the 30's. ×



1- The 30's.

Apesar de ser inverno, naquele mês não se via a tão conhecida neblina nos céus de Londres. A única coisa que poderia ser vista, literalmente, era a chuva forte que batia sobre as vidraças. Naquela manhã, começava o vigésimo terceiro dia seguido de chuva, e o Rio Tâmisa está prestes a inundar.
Os olhos do loiro demoraram um pouco a se acostumar com a pouca claridade que conseguia ultrapassar aquele céu escuro, que dava sempre a impressão de ser noite, e que se infiltrava pela cortina do quarto; ele os esfregou lentamente.
Aos poucos, retomando a consciência, ele ficou a escutar o barulho da chuva. Depois de tantos dias, estava começando a não ficar mais incomodado com os pingos batendo no teto do quarto, se tornara um som até ligeiramente agradável.
Espreguiçando-se e alongando o corpo, enquanto bocejava demoradamente, ele deixou o olhar recair sobre um monte sob as cobertas ao seu lado, e não pôde deixar de rir. A única parte da esposa que estava ao alcance da sua visão, eram os cabelos ruivos espalhados pelo travesseiro. Lembrou-se dos dias em que acordava e a primeira coisa que via era uma réstia de sol batendo contra aqueles cabelos, deixando-os ainda mais vivos.
O loiro sorriu. Em seguida se aproximou lentamente, deixando a mão pousar sobre a barriga nua dela, sob os lençóis, e acariciou a região com delicadeza. Em seguida, murmurou:
- Está na hora de acordar, meu bem. – e tornou a rir ao obter apenas um resmungo como resposta; estava bastante acostumado com isso.
Balançando negativamente a cabeça como reprovação, mas com um sorriso nos lábios finos, o loiro se levantou da cama, indo em direção ao grande armário dos dois, e pegou um roupão lá dentro, colocando-o por cima das boxers que usava. Deixando o quarto, ele desceu a longa e bela escadaria e entrou na imensa cozinha da casa.
Quando voltou ao quarto, alguns minutos mais tarde e carregando uma bandeja com o café da manhã, encontrou Gina sentada na cama, com uma cara engraçada de sono e os cabelos armados. Ele riu enquanto depositava a bandeja na cama, e ela fingiu estar brava.
- Bom dia, bela adormecida. – ele se aproximou, selando os lábios dos dois com um beijo rápido, e logo em seguida foi até a janela, abrindo toda a cortina.
- Ai, fecha isso! – a ruiva tapou os olhos com as mãos, reclamando histericamente, o que só arrancou mais risos dele. Com uma careta, ela deu um longo bocejo enquanto se acostumava com a claridade. – E não reclame, - ela bocejou novamente, fazendo uma pausa. - estou assim por sua causa.
- Como se você não tivesse gostado... – ela deu de ombros, ele ergueu as sobrancelhas.
- Óbvio que gostei, bobo. – ela fez sinal para ele se sentar ao lado dela e depois que ele o fez, a ruiva deixou a mão deslizar em direção à coxa dele. – Acho que nós deveríamos começar a ter nossos momentos pela manhã, também... – ele sorriu.
- Nós temos que buscar as crianças, hoje. – ela fez uma expressão ligeiramente decepcionada, mas logo sorriu de volta; Draco sabia como ela sentia falta dos filhos e adorava o dia em que iam buscá-los. – Mas me aguarde amanhã... – Draco colocou a mão sobre a perna dela, deslizando-a pelo interior da coxa e parando apenas ao chegar na virilha. Gina se arrepiou.
- Aguardarei ansiosamente. – os dois se encararam e sorriram.
15 anos haviam passado desde o dia em que trocaram as alianças e juraram amor eterno, na alegria ou na tristeza. Poderiam dizer que provaram para quem quisesse duvidar que eles haviam, de fato, sido feitos um para o outro. Pode-se imaginar tudo que foi dito quando os dois resolveram se casar. Um Malfoy e uma Weasley? Isso nunca poderia acontecer. Deram-lhes alguns meses, no máximo um ano.
Mas nem mesmo haviam completado meio ano quando a notícia se espalhou: Gina estava grávida. Sua família, principalmente seus irmãos, não aceitaram que a mulher fosse dar à luz a um herdeiro dos Malfoy. Antes, achavam que era apenas um ato de rebeldia, que não iria durar muito tempo. Mas que então, naquele momento, ela havia ido longe demais. Fizeram de tudo, até ameaçaram trazê-la de volta para casa, mas Gina não arredou o pé, ficando sempre ao lado do marido.
Então, só depois de uma briga séria com seu irmão Rony, foi que a família Weasley desistiu de Gina. Pararam de procurar-lhe, e ela tinha certeza que fingiam que ela não existia.
Aos poucos, foi perdendo o contato com os amigos, Hermione, esposa de seu irmão, Luna, Neville, Harry... Todos aqueles que conhecera na escola. Nenhum deles aceitou o fato de Gina virar uma Malfoy; consideravam aquilo uma vil traição.
A família de Draco não foi melhor do que a da ruiva. Lúcio ameaçou deserdar o loiro, o que de fato fez, não compareceu ao casamento e não falou nenhuma vez com ele depois de todo aquele tempo que passara. Seu pai disse que um herdeiro dele nunca se casaria com uma traidora do sangue.
Também proibira a esposa de fazer qualquer coisa pelo filho. Mas Draco vira nos olhos da mãe, nas poucas vezes que se encontrara com ela, o quanto Narcisa sofria com tudo aquilo. Ele era filho único, e ela sempre fora extremamente apegada a ele, e Draco a ela.
Mas além de tudo, os dois agradeciam por terem lutado. Poderiam ter desistido, seguido outros rumos, mas agora, depois de mais de 15 anos de casados, eles sabiam que, definitivamente, haviam nascido um para o outro. Talvez sempre soubessem, mas agora era claro para quem quisesse ver.
Descobriram também que só conseguiam ser felizes juntos, que só o outro poderia fazer com que cada momento parecesse maravilhoso, até mesmo o mais simples deles. A cada dia os dois se amavam mais, a cada dia que passava eles entendiam mais um ao outro, apenas com olhares e gestos.
E havia brigas sim, algumas sérias, mas isso não era algo que abalava o casal. Após cada briga eles pareciam mais felizes juntos, como se o amor se fortalecesse. Tentar separá-los era algo inútil.
Mas se tinha algo que o casal se perguntava com freqüência, era por que as pessoas simplesmente não aceitavam que eles estavam felizes juntos?

Os dois ouviram um barulho na porta e se viraram para ver o que era, aliás, quem era. Um menino loiro e pálido estava parado ali, segurando um hipogrífo de pelúcia e ao mesmo tempo o usando de proteção contra a luz para os olhos, que ele mantinha cerrados. Era Andrew.
- Hey, filhão. – exclamou Draco com um sorriso, chamando o filho para perto com um gesto. O menino obedeceu e subiu na cama, abraçando o pai que o esperava de braços abertos. Enquanto isso, a mãe observava os dois. Muitas vezes ela chegava a rir ao observá-los juntos, tamanha era a semelhança entre eles. Além da aparência, os dois caminhavam da mesma forma, faziam a mesma expressão ao se concentrar e passavam as mãos pelos cabelos constantemente. O filho caçula era uma miniatura do marido, mais do que qualquer outro filho.
- Bom dia, Drew. – ela abriu os braços também quando ele se aproximou. Depois de abraçar os pais, o menino sentou entre eles, apoiando no colo Jeff, o hipogrífo de pelúcia, que soava um tanto quanto infantil para ele, já com os seus 7 anos de idade.
- Está com fome? Eu trouxe para sua mãe, mas ela nem tocou ainda. – Draco apontou a bandeja com comida.
- Eu ia comer! – ela se defendeu.
- Eu quero... – Andrew observou a bandeja, pegando por fim uma torrada e mastigando-a devagar, sonolento.
- Sabe que dia é hoje? – tornou a mãe, observando-o. Ele negou com a cabeça, levantando os olhos para ela. – Dia de buscar seus irmãos!
- Oba! – os olhos dele se iluminaram; ele adorava os irmãos e Gina sabia que ele se sentia sozinho ali naquela casa enorme. Ela também sabia que, quando fossem à estação, ele perguntaria quanto tempo faltaria para ele ir para Hogwarts também. Quatro anos, Drew, quatro anos. Ela tinha apenas quatro anos com o último de seus filhos, antes que ele lhe trocasse pela escola. Sim, ela era uma mãe ciumenta. – Mãe? – o menino a chamou.
- O que foi, filho?
- Eu quero montar a árvore de Natal... – ele pediu, fazendo beiço.
- Vamos esperar seus irmãos chegarem, certo? Aí eles podem nos ajudar também.
- Se eu fosse você, amor, não contaria tanto com isso. Eles cresceram, não gostam mais dessa história toda de enfeitar a casa e ganhar presentes. Você viu como foi difícil fazer com que viessem nos ver no Natal... – Draco deu de ombros.
- Principalmente Henry... É, eu sei. Mas é por causa da namoradinha. – a mãe fez uma careta totalmente ciumenta; Draco riu.
- Não diga desse jeito. Você sabe que ele não gosta, diz que é namoro sério.
- Se é, então quando é que ele vai nos apresentá-la?
- Não me pergunte. Mas vou conversar com ele se você quiser. – o loiro levantou da cama e foi em direção ao armário dos dois.
- Obrigada. E Joshua?
- O que há com Josh? – ele perguntou, enquanto mexia nas roupas, escolhendo qualquer uma para levar ao banheiro, onde tomaria banho.
- Você sabe... Namoradinhas.
- Ah, bem, não que eu saiba. Mas deve ter, não é? – ele balançou a cabeça.
- Mas tão cedo? Ele só tem 11 anos!
- Os tempos mudaram, meu bem. Quando estávamos no colégio era diferente.
- Você fez eu me sentir absurdamente velha. – ela fez uma cara de desgosto.
- Vamos combinar que não temos mais 15 anos... – ele olhou-a divertido.
- Sim, mas eu tenho 38! – Gina cruzou os braços, emburrada. Ele riu e se aproximou, mas ela manteve-se orgulhosa e não deixou ele aproximar-se mais.
- Eu sei... Você não é velha, OK? – Ela sorriu, dando-se por vencida, e Draco encostou os lábios nos dela, que entreabriu os próprios dando passagem para a língua do marido, que encostou na dela. As duas se roçaram um tempo com vontade, enquanto seus lábios se moviam lentamente, em sintonia.
- Eca, eu estou aqui! – exclamou Drew, que até agora estivera comendo a sua terceira torrada em silêncio. Draco e Gina se separaram, rindo, mas o filho estava indignado. – Eu não entendo vocês... – ele balançou a cabeça, enquanto pousava a torrada na bandeja, com nojo. – Ficam se beijando, eca. E os meus irmãos, também, ficam beijando essas garotas. – ele fez cara de quem iria vomitar, arrancando gargalhadas do pai.
- O seu dia vai chegar, eu também tinha nojo das garotas na sua idade.
- Até parece! – exclamaram mãe e filho em uníssono; ele, duvidando de que iria algum dia beijar alguma garota, e ela, duvidando de que o marido algum dia já tivera nojo delas. Mas Draco mostrou a língua para os dois e entrou no banheiro rindo e carregando algumas roupas.
- Vamos, Drew, vá se arrumar. – o filho obedeceu à mãe, que deu lhe um tapa na bunda, de brincadeira, apressando-o. Logo em seguida ela se levantou lentamente, bocejando enquanto se espreguiçava. Mais devagar ainda, Gina se aproximou da janela, observando a vizinhança lá fora por trás da cortina de chuva.
No fim, ela gostava daquela casa. Ela era grande, com espaço suficiente para os filhos, tinha um bom pátio e uma ótima vizinhança... de trouxas. Por isso, não era amiga dos vizinhos e às vezes se sentia sozinha.
Afastou-se da janela e saiu do quarto, rumando em direção ao quarto do filho caçula, a fim de ajudá-lo a se vestir e ver se precisava de algo. No caminho, porém, ela passou pelos quartos dos filhos mais velhos, e não pôde evitar que a melancolia tomasse conta dela. Afinal, ela sentia falta deles, sentia falta de todos os filhos reunidos. Agora, apenas nas férias e no Natal, e com o tempo se tornaria mais raro ainda. O pior era que logo perderia o último filho, ficando sozinha apenas com o marido, como só estiveram durante pouco tempo depois do casamento. E aquela época era agradável, mas agora, já acostumada à presença de crianças, da bagunça, ela se sentiria vazia, incompleta.
Balançou a cabeça ao se repreender por tamanha dramatização. Devia estar se sentindo assim por causa da incessante chuva. Aquele clima não era o mais agradável de todos.
Finalmente chegou ao quarto de Andrew, e encontrou o menino já arrumado, lendo alguma revista que tinha um time de quadribol na capa, o que a fez perceber como estava por fora do Campeonato. Essa vida de mãe a enlouquecia... Mas era a melhor coisa que poderia ter lhe acontecido, juntamente com o homem que lhe dera esses maravilhosos presentes que eram os seus três filhos.
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A chuva caia pesada, e o vento se juntava a ela, molhando as pessoas, mesmo que estas estivessem tentando se proteger na pequena área coberta da plataforma 9¾, e movimentando folhas e gravetos que jaziam no chão da estação de King’s Cross, em Londres. A senhora Malfoy, mais conhecida por nós como Gina, mantinha o casaco bem fechado até em cima, tentando se proteger do frio e dos respingos. Preferia mil vezes que estivesse mais frio e que estivesse nevando muito... Seria melhor do que a chuva, pelo menos, e ela achava que as paisagens ficavam lindas cobertas pelo manto branco, principalmente em épocas de Natal.
A plataforma estava lotada de pais, muitos parecendo ansiosos pela visita dos filhos e muitos outros parecendo irritados por terem saído de casa com aquele tempo terrível. Ao seu lado, Andrew estivera conversando com o pai sobre quadribol, mas agora parecia ter engatado uma conversa sobre Hogwarts, animado, querendo saber todos os detalhes do castelo e fazendo caretas diante de algumas normas e matérias.
Gina se pôs a observá-los. Eles, que eram os amores da sua vida, junto com os outros dois filhos, Henry e Joshua, claro. Era por aqueles quatro homens que ela vivia.
Era Draco que a fazia sorrir ao acordar e ver aquele que amava ao seu lado, era o loiro que lhe fazia juras de amor eterno, e era com ele que ela sabia que ia passar o resto dos seus dias, pois eram simplesmente feitos um para o outro.
E era Joshua, Andrew e Henry que faziam que a ruiva se esforçasse, querendo educá-los, querendo dar-lhes uma vida decente, querendo com que eles tivessem um bom futuro, e ainda tendo medo de não ser boa o suficiente, de ser dura demais.
Com eles, a mulher não precisava de mais nada.

Uma particularmente forte rajada de vento passou por eles, levantando o cabelo de Gina, no exato momento em que viram o trem se aproximar, soltando fumaça e abrindo caminho entre a chuva. A agitação na plataforma dobrou, e Draco puxou Andrew por uma mão, segurando-o com medo de perdê-lo na confusão e Gina os seguiu para mais perto do trem, tentando ficar mais à frente da aglomeração que se formava nas saídas dos vagões. O loiro espiou para dentro do mais próximo, a procura de algum dos filhos, mas não viu nenhum sinal deles.
As portas do trem se abriram e os alunos pularam para fora dos vagões, os que achavam os pais os abraçavam e os outros ficavam vagando, a procura dos seus. Ao longe, Draco observou um garoto de cabelos alaranjados, se despedindo de uns amigos e então se virando naquela direção. Sorriu ao encarar Joshua, que veio em direção da família, deixando o pesado malão no chão, que logo foi pego pelo seu pai.
- Josh! – exclamou a mãe ao vê-lo e o segurou em um apertado abraço.
- Ai, mãe! – ele fez uma careta, tentando se desvencilhar enquanto ficava com a face vermelha, provavelmente embaraçado por estar passando por aquilo na frente de todos os colegas da escola.
- Como é que está sendo a escola? Está gostando de lá? Está gostando da sua casa? Como é que você está se saindo nas aulas? – Gina perguntava afobada, parecendo uma criancinha diante de um presente novo, sem fazer pausas. Era a primeira vez que eles se viam desde que Joshua havia entrado no colégio, em setembro. Cursava o primeiro ano e havia ficado na Grifinória, ao contrário do irmão mais velho.
- Amor, deixe ele respirar. – Draco pediu, risonho. O filho sorriu para ele, agradecido. Em seguida, cumprimentou Andrew, que foi outro que começou a lhe bombardear de perguntas sobre Hogwarts. Ele se afastou do irmão, deixando-o falar sozinho e foi abraçar o pai. – Como é que está a escola, filho?
- Bem... – ele fez um gesto amplo com a cabeça. – Preferia ter ido para a Sonserina, na verdade. – o pai sorriu orgulhoso, olhando de relance para a esposa, que nem prestava atenção à conversa, distraída na sua procura por Henry. – Todos me dizem que é estranho eu ser Malfoy e estar na Grifinória. – ele deu de ombros. – Mas fiz alguns amigos, já.
- Que bom... E Henry? – Draco voltou a olhar ao redor, imitando a esposa, mas não via nem sinal do filho mais velho.
- Provavelmente com Sarah. – Joshua fez uma careta. – Não os vejo mais separados.
- A namorada dele? – Gina se intrometeu na conversa, com uma expressão pensativa. - Sarah...? – Não lembrava filha de quem poderia ser esta tal de Sarah.
- Sarah Monroe. – Draco respondeu, adiantando-se. – Estou certo? – Joshua confirmou com a cabeça.
- Monroe? – a face de Gina se iluminou. – Claro, a filha daqueles aurors, não? – foi a vez de Draco fazer um sinal positivo com a cabeça. – Gostaria de conhecê-la.
- Eu também. – Draco pôs um fim na conversa, com um aceno de cabeça, já que Henry se aproximava.
Henry era o mais velho e de longe o mais bonito dos garotos Malfoy. Assim como Andrew, puxara às feições do pai, tendo o rosto tão pálido, os cabelos tão loiros e os olhos tão acinzentados como Draco, mas também tinha algo diferente. Algo que lembrava a mãe. O charme, o carisma, o jeito de falar, o sorriso... Tinha todas as misturas certas para ser um homem muito desejado.
- Hey! – ele exclamou sorridente, deixando o malão ao lado do de Joshua e indo primeiro abraçar a mãe. – Como é que você tem passado, mãe? – ele beijou-lhe a face, enquanto se afastava. – Drew lhe deu muito trabalho? – ele riu e se abaixou um pouco para receber um abraço do irmão. – Porque se lhe incomodou, não lhe dou o que eu trouxe de Hogsmeade!
- O que você trouxe, o que você trouxe? – o sorriso de Andrew ia de orelha a orelha, enquanto perguntava afobado.
- No carro eu lhe dou, certo? – ele piscou para o irmão e se levantou, indo em direção ao pai.
- E aí, filho? – os dois se abraçaram, sorrindo, a felicidade explícita no rosto do homem; Joshua desviou o olhar oportunamente. – Como está o seu 5° ano? O Sr. Laurence está tendo muito trabalho com você? – Henry riu.
- Você sabe que eu me comporto, pai. – o tom de voz dele demonstrava certo entendimento entre eles. Era óbvio que Henry não se comportava.
- Eu ouvi falar que este novo diretor da Sonserina é tão rígido... No meu tempo, Snape dava preferência aos sonserinos e nós nunca nos dávamos mal. – ele riu, lembrando de tudo que aprontara na escola sem receber nenhum castigo, mas foi “despertado” por um sussurro de Henry, direcionado apenas para ele.
- O Sr. Laurence, rígido? – ele fez uma pausa, demonstrando ensaiada incredulidade. -Não comigo. Bem, mas você sabe como é, não é? Aluno preferido... – ele piscou para o pai, que deu-lhe um tapinha no ombro do filho, às gargalhadas.
- Aprendeu bem, filhão.
- Podemos ir agora? – Gina pediu, interrompendo-os, enquanto abraçava o próprio corpo por causa do frio.
- Não! – Andrew reclamou, olhando ao redor animado, observando todos os mínimos detalhes do trem ou de seus alunos. E então, a pergunta já esperada. – Quantos anos faltam para que eu possa ir para Hogwarts mesmo?
- Quatro, Drew, quatro. – responderam em uníssono, e com voz tediosa, Draco, Gina, Joshua e Henry, e todos começaram a rir ao terminarem a frase.
- Vamos. – Draco disse por fim, pegando o malão de Joshua, enquanto Henry pegava o próprio e Gina abraçava Andrew pelos ombros.
Os cinco Malfoy’s foram andando lentamente para a entrada da plataforma 9¾, onde cruzaram o portal com cautela e então se infiltraram entre os trouxas, conversando sobre a escola dos garotos. Joshua, encantado com a nova escola, tinha muito para contar, e não parava de descrever detalhes do castelo e reclamar de professores e colegas. Andrew, mais encantado ainda, ficava interrompendo-o, e Gina teve que apartar uma briga antes mesmo de chegarem no carro.
Aos seus conceitos, porém, ela simplesmente tinha a família mais perfeita e mais invejável de todas.
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Um sol fraquinho batia no seu rosto quando ele despertou. Seus olhos demoraram a se abrir, com a esperança de que se ficassem fechados ele voltaria a pegar no sono, mas não havia mais jeito, ele acordara, principalmente ao tomar consciência do sol que via pela janela. Ainda sonhava ou finalmente a chuva havia cessado?
Esfregou os olhos, percebendo que de fato o dia havia amanhecido bonito. Amanhecido? O sol estava forte demais para ter amanhecido há pouco, e virando-se para o criado-mudo ao seu lado, onde o relógio digital marcava 10:23 da manhã, ele se assustou com o quanto dormira.
Esticou o braço para o lado, procurando pela esposa, tão dorminhoca quanto ele, mas apenas encontrara o travesseiro vazio. Olhou para o objeto, desolado, e ficou pensando onde poderia estar a sua ruiva. E só então que a compreensão atravessou o seu corpo. Era Natal.
- Droga! – proferiu, se sentando em um sobressalto. Havia prometido que ajudaria Gina a preparar o almoço, e a esta hora as crianças provavelmente já haviam ganho os presentes... Droga. O seu primeiro instinto fora descer direto, assim como estava, mas pensou melhor. Já dormira demais, e não iria descer assim... Pelo menos trocaria de roupa e faria sua higiene pessoal.
Levantou-se esticando os braços e pernas, espreguiçando-se, e rumou para o banheiro. O rosto que viu no espelho o assustou, estava completamente amassado de sono, mas não pôde deixar de notar o pouco que havia mudado em todos esses anos. Tinha ainda o rosto da época de Hogwarts, um pouco mais amadurecido, claro, assim como o corpo... Mas no conjunto não mudara muito. Olhava-se no espelho e era nitidamente o mesmo Draco Malfoy de sempre.
Na verdade, aquilo era um pouco contestável. Apesar de a aparência ser a mesma, na realidade, a sua essência que mudara. Tudo que ele considerava como seus valores antigamente, tudo que ele prezava e achava importante, não tinham mais significado agora. E isso, certamente, ele atribuía a sua esposa.
Amar era algo maravilhoso. Interiormente, nem ele acreditava no quanto estava diferente, e de certa forma não culpava os outros por não terem confiança naquelas mudanças... Mas ele tinha certeza de que sua esposa sabia o quanto mudara, e só isso que lhe importava.
Quando terminou de escovar os dentes, Draco guardou a escova no pote ao lado da torneira e enxugou o rosto, saindo do banheiro e então indo até o guarda-roupa, onde escolheu uma roupa qualquer. Agora, o relógio já marcava 10:41, e ele não acreditou que demorara todo esse tempo apenas para se arrumar.
Descendo a escadaria, ele avistou o frondoso pinheiro que eles haviam comprado em uma dessas lojas trouxas que vendiam pinheiros no centro da cidade. Não entendia porque tinham que comprar os que os trouxas haviam derrubado, sendo que eles mesmos poderiam derrubar um do próprio quintal, com um simples gesto da varinha, como ele fizera a vida inteira. Era coisa de Gina, de qualquer jeito. Mas ele se surpreendera quando a esposa conseguira que todos os filhos, inclusive Henry, ajudassem os dois a decorar a árvore com todos aqueles enfeites de Natal.

Quando Draco chegou na cozinha, viu Gina mexendo em algumas coisas em cima do balcão, preparando o almoço. Ele se aproximou, silencioso, e abraçou a ruiva por trás, murmurando no seu ouvido:
- Bom dia, princesa.
- Oh, Draco! – ela pôs a mão sobre o lado esquerdo do peito, largando tudo que estava fazendo. – Que susto!
- Desculpa, amor. – ele beijou o pescoço dela delicadamente. – E sinto muito por ter dormido tanto assim, também. – ela sorriu, se virando entre os braços dele, ficando de frente para o marido.
- Você estava tão tranqüilo dormindo que eu não tive coragem de lhe acordar. – ela selou os lábios dos dois de forma carinhosa, mas o loiro a pegou de surpresa ao abrir os próprios, intensificando o beijo.
Gina deixou-se levar pela língua do marido, e quando deu por si, ele já colocara-a sentada no balcão da cozinha, lhe acariciando as coxas enquanto ela tinha as mãos geladas por dentro dos blusões todos de Draco, pronta para tirá-los. O que de fato teria feito, se não fosse por Henry, que entrara na cozinha com uma imensa cara de sono e fazendo barulho. Ele viu os pais se afastarem como se tivessem levado um choque elétrico, ambos sem fôlego.
- Ah, esqueçam que eu estou aqui. – disse ele em voz baixa e sonolenta, e rumou até a geladeira, de onde tirou uma jarra de leite e buscou um copo na prateleira, se servindo. Observando-o, Gina descera do balcão e Draco ajeitara a própria roupa, mas ele parecia não prestar atenção nos dois. Constrangida, sua mãe murmurou, olhando para o outro lado.
- Seu presente está embaixo da árvore. Espero que goste.
- Ah, claro. – ele olhou para a mãe, com um ar distante e depois rumou para a sala de estar.
Draco e Gina se entreolharam, e depois de um tempo o loiro quebrou aquele silêncio incômodo.
- Precisamos cuidar mais disso.
- Você quem começou. – Gina disse, se virando para a comida que estava preparando antes e com um balanço da varinha fazendo várias batatas saírem de uma cesta e começarem a se descascar sozinhas, mas o seu tom de voz era brincalhão.
- Desculpe se para mim a minha esposa é a mais atraente do mundo. – Ele fingiu estar bravo, mas ao ver o sorriso dela não pôde deixar de imitá-la e sorrir. – O que você comprou para as crianças?
- Ah, para Henry eu comprei uma vassoura nova. Ele estragou a dele no último jogo, você sabe. – ele confirmou com a cabeça, orgulhoso de certa forma. O filho jogava no Time de Quadribol da Sonserina, e ao contrário dele não tivera que pagar para entrar. Havia herdado o talento natural de Gina. – Foi uma Flap339, a que foi lançada há alguns meses. Ou seja, a melhor que tinha. – a ruiva deu de ombros. – Para Josh eu comprei aquele conjunto de mágica de trouxas enfeitiçado que ele adorou numa loja da última vez que fomos ao Beco Diagonal e um livro que ele viu na Floreios e Borrões, sobre criaturas mágicas, e que já está “devorando”. – ela riu, mas no fundo não sabia a quem o filho havia puxado aquela extrema fome de leitura. – E para Andrew a maldita coruja que ele estava querendo há tempos.
- Ele não podia esperar até entrar em Hogwarts? – perguntou Draco, meio impaciente.
- Você sabe como ele idolatra aquela escola. Quer tudo que tenha a ver com ela, e logo. – Gina suspirou. – Pelo menos não precisamos comprar uma coruja quando ele for entrar na escola.
- Onde ela está?
- Não chegou ainda, um entregador da loja irá trazê-la perto do meio dia. – ela acenou a varinha e as batatas começaram a ser cortadas. – E um conjunto de Quadribol em miniatura.
- Droga, adivinha quem terá que jogar com ele? – a ruiva riu.
- Por enquanto os irmãos jogam, mas depois... O papai. – ela balançou a cabeça. – Ele não me deixa jogar. Acha que não entendo de quadribol! – Gina exclamou indignada.
- Ah, se ele soubesse que mamãe sempre foi uma jogadora muito melhor do que papai... – Draco abraçou a esposa. – Temos que jogar um dia desses, não?
- Concordo. – ela beijou o rosto dele com delicadeza.
- De qualquer forma, no que eu posso te ajudar?
- Você pode pôr a mesa.
- Certo. – ele beijou-lhe a testa e se afastou, fazendo um aceno com a varinha, e vários pratos, copos, e talheres, voaram em direção à sala de jantar. Ele foi até lá para espiar se tudo estava bem e voltou em seguida. – Mais alguma coisa? – Gina pensou por um instante.
- Não, obrigada. – ele sorriu e se virou para sair da cozinha, quando ela chamou-o de novo. – Draco?
- O que foi?
- Obrigada por estar comigo.
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A coruja de Andrew, Peaks, já chegara, trazida por um entregador da loja onde fora comprada e o garoto não parara de brincar com ela desde então. Até durante o almoço, depois de uma choradeira, conseguiu convencer os pais a deixá-la ficar ao lado dele na mesa. Enquanto Gina e os outros dois filhos conversavam animados, Draco apenas lançava olhares à coruja de pêlos pardos, dos quais emanava um odor mal cheiroso, e observava o filho cutucar a coruja, querendo que ela comesse o quinto rato morto que ele lhe depositava dentro da gaiola, mas ela apenas olhava-o, sem se importar, provavelmente por já ter comido demais.
- Drew, você não acha melhor deixar Peaks descansar? Acho que ela já comeu bastante por hoje. – o loirinho nem olhou para o pai, apenas empurrou o rato morto mais para dentro da gaiola da ave.
Draco, percebendo que não adiantaria, resolveu partir de outro ponto.
- Andrew, você não vai comer a sua comida? – ele deixou os olhos caírem ao prato do menino, intocado, assim como ele mais cedo o servira, e depois voltou a encarar o filho.
- Não estou com fome. – o pequeno Malfoy disse, displicentemente.
- Você não pode guardar esse rato? – a voz de Draco elevou-se um pouco, mas ele se controlou. - Isso está soltando um cheiro terrível, filho. – à espera de uma resposta, encarava o rosto do filho, mas ele nem se mexeu. – Andrew... Não quer levar Peaks para cima um pouco? – tentava de tudo para chamar a atenção do menino, que enfim respondeu.
- Você disse que ela poderia almoçar com nós! – Andrew olhou para o pai, indignado, mas com a voz chorosa. Ele não caia nessa, não mais.
- O que houve? – Gina se virou imediatamente, recaindo o seu olhar para o prato de Andrew – Filho, você não gostou da comida que a mamãe fez? – ela tinha um ar desapontado, e Draco teve vontade de abraçá-la; sabia como era importante o almoço de Natal para a esposa.
- Gina, a comida está maravilhosa, como sempre. – ele pousou a mão sobre a perna da mulher.
- Mas ele pode não ter gostado. – ela olhou para Andrew novamente. – Você não quer outra coisa? Eu posso fazer, é rapidinho e... – o loiro apertou a perna dela, calando-a.
- Não precisa, a comida está ótima e ele vai comer, não é, Drew? – ele enfatizou de forma desnecessária as palavras, tomando cuidado para não deixar extravasar toda a irritação.
- Já disse que não estou com fome!
- O que você tem hoje? – Draco perguntou, não obtendo a atenção do garoto, que já voltara a mexer com a comida de Peaks, e suspirou. – Apenas... Olhe para mim quando eu estou falando com você, certo? – o silêncio se instalou por um tempo, já que Andrew sequer respondeu, mas foi quebrado por Henry.
- Andrew, coma. Está tudo muito bom. – o menino virou a cabeça para o irmão mais velho.
- Cala a boca, Henry!
- Não fale assim com o seu irmão! – interrompeu o pai.
- Não fale assim com o seu irmão... – Andrew repetiu em um sussurro debochado.
- O que foi que você disse? – Draco perguntou, elevando bastante a própria voz. – Andrew Edgar Malfoy, você vai comer isso, AGORA. E ela... – ele apontou a varinha para a coruja. – vai para o seu quarto. – a gaiola levitou tranqüilamente, subindo a escadaria, suspensa como se estivesse sendo carregada por um ser invisível. – Só vai tê-la de volta depois de comer toda a sua comida.
- Draco, não é preciso isso tudo e... – balbuciou a ruiva, que até agora permanecera em silêncio.
- Gina, – ele voltou-se para ela, murmurando irritado. – você pode, por favor, não me contrariar? Assim você tira toda a minha autoridade! – virou-se para o filho, enfim, e repetiu. – Coma!
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O resto do almoço de Natal havia ocorrido tranqüilamente. Aliás, depende do que você considera por “tranqüilamente”. A ruiva não conversara mais com o marido, e os filhos não se dignavam a falar qualquer coisa, amedrontados, talvez, mas provavelmente como forma de respeito.
Agora, Draco se sentia horrível por ter estragado aquela data tão importante, e não conseguia entender porque simplesmente não se calara.
Esses tipos de feriados eram muito importantes para a sua mulher, e ele sempre tentava fazer com que eles fossem os melhores possíveis. No fundo, Draco sabia que ela sentia falta de passar os feriados com a família, sempre tão grande, mas sabia também que ela nunca comentava nada pois os Weasley definitivamente não poderiam passar junto com um Malfoy, mas, principalmente, porque eles não aceitariam a ruiva em casa.
Geralmente se perguntava se Gina não se arrependia de certa forma de ser casada com ele.
Draco, por sua vez, não gostava tanto dos feriados com seus pais. Não era algo muito comemorado, e por ser filho único, as celebrações eram pequenas, às vezes com a presença de um ou outro parente. Mas faria tudo para passar um feriado com a família, principalmente com a sua mãe.

Porém, quando todos terminaram de comer a sobremesa, Gina começou a recolher a mesa, e Joshua, Andrew e Henry foram correndo para o quintal, pois a neve voltara a cair em grandes flocos. Draco se levantou depois de suspirar e foi em direção à cozinha, no mesmo momento que a esposa voltava apressada.
- Draco! – ela exclamou, na fração de segundo antes de os dois acabarem se chocando, e ele teve que segurar a ruiva pelo braço para ela não cair no chão.
- Amor, você está bem? – ele trouxe-a para perto e depois abraçou-a pela cintura, enquanto ela confirmava com a cabeça, sem resistir, como ele pensou que faria. – Eu sinto muito. – os olhos azul-acinzentados encontravam os castanhos, e ele apertou-a mais ainda nos próprios braços. Logo um sorriso surgiu e ficou solto nos bonitos e atraentes lábios da mulher.
- Eu te amo. – Gina murmurou, passando um dos finos dedos pelo rosto do marido, tocando-lhe o lábio superior de leve, e ele deu-lhe um beijo na pontinha do dedo. – Eu não consigo ficar brava com você. – ela balançou a cabeça, como se estivesse se repreendendo.
- Ora, isso é bom! – Draco riu e logo foi acompanhado por ela.
Após alguns instantes, a mulher olhou para fora da janela, onde os filhos dos dois faziam “guerra” com as bolas de neve, entre risos.
- Eu aposto que eu ganho de você, Malfoy. - ela olhou-o, desafiadora.
- É mesmo, Weasley? – ele levantou a sobrancelha, usando a sua, tão famosa antigamente, voz arrastada. – É o que nós veremos!
Segundos depois, os dois já estavam lá fora, atirando-se bolinhas de neve como se fossem crianças. Nunca haviam feito isso na época em que de fato eram duas, assim como muitas outras coisas que deixaram de fazer pela inimizade entre as suas famílias e pelos preconceitos agora considerados sem sentido. Entretanto, eles sabiam que teriam ainda muitos anos para recuperar o tempo perdido.
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- JOSHUA! – gritou Gina, entrando no quarto do filho, tentando equilibrar uma pilha de vestes de Hogwarts nos braços. Assim como o resto da casa, o quarto estava infestado de penas, pergaminhos novos e usados, roupas, livros e kit’s de poções, e o garoto jogava tudo que precisava dentro do seu malão. – Ei, assim não vai fechar não! – ela exclamou, espiando a bagunça por trás das vestes, e se aproximou, pegando a varinha no bolso da calça e apontando para o malão, que ficou imediatamente arrumado.
- Droga, quando eu vou poder usar magia fora da escola?! – perguntou Joshua, indignado com a facilidade com que ela arrumara tudo, fazendo a mãe rir brevemente.
- Tome, aqui estão suas vestes. – ela depositou nos braços do filho. – Tudo arrumado? Onde está Folk? – Gina olhava ao redor, afobada, tentando lembrar de algo mais que o filho pudesse ter esquecido.
- Tudo O.K., mãe. – disse Joshua, guardando as vestes no malão.
- Se você esquecer de algo, Josh, nos envie uma carta e nós iremos te mandar. – Gina apontou a varinha para bagagem novamente e murmurou um feitiço, fazendo ela sair flutuando quarto afora. – Desça, eu vou dar uma última olhada nas coisas do seu irmão. – a ruiva ia saindo quando parou de repente. – Aliás, vá ver o que Andrew está fazendo... Se ele não está atrapalhando nada. – por fim ela saiu, indo apressada ao quarto ao lado, bem mais organizado.
- Mãe, está tudo certo aqui. – precipitou-se Henry, no momento em que ela abrira a boca; ele já sabia como a mãe ficava quando ele estava partindo para Hogwarts... Passava por isso há cinco anos.
- Tem certeza? – a mulher parou, se encostando no marco da porta e respirando fundo.
- Sim, mãe. – ele riu da posição dela, e depois se aproximou, dando-lhe um beijo no rosto. – Leva isso lá pra baixo? Eu vou descer. – em seguida Henry saiu, deixando a mãe sozinha no quarto.
Ela odiava a partida deles para Hogwarts, pois sabia que demoraria para ela ver os filhos de novo, e que aqueles quartos ficariam vazios por um longo tempo. Mas essa era a vida, não?
Ela apontou a varinha para o malão do filho mais velho, e foi seguindo-o em direção ao andar de baixo.
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Quando os cinco Malfoy’s saíram do carro do Ministério que Draco havia pego emprestado, na frente da estação de King’s Cross, a neve continuava a cair pesadamente sobre as árvores, as casas e as calçadas. Todos usavam pesados casacos, que não pareciam ajudar em nada para amenizar o frio. Com a ajuda do pai, Henry e Joshua pegaram os seus malões, enquanto Gina pegou as duas gaiolas das corujas dos filhos e Draco levou Andrew pela mão. O grande relógio na entrada da estação marcava 10:30, o que queria dizer que eles ainda tinham meia hora até o trem partir.
Caminharam lentamente até a divisão entre as plataformas 9 e 10, aproveitando que ali dentro o ambiente estava mais agradável, pelo menos um pouco. Quando chegaram lá, Gina ficou de olho nos trouxas que passavam, todos muito concentrados nos seus compromissos para perder tempo olhando para um grupo de pessoas excêntricas, e os outros passaram para a plataforma 9¾, ela os imitando em seguida.
Algumas poucas famílias se encontravam por ali, pois a maioria sempre chegava em cima da hora, e então Henry e Joshua entraram no trem praticamente vazio e foram procurar lugares para sentar. Quando voltaram, Andrew estava sentado em um banco próximo, observando a família de uma garotinha do segundo ano, e os irmãos foram se juntar a ele. Draco e Gina, por sua vez, estavam lado a lado em um canto da estação, ela com um braço em volta da cintura dele, e com a cabeça descansando ao seu ombro, enquanto ele abraçava os dela.
- Essa melancolia é terrível, Gina. – ele murmurou, deitando a própria cabeça sobre a dela. – Quer dizer, eu sei que você vai sentir falta deles, eu também vou, mas não precisa ficar assim. Acaba comigo vê-la desse jeito, meu anjo. – um leve sorriso se abriu nos lábios dela, que suspirou em seguida, fechando os olhos e apertando a mão na cintura do marido. O silêncio se estendeu, e ele voltou a falar. – Eles estarão de volta em Junho, talvez até nos feriados de Páscoa, se nós conseguirmos convencê-los! E Andrew estará conosco... Eu estarei com você.
- É, você estará, meu amor. – ela levantou um pouco a cabeça, olhando nos olhos de Draco. – Obrigada. – Gina deu-lhe um beijinho rápido na pontinha do nariz, e depois deixou seus olhos se perderem em algum ponto atrás do loiro. – Não olhe agora, mas tem uma família nos observando. Os Robinson, lembra quem são? – ela murmurava com os lábios próximos aos dele, como se estivesse lhe falando algo terno, e ele sabia que era uma espécie de “provocação” para aquelas pessoas. Gina sempre gostava de esfregar na cara de quem duvidava deles que eram um ótimo casal.
- Robinson? – ele perguntou, roçando os lábios no dela. – Claro, é impossível não lembrar de quem é Gerald. O cara é um idiota.
- Henry não gosta do filho deles, Paul. – a ruiva afagou-lhe o rosto, sorridente, e depois de uns segundos se afastou devagar, trocando o sorriso por uma careta. – Finalmente.
E no mesmo instante, finalmente, o trem apitou, sinalizando a sua breve partida. Nessa hora, a plataforma já lotara de famílias, todas apressadas em se despedir dos filhos e em dar os últimos avisos e conselhos. Preocupados, Draco e Gina viraram-se depressa, se lembrando repentinamente dos filhos, que eles já não viam há alguns minutos. Mas os três estavam vindo na direção dos dois naquele exato momento, com Andrew segurando a mão de Henry e encomendando, aos gritos, várias coisas de Hogsmeade.
- Sim, Andrew, eu vou trazer. Peça para mamãe ou papai escreverem em uma carta o que você quer, para eu não esquecer de nada. – ele se abaixou, abraçando o irmão. – Fique bem, pequeno. – e o garotinho sorriu, retribuindo o abraço, enquanto o trem apitava novamente.
- Joshua, você vai ficar bem? – perguntou Gina, trazendo o filho para perto e abraçando-o com força. – Se comporte, preste atenção nas aulas, não desrespeite as regras...
- Pode deixar mãe, pode deixar. – ele beijou a face da mãe e logo se afastou dos braços dela, indo abraçar o pai, mas este estava muito ocupado falando com Henry.
- Continue bem assim, Henry. Não esqueça que este é o ano dos N.O.M’s, ouviu? Me deixe orgulhoso, mais do que você já deixa. – Henry sorriu, confirmando com a cabeça. – E não esqueça que nós queremos conhecer a Sarah, filhão. – Draco trouxe o filho para perto, envolvendo-o em um abraço. – Eu vou sentir saudades. – quando os dois se separaram, Joshua se aproximou do pai, que o abraçou também. – Se cuide, filho.
O trem apitou pela terceira vez, e Henry e Joshua se apressaram para dentro antes que as portas fechassem. Pela janela, os dois acenaram para a família, até o trem sair da estação, deixando Draco, Andrew e Gina a observar a locomotiva vermelha sumindo ao longe, a qual deixava um rastro de fumaça para trás.
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Então está aí, a fanfic que eu venho planejando há um longo tempo. Foram muitas horas escrevendo, pensando, imaginando... e recompensou, já que adorei o resultado. Só espero que você, que está aí do outro lado da tela, também goste.
A história vai se passar durante a vida da família Malfoy, a partir dos 30 (e poucos) anos dos pais, Draco e Gina. Cada capítulo, irá representar uma década de suas vidas, demonstrando seu amor e seus dramas. E devo avisar, que, se você não curte histórias compridas e enroladas, essa não é a fic perfeita para você.
Também, que o Draco Malfoy, principalmente, é descrito através da minha forma de vê-lo, e não tem nada a ver com a descrição (de personalidade) de J.K. Rowling. Gina e qualquer outro personagem de autoria dela, podem apresentar algumas atitudes diferentes das que ela descreve.
Aproveitem! E comentem com qualquer opinião, crítica ou dúvida (podem ficar partes confusas, já que vai existir um grande espaço de tempo entre cada capítulo).
Beijos,
Juliana G. Malfoy x

[EDITANDO] Só vão receber o capítulo dois se eu estiver feliz com o número de comentários! (Pequena chantagem)

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