O primeiron dia de aula
––––CAPITULO NOVE––––
O presente de Harry
Kyo acordou aquela manha muito disposto, teria sua primeira aula aquela manha, não havia mais ninguém no dormitório, o barulho do chuveiro o avisou de que alguém tomava banho. Pegou suas vestes de Hogwarts e as vestiu, tomaria seu banho a noite, que era muito mais relaxante e refrescante, com todo cuidado fez o nó da gravata, depois o puxou com força, na intenção de estica-lo, não gostava de parecer uma pessoa comportada.
Desceu até o salão comunal, foi uma visão estranha, tinha quase certeza de que já passara por aquilo, viu que o pessoal de sua turma estava reunido, Uandalini, Tiago, Sarah, Pubia, Nancy, o garoto de cabelos cor de palha, a garota de cabelos negros e o garoto de cabelos negros. Kyo se aproximou, receava reiniciar a discussão de ontem.
–Oi. –disse Kyo.
–Oi. –disseram todos os outros
–Acho que você já conhece todo mundo, não é? –perguntou Sarah, num gesto largo.
–Acho que sim, o Tiago, você, a Uandalini, a Ananda, a Pubia e a Nancy, e... –Kyo fez um esforço para se lembrar do nome dos outros, mas tinha certeza de que não sabia –foi mal, não me lembro dos seus nomes.
–Eu sou John Croosed. –disse o garoto de cabelos cor de palha.
–Jéssica Durter. –disse a garota de cabelos negros.
–E eu sou o Archie e os meus mistérios.
–Hã? –disseram todos ao mesmo tempo.
–Por que Archie e os seus mistérios? –perguntou Sarah.–Não é o seu nome de verdade, é?
–Não, é que ninguém consegue entender as coisas que acontecem a minha volta.
–Não entendi. –disseram as gêmeas Patil ao mesmo tempo.
–Ninguém entende. –disse o garoto, ajeitando o topete, as garotas fizeram uma careta quando ele não estava vendo.
–Cadê o Tiago? –perguntou Kyo.
–Tá vindo ai. –respondeu Sarah apontando para a escada do dormitório masculino, Tiago descia com seus cabelos úmidos.
Kyo olhou em seu relógio de pulso, eram seis e vinte, ele estranhou, nunca acordara tão cedo. Sarah percebendo que o garoto olhava seu relógio perguntou:
–Que horas são?
–Seis e vinte, acho que é bom descermos, ou alguém aqui conhece o castelo? –perguntou Kyo.
Todos fizeram sinal negativo com a cabeça. Eles saíram do salão comunal da Grifinória e foram em direção as escadas. E mais escadas, e mais um lance de escadas.
–Putz, quantos andares tem esse castelo? –perguntou Tiago, quando eles se viram de frente para mais um lance de escadas.
–Eu contei oito antes do alçapão, –disse Archie –mas a gente desceu umas escadas pelo caminho e eu não sei se está certo.
–Mas nós já descemos uns dez andares! –exclamou Kyo. –acho que devemos estar no meio do penhasco agora.
–Só se tiver janelas... –disse Uandalini, apontando para uma janela no fim do corredor.
–Só pra contrariar...
Eles desceram aquele lance de escadas e se viram numa bifurcação, onde havia uma escada em cada. Eles pararam e se encararam.
–Droga, a gente bem que podia ter um mapa... –disse Tiago.
–Seria útil, será que seus irmãos não tem um, Tiago? –perguntou Kyo.
–Sei lá, eles tem cada tipo de gambiarra.
–Então, pra que lados nós vamos? –perguntou Pubia, Kyo descobriu como reconhece-las, Pubia falava de um jeito mais melado, puxado.
–Pra esquerda? –disse Kyo.
–Não, para a direita! –exclamou Uandalini.
–Ah, qualquer um.–disse Archie, o garoto olhava para umas aranhas.
–Archie, o que você tá fazendo? –perguntou Sarah.
–Tô conversando com as aranhas.
Os outros se entreolharam, ninguém entendeu, Kyo virou-se para Archie:
–Archie, será que essas aranhas não sabem o caminho para o salão... de festas?
–Salão Principal. –corrigiu Uandalini.
–Que seja.
–Deixa eu ver...– o garoto virou-se e abaixou para falar com as aranhas, ele não falava, mas fazia alguns gestos e balançava a cabeça.
Kyo olhou para os outros, mas seus olhos se detiveram em Uandalini, a garota estava muito bonita, o cabelo preso num coque na nuca, um leve toque de maquiagem, as vestes de Hogwarts bem arrumadas.
–Que foi? –perguntou a garota.
–Nada, é só que você está muito bem arrumada. –respondeu Kyo.
–Ao contrario de você... –a garota indicou com o nariz as roupas amassadas do garoto e sua gravata, cujo nó estava no meio do peito. –É pra passar a imagem de garoto mal?
–Não, é só uma das minhas doideiras, eu odeio ficar arrumado.
A garota riu e abaixou o rosto, Kyo sentiu-se um pouco envergonhado. Archie se erguera.
–E ai? –perguntou John.
–É o seguinte: a gente desce essa escada da direita (eu não disse) ai a gente vai sair no primeiro andar, lá embaixo a gente empurra uma estatua de anão e desce a escada que tem lá dentro, nós vamos sair no Saguão de Entrada.
–E essas aranhas são confiáveis?–perguntou Tiago. –Eu não gosto muito de aranhas sabe...
–Não sei, –respondeu Archie –mas elas acham que nós não somos muito confiáveis, nunca nos viram por aqui.
–Vamos tentar, qualquer coisa é só a gente voltar aqui e esmagar essas aranhas. –disse Sarah.
Eles desceram a escada da direita, arrastando Kyo, que queria ir pela esquerda, empurraram a estatua de anão, Tiago desconfiava que ali tinha uma masmorra, desceram as escadas que estavam escondidas ali atrás, foram mais ou menos dois minutos de descida, tinham que ir um de cada vez, pois a escada era muito estreita, e desembocaram num salão alto, iluminado por janelas altas, o teto do salão mal era visível, o...
–O Saguão de Entrada! –exclamou Tiago.
Todos estavam tão eufóricos por terem chegado até ali, que saíram correndo na direção do Salão Principal, menos Kyo, que ficou para falar com Archie, que estava observando o pilar por onde saíram.
–Archie? –disse Kyo se aproximando do garoto.
–Oi.
–Desde quando você fala com aranhas?
–Eu sempre falei com aranhas, e vários outros tipos de animais, só não falo com cobras, elas são muito ignorantes.
–Como você fala com eles?
–Eu sou telepata, me comunico com as pessoas pela mente delas.
–Nossa isso deve ser legal.
–É, é legalzinho, você não cansa tendo que falar.
Kyo boquiabriu-se, deveria ser muito legal poder fazer essas coisas. Olhou para o garoto.
–Você não vai vir? –perguntou Kyo.
–Depois eu vou. –só agora Kyo percebeu que o garoto não usava a boca para falar, a voz estava em sua mente, se assustou, lentamente se afastou do garoto, ainda de costas.
Ele entrou no Salão Principal e se sentou entre Tiago e Uandalini, Sarah e as gêmeas Patil estavam sentadas defronte.
–Vocês sabiam que o Archie é telepata? –perguntou Kyo.
–Não, –respondeu Uandalini –eu pensei que ele só fosse um maluco sortudo.
–Pois ele é.
–Como você sabe? –perguntou Tiago.
–Ele me contou... e eu vi, ele tava falando comigo, mas não mexia a boca, a voz dele tava na minha cabeça, mó negocio doido!
–Por que será que ele não contou nada pra gente? –perguntou Sarah.
–Qual é? –disse Tiago. –Nós conhecemos o cara ontem, você queria que ele te contasse a vida inteira, queria?
–Ah, –disse Sarah –eu só quis saber por que ele não contou pra gente, isso não é qualquer coisa, sabe...
,p>–Você é muito xereta, devia deixar o cara em paz, –disse Tiago asperamente –talvez ele ache que é melhor manter isso em segredo.
,p>–Ou que é melhor a gente descobrir por si. –completou John.
–De qualquer modo, deve ser muito legal poder falar por telepatia... –disse Kyo pensando alto, enquanto se servia de mingau de aveia –será que ele consegue falar com as pessoas a distancia?
–Provavelmente consegue, –respondeu Tiago –isso deve ser muito legal, falar com os pais enquanto estiver aqui, eu queria poder falar com o tio Jorge ou o tio Fred.
Kyo olhou para o alto, distante, queria poder falar com Harry, para ele lhe ensinar como agir em Hogwarts. Naquele instante Lilian entrou rodeada por garotas da Corvinal, Kyo sentiu vontade de ir falar com ela, mas eles mal se conheciam, não seria muito legal chegar lá de intruso.
Letícia vinha entregando alguma coisa para os alunos do primeiro ano, quando ela passou por Uandalini comentou alguma coisa, a garota riu, Kyo achou que ela fez isso para não chorar. Letícia entregou para Kyo um papel com uma grade escrita a mão, Kyo observou.
–Que bosta, dois tempos de Poções! –exclamou Tiago. –O Felipe disse que é a pior aula que nós vamos ter.
–Mas é só a ultima aula, –tentou consola-lo Kyo –nossa primeira aula é Transfigurações.
–Isso também não é muito bom, sabe... –disse um dos trigêmeos Weasley mas à frente, Kyo ainda não descobrira como reconhece-los.
–Por que, Renan? –perguntou Tiago.
–Sabe, a prof ª McGonagall também não é flor que se cheire, apesar de ser diretora da Grifinória ela pega mais no nosso pé do que no dos outros.
–Ela não deve ser tão ruim! –exclamou Sarah.
–Pode até ser que não, mas... –e ele examinou o horário de Tiago –mas vocês passarão a odiar todas as segundas daqui por diante.
–Por que? –perguntou Kyo.
–Olha nossa próxima aula... –disse Tiago desanimado.
Kyo olhou seu horário, depois de transfigurações vinham dois tempos de Adivinhação. Kyo não achava que pudesse ser tão ruim.
De repente barulhos de centenas de asas invadiram o salão, Kyo olhou para cima, centenas de corujas entravam pelas janelas no alto, no meio da massa de corujas marrons e cinzentas havia uma branca, que vinha em sua direção, o garoto ergueu seu braço e a coruja pousou nele.
–Oi, Edwiges. –disse Kyo, entregando uma tira de bacon para a coruja.
A coruja piou de leve e pegou com o bico o pedaço de bacon, Kyo sentiu uma bicadinha carinhosa da coruja. Na perna dela havia um pacote muito bem embrulhado, Kyo desamarrou o pacote e viu que colado nele havia um pequeno bilhete.
Kyo,
Não abra aqui, saia e abra nos corredores a caminho de sua próxima aula.
H.P.
–Tiago, vamos embora. –disse Kyo, puxando a camisa do amigo.
–Por que? Ainda não terminei meu mingau...
Kyo entregou o bilhete de Harry para que Tiago lesse, o garoto leu umas duas vezes o bilhete, suas sombracelhas se ergueram.
–Já fui! –disse o garoto se levantando junto com Kyo.
Quando saíram do salão se dirigiram à escada de mármore o mais rápido que puderam. Quando chegaram ao terceiro andar Kyo e Tiago se sentaram num banco junto à parede. Dentro havia um manto de tecido muito fino e prateado e um pedaço de pergaminho de mais ou menos cinqüenta por setenta.
–Nossa... –disse Tiago.
–Que foi? –perguntou Kyo.
–Isso... –disse Tiago apontando para o manto –eu sei o que é isso.
–O que é?
–Uma capa de invisibilidade.
–Como?
–Uma capa de invisibilidade, ela te deixa invisível! Experimenta!
Kyo pegou a capa e a pôs sobre os ombros, se certificando de que não havia ninguém por perto. Ele não sentiu nenhuma diferença, mas Tiago, por outro lado, não conseguiu conter uma exclamação.
–Eu não disse? Eu não disse? –dizia o garoto, apontando para Kyo.
–Eu sei que você disse, mas eu não estou vendo nenhuma diferença...
A voz de Kyo morreu, quando olhou para baixo viu que seu corpo... ou melhor, não viu seu corpo, estava invisível, sua cabeça flutuava no ar, tirou a capa o mais rápido que pode, alguém poderia se assustar quando visse. Kyo olhou no embrulho, havia um bilhete em cima do pergaminho. Kyo o pegou e leu:
Kyo,
Estes são uma capa de invisibilidade e o Mapa do Maroto, me foram muito úteis em meus tempos de Hogwarts, me livraram de varias encrencas, eu sei que você não pretende se meter em encrencas, mas seu nome as atrairá, querendo ou não, o mapa provavelmente será mais útil, para usa-lo encoste sua varinha nele e diga “Juro solenemente não fazer nada de bom”. Se você se meter em encrencas apenas toque a varinha nele de novo e diga “Malfeito feito”. Espero que esteja bem.
H.P.
Kyo pegou o pedaço de pergaminho e olhou-o bem, não parecia nem de longe um mapa, só um pedaço velho de pergaminho.
–E esse pergaminho? –perguntou Tiago. –Pra que serve?
Kyo entregou o bilhete para que Tiago o lesse, o garoto correu seus olhos pelo bilhete. Kyo olhava para o pergaminho. Pegou sua varinha na bainha da calça e tocou a o pergaminho.
–Juro solenemente não fazer nada de bom.
Do ponto de onde tocou a varinha irromperam linhas finas e coloridas que viravam, faziam contornos, formavam salas e corredores, vários pontinhos se mexiam pelo pergaminho, Kyo via que um lugar muito grande se formava no pergaminho, depois do acabamento apareceu no topo do mapa o seguintes de dizeres: Rabicho, Aluado, Almofadinhas e Pontas apresentam orgulhosamente o Mapa do Maroto. Kyo olhou para aquele mapa, cada sala que estava desenhada tinha seu nome escrito, as centenas de pontinhos que circulavam pelo mapa tinham seus nomes escritos logo acima, cada parte do mapa representava um andar, e uma outra maior à parte de fora da propriedade, Kyo pode ver Dumbleodore sentado numa sala que imaginara ser dele, a professora Minerva se dirigia a uma sala no primeiro andar, Hagrid (seu pontinho equivalia a dois do que os dos demais) andava pelo lado de fora da propriedade, próximo ao portão. Sarah e Uandalini vinham pela escada da esquerda, exatamente atrás de onde eles estavam.
–Tiago esconde tudo! –exclamou Kyo.
–Mas eu quero ver o mapa... –protestou o garoto.
–Depois você vê, guarda!
Kyo tomou o bilhete da mão de Tiago e enfiou tudo de qualquer jeito dentro da mochila, quase rasgando o Mapa do Maroto, um pedaço da capa de invisibilidade ficou para fora.
–O que vocês estão fazendo aqui? –disse a voz de Sarah inquisitória as suas costas.
Kyo teve de arrumar uma desculpa rápido, mas não lhe vinha nada a cabeça.
–Coisa de menino. –respondeu Sarah.
–Coisa de menino? –perguntou Uandalini.
–Vocês acham que só meninas podem ter segredos? –disse Kyo, tentando arrumar a capa dentro da mochila.
–Normalmente é assim, –respondeu Uandalini– mas se vocês querem ficar com essas... coisas estranhas.
–Coisa estranha nada. –disse Kyo. –Simbora, Tiago, a sala de transfiguração é lá embaixo, terceira porta a esquerda depois da escada.
Kyo e Tiago desceram os degraus da escada a passos firmes, Uandalini e Sarah logo atrás, se dobrando de rir. Kyo se virava vez outra, uma careta de raiva estampada no rosto.
Kyo não reparara no andar quando passara, era um lugar esplendido, todo coberto de marfim, até mesmo as estatuas eram do mesmo material das paredes. Os quadros encaravam o garoto enquanto passava com Tiago, Uandalini e Sarah agora riam abertamente, dando grandes gargalhadas. Sem perceber um dos bilhetes Kyo do bolso de Kyo, Uandalini o pegou, sem que Sarah percebesse.
A sala de transfiguração, ao contrario do lado de fora, tinha paredes cobertas por mogno, o teto era pintado de um azul celeste que emanava um certo brilho. Cada um ocupou um lugar nas carteiras de dupla, Tiago expulsou Kyo do lado de Sarah, que queria saber mais sobre como eram os trouxas, e o fez sentar ao lado de Uandalini, a garota olhou torto para ele.
–Bom dia, –disse a prof ª Minerva entrando na sala por uma porta nos fundos da sala, Kyo deu um pulo –como acho que todos vocês sabem, eu sou Minerva McGonagall, sou diretora da Grifinória e professora de transfigurações, pretendo, durante os sete anos que vocês ficarão aqui, ensinar-lhes a leve e sutil arte da transfiguração, aqui vocês aprenderão como fazer as coisas serem exatamente como não são, transformarão pedras em cachorros, palitos de fósforos em agulhas, pessoas em vocês e vocês em outras pessoas, mas para isso receio que vocês deverão fazer a pior coisa do mundo para adolescentes: estudar. Claro que para muitos de vocês será impossível ser um bom aluno e se dar bem na matéria, mas podem ficar tranqüilos, vocês tem toda a vida para estudarem.
Ela sorriu, Kyo teve a leve impressão de que metade dos alunos se encolheram, inclusive Sarah, Tiago e até mesmo Uandalini. A prof ª McGonagall sentou-se em sua mesa, olhando alguns documentos.
–Cadê a capa?–perguntou Uandalini para Kyo.
–Que capa? –Kyo não percebeu do que a garota estava falando.
A garota jogou o bilhete que caíra de sua bolsa na frente de Kyo, que ao reconhece-lo mal pode conter uma exclamação.
–E... e daí? –desconversou ele.
–Qual é? Eu vi isso cair da sua mochila quando você desceu a escada.
–Mas isso não é meu.
–Você tem certeza? Sabe, acho que a professora Minerva não vai gostar nada de saber que você tem pertences não registrados.
–Acho que ela vai gostar menos ainda de ficar sabendo que você anda inventando historias por ai.
–Tá bom, se você não quer falar, tudo bem, pelo menos me diz quem é H.P. –Hu-hum, e eu nasci ontem né? Neste momento a prof ª Minerva se levantou e viu Uandalini falando. –Srta. Longbotton, você poderia nos dizer qual o principal feitiço usado por um transfigurador? –perguntou ela, apontando a varinha para a garota. –Hum... transformar? –chutou a garota, Kyo não conseguiu conter a vontade de rir. –Já que está rindo, acho que o senhor possa nos dizer, Sr. Hunter. Kyo perdeu completamente a graça, tentou lembrar-se do que lera no livro transfiguração para iniciantes, não lhe vinha à cabeça, Sarah, logo atrás, quase pulava da cadeira tentando chamar a atenção da professora. –Acho que é Feraverto, professora, não me lembro bem... –respondeu Kyo, suas mãos suavam de nervosismo. –É, o senhor está correto, Sr. Hunter, cinco pontos para a Grifinória. Kyo sentiu cada músculo de seu corpo se descontrair, Uandalini ao seu lado fez careta. –Muito bom para um filho de trouxas... –disse ela, contrafeita. A professora passou o resto da manha passando na lousa a historia da transfiguração, Kyo copiava todo com o máximo de atenção que podia reunir, o perfume de Uandalini o deixava inebriado. Muitas vezes ele errou no que copiava, como quando escreveu que o doente Godofredo era um grande arruaceiro ao invés de o duende Gofried era um grande feiticeiro. A professora concedeu mais cinco pontos para Sarah que foi a única que soube responder quem foi o maior de todos os transfiguradores de todos os tempos. –Caraca! Eu não sabia que a gente podia mudar nosso próprio rosto! –exclamou Tiago, quando eles saíram da sala de transfiguração na direção do salão principal. –É bem legal, –concordou Sarah –minha sempre me disse que é uma das matérias mais fascinantes, mas meu pai acha que é poções. –Também, ele foi professor, –disse Tiago, zombando –ele não podia odiar o que lecionava. –Cada doido com sua mania –disse Kyo quieto no seu canto, não conseguia tirar da cabeça o perfume de Uandalini. –Por que é que eu tô assim? –Que foi que você disse? –perguntou Ananda, que foi a única que escutou o que ele disse. –Nada, tô só pensando alto... Eles entraram no salão principal e correram para a mesa da Grifinória, Tiago não podia resistir ao cheiro de costeletas de carneiro. –Você não acha que já está muito saidinho para um calouro? –perguntou a voz de Ciro às costas deles, Kyo descobriu que Ciro não usava a gravata da Grifinória. –Tô nada, você ainda não vi nada. –disse Tiago, enfiando um bife inteiro na boca. –Ah, se vi, da pra acreditar que esse cara bateu um peru de natal sozinho em meia hora? –Credo, Tiago! –exclamou Sarah, seu garfo caindo de sua mão. –Credo por que? Eu sou um adolescente em fase de crescimento. –disse Tiago como desculpa. Kyo, que se servia de algumas costeletas sentiu alguém puxando seu braço. Virou-se e encarou Lilian, a garota não parecia muito feliz. –Vamos conversar. –disse ela. –Sobre o que? –Vem logo. Kyo quase carregou o banco consigo, Lilian o arrastava para fora do salão principal, ela o levou até um canto no saguão de entrada, atrás de uma estatua em forma de dragão com as asas erguidas e as mandíbulas a mostra. –Cadê a capa e o mapa? –perguntou ela. –Que capa e que mapa? –disse Kyo, tentando o mesmo jogo que usou contra Uandalini. –Você acha que meu pai não me falaria que te mandou seus pertences mais importantes? –Acho. –Tá, tá bem, cadê? –Tá aqui na minha mochila, por quê? –Porque eu espero que você cuide muito bem deles, se você não tivesse se intrometido na vida do meu pai, essas coisas seriam minhas! –Você tá jogando na minha cara que seu pai me deu... –Emprestou. –Emprestou, que seja, que ele me emprestou uma capa e um mapa? –Não, estou te avisando para cuidar deles muito bem. –Mas você nem é a dona deles, como tá dando ordens assim, sem mais nem menos? –Meu pai é o dono, e acho que ele vai quere de volta muito bem cuidados. –Tá certo, eu costumo ser cuidadoso com as coisas, prometo que vou cuidar. –Acho bom mesmo. A garota saiu a passos fortes, deixando Kyo sem entender nada, estacado junto ao chão. Kyo voltou para o salão principal, tinha a varinha em punho, não sabia o porque, mas a tinha pegado no momento em Lilian o puxou com um pouco mais de força. Sentou ao lado de Tiago, pegou uma costela e a pôs na boca, sem usar o garfo. Não reparou que todos o olhavam. –O que ela queria? –perguntou Uandalini, meio receosa. –A Lilian? Só me beijar... –disse o garoto, num falso tom serio. –Como assim te beijar? –perguntaram Sarah, Ananda, Uandalini e Jéssica ao mesmo tempo. Archie conversava com uma mosca que pousara em sua mão. –Ela me chamou, me encostou num canto e me beijou. –Kyo mal conseguia conter o riso, sentia suas costelas doerem de tanto esforço que fazia. –Como é que ela chega e te beija assim? –perguntou Ananda. –Ela nem te conhece! –Quem disse que ela não me conhece? –perguntou Kyo, com falsa ironia. –Nos conhecemos desde pequenos. –Nossa, e esse foi seu primeiro beijo? –perguntou Uandalini. –Não, pra falar a verdade, eu nunca beijei. –respondeu o garoto com displicência. –Então... –começou Uandalini. –Eu estava zoando a cara de vocês. Kyo, Tiago, John e até mesmo Archie, que parecia estar alheio ao resto do mundo, caíram na gargalhada. As garotas pareceram não achar muita graça, principalmente Ananda, que parecia evitar olhar para o garoto. –Eu vou para a aula de adivinhação. –disse Kyo se levantando. –Mas por que? –perguntou Tiago –O sinal só bate daqui a vinte minutos. –Quero chegar cedo, e eu ainda posso me perder... –mentiu Kyo, que sabia que não podia se perder. –Posso ir com você? –perguntou Ananda. –Acho melhor você terminar de comer, e se você passar mal? –disse Kyo, dando uma desculpa. –Você conhece alguma garota que passa mal porque não comeu? –perguntou a garota. Agora ela o pegou, sempre via que as garotas na escola passavam o dia todo sem comer e não lhes acontecia nada. –Tá certo, mas me espera eu vou... –Kyo pensou numa desculpa para dar –no banheiro. –Tá, mas não demora muito. Kyo correu, a procura do banheiro mais próximo, não sabia onde ficava, não tinha usado nenhum até agora. Encontrou um no saguão de entrada, no começo do corredor. O banheiro era como o de uma escola trouxa, vasos sanitários, descargas, lavatórios, torneiras. Ele se certificou que não havia ninguém ali, pegou o mapa em sua mochila, o mapa ainda estava desenhado, esquecera de apaga-lo, olhou bem para o mapa, a procura da sala de adivinhação. Esta ficava bem no alto do castelo, de acordo com a rosa dos ventos, na torre norte. –Vamos. –disse Kyo, assustando Ananda. –Nossa! –exclamou a garota, pondo a mão no peito. –Foi mal, não queria te assustar. –Tudo bem, por que você demorou? –perguntou a garota, Kyo teve a impressão de que ela ficara vermelha. –Eu, bem, eu... –Kyo pensava numa desculpa, nunca tivera que inventar tantas mentiras num só dia –eu tava perguntando para um cara se ele sabia onde ficava a sala de adivinhação. –E ele sabia? –Ele disse que é a na torre norte. –disse Kyo, encolhendo os ombros. –Mas e onde é a torre norte? –Creio que não pode ser no sul... Disse Kyo, indo em direção à escada de mármore, Ananda correndo atrás dele. Ananda não dizia nada, apenas seguia Kyo, que tentava subir apenas pelas escadas que ficavam ao norte, o que era meio complicado, pois havia salas onde não havia janela e ela não via a floresta que ficava a leste. –Kyo, você tem certeza de que estamos pelo caminho certo? –perguntou Ananda, depois de cinco minutos subindo uma só escada. –Acho que sim. Olha lá, a floresta está à esquerda. –disse Kyo, apontando para as copas das arvores lá embaixo, as vezes até ele se surpreendia com sua inteligência. –E o que é que tem? –Se a torre é chamada de torre norte, é por que fica ao norte, e a floresta a leste. –E como você sabe que a floresta fica ao leste? –disse Ananda, Kyo tinha a impressão de que a garota desconfiava de alguma coisa. –Eu vi o sol nascendo por cima delas. –Você foi o ultimo a acordar. –Er... –agora a garota havia quebrado suas pernas –Eu já estava acordado, só preferi ficar deitado. –Tá. A garota parecia ter engolido, Kyo suspirou aliviado, eles continuaram subindo. Kyo sentia que suas pernas não agüentariam mais, quando a escada acabou de súbito, eles estavam agora nula sala circular e cheia de adornos de prata, não haviam carteiras nem cadeias, apenas janelas a toda volta e um alçapão no teto. –Legal, beco sem saída. –disse Ananda se jogando a um canto, sentada, Kyo tentou fingir que a calcinha dela não estava à mostra. –Eu tenho certeza de que não é, só não sei como vamos chegar lá em cima. –Pulando, ou quem sabe eles achem que todos os alunos já devem vir para sabendo voar. –Você decididamente não é filha de bruxos. –Na verdade sou, meu pai era um. –Por que era? –Porque ele está morto. Kyo virou o rosto, tocou num assunto que não deveria, a garota provavelmente não gostava de lembrar do pai. –Foi mal. –disse Kyo. –Tudo bem, ele morreu quando eu ainda era pequena, nem me lembro dele. –E sua mãe? –Trouxa, sempre me criou como uma, mas nunca me escondeu o que meu pai era. –Eu queria que meus pais tivessem me contado que eu viria para cá. –Por que? –Porque nunca me contaram que minha tia era uma bruxa e também nada sobre... –Kyo apontou para sua cicatriz na testa. Agora foi a vez de Ananda ficar muda, ela baixou o rosto, subiu a saia de repente e se levantou, parecia ter reparado em sua calcinha a mostra. Kyo olhou para o alçapão, não entendia como subiria até lá. –Como eles acham que vamos subir ali? –perguntou ele, sem se tocar que falava bem alto. Como que para responder a sua pergunta o alçapão se abriu e dele caiu uma escada de prata, Kyo olhou para Ananda que retribuíra seu olhar, intrigada. –Como você fez isso? –perguntou ela. –Sei lá, eu não sou o garoto que sobreviveu? Deve ter sido um de meus poderes. –Kyo se sentia o ultimo biscoito do pacote. –Vamos subir? –Pra que? –Quem sabe estudar. –Num tô afim. –Vem logo! Ananda agarrou Kyo pelo punho da capa e o arrastou escada acima, Kyo tinha receio de ter errado o caminho. Ao chegarem lá em cima se viram numa sala circular, como a que estava logo abaixo, esta com cadeiras, mesinhas e até mesmo almofadões, não havia ninguém na sala, Ananda se largou logo em cima de um dos almofadões. –Nossa como são macios! –exclamou ela, rolando em um deles. –Provavelmente. –disse Kyo, dando num leve soco num deles. Sentou num dos almofadões, reparou que cabiam confortavelmente dois alunos ali e olhou a volta. A não ser que cada mesa fosse para um aluno, sobrariam lugares na sala. Kyo ficou olhando para o teto, sem pensar em nada, apenas observando o nada por algum tempo. Um sinal tocou em algum ponto da escola. Dez minutos mais tarde o barulho de passos lá embaixo lhe avisou que os outros deviam estar chegando, com algum atraso. A cabeça de Tiago apareceu no alçapão, seguida por Sarah, e logo após por Archie (e seus mistérios). Eles se sentaram perto de Kyo, Sarah e Tiago numa mesinha logo atrás dele, Archie se sentou ao lado de Ananda, John e Jéssica se sentaram no fundo da sala. Uandalini olhava para um lado e para o outro a procura de um lugar, ia sentar-se numa mesinha ao fundo da sala, sozinha, quando um vulto a ultrapassou depressa e se sentou onde ela ia sentar. –Nada disso, Longbotton. –disse uma voz arrastada, que Kyo reconheceu de imediato. –O que você tá fazendo aqui, Malfoy? –perguntou Kyo, enquanto Crabbe e Goyle sentavam-se numa mesinha ao lado da de Willian. Uma garota muito parecida com um buldogue se sentou ao lado dele. –Tendo aulas de transfiguração, –disse Malfoy displicente –acho que teremos que nos aturar. –Nem que eu tenha que atirar pela janela. –Ei Longbotton, que tal se sentar? –disse Malfoy, sorrindo e indicando o almofadão em que Kyo estava sentado. –É, pelo menos eu vou ficar longe dum traste feito você, humpf! –disse a garota e se largou ao lado de Kyo, deixando a bolsa cair com força. Kyo olhou para a garota assustado, enquanto pegava seu livro na mochila, Uandalini estava muito assustadora com aquela expressão. –Que foi? –perguntou o garoto de mansinho, não queria enfurecer ainda mais a fera. –Nada! Eu só não queria me sentar ao seu lado. –disse ela com muita raiva. –Posso saber por que? –Não te interessa. –Então vai lá, –disse ela indicando Malfoy com o queixo –quem sabe o Malfoy não quer se sentar do seu lado, você é uma nojenta que nem ele mesmo. –Eu não sou parecida com o Malfoy! –disse a garota, ofendida. –Espero que não seja mesmo, eu odiaria saber que alguém parecido com ele –e indicou Malfoy com o queixo novamente –na Grifinória. –Por que tanta raiva dele? Ele andou te enchendo? –Mais ou menos. –Como assim? –No trem ele entrou na minha cabine e falou umas merdas... –É por isso que você tem raiva dele? Por que ele te ofendeu? –Mas ele não me ofendeu! –Então o que foi? –Ele chamou o Tiago de.... Nesse momento uma mulher alta de cabelos negros até o meio das costas, magra e de óculos entrou na sala pelo alçapão, parecia flutuar, Kyo reparou numa marca de nascença na testa da mulher, tinha a forma de uma foice. Ela usava um casaquinho colado e vestes negras. Kyo achou que ela emitia um tipo de energia...
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