de 30 anos, Draco. – ela parecia radiante ao ver que controlava a situação. Por um instante, ele pareceu incapaz de falar, então agarrou o pulso de Pansy com tanta força que os nós dos seus dedos ficaram brancos.
- Quem você pensa que é para chegar aqui depois de 30 anos, inventando mentiras para estragar a minha vida? – ele gritou, balançando o braço da morena com raiva.
- Draco, solte-a. – exclamou Gina, segurando o braço do marido; ele tinha um ar feroz que poucas vezes ela vira nele. Por uma fração de segundo, ele hesitou, mas depois obedeceu. – Traga-o aqui, Parkinson. Nós resolveremos isso. – disse a ruiva firme, e depois concluiu. – Por hoje você não tem mais o que fazer por aqui. Pode se retirar. – girando nos calcanhares, ela saiu em direção ao escritório.
Pouco de um minuto depois, Draco entrou no cômodo, fechando a porta.
- Meu bem, ela está mentindo! E aquela noite, ela... Foi antes de estarmos juntos. – ele não estava mais raivoso. Agora parecia nervoso e descontrolado, torcendo as mãos repetidamente.
- Eu sei. – disse ela simplesmente. Ele se atirou em uma poltrona próxima, escondendo o rosto com as mãos.
- Isso é impossível, eu sei que é. – repetia sem parar, falando consigo mesmo. Gina porém, não falou nada e não levantou os olhos dos papéis que segurava nos minutos que se seguiram, nem quando ouviu o ruído da porta abrindo e em seguida fechando-se.
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Nos dias que se seguiram à visita inesperada de Pansy Parkinson, Draco Malfoy parecia estar disposto a evitar Gina de qualquer forma. Saia mais cedo pela manhã, não passava mais pelo escritório dela durante o trabalho e chegava tarde da noite. De fato, ela o vira muito pouco em mais de uma semana. Seus filhos, que haviam notado a ausência do pai e a indiferença da mãe, não comentavam nada, para a alegria dos dois.
Então, no décimo primeiro dia depois da última visita, Pansy voltou a aparecer. Quando Gina abriu a porta, viu-se cara a cara com uma Pansy Parkinson muito diferente. A aparência era a mesma, mas a arrogância da morena desaparecera e ela parecia muitíssimo abalada. Gina mal atendera à porta quando ela desatou a falar, sem parar.
- No meu primeiro mês na Suíça, eu descobri estar grávida. Só podia ser de Draco, eu tinha certeza. Em quatro meses, teria licença no trabalho, então voltaria para anunciar a ele. Porém, no terceiro mês, eu perdi o bebê. A palavra certa para dizer como eu fiquei seria “enlouquecida”. Sempre o amara, desde os primeiros anos em Hogwarts, e eu sabia que o teria ao meu lado se estivesse grávida. Por mais arrogante que fosse, ele nunca abandonaria um filho. – cada palavra parecia lhe custar a vida, já que fazia expressões de imenso sofrimento a cada uma. – Não conseguia seguir minha vida, não quando sabia que tivera a dos seus sonhos na palma da mão e a deixara escorregar entre meus dedos. Claro que a culpa não era minha por ter perdido o bebê, mas eu não aceitava aquilo. As pessoas ao meu redor me diziam para seguir minha vida por lá; eu poderia ser tão feliz naquele novo país. Mas não funcionava. – nesse ponto, Pansy soltou um longo suspiro, e respirou fundo, antes de continuar. – Há menos de meio ano, voltei à Londres, sem me preocupar com emprego, casa e nem dinheiro. Depois de todos esses anos sem esquecê-lo, sabia que estava na hora de lutar por ele. Tive medo de que não estivesse mais por aqui, mas comecei a procurá-lo entre os membros do Ministério da Magia; sabia que lá era o único lugar em que ele trabalharia. Encontrei-o. Chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia. Bastante próximo ao ministro, não? Digno de Draco. – ela deu um sorrisinho sonhador, e nem parecia mais perceber que Gina estava parada à sua frente. Daquele jeito, a ruiva teve que concordar que Pansy parecia realmente enlouquecida. – Depois disso, não foi difícil descobrir onde morava. Em um dos bairros mais nobres da cidade, na maior casa da rua. Como sempre fora o Draco que eu conhecera na adolescência. Então, decidi procurá-lo. Resolvi mentir, dizer que ele tinha um filho, o filho que, realmente, quase tivera. Assim ele viria para mim, seria meu. Iria largar a esposa fútil. – a morena balançou os ombros, com uma risada. – Me enganei. Ele parece ter a vida perfeita com a esposa perfeita, e eu nem mesmo tenho um filho dele para tentar segurá-lo, nem dinheiro, nem casa, nem emprego. – acabando o seu monólogo com uma exclamação de dor, Pansy cambaleou para frente, de forma que Gina teve que segurá-la. Ajudou-a a entrar na casa e a levou até o escritório, deixando ela sentar na mesma poltrona em que Draco, aflito, se jogara dias antes.
- Eu tenho uma solução para você. – disse Gina, embora não tivesse certeza que Pansy a escutava, já que olhava fixo para o teto e grossas lágrimas lhe saltavam dos olhos.
Ela pegou um pedaço de pergaminho, escreveu uma pequena nota e então lacrou-o com um toque da varinha. Aproximou-se, então, de Pansy, e lhe entregou o pergaminho. Lentamente a morena a encarou.
- Leve até o banco bruxo no centro de Londres e dê ao Sr. Krasny, Marc Krasny. – Pansy confirmou com a cabeça. – Acho que 800 galeões são suficientes para ficar em um bom hotel até conseguir voltar à Suíça.
- Por que está fazendo isso? – perguntou ela, rouca e boquiaberta. Parecia ter voltado a si.
- Só lhe peço uma condição. – continuou Gina, ignorando-a. – Nunca mais apareça na minha vida e na de minha família.
Pansy hesitou, mas depois de olhar de esguelha para o pergaminho que tinha nas mãos e em seguida encontrar o olhar penetrante de Gina, confirmou com a cabeça.
- Ótimo. – sorriu ela, indicando a saída do escritório. Foi a última vez na sua vida em que ela viu Pansy Parkinson.
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Já passara da uma hora da manhã quando Draco Malfoy abriu a porta de entrada da casa. Soltando um suspiro cansado, ele largou a pasta que carregava e seu casaco em uma poltrona na sala e se atirou em outra em seguida. Profundas olheiras marcavam seu rosto normalmente pálido, e ele parecia arrasado.
Trabalhara horas a fio, tentando evitar ficar na presença da esposa, e ainda tivera insônia boa parte dos últimos dias. E quando finalmente dormia, sonhava com rostos desconhecidos que apareciam por toda a parte, alegando serem seus filhos.
Depois de um tempo, ele rumou para a cozinha, espreguiçando-se. Pegou um copo e encheu de leite gelado. Foi tomando devagar, encarando a lua pela fresta entre as cortinas da janela. Fazia uma bonita noite de lua cheia.
Largou o copo sobre a pia e voltou à sala. Porém, levou um susto, levando a mão até o coração, ao dar de cara com Gina, sentada no grande sofá. Uma réstia de luar iluminava os cabelos muito ruivos, presos em um alto e desajeitado coque. Usava um roupão preto por cima do pijama, mas estava longe de parecer cansada. Na verdade, parecia decidida.
- Boa noite, Draco. – disse ela.
- Boa noite. – respondeu ele, hesitante. – Voltei só agora, sabe... Muito trabalho. – Gina confirmou com a cabeça.
- Precisamos conversar. – soltou sem rodeios. Com um gesto, pediu para Draco se sentar. – Pansy Parkinson esteve aqui hoje. – o estômago dele embrulhou e ele passou as mãos pelo cabelo, nervoso. – Ela, de fato, engravidou de você naquela noite mencionada.
- Eu... Gina, isso foi antes do nosso tempo... Não fique brava! – ele soltou, atordoado e ansioso. Ela apenas confirmou com a cabeça, fazendo uma pausa antes de prosseguir.
- Contudo, ela perdeu o bebê. – Draco, que estivera encarando o chão, levantou os olhos para a esposa, com uma expressão desconfiada.
- Então... Eu não tenho um filho com ela? – indagou hesitante. Gina negou com a cabeça, e ele soltou um suspiro aliviado. – Eu... Nossa...
- Pansy enlouqueceu ao saber da notícia, – ela cortou-o. – pois achava que com um filho conseguiria lhe ter ao seu lado. Pelo que me contou, sofreu um bocado, e eu vi um pouco desse sofrimento com meus próprios olhos. Ela nunca desistiu de você. – acrescentou Gina, encarando o loiro, que ouvia atordoado. – Há algum tempo voltou à Londres atrás de você, querendo sustentar a história de ter um filho. Porém, ao nos ver em sua primeira visita, Pansy soube que nunca conseguiria lhe tirar de mim. – ela fez uma pausa, olhando nos olhos do marido, que esboçou um sorriso. – Mandou lhe dizer adeus e avisou que nunca mais aparecerá na nossa vida.
Draco não manifestou tristeza com a notícia, apenas encolheu os ombros.
- Não posso dizer que não esteja aliviado.
- Nem eu. – foi a vez de Gina esboçar um sorriso.
Levantando calmamente, ela pegou o casaco do marido e estendeu a outra mão para ele, e os dois subiram a escadaria abraçados.
Às vezes, algumas coisas precisam ser feitas e abafadas para o bem do nosso próprio casamento.
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Finalmente tá aí o segundo capítulo :D Espero que vocês gostem, e que comentem, né? Porque estão me deixando triste aqui pela falta de comentários, dá um desânimo pra escrever, poxa.
Mas continuo com a chantagem báaasica: só vem o próximo quando estiver feliz com vocês :P
Beijos e bom fim de semana! :)

Juliana G. Malfoy, às 17:32, do dia 1º de agosto de 2008.

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